Contando com uma interessante percurso de realizador – de “Gattaca” e “Sim0ne” – e de argumentista – “The Truman Show – A Vida em Directo” e “Terminal de Aeroporto” -, Andrew Niccol volta a gerar mais uma película que mantém a ousadia e criatividade (nem sempre bem geridas, é certo) através das quais se tem distinguido.
“Senhor da Guerra” (Lord of War) apresenta um curioso retrato sobre o contexto socio-político mundial dos últimos anos, traçando um olhar denso e desencantado sobre as falácias da diplomacia, os obscuros bastidores das relações internacionais e as ambiguidades da natureza humana.
No cerne da acção encontra-se Yuri Orlov, um ucraniano que emigrou para os EUA com poucos anos e que se tornou, depois de muitos pequenos trabalhos no submundo de Little Odessa, num dos traficantes de armas mais reputados e experientes do mundo.
O filme assenta não só nas relações familiares do protagonista – dando um considerável destaque ao seu vulnerável irmão mais novo -, mas sobretudo na sua vida profissional, área através da qual explora o seu carácter dúbio, porventura imoral, mas que segue, ainda assim, um determinado código de honra.
Contudo, até chegar aí, o filme nem sempre convence, apostando numa mistura de géneros e de ambientes que, se por vezes cativa pela carga assumidamente offbeat e desregrada, noutras ocasiões quebra o ritmo ao apostar em sequências demasiado redundantes e monótonas, prejudicadas pela presença quase sempre intrusiva da recorrente e cansativa voz off, que torna o filme excessivamente palavroso.
Apesar de irregular, “Senhor da Guerra” tem qualidades suficientes que o elevam acima da mediania, casos do consistente trabalho de realização de Andrew Niccol, do acutilante e muito actual substrato do argumento ou do sólido desempenho de Nicolas Cage, que compõe um protagonista apropriadamente lacónico, cínico e distante.
É pena que as restantes personagens, embora bem interpretadas – outra coisa não seria de esperar de um elenco que inclui Ian Holm, Ethan Hawke ou Jared Leto -, raramente se afastem de caricaturas, o que em certos casos é apropriado, quando são usadas somente para a sátira, mas que acabam por ser limitadas e planas quando inseridas em cenas de uma maior tensão dramática.
Próximo de “Três Reis”, de David O. Russel, ou de “Os Polícias do Mundo”, de Gregor Jordan, outros filmes que focam temáticas semelhantes recorrendo igualmente a consideráveis doses de humor negro, narrativa espartana e algum niilismo, “Senhor da Guerra” é uma obra que, mesmo com altos e baixos (demora a arrancar e só atinge níveis realmente marcantes na última meia hora), não merece passar despercebida e volta a afirmar a relevância de um autor desequilibrado, mas interessante.
2 comentários:
Grande filme! Elenco, história e realizador encaixam bem. Já para não falar naquilo que dá que pensar - visto ser baseado em factos verídicos. Este realizador é dos mais promissores, no meu livro, que andam por aí.
abraço,
JT
Não gostei assim TANTO, mas acho que vale a pena vê-lo. O realizador é que, quanto a mim, é ainda uma promessa, já que estou à espera que faça mesmo um grande filme.
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