Mesmo antes da estreia, "O Caimão" (Il Caimano) era já alvo de alguma controvérsia por se tratar de uma suposta sátira a Silvio Berlusconi, e a dúvida prendia-se com o facto de saber qual seria a abordagem empregue por Nanni Moretti na sua perspectiva sobre o ex-primeiro-ministro italiano.
Ora, apesar desse ter sido o motivo pelo qual o filme gerou mais burburinho, comprova-se agora que esta está longe de ser uma obra que se reduza a uma arma de arremesso, não se centrando somente na crítica a uma figura política uma vez que conta com um argumento que engloba muitos outros elementos. Demasiados, talvez, porque esta história sobre Bruno Bonomo, um produtor de filmes de série-Z em crise - não só profissional como familiar - que encontra na parceria com uma jovem realizadora o impulso para dar um novo sentido à sua vida perde-se constantemente em indecisões e contrastes de tom.
Ora, apesar desse ter sido o motivo pelo qual o filme gerou mais burburinho, comprova-se agora que esta está longe de ser uma obra que se reduza a uma arma de arremesso, não se centrando somente na crítica a uma figura política uma vez que conta com um argumento que engloba muitos outros elementos. Demasiados, talvez, porque esta história sobre Bruno Bonomo, um produtor de filmes de série-Z em crise - não só profissional como familiar - que encontra na parceria com uma jovem realizadora o impulso para dar um novo sentido à sua vida perde-se constantemente em indecisões e contrastes de tom.
Moretti tanto investe nos dilemas do drama conjugal do seu protagonista como nos episódios dos bastidores cinematográficos que preenchem o dia-a-dia deste, não deixando, claro, de oferecer um olhar sobre Berlusconi, que não por acaso é a figura sobre a qual o filme-denúncia de Bruno se debruça (e aqui entra a lógica de "filme-dentro-do-filme").
Muito para condensar numa só obra? A julgar pelo resultado de "O Caimão", sim, já que esta oscilação entre o retrato da crise da meia idade, do declínio do cinema italiano e das convulsões políticas e sociais da Itália dos últimos anos nunca atinge um ponto de equilíbrio, desperdiçando as potencialidades de um filme que raramemente entusiasma.
O problema nem é só a dispersão do argumento, uma manta-de-retalhos que foca questões relevantes sem as desenvolver convenientemente, antes o facto de "O Caimão" falhar tanto quando tenta a comédia como o drama, tornando-se num objecto cada vez mais indiferente e arrastado e que convida ao bocejo durante as suas duas (longas) horas de duração.
Face a estes desapontantes predicados, de pouco serve a competência do elenco, desperdiçado num filme sisudo e sem chama.
Moretti faz da tensa e angustiante situação do seu protagonista um eco dos sintomas que afectam a Itália de hoje, que de acordo com o filme se encontra imersa num contexto de hesitações - perdida, desnorteada e descaracterizada. Ironicamente, estes são também males de que "O Caimão" acaba por sofrer.
E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL
4 comentários:
HAHAHA! Naum há paciência para Nanni Moretti.
Bem, neste caso de facto não tive muita, não :/
Nanni Moretti é um dos mais brilhantes realizadores europeus e este "O Caimão", apesar de ser um filme-propaganda, não é inferior aos anteriores. Tive a felicidade de ver o Nanni ao vivo este sábado, no Monumental (é pena não poder escrever "conheci-o pessoalmente") e ouvi-lo foi uma bênção, uma espécie de livro de instruções sobre o filme. Espero que o revejam, com outros olhos.
Um forte abraço,
Bracken
Dele apenas vi este e "O Quarto do Filho", mas nem um nem outro me convenceram especialmente. Quando chegar aos anteriores logo esclareço as dúvidas.
Abraço e bons filmes.
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