sábado, março 31, 2007
7 BLOGUES, 6 ESTREIAS, 5 ESTRELAS
sexta-feira, março 30, 2007
ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE
Na sua promissora primeira obra, "Pi" (1998), deu provas de talento, ainda que com alguns desequilíbrios, mas foi o trabalho seguinte, "A Vida não é um Sonho" (Requiem for a Dream, 2000), que o colocou decididamente como um nome a seguir com atenção, ou não fosse esse um dos melhores e mais alucinantes filmes desta década.
Percebe-se, por isso, que fosse muita a expectativa em redor de "O Último Capítulo" (The Fountain), terceiro opus do rapaz-prodígio que, se por um lado confirma a sua singularidade, também se arrisca a ser o que lhe garantirá mais detractores. A estreia mundial no Festival de Veneza foi disso sintomática, gerando mais rejeição do que adesão, e vendo o filme não se estranha que este seja um dos que despoleta reacções muito extremadas.
Será, no entanto, injusto ignorar os méritos do filme devido a ocasionais cenas algo pomposas e insufladas, em que Aronofsky se deslumbra com os seus virtuosismos e se arrisca a deixar de fora o espectador. Apesar da notável intensidade plástica que emana de "O Último Capítulo" nem sempre estar ao serviço da narrativa, gera momentos onde este passa de experiência cinematográfica a sensorial, sendo dominado por uma rara e desconcertante energia. A espessura cromática dos tons com variações de dourados potencia imagens de inegável beleza, onde o jovem realizador volta a confirmar-se como um excepcional e imaginativo esteta, criador de um universo fascinante.
Felizmente, o filme não vale só pela sua minúcia visual mas debruça-se numa história de amor épica e absorvente, onde a continuidade da relação de um casal surge ameaçava pelo medo, raiva e obsessão despoletados pela sugestão da morte. O duo protagonista revela uma entrega invulgar, partilhando uma química palpável e dando ao filme uma forte densidade emocional. Rachel Weisz demonstra que a excelente interpretação em "O Fiel Jardineiro" não foi um acaso e volta a compor uma personagem com a qual é difícil não sentir empatia, mas é Hugh Jackman quem mais surpreende, expondo um impressionante romantismo magoado a milhas dos seus mornos desempenhos recentes em "Scoop" ou "O Terceiro Passo".
"O Último Capítulo" poderá ficar aquém do admirável marco que muitos esperariam (incluindo o realizador), mas tem méritos que compensam plenamente ocasionais escorregões de auto-indulgência e exibicionismo. Afinal, poucos filmes surgidos nos últimos tempos podem orgulhar-se de serem tão desafiantes e de contarem com uma carga poética tão vincada, assim como não serão muitos os novos realizadores que possam consagrar-se já como autores tão peculiares e interessantes como Aronofsky.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
quinta-feira, março 29, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "SLITHER - OS INVASORES"
Outras estreias:
"Honra de Cavalaria", de Albert Serra
"Mr. Bean em Férias", de Steve Bendelack
"Os Robinsons", de Stephen J. Anderson
"Premonição", de Mennan Yapo
"Sinal de Alerta", de Andrea Arnold
Trailer de "Slither - Os Invasores"
terça-feira, março 27, 2007
MITOS PREMATUROS
Se no ano passado os Artic Monkeys foram o expoente máximo dessa tendência, para 2007 uma das principais apostas são os Klaxons, jovem trio londrino que já gerou algum burburinho com a edição de singles e um EP em 2006 mas que agora, com o lançamento do primeiro álbum, "Myths of the Near Future", vê alargado o hype.
De facto, há aqui ocasionais sinais da herança de uns Prodigy e demais representantes da facção inglesa dançável de inícios de 90 - evidentes na sirene de "Atlantis to Interzone" ou na explosão visceral "Four Horsemen of 2012" -, mas fugazes contaminações não chegam para originar um subgénero, a menos que só se considerem as cores garridas das roupas e dos videoclips do grupo.
