sábado, julho 30, 2005

I'LL BE BACK

Daqui a poucas horas parto para Portimão, e tenciono ficar lá durante a próxima semana, por isso este é mais um blog que terá um pequeno interlúdio neste Verão. Boas férias para todos (se for esse o caso) e até breve ;)
Como nã há bela sem senão, o leitor de CDs do meu carro avariou-se e a solução é mesmo ouvir cassetes durante a viagem, o que significa que tive de recuperar as compilações que fins há uns 6 ou 7 anos... Enfim, até vai ser engraçado recordá-las, aqui fica o alinhamento de uma delas:
The Prodigy - Skylined
Bush - Insect Kin
Garbage - #1 Crush
Soul Coughing - Blame
The Chemical Brothers - The private Psychedelic Reel
Luscious Jackson - Under My Skin (Bentley Rythm Ace Mix)
Red Hot Chili Peppers - Californication
Nada Surf - Popular
R.E.M. - Daysleeper
Hasta!

MY PICTURES

Descobri este desafio no blog do Dinis e decidi pedi-lo "emprestado":
Think of 3 pictures you'd like to see. Things around my house or whatever... something I can take a picture of easily. Once I have enough requests, I'll start posting them. If I can't or won't take a picture of something you've requested, I'll let you know.
Estão todos convidados a partcipar, mas cuidado com as sugestões ;)

SELECÇÃO DE ESPERANÇAS

Num período em que muitas das melhores bandas actuais se inspiram no pós-punk/ new wave de finais dos anos 70/ inícios de 80, os britânicos Kaiser Chiefs são mais um dos projectos que recupera influências dessa época e oferece, em "Employment", um curioso álbum de estreia.
Praticante de uma pop dinâmica e solarenga, este quinteto de Leeds apresenta 12 canções com potencial para se tornarem em singles trauteáveis e viciantes.

Com traços retro mas não excessivamente nostálgico, "Employment" é um registo promissor e cativante, embora seja, a espaços, demasiado derivativo. Os temas do disco aproximam-se de referências das décadas de 80 (Madness, The Jam), 90 (Blur, Divine Comedy, Dandy Warhols) e de nomes-chave dos dias de hoje (Dogs Die in Hot Cars e, claro, os incontornáveis Franz Ferdinand).

Mesmo com as óbvias piscadelas de olho a outras bandas - de resto, compreensíveis num álbum de estreia -, os Kaiser Chiefs proporcionam um conjunto de canções irreverentes, dançáveis e lúdicas, com apelativas doses de humor, sentido teatral e alguma melancolia.

Não sendo especialmente inovador e expondo alguns desequilíbrios - a primeira metade é mais coesa do que a segunda - "Employment" não chega a ser um grande disco, mas com canções do calibre de "Everyday I Love You Less and Less", "Modern Way", "Oh My God" ou "I Predict a Riot" os Kaiser Chiefs provam possuir energia e consistência suficientes para constarem entre as boas surpresas de 2005. Já não é nada mau para uma estreia...

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

sexta-feira, julho 29, 2005

CÃO QUE LADRA...FAZ BARULHO!!!

Não sei quem teve a ideia de ter cães em apartamentos, mas hoje em dia é uma situação demasiado frequente (infelizmente), e é irritante q.b. ter um cão da vizinhança a ladrar constantemente há mais de três horas... Enfim, sempre é uma desculpa para aumentar o volume da música sem que os meus pais reclamem (neste momento o cão está a ser abafado pelas Le Tigre...nunca pensei que o girl power desse tanto jeito)...

A UNIÃO FAZ A FORÇA

Uma das boas surpresas do cinema francês recente, "Nos Meus Lábios" (Sur Mes Lèvres) apresenta uma bem conseguida mistura de drama e policial, desenvolvendo atmosferas de suspense sem nunca subvalorizar a complexidade das personagens.

O ponto de partida desta película de Jacques Audiard é a relação de Carla, uma secretária parcialmente surda de uma empresa de construção, e Paul, um ex-condenado que tenta reorganizar a sua vida e vai auxiliar Carla no emprego.

Solitários e com um dia-a-dia pouco próspero, os protagonistas de "Nos Meus Lábios" geram uma ligação que os faz adoptar uma postura menos individualista e, aos poucos e em conjunto, conseguem ir superando alguns obstáculos.
Assim, Carla vai ultrapassando a sua timidez e insegurança, características que levam a que os outros a subestimem, e Paul vê reduzida a sua esfera de inadaptação e desvio.

Seguindo estas duas personagens de perto, "Nos Meus Lábios" é um filme intimista que entrecruza eficazmente tensão dramática com as inquietações próprias de um thriller, proporcionando um interessante olhar sobre o amor, a solidão, os laços de confiança ou o ostracismo visível nas relações sociais contemporâneas.

Jacques Audiard ofecerece um seguro trabalho de realização, apostando num realismo lacónico, num estilo sóbrio e num ritmo astuto e envolvente. A direcção de actores é igualmente sólida, com destaque para o par central, composto por Emmanuelle Devos (apropriadamente frágil e relutante) e Vincent Cassel (em mais um desempenho viril e carismático).

Longe de revolucionário, mas quase sempre entusiasmante - excepto no dispensável subplot sobre o desaparecimento da esposa do polícia - "Nos Meus Lábios" é uma obra intrigante, sensível e absorvente, mais um exemplo da versatilidade da cinematografia francesa actual.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

BE COOL

Após três álbuns que os tornaram num dos nomes centrais do trip-hop, os Morcheeba apresentaram em 2002, com "Charango", um sólido regresso após a recepção algo fria de que o álbum anterior, "Fragments of Freedom", foi alvo.

Expondo mais semelhanças com o segundo registo de originais, "Big Calm", do que com o seu antecessor, "Charango" apresenta aquilo que o trio britânico sabe fazer melhor: um conjunto de canções baseadas no formato trip-hop que não recusam contaminações da soul, pop, funk, R&B e hip-hop.

Embora leves e acessíveis, com potencial para constarem em playlists formatadas - de que foram exemplo os singles "Otherwise" e "Way Beyound" - os temas do disco condensam também engenho e subtileza q.b., não se esgotando às primeiras audições e constituindo um apelativo cardápio sonoro.

Uma das maiores forças do trio é a voz de Skye Edwards (aqui na sua última colaboração, uma vez que a vocalista desistiu do projecto entretanto), sedutora e envolvente, que se entrelaça naturalmente com as atmosferas lânguidas e apaziguadas das canções.
Para além de Edwards, "Charango" conta ainda com as vozes dos rappers Pace Won e Slick Rick e do vocalista dos Lambchop, Kurt Wagner (que participa no grande momento do álbum, "What New York Couples Fight About", uma das melhores canções dos Morcheeba).

Apesar de ser um disco agradável e consistente, "Charango" peca por não acrescentar muito ao que a banda fez em registos anteriores, limitando-se a dar continuidade aos ambientes de "Big Calm". Tal não é necessariamente negativo, sobretudo quando a maioria das canções são convincentes - e por vezes muito boas, como "Get Along" e "Public Displays of Affection" -, mas não faz deste um disco especialmente ousado ou inventivo. É, contudo, um álbum que ainda irradia frescura e vitalidade mais do que suficientes para se tornar num objecto a ouvir, de preferência numa tarde calorosa marcada pela tranquilidade e inércia.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

BLINKS & LINKS

Obrigado ao Christopher Faust Pereira e ao MYX por me blinkarem nos respectivos blogs ;)

quinta-feira, julho 28, 2005

OLD (X)SCHOOL

Em tempo de férias, aproveitei para dedicar alguma atenção aos livros de BD que ainda tenho por perto, onde constam as aventuras dos "Novos Mutantes", um dos muitos títulos originados a partir do universo dos X-Men...

