segunda-feira, janeiro 15, 2007

CRISE NA MEIA-IDADE

Cineasta com uma filmografia já considerável mas até agora inédita entre nós, o italiano Mario Martone tem finalmente uma obra estreada em salas nacionais. "O Odor do Sangue" (L’odore del sangue), a sua mais recente realização, é um filme centrado na crise conjugal de um casal de meia-idade da classe alta de Roma.

Carlo e Silvia, após vários anos de casamento, possuem uma relação que não é movida pela exclusividade, antes pelo contrário, parece manter-se devido a uma liberdade mútua em que ambos permitem que o cônjuge se envolva com terceiros.
Essa ligação com outros parceiros, que até então não gerou fricções na relação matrimonial, começa a tornar-se problemática quando Silvia é alvo de interesse de um jovem, e o contacto que se inicia como uma mera distracção casual adopta contornos mais densos e prementes, ao ponto de deixar Carlo intrigado e preocupado com o interesse que a sua esposa tem por si, anteriormente nunca colocado em causa.
A proximidade de Silvia com o novo amante não só altera a rotina do seu casamento como deixa Carlo num estado de crescente ciúme e hesitação, comprometendo também o relacionamento deste com Lu, a jovem com quem partilha a sua casa de campo.

Adaptando um romance de Goffredo Parise, Mario Martone propõe aqui um estimulante mergulho nas contingências das relações humanas, em particular no que pode levar a que a aparente cumplicidade conjugal se desvaneça sem que nenhuma das partes saiba como reparar essa deterioração emocional.

"O Odor do Sangue" é uma obra crua e cruel, obrigando os protagonistas a descerem ao fundo dos seus limites e deixando-os entregues às volatilidades do desejo, que se arriscam a comprometer a redescoberta do amor.
O argumento, caracterizado por um amargo travo verista e atento aos detalhes do quotidiano, insinua-se pela capacidade de sugestão, onde o real e o imaginado confundem não só Carlo, perdido nas suas dúvidas e hesitações, mas oferecem também um curioso desafio ao espectador.
Dominado por um tom que se torna progressivamente mais pesado, com expoente máximo no amargurado desenlace, o filme lembra por vezes outros retratos conjugais recentes, como "5X2", de François Ozon, com o qual partilha o olhar clínico e densas camadas de negrume.

Não sendo arrebatador, "O Odor do Sangue" é uma película francamente conseguida, a que não é alheio um argumento bem estruturado, uma mise-en-scène precisa e rigorosa e uma sólida direcção de actores, já que tanto Michele Placido como Fanny Ardant defendem bem as suas personagens. E, não menos importante, é um filme que deixa aguçada a curiosidade em relação à obra anterior de Martone, assim como despoleta alguma expectativa quanto a sua próxima estreia em salas nacionais.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

2 comentários:

eia disse...

hey =P
ora ontem estava a folhear o jornal e deparei-me com este titulo, li o argumento, critica e sem duvida cativou-me e espero ve.lo brevemente no cinema. Nao conheço o realizador de obras anteriores mas vou a curiosidade e axo q nao sairei desiludida. Depois há Ardant, depois de 'Nathalie', cerrou aqui um lugar de destaque como das melhores actrizes dos ultimos tempos. Gosto mto dela e quero ve-la brilhar =)
*****

gonn1000 disse...

Se gostas da Fanny Ardant então vai mesmo ver o filme, já que ela tem muito tempo de antena e não desaponta. Infelizmente já não deve ficar muito mais tempo em cartaz, presumo.