Curiosamente, a maior parte das canções do disco até se aproxima mais da madchester de finais de 80 e do pós-punk praticado por inúmeras bandas recentes do que de nomes associados à cultura rave, como uns LFO, Fluke ou Orbital. Não há por aqui nada de muito inovador, mas "Myths of the Near Future" até resulta numa fusão relativamente bem conseguida, embora irregular.
Se na música são derivativos, apesar de consistentes, os Klaxons exibem maiores sinais de uma identidade própria nas letras, que ao contrário de muitas bandas recentes de terras de sua majestade não oferecem retratos do quotidiano mas antes devaneios sci-fi e fantasiosos, convocando ciclopes, medusas, aventuras interplanetárias e viagens temporais (o título do disco, por exemplo, é o de um livro de J.G. Ballard). A ideia é original, já o resultado é quase sempre inconsequente, embora o grupo assuma uma postura hedonista e despretensiosa e compense a ligeireza lírica com refrões catchy e eficazes.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
Klaxons - "Golden Skans"
domingo, março 25, 2007
JUVENTUDE EM MARCHA
Ambientado na China maoísta, a mais recente película de Zhang Yuan é um drama que parte das experiências do pequeno Qiang para relatar como funcionam os sistemas de controlo e os contrastes que reforçam ou diluem entre a esfera individual e colectiva.
"Pequenas Flores Vermelhas" começa por arrancar de forma promissora, já que Yuan consegue delinear uma credível atmosfera realista, com suporte determinante nas convincentes interpretações de todo o elenco (em especial do protagonista, Bowen Dong), o que é um feito notável tendo em conta que este é constituído maioritariamente por crianças.
Seguindo uma estrutura episódica, a narrativa vai seguindo peripécias do dia-a-dia do infantário, de onde sobressai uma rígida rotina que se verifica em todos os momentos, das refeições à higiene pessoal. Embora foque um universo infantil, o filme evita rodriguinhos fáceis e aposta numa salutar secura emocional, ganhando ainda pela caracterização tridimensional das crianças, que nunca são reduzidas a estereótipos.
De "Pequenas Flores Vermelhas" guarda-se então o impacto de algumas cenas, de onde sobressai um sóbrio e perspicaz olhar de cineasta, mas lamenta-se que não sejam tão frequentes como seria desejável e que não estejam servidas por uma narrativa mais estruturada e coesa.
Espera-se que o próximo filme de Yuan faça jus aos elogios que apontam a sua filmografia como uma das mais sólidas do novo cinema chinês, porque a julgar pelo seu trabalho mais recente a impressão que fica é a de uma mediania que só seduz pontualmente.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
sexta-feira, março 23, 2007
VERSÃO 2.0
Em "Live It Out", de 2005, a banda não reformula muito a sua proposta sonora, mantendo-se nos mesmos domínios mas sendo ainda capaz de criar canções quase sempre imediatas, com uma precisão pop por vezes invejável.
À semelhança do seu antecessor, "Live It Out" demonstra que os Metric são músicos e compositores seguros, que aliam sem dificuldade melodias cativantes a um experimentalismo moderado, mas se isso lhes garante uma selecção de boas canções não é suficiente, por enquanto, para os tornar numa banda capaz de grandes feitos.
Há, ainda assim, dois ou três temas de excepção a registar. O primeiro, "Empty", é um deles, e também o que tem a estrutura menos convencional, sendo sereno nos momentos inciais e finais e interrompido por uma inesperada - embora muito bem-vinda - explosão de guitarras, funcionando enquanto uma aliciante entrada para o disco e uma daquelas raras canções que mesmo após várias audições ainda surpreende.
A bilingue "Poster of a Girl", onde Haynes canta em inglês e francês, baseia-se numa feliz junção de teclados e electrónica para gerar o episódio mais dançável do álbum, e apesar de se prolongar em demasia dificilmente será recusado numa pista de dança. O melhor momento surge, no entanto, já na recta final, com "The Police and the Private", canção simultaneamente delicada e arrepiante om uma vocalista em estado de graça.