Reparei que já lá vão mais de dez anos desde que comecei a acompanhar estas personagens, e lembrei-me da época em que dedicava a maioria do meu tempo a ler ou a fazer BD, antes de me interessar pelo cinema, música ou qualquer outra coisa, quando esperava vir a tornar-me desenhador num futuro então distante (yeah right...). Pois é, foi uma aspiração que se diluiu com o tempo, aos poucos fui deixando de me dedicar à nona arte, embora ainda tenha mantido a chama acesa até à faculdade, sobretudo quando o mais interessante em algumas aulas era mesmo ilustrar os cadernos...

Parece que ainda foi ontem que comecei a acompanhar o Sam, o Roberto, a Rahne, o Warlock (R.I.P.), o Rictor e a Tabitha, que segui do início ao fim da adolescência... Depois de tantos anos, todos mudámos, acho que eu mais do que eles, e já passámos por várias novas fases e sagas, até que lhes fui perdendo o rasto, assim como a outras coisas que deixei para trás... Entretanto, por vezes há elementos que recuperamos e desenterramos do passado, mas até que ponto valerá a pena???

...E pronto, há muito que já não fazia um post tão atípico e auto-indulgente, é o que dá desregular os horários de sono e ficar acordado até às tantas...

QUEM É AQUELA RAPARIGA?

Uma das comédias mais imprevisíveis e desregradas dos últimos anos, "Betty" (Nurse Betty) é a terceira experiência do norte-americano Neil LaBute na realização, depois de "In the Company of Men" e "Your Friends and Neighbours", cortantes retratos do quotidiano suburbano, e antes de "Possessão", mistura entre drama contemporâneo e romance histórico.

O filme centra-se em Betty, uma empregada de café de uma pequena cidade americana que, devido a um abrupto incidente, vê diluídas as fronteiras entre o mundo real e ficcional, o que a leva a crer já ter tido um relacionamento com uma personagem de uma novela que segue com devoção.

Assim, a protagonista deixa a sua terra-natal e parte em busca do seu (suposto) velho amor na tentativa de reatar a relação, mas pelo caminho irá encontrar uma série de figuras e peripécias que tornarão a sua jornada num misto de imprevisibilidade e esquizofrenia.

Amálgama de comédia romântica, filme indie suburbano e thriller esgrouviado, com direito a traços herdados de Quentin Tarantino e dos irmãos Coen, "Betty" é um filme atípico, entrelaçando humor negro e momentos de uma candura comovente.

Apesar das múltiplas referências díspares, LaBute consegue fazer com que a película resulte, nunca deixando o espectador descoordenado com as reviravoltas do intrincado argumento, enveredando por uma realização competente e por uma narrativa que mantém um ritmo capaz de envolver e surpreender.

Esta sátira ao mundo do showbiz (especialmente o televisivo) e ao culto das celebridades torna-se ainda mais fascinante tendo em conta que é protagonizada por um elenco coeso.
Aaron Eckhart é estranhamente pitoresco, Greg Kinnear encarna eficazmente o galã oco e presunçoso, a dupla cómica Morgan Freeman/ Chris Rock é um achado e a protagonista Renée Zellweger emana uma cativante aura de inocência e ingenuidade.

Irónica e offbeat, "Betty" é uma delirante experiência cinematográfica, um conto de fadas on acid que não merece ser confundido com mais uma rotineira comédia norte-americana, uma vez que desconstrói muitos dos clichés habituais nessas produções formatadas. Uma pequena pérola a não perder de vista...

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

quarta-feira, julho 27, 2005

ADEUS ÀS ARMAS

Não sendo um dos títulos mais emblemáticos de David Lodge - autor de obras como "O Museu Britânico Ainda Vem Abaixo", "Duras Verdades" ou "A Troca" -, "Soldados à Força" (Ginger, You're Barmy) é, apesar disso, mais um livro recomendável do elogiado autor britânico.

No centro da acção encontram-se dois estudantes universitários, Jonathan Browne, um britânico agnóstico e cauteloso, e Mike Brady, um irlandês católico de temperamento impulsivo. Colegas de faculdade, os dois jovens tornam-se mais próximos quando são convocados a prestar o serviço militar no mesmo local, desenvolvendo então uma relação de amizade e companheirismo.

Crónica das experiências dos dois amigos nesse novo mundo, "Soldados à Força" apresenta uma perspectiva crítica e atenta acerca da realidade militar e do seu sistema viciado, peripécias que Lodge também viveu e que retrata aqui de forma verosímil e minuciosa.

Parcialmente auto-biográfico - o autor revelou que a dupla de protagonistas não assenta em pessoas que conheceu, mas muitos dos secundários e situações baseiam-se nas suas memórias -, o livro segue sobretudo as experiências de Jonathan, que além de personagem principal é também o narrador.
Obrigado a abdicar do mundo universitário durante algum tempo, o jovem depara-se com um contexto onde a razão e a subtileza se mostram pouco determinantes quando se vê obrigado a aceitar tarefas menores e inúteis.
Já Mike, perante tal cenário humilhante, decide adoptar uma atitude mais proactiva e encetar um plano de revolta, postura que o fará afastar-se cada vez mais do seu colega.

"Soldados à Força" é, à semelhança da maioria das obras de Lodge, um livro escorreito, acessível e lúdico, pontuado por um humor mordaz e credíveis retratos de um quotidiano lacónico.
Não é um título essencial (foi a segunda obra do autor e isso nota-se, e "Artigo 22", de Joseph Heller, é mais ousado na descrição dos absurdos do mundo militar), mas as personagens são suficientemente interessantes e as considerações de Jonathan (ou de Lodge?), embora tenham sido originadas nos anos 50 - período onde decorre a acção - continuam actuais e relevantes. A (re)descobrir…

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

UMA QUINTA NA PRADARIA

Aos 30 anos, Mathilde, uma técnica de informática parisiense, decide deixar o seu emprego confortável, mas rotineiro, para se tornar agricultora, um sonho antigo mas até então sem concretização.
Assim, deixa a cidade e parte para uma quinta numa zona rural, onde convive durante os primeiros meses com o ex-proprietário desta, Adrien, um velho agricultor que pretende deixar a actividade em breve.

Sustentado sobretudo pela conturbada relação dos seus dois protagonistas, "Uma Andorinha fez a Primavera" (Une Hirondelle a fait le Printemps) proporciona um interessante olhar sobre o quotidiano campestre e assinala a estreia de Christian Carion na realização.

Geralmente plácido e sereno, o filme apresenta um competente estudo de personagens, centrando-se em duas figuras que, embora possuam pontos de vista algo divergentes, acabam por gerar um peculiar relacionamento e apercebem-se de que a tradição e a inovação não são necessariamente incompatíveis.

Christian Carion oferece um retrato curioso do dia-a-dia campestre, dando tanto espaço à prosperidade como a inesperadas contrariedades, e aposta numa realização de traços apropriadamente realistas, próximos de um estilo documental. Mathilde Seigner e Michel Serrault compõem de forma convincente duas personagens marcadas pela obstinação e solidão, com desempenhos espontâneos e credíveis.

Contudo, apesar destes bons elementos, falta a "Uma Andorinha fez a Primavera" alguma intensidade dramática que o faça tornar-se numa experiência cinematográfica mais marcante. É um filme competente e correcto, mas também demasiado linear e cauteloso, sem grandes doses de risco. Não deixa de ser, no entanto, uma película simpática e uma primeira-obra promissora e acolhedora, ainda que sem o golpe de asa que lhe permita atingir vôos mais altos.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

terça-feira, julho 26, 2005

A RAINHA DA NOITE

Depois dos pouco profícuos álbuns que editou no início da década de 90 - o datado "Erotica" e a mediana passagem pelo R&B de "Bedtime Stories" -, Madonna reinventou-se em 1998 com o marcante "Ray of Light", feliz aposta na pop electrónica que assegurou um regresso em grande após um período de menor visibilidade.

