Com uma carreira já longa (o seu primeiro filme, “The Arousers”, estreou-se em 1970), Curtis Hanson é um cineasta que só conquistou os gostos de um público relativamente vasto e o respeito de grande parte da crítica com uma das suas películas mais recentes, “L.A. Confidential”, de 1997, ainda que obras anteriores como “A Mão que Embala o Berço” já o tivessem tornado num realizador curioso aos olhos de alguns.
Desde então, “Wonder Boys – Prodígios”, de 2000, e “8 Mile”, de 2002, ajudaram a que o seu nome se tornasse numa referência a seguir com atenção dentro do cinema americano actual, ideia que “Na Sua Pele” (In Her Shoes) vem agora reforçar.
Crónica das semelhanças e diferenças de duas irmãs, o filme assenta no percurso de Rose, a mais velha, responsável e dedicada a um emprego prestigiado mas com uma escassa vida social e amorosa; e Maggie, a mais nova, que acumula relacionamentos efémeros e uma vida profissional descoordenada. O elemento desencadeador da acção é uma decisiva discussão entre as duas, que faz explodir a considerável tensão que as envolvia e leva a que cortem os laços afectivos que até então as interligavam, para o bem e para o mal.
quarta-feira, novembro 30, 2005
IRMÃ, ONDE ESTÁS?
UM DIA DE FOLGA
terça-feira, novembro 29, 2005
REVOLUÇÃO SEM MUDANÇA
Impondo-se como uma das mais curiosas bandas europeias nascidas na década de 90, os belgas dEUS desde cedo mostraram ser capazes de criar uma interessante sonoridade fusionista que tanto recorre ao indie rock como à folk, ao jazz ou à pop, gerando canções que por vezes assentam num desbragado experimentalismo a par de outras mais acessíveis e convencionais.
“Pocket Revolution”, o seu quarto álbum de originais, é o sucessor do soberbo e mal amado “The Ideal Crash”, de 1999, mas ao contrário desse registo algo atípico no percurso do grupo (recebido com alguma surpresa devido ao quase abandono de uma vertente rude das canções, vincado pelo decréscimo de momentos de descarga noise), não traz grandes alterações aos ambientes habituais dos dEUS, seguindo as mesmas referências que marcaram esse disco de ruptura mescladas com aquelas presentes em “Worst Case Scenario” ou “In a Bar, Under the Sea”.
Por um lado, a ausência de novidade resulta a seu favor, uma vez que a banda já provou ser consistente e credível nesse tipo de atmosferas, contudo lamenta-se que um projecto que sempre se destacou pela ousadia e inventividade – que por vezes nem geraram bons resultados, é certo, como o hermético EP “My Sister is My Clock” pode atestar – se apresente aqui tão acomodado aos seus próprios domínios.
segunda-feira, novembro 28, 2005
A DESAPARECIDA
Assinalando o regresso de Jodie Foster ao grande ecrã, “Flightplan – Pânico a Bordo” é a segunda longa-metragem do alemão Robert Schwentke e propõe uma interessante, mas desequilibrada, experiência cinematográfica carregada de suspense e mistério centrada num voo atribulado.
Foster interpreta uma engenheira cujo marido faleceu há poucos dias e prepara-se para transportar o seu corpo de Berlim para Nova Iorque, viajando num novo e aperfeiçoado modelo de avião que ajudou a criar.
Os problemas começam quando, depois de um início de voo aparentemente pacato, a protagonista se apercebe que a sua pequena filha, que viajava consigo, desapareceu. Apesar dos esforços para encontrar a criança, empreendidos pelos comissários de bordo, esta continua sem dar sinal de vida, e a situação torna-se ainda mais inquietante quando os registos indicam que a mãe entrou no avião sozinha e que nenhum dos tripulantes se lembra de ter visto a menina.