Vale a pena, todavia, continuar a acompanhar os Metric, pois embora "Live It Out" não tenha consideráveis avanços em relação ao registo anterior é um disco que exibe solidez e consegue ser muito infeccioso a espaços. Recomenda-se, sobretudo, a quem goste de vocalistas carismáticas envoltas em ambientes nos arredores de uns Furslide, Shivaree, Cardigans ou Yeah Yeah Yeahs.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
Metric - "Poster of a Girl"
quinta-feira, março 22, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "MÚSICA & LETRA"
Outras estreias:
"Epic Movie", de Jason Friedberg e Aaron Seltzer
"O Caimão", de Nanni Moretti (precedido pela curta-metragem de animação "História Trágica com Final Feliz", de Regina Pessoa)
"O Homem do Ano", de Barry Sonnenfeld
"Operação Limpeza", de Les Mayfield
Trailer de "Música & Letra"
terça-feira, março 20, 2007
ENTRE INIMIGOS
Centrado em Berlim poucos dias depois da Segunda Guerra Mundial, "O Bom Alemão" (The Good German) tem a particularidade de ter sido filmado como uma obra criada na década de 40, recuperando sinais do cinema clássico que influenciam aqui toda a componente formal, desde o obrigatório preto-e-branco à montagem, enquadramentos ou banda-sonora, com uma minúcia que nem deixa de fora as legendas.
Berlim surge como palco estilhaçado de múltiplas contradições, deixando os sobreviventes do Holocausto com as feridas da guerra, a maior delas o peso da culpa que muitos tentam delegar nos outros. Dominado por personagens de moral dúbia, o filme usa como elo de ligação entre estas um matemático alemão que é procurado por americanos e russos, mas cujo paradeiro apenas é conhecido pela sua esposa, Lena, que entretanto reencontra Jake, um repórter americano com quem manteve uma relação.
Incorporando códigos do film noir, evidentes numa atmosfera estilizada, num argumento intrincado ou na construção de personagens, "O Bom Alemão" arranca de forma intrigante mas aos poucos vai perdendo o fôlego, já que a sofisticação visual não impede que a narrativa se torne cada vez mais mecânica e vá anulando as potencialidades de uma premissa com interesse.
"O Bom Alemão" resulta assim numa obra com a qual é difícil lidar: por um lado, tem sequências brilhantes onde Soderbergh esmaga pela mestria com que filma, exibindo um notável savoir faire técnico - ainda mais impressionante tendo em conta que o realizador também se encarregou da montagem e da fotografia, esta última o melhor que o filme tem -; por outro, dilui esse efeito num argumento incapaz de entusiasmar, gerando doses crescentes de distância e indiferença. Do balanço obtém-se uma película mediana e pouco memorável, que não mancha o (igualmente desequilibrado) currículo do cineasta mas também não se junta à lista dos seus títulos mais marcantes.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
segunda-feira, março 19, 2007
CINE7(X 2)
O Cine7, blog de cuja equipa faço parte, celebra hoje dois anos de existência. Com colaboradores de gostos díspares e, consequentemente, uma selecção ecléctica de filmes destacados (que estão todos na imagem acima), partiu de uma ideia d' O Emissor e desde então teve na sua equipa muitos outros participantes, bloggers ou não. Os meus parabéns e quem quiser colaborar neste projecto ainda está a tempo de aderir.
sábado, março 17, 2007
ROBÔS E ROCK 'N' ROLL
Passavam cerca de trinta minutos da meia noite quando os U-Clic entraram em palco ao som de "Zumbido at Paradiso", o único tema instrumental do álbum de estreia, "Console Pupils", que motivou a passagem do trio pela capital. Vincado por uma apelativa cadência electro, gerou um eficaz início de concerto e uma proposta dançável que muitos não recusaram.