"Music", de 2000, volta a enveredar por domínios electrónicos, mas desta vez as canções não apresentam a vertente intimista e contemplativa do álbum antecessor, antes optam por tons mais festivos e dançáveis.William Orbit, nome fulcral na produção de "Ray of Light", colabora apenas pontualmente em "Music", uma vez que é o francês Mirwais que se ocupa da maioria dos temas.

O french touch de Mirwais é evidente, tanto pela forte recorrência a vocoders como às contaminações house a la Daft Punk presentes em alguns momentos, tornando "Music" num portento de energia cinética e vibração.

Uma das mais interessantes inovações que o produtor francês traz é a componente electroacústica que vinca a maioria dos temas, gerando episódios de considerável experimentalismo, raros num disco tão mainstream (e que seriam aprimorados no registo seguinte, "American Life").

"Music" é um contagiante party album que contém uma série de bons momentos, desde o ultra-eficaz single homónimo, o enérgico e bizarro "Impressive Instant", a irresistível doçura pop de "Amazing", a melancolia e envolvência de "Nobody's Perfect" ou a tranquilidade agridoce de "I Deserve It" (a mais bela canção do disco).

Indo do techno ao trip-hop, passando pelo funk ou electro, "Music" é um álbum inspirado e reluzente, e embora não seja tão coeso como o seu antecessor consegue deixar bem claro que Madonna é, ainda, a Rainha da Pop. Aproximando-se aqui de outros projectos que oscilam entre esferas mainstream e alternativas - como os Garbage (de "Version 2.0" e "beautifulgarbage"), os Ladytron ou os Cardigans (fase "Gran Turismo") - a cantora proporciona um sólido e sofisticado conjunto de canções que prometem incendiar qualquer festa, num dos seus álbuns mais contagiantes. Para ouvir e dançar...

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

segunda-feira, julho 25, 2005

QUANTO MAIS QUENTE MELHOR

JÁ ESTOU DE FÉRIAS :D, e assim estarei durante as próximas duas semanas!!! Espera-se praia, cinema (apesar do cartaz fraquinho), DVDs (a ver se finalmente vejo os que tenho comprado), concertos, algumas leituras e também obrigatórias doses de dolce fare niente...

Peço desculpa a eventuais feministas pela imagem (e a invejosas pelo bom estado de....hmmmm..."saúde" da Caitlin :P), mas este blog não é imune à influência da silly season, por isso tinha de colocar aqui uma feel good picture :P A programação de Verão segue dentro de momentos...

domingo, julho 24, 2005

O QUE É QUE O CINEMA TEM?

Mais um questionário de cinema, desta vez criado pelo migueL, e que em breve deverá estar disseminado pela blogosfera (pelo menos nos domínios mais relacionados com a sétima arte):

1. O que é para ti o Cinema?

É uma das expressões artísticas que mais aprecio e à qual presto maior atenção, por ser uma das mais abrangentes e possibilitar múltiplas perspectivas.

1.1 Como o encaras: Arte ou Entretenimento?

Acho que possui ambas as vertentes, pois uma não impossibilita a outra. Parece-me que para a grande maioria do público é visto como um entretenimento ligeiro, mas quem lhe dedicar mais atenção vê que o Cinema tanto engloba obras marcantes como produtos descartáveis (fazer essa separação é subjectivo, mas há poucas coisas mais subjectivas do que definir o que é ou não Arte) .

2. O que tem de ter um cineasta para que possas admirar a sua obra?

Originalidade, consistência, pouca pretensão e hermetismo, um universo próprio, tentativa de escape a modelos formatados.

3. O que tem de ter um actor/actriz para apreciares a sua interpretação?

Carisma, versatilidade, sensibilidade, entrega, capacidade de tornar a personagem verosímil.

4. O que preferes: créditos iniciais ou créditos finais? Porquê?
Geralmente acho que os créditos iniciais conseguem ser mais criativos e surpreendentes, e podem ser decisivos para que o espectador "entre" ou não no filme...

5. Achas que as barreiras que separam o cinema das outras artes podem, em circunstância alguma, ser quebradas?

Acho que cada campo artístico tem parâmetros rígidos q.b., o que não impede eventuais contaminações...Para mim o cinema é claramente distinto da literatura ou do teatro, mas há casos de interessantes fusões, como os videoclips, onde o cinema e a música se juntam e podem gerar amálgamas que rompem essas fronteiras...

6. Passo o desafio a...

...e a todos os outros (cinéfilos ou não) que queiram participar ;)

POBRE MENINA RICA

Estreia na realização da actriz Valeria Bruni Tedeschi, “É Mais Fácil um Camelo...” (Il Est Plus Facile Pour un Chameau...) segue o quotidiano de Federica, uma mulher com tanto de rica como de desorientada que não consegue ter uma vida tranquila devido à culpa por ter uma conta bancária consideravelmente recheada.

Incapaz de encontrar um rumo que a oriente, a protagonista de “É Mais Fácil um Camelo...” tenta redimir-se através de regulares confissões a um padre enquanto se arrasta num pouco auspicioso dia-a-dia passado com o namorado que não a compreende, o amante que insiste em não a largar ou uma família que, apesar de abastada, é a prova viva e que o dinheiro nem sempre traz felicidade.

Oscilando entre o drama realista e a comédia de costumes, o filme proporciona um olhar com tanto de sarcástico como de desencantado sobre as relações humanas, as desigualdades sociais e os conflitos culturais, apostando em atmosferas intimistas alicerçadas nas personagens.

Apresentando um trabalho de realização sem rasgos, mas competente, e um argumento curioso, mas algo fragmentado e de interesse desigual, “É Mais Fácil um Camelo...” vale sobretudo pelos actores, desde os secundários – principalmente Chiara Mastrioanni ou Lambert Wilson – até à protagonista.

Valeria Bruni Tedeschi, que aqui assume as funções de realizadora e actriz, não se sai mal na primeira mas convence mais na segunda, oferecendo um desempenho credível e espontâneo (numa personagem distante das que encarnou em “Quem me Amar Irá de Comboio” ou “5x2”, mas igualmente conseguida).

Embora a sua estreia possua fragilidades naturais numa primeira-obra, Tedeschi revela-se uma cineasta promissora, pois “É Mais Fácil um Camelo...”, mesmo não sendo uma obra especialmente inspirada, é uma agradável experiência cinematográfica que não envergonha ninguém. Recomendável para quem procura um filme ligeiro e simpático mas com algo a dizer.

E O VEREDICTO É: 2,5/5- RAZOÁVEL

sábado, julho 23, 2005

COLISÃO EMOCIONAL

Impondo-se como uma das mais criativas bandas indie dos anos 90 através de “Worst Case Scenario” (1994) e “In a Bar, Under the Sea” (1997), os dEUS possuem uma curta, mas marcante discografia que tem gerado bons resultados (pelo menos se se ignorar o escorregão do EP “My Sister is my Clock”, de 1995).

“The Ideal Crash”, o terceiro álbum de originais do grupo belga, suscitou alguma discórdia entre os fãs quando foi editado, em 1999, mas depois da habituação às alterações face aos registos anteriores torna-se perceptível que este é mais um inspirado disco da banda.

Reduzindo o intenso experimentalismo e a carga noise que dominava os seus antecessores, “The Ideal Crash” é surpreendentemente melódico e apaziguado, substituindo a rudeza e abrasividade habituais por atmosferas mais elegantes e contemplativas. Pontualmente, o disco contém ainda consideráveis descargas de visceralidade, como no tema de abertura “Put the Freaks Up Front” ou no soberbo “Instant Street”, mas o tom predominante é o de calmaria e serenidade.

