Quando foi anunciado que, após a saída de Pierce Brosnan, Daniel Craig tinha sido o escolhido para protagonizar mais uma aventura de 007, não foram poucos os fãs que reagiram com cepticismo a essa opção. Fosse por ser loiro, demasiado musculado ou excessivamente rude e inexpressivo, eram vários os motivos para que, segundo algumas vozes, o novo James Bond deixasse muitas reticências.
Tais suspeitas revelaram-se, no entanto, infundadas, uma vez que Craig não só já tinha provado, e várias vezes, que é um actor a ter em conta (confira-se em "Sylvia", "O Fardo do Amor" ou "Munique", entre outros), como é um dos grandes responsáveis pela injecção de vitalidade que "007 — Casino Royale" implementa a uma saga que já se movia há muito em piloto automático.
Tais suspeitas revelaram-se, no entanto, infundadas, uma vez que Craig não só já tinha provado, e várias vezes, que é um actor a ter em conta (confira-se em "Sylvia", "O Fardo do Amor" ou "Munique", entre outros), como é um dos grandes responsáveis pela injecção de vitalidade que "007 — Casino Royale" implementa a uma saga que já se movia há muito em piloto automático.
O filme, baseado no primeiro livro (de título homónimo) que Ian Fleming escreveu sobre o famoso agente secreto, em 1953, acompanha a sua primeira missão enquanto 007, aquela em que o espião já tem licença para matar.
Se o prólogo, a preto-e-branco, oferece um início intrigante, o mesmo não se pode dizer dos restantes primeiros minutos do filme, gastos numa longa sequência de perseguição que se torna cansativa, onde Craig parece encarnar não o novo James Bond mas antes um herói de acção semelhante a um cruzamento entre Jean-Claude Van Damme e Arnold Schwarzenegger, com muito músculo e pouca conversa.
Se o prólogo, a preto-e-branco, oferece um início intrigante, o mesmo não se pode dizer dos restantes primeiros minutos do filme, gastos numa longa sequência de perseguição que se torna cansativa, onde Craig parece encarnar não o novo James Bond mas antes um herói de acção semelhante a um cruzamento entre Jean-Claude Van Damme e Arnold Schwarzenegger, com muito músculo e pouca conversa.
Os minutos seguintes optam por uma uma lógica já vista e revista em muitos outros filmes de espionagem embalada com adrenalina q.b., que o realizador de serviço, Martin Campbell, estrutura com competência mas sem especial inspiração. Até aqui nada de novo, e embora não haja muitos traços reconhecíveis da saga de 007 a mudança não parece ser para melhor, antes no sentido de uma linha de montagem anódina.
Tudo se altera, contudo, a partir do momento em que Vesper Lynd entra em cena, interpretada por uma brilhante Eva Green, que alia inteligência e elegância de forma invejável e partilha com Craig uma química imediatamente perceptível. O diálogo entre ambos, durante a viagem de comboio, expõe uma escrita engenhosa condimentada por um sarcasmo irresistível, e a relação do duo, a partir daqui primordial para a acção do filme, é um dos grandes elementos que contribuem para a solidez deste.
O facto do argumento de "007 — Casino Royale" estar uns pontos acima de grande parte dos de outras aventuras do espião deverá muito a Paul Haggis, que depois de "Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos" e "Colisão" divide aqui os créditos da escrita com Neal Purvis e Robert Wade ("007 - Morre Noutro Dia", "Johnny English").
O filme não se esgota, assim, num emaranhado de sequências de acção com variações dos níveis de pirotecnia, pois surpreende ao mergulhar numa densidade emocional difícil de encontrar num entretenimento pipoqueiro.
Para além de incluir um dos pares mais carismáticos do ano, a película leva James Bond a territórios até então distantes da personagem, como os das marcantes cenas de tortura, onde um carregado humor negro se entrecruza com uma tensão claustrofóbica, evidenciando a carga mais crua, realista e áspera desta aventura (que dispensa, e ainda bem, a proliferação de gadjets tão sofisticados quanto inverosímeis).
Martin Campbell, depois da formatação dos primeiro momentos, apresenta um seguro trabalho de realização, e tem o mérito de conseguir manter o interesse durante duas horas e meia, gerindo com solidez os muitos cliffhangers que marcam a acção, desde uma visceral perseguição de automóvel até ao angustiante desenlace.
As cenas de antologia são, todavia, as mais pausadas, como aquela em que Craig emerge do mar em fato de banho, à la Ursula Andress (longe vão os tempos em que apenas as bons-girls eram o objecto sexual), uma outra que que foca o actor e Eva Green no duche, tão bela quanto amargurada, ou ainda as que ambos protagonizam já perto do final, também na água, numa das sequências mais emotivas do filme.
Ousado e envolvente, "007 — Casino Royale" confirma que Daniel Craig é uma aposta ganha, uma vez que o actor encarna sem mácula um James Bond para o novo milénio, um herói que, apesar da pose arrogante, fria e máscula, não consegue evitar a solidão gerada por um assombrado romantismo.
Menos convincente é a escolha de Chris Cornell para a autoria da canção principal, que tanto poderia pertencer a um filme do 007 como a uma qualquer playlist do mais indistinto rock-FM. Mas se a canção é uma das piores da saga, pelo menos o filme é um dos melhores. Antes assim.
O filme não se esgota, assim, num emaranhado de sequências de acção com variações dos níveis de pirotecnia, pois surpreende ao mergulhar numa densidade emocional difícil de encontrar num entretenimento pipoqueiro.