Felizmente, esta atenção à imagem - visível também nos fatos brancos do trio e na sua postura maquinal e estática - nunca se sobrepôs ao essencial, ou seja, às canções que os U-Clic vieram apresentar. E "Console Pupils" revelou uma série de temas dignos de nota, que não escondem influências de terceiros mas são capazes de as ultrapassar e demonstrar um projecto com alguns sinais de personalidade.
A voz de Filipe Confraria aproxima-se por vezes da de Paul Banks, dos Interpol, e o vocoder utilizado em alguns momentos lembra as experiências dos Kraftwerk e descendentes. Não obstante as comparações, os U-Clic evidenciaram solidez na procura de um espaço próprio e o concerto nunca ficou abaixo do competente, oferecendo momentos de entusiasmo considerável como o single "Robot 'n' Roll", com uma energia dificilmente recusável, o muito auspicioso "Like", uma bela canção pop, ou "Sattelite Club", outra sólida proposta dançável.
De qualquer forma, fica a revelação de um projecto a acompanhar, se possível ao vivo - ou através do blog e do myspace - , que passará nos próximos dias pelo Porto (25 de Março na FNAC de Sta Catarina), Marinha Grande (7 de Abril no Festival Overlive), Maia (13 de Abril na Tertúlia Castalense) e Póvoa de Varzim (14 de Abril no Plastic).
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
U-Clic - "Robot 'n' Roll"
sexta-feira, março 16, 2007
quinta-feira, março 15, 2007
A UM MÊS DO INDIE...
Miguel Valverde, Nuno Sena e Rui Pereira, os organizadores, avançaram hoje com as principais linhas orientadoras da quarta edição do Festival Internacional de Cinema Independente que já se tornou num dos eventos de referência do género.
Rui Pereira destacou que esta edição aposta "não no crescimento mas na consolidação do festival", motivo pelo qual há menos filmes do que no ano anterior - serão 223 em vez de 300 -, mas onde se espera atingir um número recorde de espectadores, dando continuidade ao crescimento contínuo ao longo dos anos. A organização aposta em números na ordem dos 30 mil, ultrapassando os 28 mil registados em 2006.
Um recorde que já se verificou foi no número de obras a concurso, 2500, vistas pela organização e das quais foram seleccionadas 230. As que não foram escolhidas poderão ser vistas na Videoteca FNAC, situada no Fórum Lisboa e de acesso gratuito. Continua a aposta nas curtas-metragens, que o certame defendeu desde o início, e este ano serão exibidas 135, suplantando o número de longas, 88. Destas, 127 são europeias (e 18 portuguesas), 38 asiáticas, outras 38 dos EUA e Canadá, 12 da América Latina e 3 de África.
Cineastas alemães surgidos nos anos 90, como Angela Shanelec, Valeska Grisebach ou Thomas Arslan tornaram-se já incontornáveis no seu país, e a organização acredita que a sua vitalidade merece ser finalmente divulgada em salas nacionais. Igualmente inédito entre nós, Aoyama possui uma obra versátil que percorre géneros e formatos - curtas, longas, documentários - e que o colocou entre os nomes cimeiros do cinema nipónico contemporâneo, com visibilidade em vários festivais internacionais mas, até agora, com apenas um filme ("Eureka") editado em DVD em Portugal.
Outros destaques do IndieLisboa contemplam dois concertos que interligam cinema e música. Em "Life in Loops" os austríacos Sofa Surfers actuarão acompanhados por imagens do documentário "Megacities", de Michael Glawogger, um dos filmes mais aplaudidos da edição do ano passado que surgirá numa versão remix. Já "O Garoto de Charlot", de Charles Chaplin, será complementado com música dos Coty Cream.
Para além de revelar muitos nomos nomes, o IndieLisboa traz também algumas das obras mais recentes de cineastas já consagrados. É o caso de "Fay Grim", de Hal Hartley - realizador que estará presente no festival -; "A Scanner Darkly", de Richard Linklater; "Angel", de François Ozon; "Shortbus", de John Cameron Mitchell; ou "Rio Turvo", do português Edgar Pêra. Larry Clark, Matthew Barney e Gaspar Noe, entre outros, colaboram em "Destricted", conjunto de curtas-metragens, e o actor Ethan Hawke estreia-se na realização em "The Hottest State".