Embora aparentemente mais leves, as canções possuem ainda uma estrutura intrincada e inventiva, mesmo que isso não se perceba de forma imediata. Apostando num trabalho de produção simultaneamente lo-fi e refinado, “The Ideal Crash” percorre ambientes entre o rock alternativo, a folk e a pop jazzy, oferecendo um conjunto de dez canções que focam episódios de relações amorosas tensas e conturbadas (que as letras, suficientemente tridimensionais mas nunca óbvias, conseguem traduzir com engenho).

Intimista e acolhedor, é um álbum que confirma o talento dos dEUS na composição e interpretação (é difícil ficar indiferente ao registo sóbrio e sensível de Tom Barman), e, apesar da riqueza instrumental, o som nunca se torna balofo.
Coeso e absorvente, “The Ideal Crash” perde em imediatismo o que ganha em capacidade de surpreender durante várias audições, contendo momentos de recorte superior como “The Magic Hour” (encantatória e introspectiva, com um desenlace de forte impacto emocional), a aconchegante aproximação à dream pop de “Dream Sequence No. 1”, a vibrante inquietação de “Eveybody’s Weird”, a lacónica balada “Magdalena” ou a enigmática “One Advice, Space” (todas as canções são bastante sólidas, excepto a pouco estimulante “Let’s See Who Goes Down First”, algo desajustada e desnecessária).

Melancólico e envolvente, “The Ideal Crash” apresenta um complexo e memorável olhar sobre as dificuldades e fragilidades das relações humanas e não merece, de forma alguma, o estatuto de disco insípido ou inócuo com que alguns o rotularam. Não chega a ser genial, mas também não precisa, pois isso não o impede se ser relembrado como um belo álbum.

E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

sexta-feira, julho 22, 2005

QUERIDA FAMÍLIA

Um interessante olhar sobre as relações familiares, “Uma Casa, uma Vida” (Life as a House) é um pequeno drama centrado no difícil relacionamento entre George, um arquitecto frustrado, e Sam, o seu filho adolescente rebelde.

Vitimado por uma doença trágica, George decide evitar a auto-comiseração e passar os últimos momentos da sua vida longe das obrigatoriedades da rotina profissional quotidiana, empenhando-se antes em dedicar-se a algo que realmente o motive e desafie. Assim, aproveita para reconstruir uma casa herdada pelo pai, situada numa baía, e em sedimentar o relacionamento com o seu filho, tornando-o menos conflituoso.

Irwin Winkler oferece um competente trabalho de realização, mas o filme possui algumas das irregularidades que caracterizam outras das suas obras. A sua filmografia não é especialmente estimulante, uma vez que filmes como “A Rede” (um estereotipado e formulaico thriller protagonizado por Sandra Bullock) ou “À Primeira Vista” (um desequilibrado drama sobre a cegueira que pouco mais tinha do que as boas interpretações de Val Kilmer e Mira Sorvino) são títulos que proporcionam escassas doses de inventividade.

“Uma Casa, uma Vida” é, à semelhança dos restantes trabalhos de Winkler, um filme demasiado convencional, raramente arriscando ou apostando em territórios que optem por caminhos já percorridos. Este elemento não é necessariamente negativo, até porque geralmente é elaborado de forma segura e correcta, mas também não suscita grandes rasgos de criatividade.

Por um lado, a película aproxima-se muitas vezes de um indistinto telefilme familiar (certos diálogos formatados, narrativa linear, gestão irregular da tensão dramática com cenas que apelam perigosamente à comoção fácil), por outro, apresenta a espaços traços de algum cinema independente (atmosferas sóbrias e agridoces, ocasionais sequências irreverentes e offbeat, personagens disfuncionais).
A própria banda-sonora evidencia essa dicotomia, assentando na rotineira música de Mark Ishman mas oferecendo, pontualmente, pequenas pérolas indie, como “How to Disappear Compeletely”, dos Radiohead (pelo meio há ainda Limp Bizkit, Joni Mitchell, Marilyn Manson, Violent Femmes ou Deadsy).

De qualquer forma, as personagens são suficientemente absorventes e as interpretações são ainda melhores, factor determinante para que as fragilidades de “Uma Casa, uma Vida” não superem o que de bom o filme contém.
Kevin Kline acrescenta mais um consistente desempenho ao seu currículo (interpretando um protagonista que felizmente evita a tentadora pose de “coitadinho”), Kristin Scott Thomas é igualmente tridimensional e Hayden Christensen encarna com solidez um adolescente verosímil. O elenco inclui ainda promissores jovens talentos em papéis secundários, como Jena Malone (pouco antes da participação em “Donnie Darko”) ou Ian Somerhalder (um dos protagonistas de “As Regras da Atracção”).

Não sendo um filme marcante, “Uma Casa, uma Vida” é um bom melodrama, que apesar de irregular consegue originar uma envolvente perspectiva sobre as relações familiares, a morte, o amor e o crescimento. E, no meio de tantos filmes sem substância, isso já justifica que este se torne num dos que vale a pena (re)descobrir.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

quinta-feira, julho 21, 2005

TEJO BEAT

Referência essencial do movimento asian underground, os Asian Dub Foundation têm vindo a assinalar um percurso profícuo e consistente, evidenciado em discos recomendáveis como “Community Music”, “Enemy of the Enemy” ou o recente “Tank”. Unindo uma postura activista a um caldeirão sonoro que engloba o hip-hop, rock, spoken word, dub e influências da música tradicional indiana, este colectivo britânico é um dos nomes fortes do cartaz do Festival Tejo.

A decorrer nos próximos dias 22, 23 e 24 na Quinta da Marquesa (Azambuja), a 6ª edição do Festival Tejo inclui propostas que vão desde os ritmos asiáticos dos Asian Dub Foundation e Transglobal Underground ao metal dos Moonspell, passando pelo rock dos Xutos e Pontapés e Bunnywranch, pela electrónica dos Micro Audio Waves, pelo travo africano dos Terrakota, pelo bizarro caleidoscópio dos Blasted Mechanism ou pela vertente indie de Old Jerusalem, entre outros.
Dia 22: Xutos e Pontapés, Terrakota, Melo D (Palco Tejo); Old Jerusalem, Bunnyranch, Micro Audio Waves (Palco Blitz); Maga Bo, Mike Stellar (Tenda Artizone);
Dia 23: Transglobal Underground, Asian Dub Foundation, Blasted Mechanism (Palco Tejo); Vicious Five, Ölga, Dj Nelassassin (Palco Blitz); Dubadelic Vibrations (Tenda Artizone);
Dia 24: Moonspell, Kreator, The Temple (Palco Tejo); Alone Among Thousand; Tenaz (Palco Blitz)

Se calhar passo por lá no dia 23, o que tem o cartaz mais apelativo (se bem que o de dia 22 também não é de deitar fora...).

CLUBE DE COMBATE

Nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2004, “Cruel” (Ondskan) é a segunda longa-metragem de Mikael Håfström e propõe um amargurado olhar sobre os códigos sociais, a violência e o crescimento.

Centrado em Erik Ponti, um jovem sueco de 16 anos que é enviado para um colégio interno por mau comportamento, o filme segue a sua jornada no novo local de estudo e residência, expondo as suas tentativas de não voltar a entrar no ciclo de violência que fez com que fosse repreendido anteriormente.

Embora consiga forjar alguns laços de confiança nesse novo meio – nomeadamente com o ponderado colega de quarto e com uma jovem e bela empregada -, Erik assume uma postura directa e frontal que cedo lhe garante uma série de antagonistas, sobretudo grande parte dos estudantes mais velhos que manipulam a rede de relações internas através da cultura da violência, originando um sistema baseado no medo e na repressão.