OS SETE MAGNÍFICOS
Nos últimos anos, nomes como Ang Lee ou Zhang Yimou têm contribuído para que o público ocidental tome maior contacto com produções asiáticas, em particular o épico, género que é há muito trabalhado nessas cinematografias mas que permanecia relativamente distante de uma grande faixa de espectadores.
Tsui Hark, embora não tenha tido tanta visibilidade ultimamente, é considerado outro mestre do cinema chinês e regressa à realização com “Sete Espadas” (Seven Swords/ Qi jian), o primeiro capítulo de uma saga de vingança, amor, guerra e traição centrada num grupo de sete guerreiros a quem foram entregues espadas especiais que os ajudarão a combater mercenários enviados por um cruel oficial militar.
domingo, novembro 27, 2005
HÁ ANIMAIS QUE FALAM COMO NÓS
Surpreendente sucesso de bilheteira em França e nos Estados Unidos, “A Marcha dos Pinguins” (La Marche de L’ Empereur) é uma curiosa obra que coloca em causa os limites entre o cinema documental e ficcional e lança definitivamente o pinguim para o grupo de animais mais carismáticos do momento (algo que já se evidenciava, por exemplo, na longa-metragem de animação “Madagáscar” ou em vários anúncios publicitários).
O realizador e biólogo Luc Jacquet seguiu a travessia anual dos pinguins imperadores por territórios inóspitos da Antártida, apresentando os seus rituais de acasalamento, as constantes disputas entre fêmeas, o nascimento e os primeiros dias das crias, assim como as imprevisíveis e nefastas contrariedades que se atravessam no seu caminho, desde astutos predadores a problemáticas condições climatéricas.
sábado, novembro 26, 2005
SEGREDOS RECICLADOS
Editado no início de 2005, “The Secret Migration” é o sexto álbum de originais de uma banda que, ao longo de mais de dez anos, tem sido uma das referências obrigatórias do rock alternativo norte-americano, proporcionando discos com personalidade e ousadia que, mesmo não convencendo multidões, foram sempre acarinhados por um restrito mas fiel grupo de seguidores.
“The Secret Migration” dá continuidade aos ambientes mais luminosos e optimistas que caracterizaram o álbum antecessor dos Mercury Rev, “All is Dream”, de 2001, mas desta vez o carácter experimental e inventivo da banda é menos evidente, pois a maioria das novas composições envereda por estruturas mais lineares e radio-friendly, mantendo a aura de encanto e magia mas sem grandes doses de surpresa.
sexta-feira, novembro 25, 2005
OS SEGREDOS DOS SONHOS MIGRATÓRIOS
Num mês marcado por múltiplos concertos em salas nacionais, em particular nos lisboetas – de Sigur Rós a Devendra Banhart, passando por Emir Kusturica ou Coldplay, entre outros -, o dos Mercury Rev parece ter sido (injustamente) ofuscado, tendo em conta que o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, onde a banda actuou no passado dia 22, registou um número modesto de espectadores, que mal preencheram metade da sala.
A limitada afluência de público não impediu, contudo, que o grupo norte-americano demonstrasse entrega, coesão e empenho, percorrendo episódios-chave da sua discografia durante quase duas horas vincadas por um interessante cardápio sonoro bem complementado por uma sólida componente visual.
Mantendo em palco a aura misteriosa e encantatória que caracteriza os álbuns, os Mercury Rev surpreenderam até mesmo antes de iniciarem o concerto, uma vez que as primeiras imagens exibidas no ecrã centraram-se numa homenagem ao cinema dos anos 30, dando depois destaque a uma sucessão de capas de discos de músicos díspares, cujo espectro englobou David Bowie, Nina Simone, Chemical Brothers, Hüsker Du ou Galaxie 500, então acompanhadas pela inebriante “Lorelei”, dos Cocteau Twins.
terça-feira, novembro 22, 2005
TONIGHT IT SHOWS
Trazendo consigo "The Secret Migration", o seu mais recente álbum, os Mercury Rev actuam hoje no Centro Cultural de Belém, naquela que promete ser uma noite de envolvente placidez outonal.