Muitos filmes a descobrir, portanto, ao longo de dez dias já em Abril.
ESTREIA DA SEMANA: "THE FOUNTAIN - O ÚLTIMO CAPÍTULO"
Outras estreias:
"Fur - Um Retrato Imaginário de Diane Arbus", de Steven Shainberg
"Norbit", de Brian Robbins
"O Véu Pintado", de John Curran (o realizador do recomendável "Desencontros")
"Os Anjos Exterminadores", de Jean-Claude Brisseau
"Pequenas Flores Vermelhas", de Zhang Yuan
"Suicídio Encomendado", de Artur Serra Araújo
Trailer de "The Fountain - O Último Capítulo"
terça-feira, março 13, 2007
COISAS DOCES COM AÇÚCAR
Gwenno, Rose e Becki resgatam alguns dos traços das girl bands dos anos 60 e aliam essa pop kitsch, lúdica e swingante a temperos indie, conseguindo um misto quase sempre cativante e recheado de canções trauteáveis. O tema homónimo, que abre o álbum, é uma irresistível porta de entrada para uma sucessão de composições despretensiosas, vincadas por uma leveza que não deve ser confundida com mediocridade, uma vez que a maioria são exemplo de uma bem oleada confecção pop.
"Pull Shapes" é um dos mais eficazes convites à dança, realçando o valor da melodia pela melodia e assumindo uma postura descomplexada, de resto palpável ao longo de todo o álbum. "Why Did You Stay?" assinala a primeira de muitas incursões por relatos boy meets girl, num dos momentos em que a justaposição das vozes das três meninas atinge resultados mais saborosos e convida a audições consecutivas.
E até ao último tema, singelamente intitulado "I Love You", as Pipettes disparam aprazíveis rebuçados de, no máximo, três minutos, com raras pausas para um dinamismo que acaba por contagiar. Contudo, é sabido que altas doses de açúcar podem revelar-se enjoativas, e embora aqui não se chegue a tanto há que reconhecer que a recta final do disco já não emana a mesma frescura, pelo que "We Are the Pipettes" só ganharia em retirar duas ou três canções de um alinhamento que acaba por se tornar repetitivo.
As letras também ajudam a consolidar uma boa impressão, sendo dominadas por um sentido de humor que as afasta de banais reflexões amorososas e apoia-se antes num girl power moderado e auto-consciente (não há por aqui meninas ingénuas), cuja ironia é desde logo sugerida em títulos como "Your Kisses Are Wasted on Me" ou "It Hurts to See You Dance So Well".
"We Are the Pipettes" talvez fosse mais estimulante se apostasse numa maior versatilidade, oferecendo outras canções mais tranquilas e sóbrias como a frágil "A Winter's Sky", mas pode ser que as Pipettes explorem essa via num próximo disco. Assim como está, este não deixa de ser uma estreia capaz de acompanhar - e encorajar - vários serões dançantes.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
The Pipettes - "Pull Shapes"
segunda-feira, março 12, 2007
PECADOS ÍNTIMOS
A acção tem início poucos anos antes da queda do muro de Berlim, situando-se na República Democrática Alemã e desenvolvendo uma claustrofóbica teia narrativa ancorada num sistema repressor e totalitário, que envolve os cidadãos numa sociedade de contornos orwellianos. É aí que um dos agentes da Stasi, a polícia política, tem como missão mais recente vigiar e reportar os acontecimentos que marcam o dia-a-dia de um escritor e da sua esposa, cuja conduta os colocou como suspeitos de sabotagem ao regime.