Deparando-se com a sua última oportunidade para continuar os estudos, Erik fica cada vez mais relutante quanto à atitude a adoptar. Por um lado, voltar a desiludir a sua mãe é algo que pretende evitar, por outro, considera inaceitável submeter-se às penosas e humilhantes ordens e caprichos dos colegas mais velhos, que o encaram como um alvo de chacota. Recusando tornar-se mais uma vítima de punições infundadas e abusivas, o jovem reage e coloca em causa o sistema que envolve os colegas, mas logo descobre que o preço a pagar pode ser demasiado elevado.

“Cruel” desenrola-se durante os anos 50, num período onde o impacto do nazismo ainda se encontrava bem presente, mas a sua perspectiva sobre as redes de disseminação de abusos físicos e/ou psicológicos em certas formas de organização social continua bem actual, e Håfström consegue criar um apropriado retrato cru, seco e realista que torna o filme numa poderosa experiência cinematográfica.

Complexo e verosímil, “Cruel” é um filme simultaneamente duro e comovente, que consegue despoletar um forte impacto emocional sem recorrer a rodriguinhos melodramáticos ou vícios de um típico “filme-choque” (embora contenha momentos tensos e claustrofóbicos, estes nunca se tornam exagerados ou gratuitos).

Grande parte da credibilidade das situações é gerada pela brilhante direcção de actores, uma vez que o elenco, apesar de maioritariamente jovem, é bastante seguro. Andreas Wilson, no papel de protagonista, é especialmente notável num desempenho capaz de espressar as convulsões internas de um adolescente incapaz de responder a uma realidade contraditória. Combinando austeridade e fragilidade, Wilson assinala uma muito promissora prestação e é um dos maiores trunfos do filme.

Para além do protagonista, “Cruel” impõe-se como um filme portentoso devido à realização simples e despojada de Håfström, certeira para uma história destes contornos, e ao coeso trabalho de argumento, que foge a simplismos e moralismos (ainda que perca algum fôlego nas cenas finais, não compromete o filme).

Pertinente e genuíno, “Cruel” é uma obra adulta e sensível que oferece um atento olhar sobre o lado mais desencantado e doloroso da juventude, constituíndo um dos títulos que, apesar de chegar a salas nacionais com algum atraso, ainda vem a tempo de integrar o núcleo dos filmes obrigatórios de 2005.

E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

quarta-feira, julho 20, 2005

QUEREM IR COMIGO AOS CONCERTOS?

Estão todos convidados a passar por aqui, onde poderão ouvir gratuitamente um concerto dos Radiohead. Embora ache que é uma banda sobrevalorizada, não há como negar a genialidade de algumas das suas canções, com destaque para "Karma Police", "How to Disappear Completely", "Street Spirit", "Climbing Up the Walls" ou "Everything in its Right Place", que estão entre as melhores geradas nos últimos anos...

Ainda assim, quem não gostar particularmente da banda de Thom Yorke (tansos!!!) pode ouvir concertos dos Calexico, The Strokes, Beastie Boys, Pearl Jam ou Beck com os Flaming Lips, entre muitos outros...Boa viagem ;)

NÃO ME CONSUMAS

Álex de la Iglesia é um cineasta espanhol que conta na sua filmografia com alguns títulos de culto, desde “O Dia da Besta” até “A Comunidade”, passando por “800 Balas”. O seu estilo, que combina humor negro com situações à beira do absurdo e marcadas pelo exagero, garantiu-lhe um fiel grupo de seguidores mas também alguns detractores que não se identificam com o seu cinema politicamente incorrecto.

“Crime Ferpeito” (Crimen Ferpecto) promete dar continuidade a esta tendência, apresentando mais situações vincadas por corrosivos episódios cómicos e por vezes delirantes. O filme centra-se em Rafael (interpretado por um carismático Guillermo Toledo, também presente em “Querida Família”) , responsável pela secção de senhora de uns grandes armazéns que vive uma vida desregrada, em que as únicas preocupações são a preocupação com o que vestir e a próxima mulher a conquisar, alimentando um ego que aumenta de dia para dia.

No entanto, o confortável quotidiano de Rafael, recheado de narcisismo e individualismo, é abalado quando o protagonista discute com um colega com o qual competia e gera, acidentalmente, a morte deste. Os problemas intensificam-se quando há uma testemunha do crime, Lourdes (Monica Cervera, num desempenho arrepiante), a empregada mais feia dos armazéns, que aproveita a oportunidade para se declarar a Rafael e exigir o ser amor...a bem ou a mal.

Álex de la Iglesia gera uma obra que foca as crescente revelância dada à imagem nos dias de hoje, elemento que exerce uma influência determinante nos comportamentos do dia-a-dia e nas relações pessoais e sociais, assim como nos media.
Leve e escorreito, “Crime Ferpeito” proporciona um entretenimento eficaz, com algumas doses de bizarria e demência, diálogos bem esgalhados e uma interessante atmosfera de desespero que atormenta a pacata vida do protagonista e o insere numa claustrofóbica espiral descendente devido às múltiplas chantagens de Lourdes.

A competência do filme é, no entanto, ameaçada pelas reviravoltas finais, onde o desenlace é resolvido de forma demasiado forçada e pouco plausível, e o argumento torna-se repentinamente pretensioso ao querer dar lições de moral ao espectador, o que faz com que a crítica ao consumismo, até então bem conseguida, se torne assim pesada e desajustada. Ainda assim, durante a maior parte da sua duração “Crime Ferpeito” consegue divertir, e isso justifica o visionamento de um filme desequilibrado, mas suficientemente intrigante.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

terça-feira, julho 19, 2005

CHILL OUT ZONE

Um dos nomes mais emblemáticos da música downtempo, os Thievery Corporation salientaram-se em 1997 com "Sounds From the Thievery Hi-Fi", o seu primeiro álbum de originais. Marcante dentro dos domínios das electrónicas mais calmas e apaziguadas, consagrou-os como uma referência a ter em conta dentro do género, estatuto que "The Mirror Conspiracy" confirmou em 2000.

Não inovando muito face ao seu antecessor, o disco volta a apostar em sonoridades eclécticas que unem elementos de várias geografias, gerando uma interessante amálgama de contaminações e influências.

Ainda que não apresentem nada acima do esperado dentro dos registos acid jazz/trip-hop/easy-listening mais convencionais, Eric Hilton e Rob Garza conseguem proporcionar um álbum suficientemente consistente e diversificado, originando um nutritivo cocktail de sons e sabores.

Alternando entre instrumentais e temas com as apropriadas vozes de Pam Bricker, Bebel Gilberto e Lou Lou, "The Mirror Conspiracy" percorre vários idiomas - há canções cantadas em inglês, francês e até português - e fronteiras, originando uma envolvente e agradável aura atmosférica.

No seu melhor, oferece etéreos episódios capazes de viciar, mas nos momentos menos inspirados aproxima-se da música de elevador in, contudo algo indistinta, não incomodando mas também não desafiando.

No entanto, o cardápio sonoro é geralmente recomendável, tanto na aproximação ao asian underground com os temperos indianos de "Indra" e "Illumination", na suave fusão lounge/ breakbeat de "Tomorrow" ou na trilogia de travo brasileiro de "Air Batucada", "Só com Você" e "Samba Tranquille". "Lebanese Blonde", um clássico do género, também se encontra aqui, assim como o mediático "Shadows of Ourselves", com apelativos contornos de uma pop reluzente.

