sexta-feira, outubro 29, 2004

THERE`S NO PLACE LIKE...

...UNL??????
Ontem, antes de ir ao doclisboa, aproveitei que estava perto da minha ex-faculdade e fui lá almoçar (sim, porque mesmo com advertências a dizer que é necessário cartão de estudante o espírito "deixa andar" é quem mais ordena...típico). Apesar de já não ir lá há meses, pareceu-me que ainda tinha estado lá na semana passada...
O Outono tem destas coisas, estranhas sensações de nostalgia...Quem diria que eu iria ter saudades??? Vivendo e aprendendo...

NOVOS OLHARES CINEMATOGRÁFICOS

O Segundo Festival de Cinema Documental de Lisboa, a decorrer na Culturgest até ao final de Outubro, tem registado múltiplas sessões esgotadas e destaca-se como uma prova da adesão do público português a novos formatos cinematográficos.

Na programação de ontem, o doclisboa incluiu dois títulos integrados na secção "Foco Sobre Espanha": o olhar de Joaquín Jordá sobre a pedofilia em "De Niños" e ainda "La Espalda del Mundo", de Javier Corcuera, com três retratos que se debruçam nas experiências de trabalho numa pedreira de um grupo de crianças do Peru, nas peripécias de um exilado curdo na Suécia e no sofrimento dos familiares dos condenados à pena de morte nos EUA.

Ambos os documentários foram exibidos em diversas salas de cinema espanholas, comprovando a crescente abertura de nuestros hermanos ao cinema documental, contrariamente à situação que se verifica em Portugal, onde só escassos exemplos do género fazem parte do circuito comercial cinematográfico. Este é, de resto, um cenário que o doclisboa se tem esforçado em contrariar, assinalando a vitalidade e diversidade deste género em expansão.

Outra das secções nucleares do Festival, "Como Entender o Médio Oriente?", foi também alvo de destaque através de duas obras de Omar Amiralay. "Le Plat de Sardinesou La Première Fois que J’ai Entendu Parler d’Israel" e "Il y a Tant de Choses à Raconter" foram os dois títulos do veterano documentarista escolhidos para integrar a programação de ontem, focando a sua visão sobre o conflito israelo-árabe. Da Competição Internacional foram exibidos "Santa Liberdade" de Margarita Ledo Andión, "Untertage" de Jiska Rickels e "La Peau Trouée" de Julien Samani.

O doclisboa, para além de apresentar obras incontornáveis do género documental reconhecidas internacionalmente, compromete-se ainda a divulgar alguns dos exemplos deste formato cinematográfico produzidos por autores nacionais. Um desses casos é "Malmequer, Bem-Me-Quer ou o Diário de uma Encomenda" de Catarina Mourão, cineasta cuja primeira-obra, "Desassossego", foi exibida em 2003 nas salas de cinema nacionais.

Projectado num quase repleto Grande Auditório da Culturgest pelas 18h30m, o novo trabalho da realizadora relata as experiências que Catarina Mourão viveu para gerar um documentário para o canal ARTE. "Malmequer, Bem-Me-Quer ou o Diário de uma Encomenda" é, então, um documentário sobre a rodagem de um outro documentário, que tenta proporcionar um retrato dos jovens lisboetas de hoje.

Neste curioso projecto, Catarina Mourão demonstra alguns dos obstáculos e episódios conturbados que a marcaram durante a elaboração da encomenda, dando conta das cedências e limitações a que um autor é exposto quando se submete a prazos e regras formatadas. Acompanhando os vários passos da realizadora, o filme exibe o confronto entre a liberdade criativa e as directivas impostas pelo canal televisivo, centrando-se ainda num interessante olhar sobre cinco jovens lisboetas que exemplificam a heterogeneidade da juventude actual.

O doclisboa decorre no Pequeno e Grande Auditório da Culturgest até ao próximo domingo, dia 31 de Outubro, com cerca de seis sessões diárias. Terça-Feira, dia 2 de Novembro, serão apresentados os filmes premiados no Grande Auditório às 18h30m e às 21h.

quinta-feira, outubro 28, 2004

AND THIS IS FOR MY BRO...

Pois é, hoje o meu maninho faz 22 Primaveras (neste caso, Outonos) e entramos naquela altura do ano em que, apesar de não sermos gémeos, ficamos ambos com 22 anos durante uns dias...Não é para todos...De qualquer forma, hoje ainda não é propriamente dia de festa, porque essa só se realizará amanhã à noite em mais uma FRIDAY NIGHT FEVER...
E já agora, parabéns...Eu sei que é lamechas, mas alguém tem de o dizer...