Abordando de forma complexa e sóbria um contexto facilmente dado a pontos de vista tendenciosos e maniqueístas, "As Vidas dos Outros" alia características do thriller e do drama para consolidar um objecto rigoro e inquietante, que pacientemente vai mergulhando o espectador numa espiral de medo, suspeita e intimidação. Se nos primeiros minutos a atmosfera não difere muito da de uma competente, mas indistinta série televisiva histórica, o filme consegue ir desenhando personagens densas, longe de uma função meramente simbólica, assim como usar a seu favor uma realização despojada e clínica, vincada por uma fotografia de apropriados tons acinzentados e lúgubres.
Há alguns detalhes menos convincentes, como a relativamente rápida mudança de atitude do polícia que vigia o duo de artistas - não muito provável na carreira de um veterano tão obstinado e inflexível -, ou o desenlace do filme, que se arrasta em demasia e apresenta uma solução mais confortável. Estes elementos não chegam, no entanto, para comprometer a consistência de uma obra inspirada e pungente, como "As Vidas dos Outros" claramente é.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
domingo, março 11, 2007
HEROES
sábado, março 10, 2007
UM MOULIN ROUGE EM CENÁRIOS WESTERN
Abrangente e dinâmico, o espectáculo contou com sequências musicais, de representação ou de ilusionismo, diluindo as fronteiras das artes performativas e aliando-as ao longo de cerca de hora e meia cujo fio condutor pareceu ser a ausência de limites.
Tamanha diversidade e ousadia são salutares e por vezes intrigantes, mas o colectivo nem sempre conseguiu manter o ritmo e a capacidade de surpresa, demorando a arrancar e deslizando em algumas sequências pouco inspiradas ou mesmo cansativas, caso dos episódios roqueiros, de alguns momentos supostamente cómicos - suportados num burlesco irregular -, ou das canções em que o dinamismo abrandava para dar espaço a alguma modorra.
Dos Yard Dogs Road Show fica então o registo de um competente, ainda que desequilibrado entretenimento offbeat, capaz de articular com segurança (sub)culturas distintas unidas num cabaret desregrado, trazendo à noite de ontem alguma poeira do velho Oeste (por vezes a lembrar a série televisiva de culto "Carnivàle") mas exibindo também ocasionais heranças dos desertos do médio oriente (onde não faltaram as emblemáticas danças do ventre).
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
sexta-feira, março 09, 2007
O FABULOSO CONCERTO DE TIERSEN
Esse eclectismo foi evidente no concerto de quarta-feira na Aula Magna, em Lisboa, esgotado há dias e que levou a que Tiersen e a banda de suporte fossem recebidos por uma sala cheia, preenchida por um público de várias faixas etárias.
Felizmente, essa postura experimental revelou-se quase sempre frutífera, o que não foi muito inesperado tendo em conta a mestria pela qual Tiersen já se destacou nos seus concertos. Contrastando cenários de cativante placidez com outros de dinamismo abrasivo, a noite registou um entusiasmante melting pot que interligou os múltiplos universos pisados pelo músico, desde os esperados domínios parisienses, que lhe trouxeram maior mediatismo, passando por incursões pelo indie rock, música clássica, devaneios noise e pontuais aproximações medievais.
Para além da mistura de géneros, o cardápio musical foi igualmente rico a nível instrumental, dando espaço a autênticos vendavais de guitarras distorcidas e espirais de violinos em fúria, não esquecendo a contribuição menos recorrente da bateria, do baixo, da já habitual caixinha de música ou do acordeão (este usado apenas num tema, "Le Banquet", o que terá defraudado as expectativas de muitos que procuravam ali revisitar Amélie).