Para além de incluir um dos pares mais carismáticos do ano, a película leva James Bond a territórios até então distantes da personagem, como os das marcantes cenas de tortura, onde um carregado humor negro se entrecruza com uma tensão claustrofóbica, evidenciando a carga mais crua, realista e áspera desta aventura (que dispensa, e ainda bem, a proliferação de gadjets tão sofisticados quanto inverosímeis).
Martin Campbell, depois da formatação dos primeiro momentos, apresenta um seguro trabalho de realização, e tem o mérito de conseguir manter o interesse durante duas horas e meia, gerindo com solidez os muitos cliffhangers que marcam a acção, desde uma visceral perseguição de automóvel até ao angustiante desenlace.
As cenas de antologia são, todavia, as mais pausadas, como aquela em que Craig emerge do mar em fato de banho, à la Ursula Andress (longe vão os tempos em que apenas as bons-girls eram o objecto sexual), uma outra que que foca o actor e Eva Green no duche, tão bela quanto amargurada, ou ainda as que ambos protagonizam já perto do final, também na água, numa das sequências mais emotivas do filme.
Ousado e envolvente, "007 — Casino Royale" confirma que Daniel Craig é uma aposta ganha, uma vez que o actor encarna sem mácula um James Bond para o novo milénio, um herói que, apesar da pose arrogante, fria e máscula, não consegue evitar a solidão gerada por um assombrado romantismo.
Menos convincente é a escolha de Chris Cornell para a autoria da canção principal, que tanto poderia pertencer a um filme do 007 como a uma qualquer playlist do mais indistinto rock-FM. Mas se a canção é uma das piores da saga, pelo menos o filme é um dos melhores. Antes assim.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
12 comentários:
Grande Bond, Grande Craig.
Dário Ribeiro: Da música ainda não consigo gostar muito, mas p filme vai melhorando progressivamente. Não entra no meu top 10, mas é uma boa surpresa.
Obrigado, bom ano para ti também.
Wellington: Nem mais :)
Também tem o seu lugarzinho no meu Top10 2006... Um Bond refrescante com uma personalidade muito própria.
E não atribuindo a Eva Green o adjectivo de brilhante, fiquei bastante surpreendida por Luís Salvado (Premiere) ter identificado a sua falta de carisma como o pior do filme.. :S
No máximo senti uma falta de química entre ela e Craig, mas não tão gritante que chegue para ser chamada a pior característica do filme..
***
LeStrange
Não acho nada que a Eva seja o pior do filme, pelo contrário, introduz uma presença e densidade que a coloca num patamar muito acima das banais bond girls. E não aponto defeitos à química dela com o Craig, as cenas entre ambos funcionaram bastante bem.
Bem, não posso dizer que passei um mau bocado(longe disso), mas esperava mais do que os 3/5 5/10 que lhe atribuiria. Sim, a canção principal é das piores e a saga tem uma valente quantidade de muito boas canções(Carly Simon, Louis Armstrong, Duran Duran, Shirley Bassey, Wings, etc...).
Já agora(e para provocar os new Bond lovers:), viva o Roger Moore!! Viva o gajo!:) Gostava até mais dele do que dos filmes, sendo que os dele são dos melhores da saga. É qualquer coisa...
A provocação via Roger Moore não me afecta :P
Quanto às canções, assim de repente também gostei das dos A-Ha, Garbage, Madonna e até Tina Turner. Para quando uma da banda do teu amigo Thom?
Lol, para uma canção "ao jeito deles" encaixar bem, a saga teria de dar 1 volta bem maior e tornar o Bond 1 personagem bem menos action-figure e com bem mais espaço para ambiências depressivas. É que não convinha nada serem os Radiohead a dar a volta necessária. Há por aí muito pessoal que podia contribuir bem musicalmente- espero é que não se lembrem da Nelly Furtado:P
Este novo teve os seus momentos depressivos, não? E qual o problema da Nelly Furtado? Até lançou um dos discos pop mais recomendáveis de 2006 e tudo, deixa lá a tua vizinha em paz...
Mas não basta uns certos momentos depressivos: seria preciso mais e mais carregados. E a "gaija" que teve muito bem com os discos foi a Fiona- bem sei que não é assim que achas, nobody's perfect:P
Pois não, "Extraordinary Machine" pouco tem de extraordinário, prefiro o mais despretensioso e sumarento "Loose" :P
Tive o prazer de até hoje ver todos os filmes da saga James Bond. Definitivamente, não posso de todo concordar com a atribuição de excelente desempenho a Daniel Craig. De facto, em minha opinião, o filme tem um excelente argunta e uma má interpretação da personagem na generalidade. Craig não é um actor talhado para o papel, ou então, todos os outros falharam na sua interpretação.
Creio inclusivamente que o proximo filme irá ser uma decepção se se confirmar aquilo que Daniel Craig afirmou a um tabloide ingles: "o proximo filme quer aparecer complectamente nu com cenas eróticas e uma cena gay entre ele e outro actor"...
Ou seja, mais uma novdade, agora a saga passa a filme erótico.... Ha e se o realizador lhe der ouvidos em vez de girlbond teremos gaybond...
Os meus cumprimentos.
Craig tem uma abordagem diferente ao papel, mas não me parece nada falhada, antes bem-vinda, porque a saga já estava a acumular muitos lugares-comuns.
Dessas afirmações no tablóide nem ouvi falar, mas acho duvidoso que avancem por aí.
Cumprimentos.
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