BIZARRE LOVE TRIANGLE

Gregg Araki, o controverso realizador da “trilogia adolescente apocalíptica” - Totally F***d Up (1993), The Doom Generation (1995) e Nowhere (1997) – reduz consideravelmente as suas atmosferas de choque e desespero num filme surpreendentemente linear e convencional. “Esplendor” (Splendor), de 1999, afasta-se dos retratos de juventude alienados e niilistas que caracterizaram a obra do cineasta e aproxima-se (perigosamente?) de territórios relacionados com a comédia romântica, ainda que ligeiramente atípica.

Veronica é uma jovem de 22 anos, responsável e ponderada, que subitamente começa a envolver-se com dois homens ao mesmo tempo (o baterista Zed, interpretado por Matt Keeslar, e o crítico de música alternativa Abel, incorporado por Johnathon Schaech). Vivendo uma situação inédita na sua vida, Veronica acaba por encontrar pontos de interesse em ambos os relacionamentos e apaixona-se pelos dois pretendentes em simultâneo. Em vez de optar por um deles, a jovem acaba por gerar uma relação a três, convencendo os dois rapazes a aceitar o triângulo amoroso e, alguns meses depois, os três decidem partilhar o mesmo lar.

Araki afirma ter-se inspirado nas screwball comedies dos anos 30 para criar “Esplendor”, adaptando-as aos dias de hoje, simultaneamente mantendo a abordagem a temáticas sexuais que é inerente à sua obra. Contudo, essa abordagem é inesperadamente discreta e pouco arriscada, não registando particular ousadia ou carga inventiva. É certo que há um esforço por tornar o filme excêntrico, trendy e irreverente (a ménage à trois logo no início, a melhor amiga lésbica, a origem de novos tipos de família, …), mas a perspectiva é, aqui, demasiado superficial e pouco aprofundada, situando-se perto de uma banal sitcom e evitando entrar no âmago das questões.

Se na primeira metade o filme ainda promete surpreender, na segunda a história torna-se cada vez mais açucarada e previsível, expondo um desfecho minado de clichês e não muito longe de comédias românticas na linha de “O Diário de Bridget Jones”, apresentando a protagonista como uma vítima dos acontecimentos (quando, na verdade, ela é a principal responsável pelo caos que domina a sua vida).

“Esplendor” proporciona certos momentos com alguma frescura e, em determinadas cenas, oferece um curioso retrato dos dilemas dos actuais jovens adultos, mas globalmente não ultrapassa a mediania e apresenta uma boa ideia subaproveitada. O recente “Os Sonhadores” (The Dreamers), de Bernardo Bertolucci, engloba alguns dos pontos de partida de “Esplendor” e trabalha-os de forma bem mais inquietante e criativa, transmitindo um resultado final bem mais convincente.

“Esplendor” é um daqueles filmes que é facilmente superado pela sua (excelente) banda-sonora, que contém nomes como New Order, Blur, Air, Chemical Brothers, Lush, Suede, Slowdive ou Fatboy Slim. Espera-se que, na sua próxima obra, Araki volte a exibir alguma da sua carga provocadora e desconcertante…

E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL

TUDO BONS RAPAZES

"Always Outnumbered, Never Outgunned" é o título do mais recente álbum dos Prodigy, que assinala o regresso da banda após sete anos de repouso criativo. Mas depois de uma ausência tão longa, a pirotecnia do grupo conseguirá ainda incendiar paixões?

Com três bem-sucedidos discos de originais - "Experience", "Music For The Jilted Generation" e "The Fat of The Land" - Liam Howlett, Keith Flint, Maxim e Leeroy Thornhill construíram um percurso musical único na década de 90, aliando a energia do rock e a atitude do punk a poderosas atmosferas electrónicas, gerando fenómenos de culto mas atingindo igual sucesso junto de um público mainstream. A apoteose deste rumo consolidou-se em 1997 com "The Fat of The Land", o disco que os lançou para o sucesso global e que fez com que muitos vissem nos quatro rapazes o caminho para o futuro e salvação do rock. "The Fat of The Land" foi também decisivo para uma maior disseminação da música de dança (particularmente do big beat), colocando o grupo como porta-estandarte da cena underground (que acabou por se mesclar com o mainstream) britânica, ao lado de nomes como os Chemical Brothers, Underworld, Leftfield ou Orbital, entre outros.