MELANCOLIA E TRISTEZA INFINITA
Vencedor do Prémio Regards Jeunes da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2005, elogiado pela imprensa nacional e internacional e conseguindo números de espectadores bastante satisfatório nas salas, “Alice” tem sido defendido por muitos como um filme capaz de aliar os gostos da crítica e do público, fazendo a ponte entre o cinema de autor e comercial, algo raro no contexto cinematográfico português, cujas obras muitas vezes se situam em extremos.
E, se a película de estreia de Marco Martins expõe óbvias qualidades, corre o risco de se tornar vítima dessa valorização algo excessiva, uma vez que, apesar de bons elementos, evidencia também consideráveis limitações, sendo um trabalho interessante mas não um tour de force de recorte superior.
Colado à angústia e progressiva dilaceração emocional de um jovem casal que tenta lidar, há mais de meio ano, com o desaparecimento da filha, o filme proporciona um amargurado e soturno mergulho no sentimento de perda que daí advém, assim como no desgaste, persistência e obsessão, elementos omnipresentes no melancólico quotidiano de Mário e Luísa, para quem encontrar a pequena Alice se tornou no único objectivo das suas vidas.
Revelando a rotina do diária do duo central, “Alice” segue o percurso obstinado de Mário, que mantém há meses uma estratégia que o ajuda a não perder a esperança, registando através de múltiplas câmaras de vídeo o fluxo de pessoas em vários locais de Lisboa na tentativa de, entre os milhares de cidadãos filmados, encontrar pistas acerca do paradeiro da sua filha.
Marco Martins coloca no seu filme uma série de questões pertinentes, desde a solidão urbana vincada pelo anonimato, indiferença e falta de comunicação; o poder da imagem e a eficácia dos sistemas de vigilância ou as consequências de uma perda súbita e violenta.
Apesar de promissores, estes temas acabam por ser mais sugeridos do que eficazmente explorados, pois a narrativa circular e o argumento algo esquemático levam a que “Alice” seja uma obra cansativa e a espaços difícil, onde a rotina do dia-a-dia dos protagonistas – repetida até à exaustão – se torna previsível e monótona para o espectador.
Percebe-se o intento de reforçar a claustrofobia e tensão que contaminam o quotidiano do casal, mas tal seria mais estimulante se o filme não se perdesse num saturante piloto automático, desaproveitando o seu potencial dramático..
Esta forte limitação não impede que “Alice” cative e envolva, já que Martins é bem sucedido na direcção de actores, tanto dos secundários – Miguel Guilherme, Ana Bustorff ou Gonçalo Waddington são alguns dos nomes fortes – como dos principais. Beatriz Batarda compõe uma surpreendente encarnação do desespero e desolação e Nuno Lopes, em quem o filme se baseia durante a maior parte do tempo, tem um desempenho competente, que se revela mais conseguido nos momentos de silêncio do que naqueles marcados pelo diálogo, sendo expressivo e credível nos olhares e expressões mas não tanto na colocação da voz.
“Alice” vale também pelo soberbo sentido atmosférico, dando a conhecer uma Lisboa de tonalidades azuis e acinzentadas, expondo uma componente estilizada que se coaduna na perfeição com a aura de desilusão e tristeza que se dissemina pelo duo central (e, embora de forma não tão carregada, pelas restantes personagens), próxima de ambientes de Wim Wenders ou Jim Jarmusch.
O apuro da realização e da fotografia geram pontuais momentos de uma inspirada plasticidade e energia visual, que complementada pela delicada e comovente banda-sonora de Bernardo Sassetti conduz a sequências de antologia, que infelizmente são acompanhadas por outras onde a vertente monocórdica do argumento impera.
