Em 2002, a primeira longa-metragem (ou segunda, se se contar com o telefilme “Annie”) de Rob Marshall, “Chicago”, foi a grande vencedora da edição dos Óscares, arrecadando seis estatuetas douradas, entre as quais a de Melhor Filme.
Alguns viram na película uma irreverência e energia capazes de dinamizar o renascimento do musical, género que, salvo raras excepções (de que “Moulin Rouge”, de Baz Luhrmann”, até foi um exemplo mais conseguido), já não possui o fulgor de outros tempos, mas “Chicago” não era mais do que um produto razoavelmente confeccionado, com alguns atributos técnicos embora desprovido de intensidade emocional.
“Memórias de uma Gueixa” (Memoirs of a Geisha), o novo filme do realizador, apesar de globalmente superior à sobrevalorizada obra antecessora, evidencia semelhantes qualidades e defeitos, tentando seduzir por um excesso de pompa e circunstância mas voltando a apresentar uma carga dramática gerida de forma desequilibrada.
Adaptação do livro homónimo de Arthur Golden, a película narra o percurso de uma jovem que é preparada desde criança para se tornar numa gueixa, sendo enraizada nas múltiplas práticas que a farão agradar aos homens, contudo ao longo desse processo de aprendizagem a protagonista terá de lidar não só com a reduzida autonomia a que a sua condição feminina a sujeita (a acção decorre no Japão de vésperas da II Guerra Mundial) mas também com as investidas de uma colega rival, que a atormenta na infância, adolescência e idade adulta.
Drama orientado por uma perspectiva feminina, “Memórias de uma Gueixa” é uma história vincada por sacrifícios, traições, desafios e amores aparentemente impossíveis, e se o filme pedia para ser um conto larger than life Rob Marshall nem sempre consegue fazer passar essa vertente, seguindo um registo demasiado formulaico e a espaços mesmo folhetinesco.
Apesar dos consideráveis valores de produção, que lhe concedem alguns dos seus pontos fortes – como o guarda roupa e cenários, que ajudam a uma coesa recriação da época -, da envolvente fotografia de Dion Beebe ou da sólida banda-sonora de John Williams, a película peca por um academismo preguiçoso que imprime poucas surpresas à narrativa e por uma construção de personagens que fica aquém do potencial, onde a complexidade dos conflitos humanos é subexplorada, resultado de figuras maioritariamente bidimensionais.
O trio de actrizes em ascensão constituído por Zhang Ziyi, Gong Li e Michelle Yeoh ajuda a que as três personagens femininas mais relevantes consigam ser mais do que belas e impenetráveis bonecas de porcelana, contudo a espontaneidade das suas prestações nem sempre é suficiente para fazer esquecer o aspecto demasiado fabricado de “Memórias de uma Gueixa”.
Rob Marshall gera um filme interessante de seguir e que nunca se torna cansativo (as quase duas horas e meia de duração não saturam), mas existia aqui substrato para uma obra de maior fôlego, mais misteriosa e absorvente, que mergulhasse a fundo nas singularidades destas intrigantes mulheres.
“Memórias de uma Gueixa”, ainda que marcado por sequências visualmente estimulantes e por um argumento competente, fica-se pela superfície, e mesmo que o balanço acabe por ser positivo isso está longe de se tornar memorável.
Drama orientado por uma perspectiva feminina, “Memórias de uma Gueixa” é uma história vincada por sacrifícios, traições, desafios e amores aparentemente impossíveis, e se o filme pedia para ser um conto larger than life Rob Marshall nem sempre consegue fazer passar essa vertente, seguindo um registo demasiado formulaico e a espaços mesmo folhetinesco.
Apesar dos consideráveis valores de produção, que lhe concedem alguns dos seus pontos fortes – como o guarda roupa e cenários, que ajudam a uma coesa recriação da época -, da envolvente fotografia de Dion Beebe ou da sólida banda-sonora de John Williams, a película peca por um academismo preguiçoso que imprime poucas surpresas à narrativa e por uma construção de personagens que fica aquém do potencial, onde a complexidade dos conflitos humanos é subexplorada, resultado de figuras maioritariamente bidimensionais.