Não admira, por isso, que grande parte do público tenha reagido de de forma tão intensa, com ruidosos aplausos que encorajaram os músicos a regressar a palco para dois encores. Pouco importa que Yann Tiersen tenha encetado apenas duas ou três brevíssimas declarações aos espectadores - quase sempre para agradecer -; as palavras que lhes dirigiu pareceram espontâneas, à semelhança de um concerto que não será esquecido tão cedo.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
Yann Tiersen - "Le Banquet" (ao vivo na Aula Magna)
quinta-feira, março 08, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "BRAVA DANÇA"
Outras estreias:
"A Maldição da Flor Dourada", de Zhang Yimou
"Ghost Rider", de Mark Steven Johnson
"O Bom Alemão", de Steven Soderbergh
"O Mundo Encantado de Beatrix Potter", de Chris Noonan
"Pulse - A Última Dimensão", de Jim Sonzero
Trailer de "Brava Dança"
terça-feira, março 06, 2007
FIM-DE-SEMANA (POUCO) ALUCINANTE
"A Weekend in the City", o segundo longa-duração, marca agora o regresso, que poderá frustrar as expectativas de quem conhece o grupo por singles de descarga como "Banquet" ou "Helicopter", tendo o primeiro exposto os Bloc Party a um público relativamente vasto devido a uma popular campanha publicitária.
Longe de ser um "Silent Alarm: Parte II", o novo disco aposta em domínios mais apaziguados do que os do registo antecessor, sendo escassos os momentos de euforia dançável e demais manobras de agitação sonora. Se os primeiros temas exibem ainda uma considerável pulsão, sendo quase continuações directas do primeiro álbum, o alinhamento torna-se progressivamente menos dinâmico, salvo ocasionais erupções de energia em alguns refrões.
Por vezes o grupo ensaia episódios mais ousados, como em "The Prayer", que Kele Okereke inicia com um incomum registo vocal, rodeado por uma aura negra de percussões hipnóticas e coros sorumbáticos, que sugere a influência fusionista de uns TV on the Radio. Contudo, os condimentos sonoros de grande parte do restante álbum são menos aliciantes e aproximam a banda da formatação de uns U2, Snow Patrol - nomes com quem Jacknife Lee, o produtor, já colaborou - ou Coldplay, proporcionando canções mais polidas e lineares.
No entanto, se os Bloc Party são aqui menos aventureiros musicalmente, aprimoram - e muito - a escrita, ainda que neste caso o mérito seja do vocalista, autor das letras. O título do álbum é desde logo emblemático, uma vez que "A Weekend in the City" propõe uma viagem por Londres e, no caminho, oferece um olhar sobre a juventude urbana do novo milénio, que Okereke caracteriza de forma sensível e honesta, ainda que não escape a alguns clichés (como no demasiado óbvio "Uniform", que quase escorrega para um vulgar hino emo).
Os retratos são sentidos e tanto investem na desolação da era da abundância (em "Song For Clay (Disappear Here)", inspirado no livro "Menos que Zero", de Bret Eston Ellis), na abordagem das drogas - sem moralismos nem excessos de irreverência - ("0n"), no racismo ("Where is Home?") ou no terrorismo e consequente alarmismo ("Hunting for Witches").
As melhores reflexões são, todavia, as mais intimistas, tanto na nostálgica "Waiting For The 7.18", que conta ainda com um dos refrões mais emotivos, como na trilogia da recta final do disco, que Okereke dedica às relações amorosas, desde amargurados one night stands ("Kreuzberg"), paixões adolescentes por consumar ("I Still Remember") ou no mais esperançoso "Sunday", porventura a mais bela descrição de um domingo pós-ressaca vivido a dois.
"A Weekend in the City" resulta assim num disco desigual, pois se as melodias e estruturas que se sucedem de tema para tema são demasiado homogéneas, as canções conseguem distinguir-se facilmente se se der às letras a atenção que estas merecem. Os Bloc Party perderam então em frescura o que ganharam em densidade, e neste caso isso está longe de ser mau, só é pena que também não seja tão bom como se esperaria, tendo em conta a banda em causa.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
Bloc Party - "I Still Remember"
domingo, março 04, 2007
A ESCOLA DA VIDA
Na pele de um homem cujo idealismo é cada vez mais um refúgio de curta duração, Gosling emana raiva, entusiasmo, desencanto, esperança e frustração ao longo de um quotidiano que lhe proporciona escassos pontos de fuga. O mais recorrente acaba por ser a cocaína, da qual se torna indissociável e cuja dependência começa a ameaçar a sua conduta como professor.