Frágil e desigual, “Alice” pode não ser a obra-prima que tarda a aparecer no cinema português dos últimos anos mas também está bem acima da mediocridade, sendo uma primeira longa-metragem promissora e um inquietante olhar sobre o entorpecimento emocional de dois jovens adultos perdidos numa espiral descendente.
Pena que os seus ocasionais momentos caracterizados por uma visceral carga dramática se encontrem cercados por outros que apenas geram apatia, caso contrário “Alice” poderia ter sido um filme seminal em vez de uma estreia na realização a que se dá o benefício da dúvida.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
segunda-feira, novembro 21, 2005
OS MENINOS DANÇAM?
Depois de, em 2004, terem surpreendido tanto o público como a crítica através de um contagiante e energético álbum de estreia, os escoceses Franz Ferdinand regressam agora já com um segundo disco, oferecendo mais um conjunto de canções catchy e apelativas, caracterizadas por um rock portentoso e muito dançável.
À semelhança do seu antecessor, “You Could Have it So Much Better” é um concentrado de dinamismo e vibração, onde quase todos os temas possuem o apelo e imediatismo necessários para se tornarem em singles imbatíveis tanto em playlists radiofónicas como nas pistas de dança.
No entanto, apesar de ser um sólido party album onde o quarteto comprova a sua sensibilidade pop, este regresso perde na comparação com o disco de estreia, pois repete a fórmula que tornou “Franz Ferdinand” num registo tão refrescante e carismático, investindo quase sempre nos mesmos ambientes e sonoridades e não se desviando muito da amálgama new wave/ indie rock/ funk/ brit pop que marcou canções cristalinas como “Michael” ou “This Fire” (proporcionando assim mais do mesmo, como ocorreu nos segundos trabalhos dos The Strokes ou Interpol).
Mesmo não estando à altura do álbum anterior, “You Could Have it So Much Better” ainda é capaz de arrasar grande parte da concorrência, uma vez que contém alguns momentos irresistíveis como “Do You Want To”, um dos singles do ano, o não menos envolvente “What You Meant” ou o atmosférico “Outsiders”, um dos raros episódios apaziguados, embora conte ainda com um ritmo viciante.
A maioria dos restantes temas possui também melodias criativas q.b. e refrões pujantes e trauteáveis, sendo embaladas pela soberba voz de Alex Kapranos, mas não é especialmente memorável, aproximando-se mais de uma competente mediania onde os rasgos de génio são apenas pontuais.
“You Could Have it So Much Better”, não sendo brilhante, é bastante agradável e compensa a falta de novidade com uma boa disposição (não obstante ocasionais doses de melancolia) a que é difícil ficar indiferente, confirmando a consistência de uma banda que poderia ter feito, apesar de tudo, muito melhor. Esperemos que venha a fazê-lo.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
domingo, novembro 20, 2005
BLINKS & LINKS
QUEM É QUEM?
Um dos nomes mais elogiados da literatura norte-americana recente, Paul Auster tem consolidado um percurso que extravasa já domínios da literários,através da escrita de argumentos para cinema (como o de “Smoke”, de Wayne Wang) e mesmo experiências na realização (“Lulu on the Bridge”).
“A Trilogia de Nova Iorque” (The New York Trilogy), o seu primeiro livro, editado originalmente em 1985, é um dos seus trabalhos mais aclamados e emblemáticos, reunindo três contos – “Cidade de Vidro”, “Fantasmas” e “O Quarto Fechado à Chave” – que em comum têm enredos baseados nos cânones do policial, mas que não se esgotam numa simples resolução de mistérios, pois são utilizados como ponto de partida para uma reflexão acerca da solidão, efemeridade, tensão, frustração e precariedade das relações humanas nos centros urbanos contemporâneos, em particular as dos ambientes nova-iorquinos, onde a acção decorre.
sábado, novembro 19, 2005
IRMÃOS DE ARMAS
Contando com uma interessante percurso de realizador – de “Gattaca” e “Sim0ne” – e de argumentista – “The Truman Show – A Vida em Directo” e “Terminal de Aeroporto” -, Andrew Niccol volta a gerar mais uma película que mantém a ousadia e criatividade (nem sempre bem geridas, é certo) através das quais se tem distinguido.