O trio de actrizes em ascensão constituído por Zhang Ziyi, Gong Li e Michelle Yeoh ajuda a que as três personagens femininas mais relevantes consigam ser mais do que belas e impenetráveis bonecas de porcelana, contudo a espontaneidade das suas prestações nem sempre é suficiente para fazer esquecer o aspecto demasiado fabricado de “Memórias de uma Gueixa”.
Rob Marshall gera um filme interessante de seguir e que nunca se torna cansativo (as quase duas horas e meia de duração não saturam), mas existia aqui substrato para uma obra de maior fôlego, mais misteriosa e absorvente, que mergulhasse a fundo nas singularidades destas intrigantes mulheres.
“Memórias de uma Gueixa”, ainda que marcado por sequências visualmente estimulantes e por um argumento competente, fica-se pela superfície, e mesmo que o balanço acabe por ser positivo isso está longe de se tornar memorável.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
15 comentários:
mais uma vez concordo com a tua critica (what's new?...LOL)
A historia merecia ter sido tratada por um realizador japones. Achei que foi escandalosamente e ordinariamente ocidentalizada.
Exacto, falta-lhe genuinidade, mas mesmo assim acho que o filme não é tão mau como muitos têm dito.
os muitos sao os que leram olivro.
onde esta' no filme, um niquinho da magia e romantismo sentidos na leitura da obra?
que desilusao a fast food adaptacao!
Pois, não posso fazer essas comparações porque não li o livro, mas tenho ouvido dizer que é melhor do que o filme.
Eu li e livro e achei que o filme é uma boa adaptação. Claro que peca am alguns aspectos (principalmente por ser falado em inglês) mas tal como o gonn1000 não acho que seja tão mau como muitos dizem.
Sim, o facto de ser falado inglês não ajuda muito, mas os americanos não gostam de ler legendas...
O livro tambem e' escrito em ingles e no entanto conduz nos ao seio da alma japonesa...
O filme nao e' tao mau assim, e' como uma happy meal no McD... come-se 'a falta de melhor!
Ok, mas acho que, sendo protagonizado por orientais e a decorrer no Japão, não faz muito sentido ser falado em inglês (a não ser por motivos comerciais).
o facto das actrizes serem chinesas e nao japonesas (um grave erro a meu ver) foi certamente determinante, a exclusao da lingua japonesa.
concordo que a lingua inglesa nao ajudou nada 'a causa, mas houve muitas outras ocidentalizacoes que a agravaram.
contrariamente ao livro, o filme nao ofereceu ao espectador a possibilidade de mergulhar na alma japonesa, nem de captar a sua forma de sentir, por si mesmo.
faz-me lembrar "O ultimo Samurai", outra tentativa falhada dum ocidental, tentar transmitir a forma de sentir do Japao.
Sim, "O Último Samurai" também foi vítima dessa ocidentalização que referes, mas enfim Hollywood geralmente também não se dispõe a corre muitos riscos...
Também não achei o “Chicago” tão bom como muitos dizem ser...Talvez por isso, não tenha vontade de ver este "Memoirs Of a Geisha".
Abraço
Nuno: Sim, mas neste caso Rob Marshall recorreu a actores orientais e meteu-os a falar inglês para tornar o filme mais digerível e imediato para um público ocidental. Pior do que isso é o facto de duas actrizes terem aprendido os diálogos foneticamente, pois não falavam inglês, o que aumenta a sensação de engodo.
SOLO: Também não o considero uma prioridade, mas vê-se bem.
Hoje o Micróbio faz anos... :-)
Nesse caso, parabéns :)
Parece que quanto a este não há muitas opiniões contrastantes... Não fiquei desiludido porque também não esperava muito.
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