Não sendo um álbum obrigatório, "The Mirror Conspiracy" é, mesmo assim, uma recomendável banda-sonora para uma tarde à beira-mar, contendo um conjunto de canções refrescantes q.b. e capazes de ajudar a suportar a temperatura de um dia solarengo. Não tira a sede, é certo, mas escorrega muito bem.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

segunda-feira, julho 18, 2005

O INÍCIO DO FIM

E pronto, four down, one to go... Passou rápido, a quarta série de "Sete Palmos de Terra", e o último episódio, embora não tenha sido excelente, deu para atar algumas pontas soltas - a ver se é desta que nos livramos do fantasma da Lisa - e lançar algumas bases para a quinta - e última (não chorem porque senão eu também choro) - temporada...

Só espero que não tenhamos de esperar muito para ver o desfecho da melhor série dos últimos (ou será de todos?) os tempos, e já agora há que realçar a forma como a 2 até conseguiu emiti-la dentro dos horários previstos e a uma hora acessível. Pode ser que a SIC aprenda umas coisas acerca do modo como anda a (mal)tratar "Donas de Casa Desesperadas" (que envolve cada vez mais a cada episódio). E pronto, agora não sei quando é que volto a parar o que estou a fazer para ir ver TV...

DOIS VELHOS RABUGENTOS

Filme independente belga de baixo orçamento, "Aaltra" é assinado por Benoît Delépine e Gustave Kervern, dupla que assume simultaneamente o cargo de realizadores e actores (encarnam os dois protagonistas).

No centro da acção está o conturbado percurso de dois vizinhos de meia-idade que vivem um quotidiano pouco auspicioso, mas o seu dia-a-dia torna-se ainda menos próspero quando têm um acidente com uma máquina agrícola e ficam ambos paralisados da cintura para baixo.

Colocando de lado - pelo menos parcialmente - as suas diferenças e antagonismos, ambos decidem deixar a Bélgica rural e efectuar uma viagem rumo à Finlândia, uma vez que é aí a sede da empresa Aaltra, fabricante da máquina que suscitou o acidente.

Delépine e Kervern proporcionam um road-movie de tons contemplativos e serenos, por onde passam algumas doses de bizarria a espaços. Um dos aspectos mais curiosos é o facto da viagem ser maioritariamente percorrida numa cadeira de rodas, mas esta é apenas uma das múltiplas características offbeat que "Aaltra" contém.

Com um sentido visual peculiar - imagem granulada e a preto-e-branco - e um argumento que assenta sobretudo em gags entre o burlesco e algum slapstick, o filme promete tornar-se num curioso exercício de cinema marginal.
Contudo, os resultados desiludem, pois embora haja por aqui três ou quatro momentos divertidos - o monólogo num bar ou as cenas em que a dupla "pede" dinheiro na rua -, o humor corrosivo e irónico desses episódios não domina a maior parte da película.
"Aaltra" perde-se em sequências demasiado longas e algo repetitivas, e a culpa nem é tanto da quase escassez de diálogos mas da débil gestão do ritmo, o que origina várias ocasiões onde a monotonia impera.

O filme de Delépine e Kervern poderá agradar, ainda assim, a quem procure um filme sobre outcasts, mesmo que o humor negro não seja muito frequente e dê lugar a um registo lacónico e amargurado que se torna cansativo. Uma viagem com potencial, mas infelizmente desapontante.

E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL

sábado, julho 16, 2005

COM UNHAS E DENTES

Seis anos depois da prova de vitalidade assinalada em “The Fragile”, os Nine Inch Nails (ou, simplificando, Trent Reznor) regressam com “With Teeth”, o seu novo registo de originais. Neste hiato temporal, a discografia do projecto aumentou devido à edição do curioso, mas desigual “Things Falling Apart” (álbum de remisturas de “The Fragile”) e “And All That Could Have Been” (um portentoso disco ao vivo que, em edições especiais, trazia como bónus outro CD, o belíssimo “Still”).

Apresentando mais um capítulo ao seu projecto, Trent Reznor proporciona mais um conjunto de canções caracterizadas por atmosferas góticas onde a visceralidade das guitarras convive com a envolvência das electrónicas.

Atingindo o pico do sucesso em meados da década de 90, com o incontornável “The Downward Spiral”, os Nine Inch Nails tiveram posteriormente a adesão de um núcleo mais restrito de seguidores quando as sonoridades industriais abandonaram a sua curta passagem por domínios mainstream (num período em que nomes como os Prodigy ou Marilyn Manson também se tornaram mais mediáticos).

Dando continuidade aos ambientes mais apaziguados e etéreos que “The Fragile” e “Still” continham, “With Teeth” é um disco que expõe uns Nine Inch Nails menos abrasivos, possuindo alguns momentos de invulgar intimismo e tranquilidade. As descargas de raiva e energia já não preenchem a maioria das composições, e por isso os domínios que o álbum percorre são menos efusivos do que os de clássicos como “Sin” ou “Mr. Self Destruct”.

Esta mudança torna “With Teeth” num registo mais acessível do que os anteriores, reduzindo a aspereza e alguma complexidade rítmica que gerava alguma estranheza em ouvidos menos audaciosos, mas tal não significa que as canções sejam menos interessantes. O disco contém, aliás, vários momentos inspirados, desde o forte tema de abertura, “All the Love in the World”, próximo de territórios ambient/ trip-hop, até ao belíssimo desenlace com a viciante inquietação de “Right Where it Belongs”.

Apesar de algumas alterações, “With Teeth” é, contudo, um disco algo indeciso, que sugere uma mutação considerável dos Nine Inch Nails mas não chega a concretizá-la inteiramente. Se, por um lado, temas como os destacados desbravam caminhos novos, outros como “The Collector”, “Love is Not Enough” e “With Teeth” limitam-se a repisar os modelos habituais do projecto, exibindo eficácia mas limitadas doses de surpresa.

Ao situar-se neste impasse, Trent Reznor oferece um álbum que oscila entre o razoável e o muito bom, gerando um resultado irregular e impedindo “With Teeth” de se tornar num grande disco.
No entanto, episódios como a cativante desolação de “Every Day is Exactly the Same”, a vibrante claustrofobia de “Beside You in Time”, o irresistível travo electropop de “Only” ou a crescente intensidade emocional de “Sunspots” (o melhor momento do álbum) fazem com que este seja ainda um conjunto de 14 canções acima da média e uma das boas colheitas musicais de 2005, evidenciando a boa forma de um projecto sólido como poucos.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

sexta-feira, julho 15, 2005

O REGRESSO DO CAVALEIRO DAS TREVAS

Nos últimos anos, o universo da banda-desenhada tem servido de fonte de inspiração para múltiplos filmes, desde mediáticos super-heróis – “Homem-Aranha”, “X-Men” – até referências mais marginais – “Sin City – A Cidade do Pecado” ou “Ghost World – Mundo Fantasma”.

Num perído onde adaptações de ícones dos comics germinam como cogumelos, uma das personagens essenciais desses domínios teria de ser (re)aproveitada para mais um novo olhar cinematográfico.
“Batman: O Início” (Batman Begins) assinala o regresso do alter-ego de Bruce Wayne a territórios da sétima arte depois das visões de Tim Burton (que criou os aclamados “Batman” e “Batman Regressa”) e Joel Schumacher (responsável pela ridicularização do defensor de Gotham City em “Batman Para Sempre” e, sobretudo, “Batman e Robin”).

Tendo em conta os resultados desequilibrados dos filmes anteriores, esta nova aventura do homem-morcego era aguardada com expectativa e alguma relutância, mas as probabilidades do resultado ser competente aumentaram quando Chris Nolan, realizador do interessante filme de culto “Memento” e do curioso, mas mais convencional policial “Insónia”, assumiu a direcção do projecto.