“Senhor da Guerra” (Lord of War) apresenta um curioso retrato sobre o contexto socio-político mundial dos últimos anos, traçando um olhar denso e desencantado sobre as falácias da diplomacia, os obscuros bastidores das relações internacionais e as ambiguidades da natureza humana.
No cerne da acção encontra-se Yuri Orlov, um ucraniano que emigrou para os EUA com poucos anos e que se tornou, depois de muitos pequenos trabalhos no submundo de Little Odessa, num dos traficantes de armas mais reputados e experientes do mundo.
O filme assenta não só nas relações familiares do protagonista – dando um considerável destaque ao seu vulnerável irmão mais novo -, mas sobretudo na sua vida profissional, área através da qual explora o seu carácter dúbio, porventura imoral, mas que segue, ainda assim, um determinado código de honra.
Contudo, até chegar aí, o filme nem sempre convence, apostando numa mistura de géneros e de ambientes que, se por vezes cativa pela carga assumidamente offbeat e desregrada, noutras ocasiões quebra o ritmo ao apostar em sequências demasiado redundantes e monótonas, prejudicadas pela presença quase sempre intrusiva da recorrente e cansativa voz off, que torna o filme excessivamente palavroso.
Apesar de irregular, “Senhor da Guerra” tem qualidades suficientes que o elevam acima da mediania, casos do consistente trabalho de realização de Andrew Niccol, do acutilante e muito actual substrato do argumento ou do sólido desempenho de Nicolas Cage, que compõe um protagonista apropriadamente lacónico, cínico e distante.
É pena que as restantes personagens, embora bem interpretadas – outra coisa não seria de esperar de um elenco que inclui Ian Holm, Ethan Hawke ou Jared Leto -, raramente se afastem de caricaturas, o que em certos casos é apropriado, quando são usadas somente para a sátira, mas que acabam por ser limitadas e planas quando inseridas em cenas de uma maior tensão dramática.
Próximo de “Três Reis”, de David O. Russel, ou de “Os Polícias do Mundo”, de Gregor Jordan, outros filmes que focam temáticas semelhantes recorrendo igualmente a consideráveis doses de humor negro, narrativa espartana e algum niilismo, “Senhor da Guerra” é uma obra que, mesmo com altos e baixos (demora a arrancar e só atinge níveis realmente marcantes na última meia hora), não merece passar despercebida e volta a afirmar a relevância de um autor desequilibrado, mas interessante.
DANCING QUEEN
Embora ache que não é tão bom como "Ray of Light", "Music" ou "American Life", "Confessions on a Dance Floor", o mais recente álbum de Madonna, é ainda assim estranhamente viciante e resistente a múltiplas audições, já que me tem acompanhado em loop constante ao longo da semana.
Sim, pode não trazer nada de novo, voltando a insistir num french touch que já tinha dominado parte de "Music", mas pelo menos é pop muitíssimo eficaz e contagiante, coisa que se faz pouco hoje em dia. Além disso, a "Hung Up" é das raras canções decentes que se ouvem nas estações de metro. Mal empregada, no meio de Ritas Guerras (brrr... spooky), Xutinhos (the pain!! the horror!!!) e afins...
Parece-me que o disco ainda vai continuar a ser, durante algum tempo, o tema dominante de discussões no messenger com O Emissor e ahelenadetroia (cuja opinião está bem próxima da minha).
