Com apenas dois filmes, Darren Aronofsky tornou-se, para muitos, num dos novos realizadores norte-americanos mais entusiasmantes dos últimos anos, com uma linguagem própria e experimental mas quase sempre mais hipnótica do que hermética.
Na sua promissora primeira obra, "Pi" (1998), deu provas de talento, ainda que com alguns desequilíbrios, mas foi o trabalho seguinte, "A Vida não é um Sonho" (Requiem for a Dream, 2000), que o colocou decididamente como um nome a seguir com atenção, ou não fosse esse um dos melhores e mais alucinantes filmes desta década.
Percebe-se, por isso, que fosse muita a expectativa em redor de "O Último Capítulo" (The Fountain), terceiro opus do rapaz-prodígio que, se por um lado confirma a sua singularidade, também se arrisca a ser o que lhe garantirá mais detractores. A estreia mundial no Festival de Veneza foi disso sintomática, gerando mais rejeição do que adesão, e vendo o filme não se estranha que este seja um dos que despoleta reacções muito extremadas.
Na sua promissora primeira obra, "Pi" (1998), deu provas de talento, ainda que com alguns desequilíbrios, mas foi o trabalho seguinte, "A Vida não é um Sonho" (Requiem for a Dream, 2000), que o colocou decididamente como um nome a seguir com atenção, ou não fosse esse um dos melhores e mais alucinantes filmes desta década.
Percebe-se, por isso, que fosse muita a expectativa em redor de "O Último Capítulo" (The Fountain), terceiro opus do rapaz-prodígio que, se por um lado confirma a sua singularidade, também se arrisca a ser o que lhe garantirá mais detractores. A estreia mundial no Festival de Veneza foi disso sintomática, gerando mais rejeição do que adesão, e vendo o filme não se estranha que este seja um dos que despoleta reacções muito extremadas.
Ensaio sobre as interligações entre o amor e a morte, a película volta a juntar o realizador a propostas atípicas e arriscadas, centrando-se num romance de um casal que se dilui em três contextos espaciais e temporais diferentes: um na Espanha do século XVI, outro nos EUA dos dias de hoje e um terceiro num plano astral, durante uma época não identificada. Este último será talvez o que mais contribui para que o filme ganhe alguns ódios viscerais ou, pelo menos, olhares de soslaio, uma vez que é o que contém as sequências mais abstractas e de considerável carga simbólica, por vezes resvalando para uma duvidosa fusão de misticismo zen e new age difícil de digerir.
Será, no entanto, injusto ignorar os méritos do filme devido a ocasionais cenas algo pomposas e insufladas, em que Aronofsky se deslumbra com os seus virtuosismos e se arrisca a deixar de fora o espectador. Apesar da notável intensidade plástica que emana de "O Último Capítulo" nem sempre estar ao serviço da narrativa, gera momentos onde este passa de experiência cinematográfica a sensorial, sendo dominado por uma rara e desconcertante energia. A espessura cromática dos tons com variações de dourados potencia imagens de inegável beleza, onde o jovem realizador volta a confirmar-se como um excepcional e imaginativo esteta, criador de um universo fascinante.
Felizmente, o filme não vale só pela sua minúcia visual mas debruça-se numa história de amor épica e absorvente, onde a continuidade da relação de um casal surge ameaçava pelo medo, raiva e obsessão despoletados pela sugestão da morte. O duo protagonista revela uma entrega invulgar, partilhando uma química palpável e dando ao filme uma forte densidade emocional. Rachel Weisz demonstra que a excelente interpretação em "O Fiel Jardineiro" não foi um acaso e volta a compor uma personagem com a qual é difícil não sentir empatia, mas é Hugh Jackman quem mais surpreende, expondo um impressionante romantismo magoado a milhas dos seus mornos desempenhos recentes em "Scoop" ou "O Terceiro Passo".
Será, no entanto, injusto ignorar os méritos do filme devido a ocasionais cenas algo pomposas e insufladas, em que Aronofsky se deslumbra com os seus virtuosismos e se arrisca a deixar de fora o espectador. Apesar da notável intensidade plástica que emana de "O Último Capítulo" nem sempre estar ao serviço da narrativa, gera momentos onde este passa de experiência cinematográfica a sensorial, sendo dominado por uma rara e desconcertante energia. A espessura cromática dos tons com variações de dourados potencia imagens de inegável beleza, onde o jovem realizador volta a confirmar-se como um excepcional e imaginativo esteta, criador de um universo fascinante.
Felizmente, o filme não vale só pela sua minúcia visual mas debruça-se numa história de amor épica e absorvente, onde a continuidade da relação de um casal surge ameaçava pelo medo, raiva e obsessão despoletados pela sugestão da morte. O duo protagonista revela uma entrega invulgar, partilhando uma química palpável e dando ao filme uma forte densidade emocional. Rachel Weisz demonstra que a excelente interpretação em "O Fiel Jardineiro" não foi um acaso e volta a compor uma personagem com a qual é difícil não sentir empatia, mas é Hugh Jackman quem mais surpreende, expondo um impressionante romantismo magoado a milhas dos seus mornos desempenhos recentes em "Scoop" ou "O Terceiro Passo".
Clint Mansell, habitual colaborador, volta a encarregar-se da banda-sonora mas afasta-se do drum n' bass de "Pi" e da união de violinos e electrónica de "A Vida não é um Sonho", enveredando antes por sonoridades mais serenas e etéreas onde o piano obtém grande parte do protagonismo. Os Mogwai e o Kronos Quartet também contribuem e o resultado convence, o que não é pouco tendo em conta a importância que a música adquire nos filmes de Aronofsky, sendo muito mais do que um mero adorno da imagem.
"O Último Capítulo" poderá ficar aquém do admirável marco que muitos esperariam (incluindo o realizador), mas tem méritos que compensam plenamente ocasionais escorregões de auto-indulgência e exibicionismo. Afinal, poucos filmes surgidos nos últimos tempos podem orgulhar-se de serem tão desafiantes e de contarem com uma carga poética tão vincada, assim como não serão muitos os novos realizadores que possam consagrar-se já como autores tão peculiares e interessantes como Aronofsky.
"O Último Capítulo" poderá ficar aquém do admirável marco que muitos esperariam (incluindo o realizador), mas tem méritos que compensam plenamente ocasionais escorregões de auto-indulgência e exibicionismo. Afinal, poucos filmes surgidos nos últimos tempos podem orgulhar-se de serem tão desafiantes e de contarem com uma carga poética tão vincada, assim como não serão muitos os novos realizadores que possam consagrar-se já como autores tão peculiares e interessantes como Aronofsky.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
5 comentários:
Ja alguma vez deste 5/5 a algum filme?
Já, mas não a nenhum de que tenha falado aqui.
The Fountain é acima de tudo uma explosão de sentimentos e eu senti-me inundado por eles, foi uma das maiores experiências sensoriais que tive num cinema.
Aproveito para te perguntar, viste o filme no UCI? Houve problemas de som? É que é a única sala que tem o filme em Lsiboa e gostava de o ir ver de novo, mas queria certificar-me de que não voltava a sofrer dos mesmos problemas.
Então proponho te um desafio :P Diz lá três filme que dês 5/5...
_Loot_: Sim, mas é uma explosão um pouco desregrada, ainda que no geral o balanço seja positivo.
Vi o filme no UCI, sim, e teve problemas de som num ou outro momento, mas por pouco tempo, acho que vale a pena arriscares.
P.R: LOL, ok, assim de repente: "Relatório Minoritário", "Verão Escaldante" e "Cidade de Deus".
Enviar um comentário