sexta-feira, abril 28, 2006

NINGUÉM SABE

Através de "No Quiero Volver a Casa" (2000) e "Los Rubios" (2003), Albertina Carri impôs-se como uma das mais promissoras representantes do novo cinema argentino, cuja obra tem sido alvo de aclamação internacional e a aponta como uma cineasta a seguir.

"Géminis" (2005), a sua terceira longa-metragem, sugere novamente que Carri é um nome a juntar à lista de realizadores relevantes, ao proporcionar um retrato de uma família da classe média que, sob a capa de uma aparente normalidade, é vincada por segredos reprimidos e dolorosos.

Carri concentra essencialmente o seu olhar em Lucia, a mãe - que ao tentar instalar um clima de bem-estar na sua família de forma tão convicta acaba por se distanciar desta - e em dois dos filhos, Jeremias e Meme, cuja forte proximidade e cumplicidade os conduz a uma relação incestuosa.

Mantendo esse relacionamento à revelia dos restantes elementos da família, os dois adolescentes refugiam-se um no outro perante a indiferença de um pai ausente e a fixação da mãe por uma realidade de aparências e uma felicidade artificial, contudo essa ligação é colocada em causa quando mais alguém passa a ter conhecimento dela.

Embora seja um drama familiar marcado por uma questão polémica, "Géminis" desenvolve-se com uma assinalável sobriedade e equilíbrio, na medida em que Carri não cede a moralismos óbvios nem opta pela denúncia de um cenário "escabroso", oferecendo um retrato perspicaz e ambivalente, dispensando justificações fáceis.

Apoiado numa atmosfera palpável, lânguida e insinuante, o filme contém um intenso efeito realista sustentado não só pela fluência da realização e plasticidade da fotografia, mas também pelo rigor da direcção de actores.

A veterana Christina Banegas, no papel de Lucia, consegue tornar credível uma personagem que poderia facilmente cair na caricatura, e os jovens Maria Abadi e Lucas Escariz, apesar de estreantes, emanam espontaneidade e carisma, concedendo ambiguidade e energia a Meme e Jeremias.

Esta coesão de elementos faz com que "Géminis" seja uma obra segura durante a maior parte da sua duração, mas não consegue impedi-la de se desequilibrar no desenlace, pois Carri interrompe a aura de suspense dolente que construíu até então com uma sequência previsível e espalhafatosa, bem menos subtil e enigmática do se esperaria.

A solidez da película merecia um final mais satisfatório e corajoso, mas de qualquer forma "Géminis" tem interesse suficiente se tornar numa boa surpresa, ainda que não chegue a ser um grande filme.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá! Convido-vos a conhecer o meu blog Escrever e Ver Cinema. É novo e dedicado a sétima arte.

Assim que possível passa por lá! Todas as visitias serão bem vindas e eu agradeço!

Riccardo
(http://evcine.blogs.sapo.pt)

gonn1000 disse...

Já passei por lá. Obrigado por me linkares e boa sorte :)