A rainha (da pop) não está morta, viva a rainha!
sexta-feira, novembro 18, 2005
O CLUBE DOS DIVORCIADOS
À partida, quando se entra numa sala de cinema para ver um filme intitulado “Mulher com Cão Procura Homem com Coração” (a inacreditável tradução para Must Love Dogs), as expectativas não serão as mais elevadas, uma vez que este aparenta ser mais uma comédia romântica feita a regra e esquadro e que promete ser pouco mais do que um compêndio de clichés.
E o facto é que, à saída, a impressão que fica é precisamente essa, um filme ligeirinho, que não arrisca e que pretende apenas suscitar alguns sorrisos. Contudo, e apesar da sua considerável previsibilidade, “Mulher com Cão Procura Homem com Coração” consegue apresentar algum encanto, uma vez que a sua saudável despretensão a torna numa obra simpática, ainda que limitada e sem grande frescura.
quinta-feira, novembro 17, 2005
CRIME, DISSE ELA
Uma das grandes surpresas cinematográficas de 2003, “Cidade de Deus” assinalou uma a soberba e memorável estreia na realização do brasileiro Fernando Meirelles, que se tornou automaticamente num nome incontornável entre os novos cineastas mundiais.
Dinâmico, cru, emotivo e efervescente, o filme aguçou a curiosidade em relação a projectos seguintes do realizador, por isso a sua segunda obra, “O Fiel Jardineiro” (The Constant Gardener), torna-se assim numa película especialmente decisiva na determinação do estatuto e respeitabilidade do seu autor.
Felizmente, e mesmo não sendo tão vibrante como o seu antecessor, o novo trabalho de Meirelles confirma-o como um autor interessante e com algo de relevante a dizer, sabendo dosear estilo e substância e aliando o entretenimento à reflexão (que nunca é sugerida de forma forçada).
“O Fiel Jardineiro” não é propriamente a película que se esperaria de Fernando Meirelles, uma vez que se trata de uma co-produção britânica e alemã, conta com actores mediáticos (Ralph Fiennes e Rachel Weisz) e baseia-se num romance de John Le Carré, oferecendo uma intrigante mistura de drama intimista, thriller político e road movie.
Não está, à partida, muito próximo de “Cidade de Deus” - foi feito com meios mais limitados, recorrendo a um elenco maioritariamente amador -, mas por detrás da capa de “filme de prestígio” (já há quem o considere um dos incontornáveis na próxima edição dos Óscares) a espontaneidade e ousadia temática e formal da primeira obra do realizador brasileiro acabam ainda por se repetir.
quarta-feira, novembro 16, 2005
segunda-feira, novembro 14, 2005
24 YEARS' PARTY PEOPLE
Depois de uma atribulada série de compras, telefonemas e envio de sms, finalmente chegou o dia em que festejei a chegada aos 24 anos, numa festa decorrida no sábado onde reuni algumas pessoas que, de alguma forma, me têm marcadado desde sempre ou mais recentemente, como o mykerider (escolheste bem o dia para te doer a cabeça...), o Mad (da próxima tratas tu das bebidas, Ricardo...), ahelenadetroia (sim, tenho que te arranjar o tal cd dos Sneaker Pimps), o olarques (eu logo vi que não te esquecias do vinho...), o Diego7 (acho que deixei a tua "prenda" no carro, Diogo), o Challenger (desta vez não dançaste, Fernando...) ou a magp (muito uncool, a t-shirt), entre outros também presentes (mas que não têm blogs).
Apesar da chuva, algum frio, modestas doses de álcool (não quero confusões em casa) e certas indecisões quanto à banda-sonora a escolher, a noite foi boa, embora tenha terminado demasiado cedo, já que quase toda a gente ficou cansada com o jantar e não teve muita vontade de ir sair.
