terça-feira, agosto 01, 2006

PAI PARA MIM… MÃE PARA TI

Noah Baumbach conta já com três filmes no seu curriculum de realizador, mas “A Lula e a Baleia” (The Squid and the Whale) é o primeiro que chega a salas nacionais, e ainda bem, uma vez que, a julgar pelo que oferece, revela um cineasta interessante e instiga a curiosidade para a descoberta das suas obras anteriores.

Vencedor dos prémios de Melhor Argumento e Melhor Realização em Sundance e nomeado para o Óscar de Melhor Argumento Original, o filme é um seguro e perspicaz melodrama familiar com toques de comédia (quase sempre amarga), percorrendo territórios próximos dos de alguns realizadores indie – Kenneth Lonergan, Burr Steers ou Wes Anderson, que assume aqui o cargo de produtor - que têm gerado outras dramedies acerca das dificuldades das relações humanas, do crescimento ou de conflitos geracionais.

Se por um lado Baumbach não apresenta nada que se distancie muito da linguagem desses outros nomes, propõe aqui um atento e credível retrato dos laços familiares, apoiando-se numa escrita sólida e complexa, que tanto apela ao riso subtil como a uma inquietante sensibilidade, vincada pelo verismo das situações quotidianas.

A Lula e a Baleia

A acção decorre no Brooklyn dos anos 80 e segue o divórcio de um casal da classe média alta, ele professor universitário e escritor em declínio, ela escritora aspirante, cuja separação é recebida pelos dois filhos adolescentes num misto de surpresa e angústia, e desde logo cada um toma partido de um dos seus progenitores.

Com base nesta premissa, Baumbach constrói um conseguido estudo de personagens, todas ambivalentes, verosímeis e perdidas após a dolorosa desagregação familiar. Especialmente interessante é o desenvolvimento das mais jovens, tanto do filho mais velho, Walt (Jesse Eisenberg), fascinado pela figura paterna, e sobretudo do mais novo, Frank (Owen Kline, excelente revelação), cuja rebeldia da entrada na adolescência é reforçada pela conturbada situação familiar.
As prestações dos veteranos – e subvalorizados - Jeff Daniels e Laura Linney na pele dos pais são outras mais-valias para o filme, que só não surpreendem porque estão ao elevado nível interpretativo habitual, e a cada vez mais omnipresente Anna Paquin contribui também num pequeno mas importante papel de aluna espevitada.

“A Lula e a Baleia” só peca por saber a pouco, dado que os seus 81 minutos de duração impõem que o desenlace seja algo abrupto e não tão bem resolvido como poderia. Fosse uma obra de maior fôlego e talvez constasse entre as mais estimulantes do ano, assim é uma das que vale a pena conhecer mas que deixa a impressão de objecto inacabado.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

2 comentários:

João Carlos Silva disse...

Saí desiludido pois tinha-me cruzado com várias comparações elugiosas ao genial "The Royal Tenenbaums" do Wes Anderson. No entanto, recomendo o visionamento.

gonn1000 disse...

Eu gostei, mas não sou fã de Wes Anderson, acho que este é superior a qualquer um dos seus filmes.