Aproximando-se da espontaneidade e vibração de um Edward Norton mais jovem, Gosling é sem dúvida o grande trunfo de "Half Nelson - Encurralados", tendo sido justamente nomeado para o Óscar de Melhor Actor Principal por este desempenho.
Fleck apresenta uma palpável atmosfera urbana com um acentuado recorte realista, apoiando-se num sólido trabalho de realização, numa outonal fotografia de tons turvos e na escolha de uma determinante (e viciante) banda-sonora, servida pelos Broken Social Scene. Nada mal para uma primeira obra de baixo orçamento, uma das mais estimulantes do cinema independente norte-americano dos últimos tempos e que, por isso mesmo, não merece ficar perdida no meio dos muitos títulos que vão estreando.
E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM
Broken Social Scene - "Stars and Sons"
sábado, março 03, 2007
UM ADMIRÁVEL MUNDO NOVO DE ESCAPISMO
Apesar de personalidades e vivências díspares, os dois jovens rapidamente travam uma amizade que os interligará durante anos, em parte motivada pela paixão que nutrem pela nona arte e pela parceria profissional que esse gosto comum os leva a gerar. Sam toma a seu cargo os argumentos, Joe ocupa-se do desenho e essa simbiose permite-lhes criar uma série de personagens mediáticas, a maior delas O Escapista, um dos muitos super-heróis que surgiram depois do sucesso de vendas do Super-Homem.
Genuína e cativante ode à capacidade de evasão que esta amálgama de artes gráficas e literárias proporcionou durante a Era Dourada, proporciona uma interessante análise às singularidades deste meio e ao contexto do seu surgimento.
Chabon impressiona pela riqueza histórica palpável ao longo do livro, fruto de uma longa pesquisa onde contactou com muitos argumentistas e artistas que iniciaram as suas carreiras na época, casos de Will Eisner (autor de "Spirit") ou Stan Lee (talvez o mais emblemático criador da Marvel Comics), entre muitos outros.
O escritor baseou-se nestes relatos para desenvolver a história de Joe e Sam, em especial os momentos que se referem aos bastidores editoriais, alguns dos que emanam maior verosimilhança ao longo da acção. Paralelamente, evoca outras figuras reais como Fredric Wertham, o psicólogo cujo livro "Seduction of the Innocent" desencadeou uma caça às bruxas que quase conduziu ao fim dos comics - devido, sobretudo, às supostas conotações sexuais que estes continham, por exemplo na relação "ambígua" entre Batman e Robin - ou Orson Welles, cujo trabalho na realização ajudou a redifinir os cânones da estrutura das pranchas.
No entanto, o livro não se esgota na exploração da natureza da banda-desenhada e oferece um olhar sobre a realidade americana - particularmente a nova-iorquina - da década de 40, focando ainda questões como o tratamento dos judeus, o núcleo familiar ou a homossexualidade, elementos que, com maior ou menor incidência, entrecruzam o caminho dos dois protagonistas.
Chabon viria a alargar a sua proximidade com os comics ao assinar o argumento de "Homem-Aranha 2", de Sam Raimi, não por acaso um dos poucos filmes de super-heróis dos últimos anos que funciona plenamente enquanto delicioso e irresistível escapismo. Resta esperar que semelhante impacto se registe caso "As Espantosas Aventuras de Kavalier & Clay" chegue a ser adaptado para cinema - com realização a cargo de Stephen Daldry ("Billy Elliot", "As Horas") -, mas mesmo que tal não aconteça, a (re)descoberta do livro será sempre uma hipótese bastante recomendável.
quinta-feira, março 01, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "O LABIRINTO DO FAUNO"
Outras estreias:
"Dreamgirls", de Bill Condon
"Diário de um Escândalo", de Richard Eyre
Trailer de "O Labirinto do Fauno"