Enfim, até às três da manhã ainda houve motivos de interesse, mas depois disso a alternativa foi ficar a ver, juntamente com o Challenger (o único que também não tinha sono), séries manhosas alternadas com o Chill Out Zone da MTV. De qualquer forma, se para o ano for assim acho que não me queixo, espero é aprimorar o meu manuseamento de isqueiros até lá, para evitar embaraços na altura de acender as velas :P
Entre outras coisas - como a banda-sonora do "Kill Bill" -, o que ouviu por lá foi isto:
Indie Rock n' Roll for Me:
Black Rebel Motorcycle Club - "Love Burns"
Franz Ferdinand - "Do You Want To"
Le Tigre - "Tres Bien"
The Dandy Warhols - "Everyone is Totally Insane"
Death Cab for Cutie - "Soul Meets Body"
Alpinestars feat. Brian Molko - "Carbon Kid"
The Killers - "Smile Like You Mean It"
Curve - "Die Like a Dog"
Nine Inch Nails - "Dead Souls"
Depeche Mode - "John the Revelator"
Placebo - "Bigmouth Strikes Again"
Editors - "Bullets"
Sneaker Pimps - "Loretta Young Silks"
Garbage - "Use Me"
New Order - "Jetstream"
The Bravery - "Give In"
The Postal Service - "Clark Gable"
Arcade Fire - "Rebellion (Lies)"
Music for Blue Grrrls and Boyz:
DJ Shadow - "You Can't Go Home Again"
Orbital and Angelo Badalamenti - "Beached"
Goldfrapp - "Fly Me Away"
New Order - "Blue Monday"
Kylie Minogue vs New Order - "Can't Get You Out of My Blue Monday"
Mylo - "Rikki"
Madonna - "Hung Up"
Garbage - "Enough is Never Enough"
Franz Ferdinand - "Michael"
Nine Inch Nails - "Closer (Static-X Remix)"
The Prodigy - "Action Radar"
LCD Soundsystem - "Tribulations"
The Chemical Brothers - "Hey Boy Hey Girl (Killer Buds vs Energetic Rmx)"
Soulwax - "Girls and Boys (Garbage vs Blur vs Prince...)"
E entretanto a festa acabou... Está na hora de voltar à realidade :(
quinta-feira, novembro 10, 2005
24/ AZUL BEBÉ
DEPOIS DOS 20, ANTES DOS 30
Depois de, em 2002, o bem-sucedido e muito acarinhado “A Residência Espanhola” ter apresentado uma perspectiva vibrante e envolvente sobre os dilemas da juventude europeia, Cédric Klapisch regressa agora com um novo olhar sobre as personagens que tornaram esse título numa marcante obra de culto.
“As Bonecas Russas” (Les Poupées Russes) volta a seguir o dia-a-dia de Xavier, que agora já não vive uma atribulada experiência em Barcelona através do programa universitário Erasmus mas tenta desenvolver um percurso profissional como escritor em Paris, mesmo que quase só seja solicitado para trabalhos pouco prestigiantes.
O filme centra-se no seu protagonista de forma mais vincada do que o seu antecessor, o que implica que Klapisch faça escolhas quanto às personagens com que este se relacionará de forma mais aproximada e reduzindo assim parte do elenco multicultural d’“A Residência Espanhola” a meros figurantes, com uma presença algo dispensável e meramente decorativa.
Se este factor retira algum do carisma, uma vez que a saudável pluralidade dá lugar a um argumento mais agarrado ao protagonista, também acaba por expor uma maior concisão e permite o despoletar de uma densidade emocional mais considerável, ainda que o filme seja essencialmente leve, acessível e imediato.
sábado, novembro 05, 2005
A VIAGEM DE SOPHIE
Considerado por muitos o mestre do cinema de animação nipónico, Hayao Miyazaki criou já múltiplas obras capazes de conquistar adeptos dos 7 aos 77, casos de “A Viagem de Chihiro”, “A Princesa Mononoke” ou a mítica série “Conan, o Rapaz do Futuro”.
