quinta-feira, janeiro 18, 2007

ELECTROTRASH

Uma das melhores revelações de 2006, os brasileiros Cansei de Ser Sexy têm, no seu álbum de estreia homónimo, algumas das canções mais contagiantes e irresistíveis dos últimos tempos, exemplos de uma pop que equilibra com eficácia acessibilidade e estranheza.

O sexteto, composto por membros com experiência no mundo da moda, artes gráficas e cinema, conheceu-se através da internet, e mesmo sem que nenhum dos elementos tivesse qualquer formação musical (excepto o baterista, que é também a única presença masculina do grupo), esse contacto acabou por levar à formação de uma banda.
O nome, aproveitado de um excerto de uma entrevista a Beyoncé, sugere logo que este é um projecto atípico e dominado por um peculiar sentido de humor, presente também nas letras de grande parte das canções e na postura descomprometida dos músicos.

Contrastando e recontextualizando diversas influências, os Cansei de Ser Sexy tanto enveredam por domínios electro como resgatam códigos da new wave, percorrendo ainda territórios de um indie rock de meados de 90 e adiconando ocasionais temperos funk.
O disco de estreia reaproveita temas dos seus três EPs - "Em Rotterdam Já é Uma Febre", "A Onda Mortal / Uma Tarde Com PJ" e "CSS SUXXX" - e oferece outros tantos inéditos, resultando num todo coeso, embora ecléctico, onde é difícil apontar momentos que se destaquem uma vez que todos poderiam funcionar como singles, dada a carga viciante que o álbum transpira da primeira à última canção.

Não é que o grupo traga aqui algo de muito inovador, até porque é fácil encontrar aproximações com outros nomes em quase todos os temas - das Le Tigre a Peaches, das Breeders aos Vive la Fête, das Chicks on Speed aos Metric, a lista de comparações não é curta -, mas a banda não perde por isso, uma vez que a despretensão é evidente e as canções não aspiram a mais do que funcionar enquanto pastiches lúdicos e hedonistas, e cumprem-no de forma bastante meritória.

Concentrado de pérolas pop pastilha-elástica, "Cansei de Ser Sexy" dispara tiros certeiros como o single "Let's Make Love and Listen to Death From Above", o delirante "Meeting Paris Hilton" (centrado na socialite mais mediática do momento), o efervescente "Alala" (proposta irrecusável numa pista de dança), ou a ode à música que transborda no pujante "Music Is My Hot Hot Sex".
Entre divagações sobre a cultura pop, estudantes de arte ou provocações sexuais, as letras percorrem territórios bizarros e quase sempre nonsense, e as melodias upbeat que as acompanham contribuem para que as canções se tornem em absorventes estilhaços de energia cinética, atirando a banda para um universo próprio, não obstante as óbvias influências.

Lamenta-se, contudo, que a edição internacional do disco (via Sub Pop) não inclua alguns temas da versão brasileira, casos do cativante devaneio de electrónica lo-fi "Computer Heat" e das canções cantadas em português, como "Acho um Pouco Bom" (perfeita descrição de um dia de inércia caseira), "Bezzi" (hilariante rebuçado pop centrado num DJ brasileiro) e "Superafim" (provavelmente a composição mais trashy da banda).
De qualquer forma, seja na edição brasileira ou na internacional, "Cansei de Ser Sexy" ganha o lugar de feelgood album de 2006 já que, para afastar a má disposição, é mais eficaz do que dez aspirinas e tem a vantagem poder ser consumido sem contra-indicações. Pelo meos até chegar o próximo...

E O VEREDICTO É
: 3,5/5 - BOM

Cansei de Ser Sexy - "Alala"

14 comentários:

W disse...

desculpa a intromissão :x http://us.mms.com/us/dark/index.jsp

Anónimo disse...

LOL! 3,5, quem diria. Quem diria.

gonn1000 disse...

Bárbara: Hum, não tem nada a ver com o assunto do post, mas ok, tem a sua piada.

Anónimo: Surpreendido?

gonn1000 disse...

Muito, e dos mais viciantes dos últimos tempos.

Anónimo disse...

Cansei de Ser Sexy foi uma febre no final de 2005 e início de 2006.
Quase como o que os Klaxons são hoje. Sem álbum (a banda chegou a declarar que não ia lançar álbum, iria viver de EPs e faixas na internet), sem site oficial, muito hype. Cada música lançada na internet gerava uma corrente para compartilhá-la.
Quando tinha-se notícia que haveria shows, gerava uma histeria sem tamanho nos blogs de paulistanos (inclusive no meu extinto blog ;D). Até quem tinha tinha antipatia pela banda queria vê-los de perto. Iam aos shows. Quem curtia dançava. Quem não curtia batia os pés no chão ao ritmo de "Bezzi".
Aí veio 2006. Partiram para uma turnê sem fim no exterior. O furor por aqui passou. A antipatia cresceu, mais pelo fato deles serem queridinhos da mídia internacional do que pelo som.
Agora espera-se um segundo disco, será que o a maldição do segundo álbum irá atingí-los? Espero que não!

P.S.: A versão brasileira do álbum é muito melhor que a internacional, na minha opinião.

gonn1000 disse...

Obrigado pelo testemunho, tinha ideia que eles eram alvo de algum culto no Brail mas não pensei que fosse logo assim desde o início.
Acho este um bom primeiro disco, não acho que seja um clássico e daqui a uns tempos soará a datado mas se o segundo mantiver o nível, temos banda. E espero que passem cá por Portugal entretanto.
Também prefiro a versão brasileira, mas percebo que tenham excluído os temas em português.

Anónimo disse...

Sim, aqui eles estouraram logo de cara. Era cool ter as faixas mais obscuras da banda. Vídeos raros (lembrando que YouTube não era o que é hoje) nem se fala. Era uma guerra para conseguí-los.
De fato, é um excelente primeiro disco. Conseguiu uma notoriedade que nenhuma banda atual brasileira conseguiu. Talvez aí o motivo da implicação, quem sabe?
Aqui esse álbum será lembrado por um bom tempo, por ter sido "O álbum da banda com nome engraçado que estourou na gringa". Quase o mesmo efeito dos Mutantes. Eu disse quase.
Espero que tenha a oportunidade de vê-los ao vivo e ouvir as faixas em português. E caso façam mais de um show, vá em todos, pois são _completamente_ diferentes uns dos outros, sempre. O som decai bruscamente, mas o efeito fun é deveras compensador ;D

gonn1000 disse...

Já vi alguns vídeos de concertos deles e o efeito fun parece mesmo estar presente, ainda mais do que no disco. Também já arranjei algumas faixas obscuras dos EPs e afins, embora algumas não passem de curiosidades engraçadas.
E sim, se actuarem cá estarei certamente entre o público, eu e mais uns quantos, parece-me :)

Anónimo disse...

Grande disco!

gonn1000 disse...

Sim, já tinha reparado que lá para os teus lados o disco também foi bem cotado :)

João M disse...

4 de abril estamos lá. : )

gonn1000 disse...

Oh yeah ;)

Cherie Currie disse...

Até agora tenho o vestido do Alala, com sangue!

gonn1000 disse...

Hum, era mesmo sangue? ;)