Embora Nolan não se tivesse responsabilizado por um blockbuster até agora, a sua primeira experiência num filme desta dimensão não só é bem sucedida como proporciona o seu melhor filme até à data.

Criando uma atmosfera apropriadamente soturna e inquietante, o cineasta oferece em “Batman: O Início” uma obra que, mais uma vez, demonstra o seu rigor e equilíbrio visual que ajudaram a que os seus títulos anteriores se tornassem tão emblemáticos.
Longe da vertente bizarra e onírica de Burton e do desbragamento carnavalesco de Schumacher (que conseguiu ser mais camp do que a série televisiva dos anos 60), Nolan origina uma perspectiva densa, crua e mais realista, apostando num registo sóbrio e sofisticado.

Mais centrado na dicotomia Bruce Wayne/Batman do que no carácter dos seus antagonistas (contrariando, assim, a tendência das adaptações anteriores), “Batman: O Início” explora o homem por detrás da máscara (ou a máscara por detrás do homem?), debruçando-se sobre as tensões e fragilidades do protagonista e evidenciando os motivos que suscitaram que um playboy milionário se tornasse num super-herói repleto de contrariedades.

Nolan constrói aqui uma obra inspirada, mas ainda assim irregular, uma vez que o olhar sobre o lado psicológico de Batman nem sempre é convincente (os momentos iniciais, repletos de frases feitas pseudo-profundas da filosofia oriental, são esteriotipados e insípidos) e a envolvente aura intimista que o filme vai desenvolvendo é subitamente interrompida quando o argumento cede, nos últimos momentos, aos lugares-comuns de um banal blockbuster (não é que Nolan não seja competente nas cenas de acção, mas as doses de adrenalina do desenlance são pouco espontâneas e demasiado formatadas).

Mesmo com essas limitações, “Batman: O Início” impõe-se como um filme sólido e adulto, com personagens estimulantes e notáveis interpretações de todo o elenco.
De resto, outra coisa não seria de esperar com actores do nível de Christian Bale (que compõe um intrigante e enigmático Batman, provavelmente o melhor que já se viu no grande ecrã), Katie Holmes (segura como advogada idealista, dando continuidade à promissora interpretação de “Pedaços de uma Vida”), Liam Neeson (competente, apesar da personagem mal explorada), Michael Caine (profissionalíssimo como sempre), Morgan Freeman (igual a si próprio, mas irrepreensível) ou Cillian Murphy (arrepiante como Scarecrow, num excelente desempenho que confirma a sua versatilidade ao distanciar-se dos papéis de “28 Dias Depois” ou “Intervalo”).

Não sendo uma obra-prima, “Batman: O Início” é, contudo, um dos melhores blockbusters do Verão de 2005 e vai além dos requisitos mínimos de um filme-pipoca, contendo substrato dramático, intensidade visual e um realizador que soube compreender o universo do protagonista.
Espera-se que, na inevitável sequela (que a última cena sugere descaradamente), os resultados sejam igualmente convincentes e estimulantes.
E VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

O REI VAI NÚ

Pois, o King Kard é muito giro e dá jeito aos cinéfilos e tal mas é um pouco desagradável chegar a uma semana onde há 5 filmes a estrear e o cartão apenas possibilita ver um (e logo o que deve ser o piorzinho de um conjunto já de si fraco: "A Máscara 2 - A Nova Geração"). Como se já não bastasse deixar de fora títulos como "Old Boy" e "Donnie Darko: Director's Cut" há uns tempos, ainda acontece uma destas...Se a tendência continuar, para o ano não me apanham novamente...

Mesmo assim, isso não me impediu de ir ver "Cruel" (Ondskan), do sueco Mikael Håfström, nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2004, uma fortíssima perspectiva sobre a adolescência, os códigos sociais e a violência. Valeu a pena, e ainda ganhei uma t-shirt (grátis na compra de dois bilhetes).

É já um dos grandes filmes do ano (altamente recomendado) que vem enriquecer um cartaz cinematográfico bastante pobre, mas que infelizmente só se encontra em 3 salas nacionais - no Quarteto e UCI em Lisboa e no AMC no Porto -, o que é especialmente triste quando coisas como "A Máscara 2 - A Nova Geração" ou "Quem tem Medo do Papão?" (por muito que tentassem, não arranjavam um título pior) infestam múltiplas salas por todo o país. Enfim...

E pronto, agora é hora de voltar à penitência - AKA tratar da papelada da casa -, que adiei durante várias semanas (como qualquer português que se preze) mas amanhã tenho mesmo de despachar isso...Boooooring...

BLINKS & LINKS

Obrigado ao brain-mixer e ao Johnny por me blinkarem nos seus blogs :)

quinta-feira, julho 14, 2005

A IDADE MAIOR

Com uma discografia praticamente incólume - marcada por álbuns incontornáveis como "Some Great Reward", "Violator" ou "Songs of Faith and Devotion" -, os Depeche Mode evidenciam-se como uma das bandas dos anos 80 que melhor soube conservar os traços essenciais da sua sonoridade sem que isso impossibilitasse a absorção de novos domínios e tendências.

Algo subestimado, uma vez que foi editado em 1997, alguns anos após a fase áurea do grupo
- finais de 80/ inícios de 90 -, "Ultra" pode não ser o disco mais emblemático e ousado dos Depeche Mode, mas é um dos mais consistentes e coesos.

Produto de um conturbado período que quase originou a dissolução do projecto - sobretudo devido à saída de Alan Wilder e aos consideráveis problemas que o vocalista Dave Gahan enfrentou devido ao consumo de drogas -, o disco é vincado por uma sóbria pop electrónica, distante dos tons mais poppy que caracterizaram a banda em inícios da década de 80 e das influências blues/gospel adoptadas na alvorada dos anos 90.

Percorrendo atmosferas densas e nocturnas, "Ultra" expõe sinais de uma banda que consegue aliar uma escrita cada vez mais sólida a absorventes e complexos ambientes, gerando um conjunto de composições maduras e de forte teor introspectivo.

Carregado de momentos inspirados, "Ultra" oferece algumas das melhores canções que os Depeche Mode já criaram, casos do portentoso tema de abertura "Barrel of a Gun", da claustrofóbica e intensa "Useless" e, sobretudo, da belíssima "Home", onde Martin Gore substitui Dave Gahan enquanto vocalista e o resultado é encantatório e avassalador. No entanto, se Gore surpreende nessa ocasional colaboração vocal, Gahan não é menos convincente e apresenta uma voz em excelente forma, cantando melhor do que nunca.

Vincado por electrónicas negras que por vezes se aproximam da obscuridade apaziguada dos Nine Inch Nails de "The Fragile" e "With Teeth", contendo ainda doses de melancolia e intimismo semelhantes às de "Adore", dos Smashing Pumpkins, ou de "Up", dos R.E.M., "Ultra" é um disco de calibre elevado e um dos grandes momentos da discografia dos Depeche Mode. Não é um dos álbuns mais inventivos da banda, mas é um dos melhores. Essencial.

E O VEREDICTO É: 4,5/5 - MUITO BOM

quarta-feira, julho 13, 2005

UM SUSTO DE FILME

Quando se pensava que a moda do sobrenatural no cinema já estava algo ultrapassada - uma vez que foi uma tendência mais visível limiar do novo milénio, com resultados entre o penoso ("Estigma", "Os Dias do Fim") e o interessante ("O Sexto Sentido", "Os Outros"), eis que chega "Ruídos do Além" (White Noise), de Geoffrey Sax.

Desta vez, o ponto de partida é o fenómeno dos EPV (Electronic Voice Phenomena), através do qual os mortos podem comunicar com os vivos recorrendo a aparelhos electrónicos. O filme segue o desencanto de Jonathan Rivers (Michael Keaton), um arquitecto bem-sucedido que, após a súbita morte da esposa, começa a encontrar-se com um especialista de EPV que lhe assegura que a sua mulher, apesar de morta, tenta ainda contactá-lo por via de aparelhos electrónicos (sobretudo pelo televisor).