“O Castelo Andante” (Hauru no ugoku shiro / Howl`s Moving Castle), o seu filme mais recente, é mais uma viagem por mundos de fantasia, decorrendo em cenários imaginativos e contando com personagens larger than life, propondo uma aventura intrincada que mescla romance, acção, humor e suspense, condimentos que já se revelaram bem geridos em títulos anteriores do cinesta.
Fábula que entrecruza o amor, a amizade, o envelhecimento e a guerra, “O Castelo Andante” baseia-se no romance de Diana Wynne-Jones e assenta nas atribuladas peripécias de Sophie, uma jovem tímida e pacata que, devido ao seu breve contacto com o atraente e audaz feiticeiro Howl, é alvo de um feitiço lançado pela Bruxa do Nada, que a transforma numa idosa.
De forma a reverter esta maldição, Sophie torna-se na mais nova habitante do intrigante castelo andante de Howl, mas antes de voltar ao estado anterior terá de sobreviver ao inquietante clima de guerra que se mostra cada vez mais assustador.
sexta-feira, novembro 04, 2005
QUOTIDIANO DELIRANTE (OU TALVEZ NÃO)
SEXO, MENTIRAS E HIP-HOP
Adaptando para o grande ecrã um dos livros mais elogiados de Eça de Queirós, “O Crime do Padre Amaro” foi originalmente concebido enquanto uma mini-série da SIC mas, como a exibição desta só está programada para o próximo ano, o projecto acabou por originar também uma longa-metragem.
Em 2002, o mexicano Carlos Carrera realizou outro filme baseado na obra, cuja passagem pelas salas despoletou controvérsia não só no seu país de origem mas também em Portugal, e agora Carlos Coelho da Silva aposta em mais uma versão, ainda mais livre do que a anterior.
Decorrendo num bairro suburbano lisboeta, a acção inicia-se com a chegada de Amaro, o novo e jovem pároco local, que cedo se apercebe das múltiplas carências, problemas e limitações que marcam o dia-a-dia da sua mais recente paróquia.
Contudo, a situação só se torna conturbada para si quando, aos poucos, se vai envolvendo com Amélia, a insinuante filha da dona da casa em que está hospedado, o que o obrigará a questionar a sua conduta e vocação.
quarta-feira, novembro 02, 2005
ONIRISMO BELGA
Mesmo não sendo uma das referências essenciais do trip-hop, os belgas Hooverphonic possuem uma interessante discografia que os torna num dos bons projectos do género, sabendo dosear sofisticação e subtileza com uma inteligente sensibilidade (dream) pop.
“The Magnificent Tree”, o seu terceiro álbum, editado em 2000, dá continuidade aos ambientes etéreos e intimistas que vincaram a sonoridade dos anteriores “A New Stereophonic Sound Spectacular” e “Blue Wonder Power Milk”, mas reduz consideravelmente as texturas esparsas e enigmáticas desses registos, apresentando composições mais imediatas, mas ainda absorventes.
terça-feira, novembro 01, 2005
CRIMES E ESCAPADELAS
Geradora de polémica no seu país de origem na altura das sua estreia em 2002, a adaptação mexicana para cinema do livro “O Crime do Padre Amaro” (El Crimen del Padre Amaro), de Eça de Queirós, dividiu opiniões e foi alvo de crítica por parte da Igreja Católica local, ou não apresentasse um olhar desencantado e mordaz sobre alguns dos seus elementos.
Paralelamente a estas críticas, algumas vozes nacionais insurgiram-se contra a falta de fidelidade do filme em relação à visão de Eça, situando os acontecimentos da obra nos dias de hoje e numa sociedade diferente daquela em que o autor se baseou.
Contudo, controvérsia aparte, esta adaptação de Carlos Carrera é uma conseguida e pertinente proposta cinematográfica, e mesmo não sendo totalmente fiel ao livro que a originou não deixa de lançar questões e convidar à reflexão acerca de temas – ainda tão actuais, em Portugal ou no México - como o celibato, o aborto ou a conduta, porventura dúbia, de certos representantes da Igreja.