domingo, abril 29, 2007

O FIO DA VIDA

Sisuda, irritadiça e desconfiada, Frédérique - ou Fred, como é habitualmente tratada - vive uma rotina que se divide entre o trabalho como enfermeira no hospital de uma pequena cidade suíça, passeios de bicicleta e saídas à noite.

Com poucos amigos e relações familares conturbadas, a protagonista de "Pas Douce" cansa-se da amargura que invade cada vez mais o seu quotidiano e decide suicidar-se na floresta com um tiro de caçadeira, mas o seu plano é alterado quando dois adolescentes barulhentos correm pelas proximidades. A jovem enfermeira reage impulsivamente à interferência e acaba por disparar na perna de um deles, o que a leva a ter de esquecer, pelos menos temporariamente, os seus pensamentos suicidas ao ajudar a vítima no hospital onde trabalha - tarefa que, ainda por cima, não será fácil, uma vez que Marcos é tão ou mais revoltado e impaciente do que ela.

Segunda longa-metragem da suíça Jeanne Waltz, realizadora que viveu anos em Portugal onde realizou o filme anterior, "Daqui P'ra Alegria", "Pas Douce" é um drama seco e directo sobre a redenção, a confiança e a solidão, questões trabalhadas a partir de um consistente estudo de personagem. Se é verdade que, após a revelação da premissa, o argumento não se desenvolve de forma especialmente surpreendente, já que não é difícil prever o rumo que o relacionamento entre a enfermeira e o paciente toma, isso nem compromete muito a solidez do filme, pois Waltz dirige com mão segura este retrato de duas vidas algo alienadas e frias.

A complementar a competente realização de travo realista surge um denso e inabalável desempenho de Isild Le Besco, que concede à personagem principal uma atitude irascível sem deixar de expor uma vulnerabilidade que tenta esconder-se. Encabeçando um elenco que não compromete, a actriz é o grande trunfo de uma película que oferece ainda um olhar sobre as singulares relações nas comunidades das pequenas cidades, vincado por um subtil sentido de observação de Waltz e pela atenção dada ao detalhe, dotando "Pas Douce" de uma plausibilidade palpável e contribuindo para que se torne num título auspicioso.


E O VEREDICTO É:
3/5 - BOM


"Pas Douce"
é uma das obras da secção competitiva da quarta edição do IndieLisboa

5 comentários:

extravaganza disse...

Foi precisamente essa a classificação que lhe dei na votação pelo público: 3. Não o achei nada de extraordinário...

gonn1000 disse...

Também não achei extraordinário, mas ainda assim gostei moderadamente.

Anónimo disse...

há quem tem de fazer algo ordinário para que o extraordinário se possa luzir

gonn1000 disse...

Claro, nem tudo pode ser excelente.

Anónimo disse...

definitivamente