Embora hesite face a estas inesperadas revelações, Jonathan começa a crer cada vez mais que a esposa está, de facto, a tentar contactá-lo, alertando-o para o carácter maligno de certas entidades sobrenaturais.

Banal e monótono, "Ruídos do Além" é um thriller que se limita a oferecer suspense de pacotilha, auras místicas new age e perigos esotéricos. Se os primeiros minutos ainda conseguem desenrolar-se com alguma sobriedade, as debilidades do argumento encarregam-se de tornar o resto do filme numa experiência cinematográfica risível, com expoente máximo no espalhafatoso desenlace.

O trabalho de realização de Geoffrey Sax, indistinto e previsível, também não contribui para que o filme funcione, e o elenco é igualmente incapaz de surpreender, tanto o protagonista Michael Keaton (em piloto automático), como Deborah Kara Unger (muito longe da presença insinuante e enigmática que a destacou em "Crash" ou "O Jogo").

Fime falhado e descartável, "Ruídos do Além" tem tanto interesse e credibilidade como a maioria dos episódios das últimas temporadas de "Ficheiros Secretos", o que, saliente-se, não é propriamente um elemento auspicioso. Recomenda-se, então, somente aos mais acérrimos (e corajosos) fãs do género.
E O VEREDICTO É: 1/5 - DISPENSÁVEL

terça-feira, julho 12, 2005

ELECTROBLUES

Uma das boas bandas britânicas formadas no final da década de 90, os Gomez recolheram fortes elogios logo no registo de estreia, "Bring it On", de 1998, álbum que lhes concedeu a atribuição do reputado Mercury Prize.

Um ano depois, "Liquid Skin" seguiu as pistas lançadas pelo primeiro disco, mas em 2002 o quinteto apresentou "In Our Gun", que ampliou um pouco as já diversificadas sonoridades praticadas pelo grupo.

Congregando indie rock, folk, britpop e blues, o terceiro álbum dos Gomez inclui ainda elementos electrónicos, que já complementavam ocasionalmente as canções de registos anteriores mas que obtêm aqui uma predominância mais acentuada.

Trazendo maior modernidade às atmosferas blues/ folk que a caracterizavam, a banda insere subtis contrastes rítmicos que por vezes se aproximam do hipnotismo do trip-hop ou da envolvência do dub, gerando um conjunto de temas que conseguem ser experimentais mas evitam o hermetismo (aliás, grande parte das canções poderia ser um single).

Coeso e cativante, "In Our Gun" é um álbum que, apesar de estar acima da média - sendo decididamente melhor do que certos conterrâneos que continuam a apostar numa estafada fórmula britpop avessa a novas referências -, torna-se, a espaços, um pouco derivativo, aproximando-se tanto dos Calexico ("In Our Gun") ou Morphine ("Shot Shot") como dos Oasis ("Sound of Sounds") ou Delakota ("Detroit Swing 66"), passando pelos Pearl Jam, Turin Brakes ou Dave Matthews Band (com estes últimos exibe sobretudo semelhanças no registo vocal e não tanto nas sonoridades).

Exceptuando este entrave, o disco proporciona motivos suficientes para justificar múltiplas audições, casos da energia contagiante de "Drench", dos intrigantes ambientes de "Army Dub", dos registos contrastantes de "In Our Gun" (onde a melancolia acústica é subitamente interrompida por uma viciante carga electrónica) ou da irreverência de "Ruff Stuff".

Não contendo nada nem de genial nem de insípido, "In Our Gun" é mais um recomendável título da interessante discografia dos Gomez, confirmando, ao terceiro registo, um dos bons projectos de terras de sua majestade.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

segunda-feira, julho 11, 2005

TUDO SOBRE AS MÃES DELES

Centrado numa temática recente e polémica - a legalização dos casamentos entre homossexuais em Espanha -, "Rainhas" (Reinas) combina drama e comédia e segue os preparativos para o casamento de uma série de personagens gay, focando em particular o relacionamento destes com as suas mães.

Actual e controverso, o filme é a mais recente proposta de Manuel Gómez Pereira, realizador de obras razoavelmente divertidas como "Porque lhe Chamam Amor Quando Querem Dizer Sexo?" ou "Boca a Boca" (este com Javier Bardem, antes da aclamação de "Antes que Anoiteça" e "Mar Adentro").

Tal como os títulos anteriores de Gómez Pereira, "Rainhas" é um filme que contém uma considerável componente kitsch, visível logo no genérico inicial e presente em várias personagens e situações pitorescas.
Interligando uma série de figuras de várias origens que têm em comum um contacto relativamente próximo com a homossexualidade - com todo o tipo de reacções que daí advêm -, a película oferece um olhar sobre as alterações sociais da Espanha contemporânea.

Vincado por cenas de humor negro e politicamente incorrecto, "Rainhas" aproxima-se, por vezes, de domínios próximos dos de Pedro Almodóvar, não tanto os da sua fase mais recente mas do seu período mais irreverente e espirituoso (ou seja, mais o de "Kika" ou "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" e menos o de "Má Educação", ainda que este também se centre na homossexualidade, contudo com uma perspectiva bem mais soturna).

Um dos melhores ingredientes de "Rainhas" é a soberba direcção de actores, uma vez que o elenco inclui vários nomes de actrizes consagradas como Verónica Forqué, Cármen Maura, Marisa Paredes, Betiana Blum e Mercedes Sampietro, que desempenham o papel de mães dos noivos. É essencialmente sobre elas que incide o olhar de Gómez Pereira, e as suas diversificadas relações com os seus filhos gay orientam o decorrer dos acontecimentos.

Longe dos modelos do filme militante, "Rainhas" apresenta um interessante estudo de personagens que, através da temática da homossexualidade, abrange também as dos laços familiares, códigos sociais, (in)tolerância, amor e clivagens sociais, alternando entre episódios sérios e situações carregadas de humor (ora óbvio e populista, ora irónico e refinado).

Gómez Pereira gera aqui um dos seus melhores filmes, esculpindo um argumento envolvente, personagens carismáticas (embora sejam demasiadas e, por isso, algumas vão pouco além da caricatura) e um eficaz trabalho de realização, apostando numa narrativa com uma curiosa gestão do tempo que tem o mérito de não deixar o espectador descoordenado face a um conjunto de personagens tão vasto.

Funcionando como um muito agradável entretenimento mas também enquanto um pertinente retrato da realidade urbana espanhola dos dias de hoje, "Rainhas" comprova que é possível fazer um tipo de cinema simultaneamente acessível e relevante, equilibrando a marca autoral e a vertente comercial. De resto, estes elementos já são comuns em muitos exemplos da cinematografia espanhola recente, evidenciando algo que o cinema português ainda não é capaz de fazer regularmente. Um filme a ver, portanto...

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

domingo, julho 10, 2005

DIZ-ME O QUE OUVES...

O skizo lançou-me um questionário musical (sim, estão mesmo na moda), que deverá atender ao seguinte: "list five songs that you are currently digging. It doesn't matter what genre they are from, whether they have words or even if they're any good but they must be songs you're really enjoying right now. Post these instructions, the artist and the song in your blog along with your five songs. Then tag five other people to see what they're listening to."
Assim sendo, aqui ficam as escolhas:
1. Billy Corgan - "Mina Loy (M.O.H.)"
2. Coldplay - "White Shadows"
3. Ladytron - "Destroy Everything You Touch"
4. I AM X - "Kiss and Swallow"
5. The Postal Service - "We Will Become Silhouettes"

E o desafio segue para: