terça-feira, abril 25, 2006

ESPELHO PARTIDO

Neil Gaiman e Dave McKean tornaram-se, desde os anos 80, numa das duplas mais influentes e criativas da banda-desenhada norte-americana, alargando os limites do formato e apostando numa linguagem própria, experimental e facilmente identificável.

“Mirrormask”, a primeira longa-metragem criada pelo duo (escrita por ambos e realizada por McKean) suscitava, por isso, alguma expectativa, pois se o filme fosse tão inventivo como os livros seria um título a não perder.

Infelizmente, o que a película proporciona é um amargo travo de desilusão, uma vez que fica muito aquém do que se esperaria dos nomes que nela estão envolvidos.
A temática recorrente nas novelas gráficas do duo mantém-se – as interligações entre o real e o onírico, o crescimento, a inadaptação e a diferença -, assim como um estilo visual algures entre o gótico e o surrealista que facilmente se atribui a McKean, mas estes elementos são trabalhados de forma tão superficial e formatada que dificilmente honram os pergaminhos dos seus autores.

Apoiando-se num argumento anémico e vulgar, “Mirrormask” é ainda mais prejudicado por apostar numa narrativa esquemática e linear, e os poucos momentos de alguma surpresa devem-se apenas a curiosas sequências visuais, que ilustram a realidade estranha e intrigante onde decorre a maior parte do filme.
Contudo, mesmo a nível visual o resultado é irregular, uma vez que a combinação entre animação e acção real já não é propriamente uma novidade e aqui acusa, não raras vezes, um óbvio artificialismo.

Menos misterioso e absorvente do que se exigiria a algo gerado pela dupla Gaiman/McKean, “Mirrormask” torna-se ainda mais frágil devido às suas personagens de papelão, autómatos sem intensidade que se limitam a seguir as etapas do argumento rotineiro. O filme nunca consegue implementar uma aura de tensão ou perigo palpáveis, oferecendo uma história infanto-juvenil com uma série de aborrecidas reviravoltas e enigmas, sem qualquer vibração emocional.

Vendo bem, as aventuras cinematográficas de Harry Potter, apesar de se assumirem como um claro produto industrial, acabam por nem estar muito distantes, e até têm mais doses de entusiasmo, valor lúdico e zonas de sombra do que este insípido “Mirrormask”.
E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL

6 comentários:

gonn1000 disse...

Mas se a película fosse de outras pessoas, provavelmente passava deseprcebido e não seria um objecto de culto.
Quanto aos significados, acho que havia mais pretensão do que propriamente substância.

brain-mixer disse...

Se assim o dizes;) Já pelo trailer não me entusiasmava por aí além...

gonn1000 disse...

Pois, agora imagina-o durante hora e meia :S

gonn1000 disse...

Percebo o que queres dizer, mas não me parece que "Mirrormask" tenha o encanto e ingenuidade das obras que referes, pareceu-me tudo muito calculado e automático. Seja como for, sei que há quem o defenda e veja nele um bom filme e não o acho muito pior do que "Saw 2".

Anónimo disse...

é um filme que podia ter um potencial tremendo... infelizmente ficará pelas amarguras do esquecimento! é pena...

gonn1000 disse...

Pois é, pode ser que num eventual futuro filme Gaiman e McKean acertem.