Sete anos depois, os Prodigy resumem-se agora a Liam Howlett, o único elemento que permaneceu no projecto e que conta com uma consagrada lista de convidados em "Always Outnumbered, Never Outgunned" (Liam Gallagher, Kool Keith, Ping Pong Bitches, Princess Superstar e até a actriz Juliette Lewis). Depois da revolta cibernética-tecno-industrial que explodiu com uma inspirada e influente trilogia de discos, qual o lugar de uma nova experiência em 2004?

A única canção nova que o grupo gerou desde 1997 foi "Baby`s Got a Temper", que trazia um certo sabor a mais do mesmo e não continha as doses de adrenalina que sempre se atribuíram aos Prodigy, por isso o novo álbum era aguardado com expectativa mas também alguma desconfiança.
O resultado é um registo sem a carga de novidade que o grupo apresentou nos discos anteriores, expondo um território familiar onde, a espaços, se verificam algumas vias consideravelmente surpreendentes. Uma das boas surpresas é o atípico e viciante "Girls", o primeiro single extraído do disco que aponta para domínios electro/hip-hop e ousa desviar-se da imagem de marca dos Prodigy. "Action Radar" é outro tema portentoso e demolidor, recuperando a intensidade de hinos urbanos como os clássicos "Breathe" ou "Firestarter", e "Hotride" introduz-nos a uma Juliette Lewis revoltada e capaz de rivalizar com a raiva de Courtney Love. "Shoot Down" complementa a voz dos Oasis, Liam Gallagher, com efusivas batidas big beat, e o atmosférico "Medusa`s Path" traz à memória elementos das hipnóticas sonoridades ambientais do saudoso "Climbatize" (de "The Fat of The Land").
A maioria das restantes faixas do disco confirma que os Prodigy são um projecto com personalidade própria e vincada, mas não transmitem grandes doses de inovação e entusiasmo, incidindo em território já conhecido e, por vezes, demasiado datado. Algumas canções poderiam ser sobras ou lados-B de "The Fat of The Land", não registando novidades face ao que já ouvíamos em 1997.
Ainda assim, Liam Howlett consegue proporcionar um disco que, apesar de não apontar novos rumos (o tempo passa e a sonoridade dos Prodigy já não tem muito de futurista e visionário), contém força, eficácia e solidez suficiente para matar as saudades dos fãs e, talvez, impressionar alguns novos seguidores.
Em "Shoot Down", o tema que encerra o disco, uma das frases cantadas por Liam Gallagher é "Your Time is Running Out". Esperemos então que, se regressarem novamente, os Prodigy não o façam após uma ausência tão prolongada, até porque desde 1997 muitas bandas perderam já o prazo de validade. Mas por enquanto, e apesar da concorrência, este projecto ainda consegue usar algumas armas e garantir que o seu tempo - pelo menos o criativo - ainda não terminou...
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

ESTREIAS DA SEMANA - 28 DE OUTUBRO A 3 DE NOVEMBRO

"Velocidade Pessoal" de Rebecca Miller, "Terra da Abundância" de Wim Wenders, "Alien vs. Predador" de Paul W.S. Anderson e "Cala-te" de Francis Veber são os quatro filmes que chegam a salas nacionais esta semana.

"Velocidade Pessoal" (Personal Velocity: Three Portraits), o segundo filme realizado por Rebecca Miller, baseia-se num livro homónimo escrito pela própria e apresenta três histórias que têm em comum o facto de abordarem as experiências de três mulheres diferentes. Delia (Kyra Sedgwick), Greta (Parker Posey) e Paula (Fairuza Balk) decidem iniciar novos percursos nas suas vidas, e para isso optam por se autonomizar afastando-se do domínio e influência masculina. "Velocidade Pessoal" é um muito elogiado filme independente que arrecadou prémios no Festival de Sundance, nos Independent Spirit Awards e no National Board of Review.

"Terra da Abundância" (Land of Plenty) regista o regresso de Wim Wenders ("Paris, Texas", "Até ao Fim do Mundo", "O Hotel") e é mais um filme americano (depois de “A Última Hora”, de Spike Lee, ou “11’09’’01 – 11 Perspectivas”) que alude para as reminiscências da tragédia do 11 de Setembro nos EUA. Wenders retrata o lado mais obscuro e periférico da América através da relação de Lana (Michelle Williams), uma jovem cristã idealista, e o seu desencantado tio Paul (John Diehl), veterano do Vietname. Um dramático acontecimento irá interligar o rumo das duas personagens e iniciar um contraste entre os seus pontos de vista e quadros de referência. Não sou grande fã do cineasta (pelo menos das obras que vi dele) e, depois de visionar "Terra da Abundância", continuo a não me deixar convencer muito por Wim Wenders...Comentário mais pormenorizado em breve...

"Alien vs. Predador" (Alien vs. Predator) reúne dois dos nomes mais arrepiantes da história do cinema num filme marcado pela acção, suspense e terror. A realização foi entregue a Paul W.S. Anderson ("Resident Evil") e o elenco inclui, além das tenebrosas criaturas, Sanaa Lathan, Raoul Bova, Lance Henriksen, Colin Salmon e Ewan Bremner.

"Cala-te" (Tais-Toi!) é uma comédia francesa protagonizada por Gérard Depardieu e Jean Reno onde ambos interpretam dois criminosos que arquitectam um plano de vingança. Francis Veber realiza.

HÁ VIDA DEPOIS DOS JAMES...

Tim Booth, o ex-vocalista dos extintos James, regressa a palcos nacionais após a passagem pelo Festival Sudoeste de 2004. O cantor apresentará o seu primeiro disco a solo, "Bone", dia 2 de Novembro em Lisboa e dia 3 em Gaia.

Uma das bandas britânicas mais emblemáticas da década de 90 (e finais de 80), os James conseguiram conquistar uma sólida base de fãs não só na sua terra-natal mas também em território português. Canções como "Sometimes", "Sit Down", "Tomorrow" ou "Born of Frustation", entre tantas outras, têm lugar cativo entre as principais memórias musicais de muitos e confirmam o carisma associado ao grupo. O best of dos James, editado em 1998, foi um fenómeno de vendas entre nós e comprovou a admiração do público português pelo projecto.

No Verão de 2004, já depois do final da banda, Tim Booth apostou na aventura a solo e o resultado foi "Bone", um disco que possui o apelo pop dos James e interliga-o à energia do rock e a algum experimentalismo. Temas como o primeiro single "Down to the Sea" demonstram a continuidade da boa forma vocal do cantor e serão apresentadas ao vivo a 2 de Novembro em Lisboa, na Aula Magna, e a dia 3 em Gaia, no Hard Club, dando o mote para a sua digressão europeia.
BILHETES:
Aula Magna
Doutorais - 27,00 Euros
Anfiteatro - 22,00 Euros
Hard Club - 20,00 Euros
INÍCIO DO ESPECTÁCULO: 21H30m

Então dia 2 já sei o que vou fazer à noite...

quarta-feira, outubro 27, 2004

FESTIVAIS DE INVERNO

Era suposto colocar um post sobre o Festival Internacional de Banda de Desenhada da Amadora deste ano, mas como concordo em absoluto com o artigo do DN não vale a pena repetir o que já foi escrito...
E já agora, também assino por baixo desta opinião acerca do doclisboa, ao qual espero voltar amanhã...
Recomenda-se a passagem por ambos (mesmo que o FIBDA, com um espaço labiríntico e recolhido, já não possua o carisma de outros tempos)...

terça-feira, outubro 26, 2004

NAS TEIAS DE UM BOM BLOCKBUSTER

Um dos filmes mais marcantes deste Verão, "Homem-Aranha 2" (Spider-Man 2) dá continuidade às aventuras de um dos maiores ícones dos comics norte-americanos e prova que o cinema comercial ainda consegue surpreender.

Há dois anos, o muito adiado, repensado e aguardado projecto de transpor as peripécias do Homem-Aranha para o grande ecrã foi finalmente concretizado, gerando um dos filmes mais populares dos últimos tempos e deixando no ar uma considerável expectativa para a obrigatória sequela. Parte do segredo de tanto sucesso deveu-se à escolha do realizador, Sam Raimi, que até então se encontrava associado a esferas mais underground e que, graças ao herói aracnídeo, conseguiu o seu maior êxito até à data.

Embora fosse, aparentemente, mais um dispendioso filme de Verão, "Homem-Aranha" (Spider-Man) ultrapassou a mediania devido a um argumento bem-estruturado, uma realização segura e apropriada para um universo oriundo da BD, personagens suficientemente consistentes e um elenco que revelava uma inegável entrega ao projecto. Equilibrando na dose certa drama, acção e humor, "Homem-Aranha" proporcionou um blockbuster distante do habitual desfile de efeitos especiais que caracteriza muitos dos exemplos do género, recorrendo a estes apenas em momentos estratégicos e evitando doses desnecessárias de pirotecnia.

Num período marcado por tantos filmes baseados em personagens dos comics (sobretudo da Marvel), "Homem-Aranha" constituiu uma das melhores adaptações do género, respeitando o espírito da BD e apostando na construção de personagens em detrimento das sequências de acção (juntando-se às igualmente interessantes abordagens efectuadas no ousado, atmosférico e intimista "Hulk", de Ang Lee, e aos sofisticados e imaginativos "X-Men" e "X2", de Brian Singer).

Sam Raimi criou um bem-sucedido exercício de revitalização do género em "Homem-Aranha" e comprova, com o muito aguardado segundo episódio da saga, que foi uma escolha apropriada e credível para o cargo de realizador. Contrariamente às múltiplas sequelas desinspiradas, repetitivas e monótonas que proliferam no panorama cinematográfico actual, "Homem-Aranha 2" mantém as fortes doses de entusiasmo, criatividade e componente lúdica que se manifestaram na primeira aventura.

O trio de jovens actores constituído por Tobey Maguire (novamente irrepreensível como Peter Parker), Kirsten Dunst (que compõe uma Mary Jane Watson mais independente e decidida) e James Franco (num competente Harry Osborn, apesar da sua personagem ser pouco trabalhada) persiste, juntamente com as presenças dos veteranos Rosemary Harris (apropriadamente enternecedora como May Parker) e J.K. Simmons (que interpreta um J.J. Jameson perfeito e muito divertido, fiel à matriz da BD). A única personagem nuclear inédita nesta segunda aventura é o vilão Doctor Octopus, interpretado por Alfred Molina, um antagonista mais ambíguo e tridimensional do que o pouco conseguido Duende Verde do filme anterior.

Se "Homem-Aranha" apresentava o universo do protagonista, a sua origem e as reacções iniciais aos inesperados superpoderes, o novo episódio ultrapassa essa perspectiva mais superficial e debruça-se sobre o âmago do herói, as suas inseguranças, medos, incertezas e as consequências que o heroísmo do Homem-Aranha despoletam no seu alter-ego, o tímido e atrapalhado Peter Parker (desfazendo, em parte, a aura feel-good movie que preenchia o primeiro filme).
Sam Raimi explora agora as dúvidas e as depressões do paladino aracnídeo, lançando-o numa fase de questionamento e reavaliação da sua conduta. Assombrado pelo peso do poder e da responsabilidade, Peter Parker afunda-se numa espiral descendente que roça o desespero, tornando-se incapaz de cumprir os compromissos e metas da sua (quase nula) vida privada.
Deparando-se com a obrigação de fazer escolhas determinantes e seguir caminhos imprevisíveis, Parker sente-se tentado a terminar com o seu papel enquanto Homem-Aranha, dado que o herói lhe traz mais entraves do que benefícios. Encarando os seus poderes como uma maldição e não tanto como um dom, o jovem decide dinamizar a sua vida pessoal e recuperar o tempo perdido.
Esta dúvida existencial recorrente é um dos elementos que tornam o Homem-Aranha num dos super-heróis mais verosímeis e acarinhados pelo público da BD, e Sam Raimi consegue retratar eficazmente essas situações conturbadas, gerando diversos bons momentos que conjugam o humor (por vezes negro, mas com gags irresistíveis) e o drama de tonalidades melancólicas. As difíceis escolhas que caracterizam a vida do protagonista funcionam também como uma metáfora do processo de crescimento, ilustrando as experiências e a solidão de um jovem adulto em busca do seu rumo e que teme enfrentar o peso da responsabilidade.
Para além destes momentos de auto-(re)descoberta, prossegue em "Homem-Aranha 2" a inspirada história boy meets girl de Peter Parker e Mary Jane, elemento-chave no primeiro filme e que aqui se revela igualmente essencial. Mary Jane é, agora, uma personagem mais forte e consistente, afastando-se do estereotipo de "jovem-indefesa-que-precisa-de-ser-salva" para se tornar numa presença com mais garra e determinação (e muito mais próxima da personagem original da BD).
O filme equilibra o lado humano/dramático com impressionantes sequências de acção, suscitando situações com altas doses de suspense e adrenalina. Estas cenas resultam melhor do que no episódio anterior, não só pela evolução dos efeitos especiais desde então mas também devido ao vilão Doc Ock, cuja concepção (do uniforme e dos movimentos) é melhor conseguida do que a do algo questionável Duende Verde.
Raimi filma os momentos de acção com um ritmo e eficácia assinaláveis, criando peripécias visualmente surpreendentes e dignas de antologia (embora se tornem, por vezes, demasiado inacreditáveis, cujo exemplo mais gritante são as proezas acrobáticas da tia May). A espaços, o realizador resgata mesmo algum do espírito das suas obras antigas ("Evil Dead", "Darkman"), estruturando situações com consideráveis cargas macabras e sinistras (a explosão que transforma Otto Octavius em Doctor Octopus será, provavelmente, a mais marcante).
O talento do cinesta manifesta-se, ainda, na forma como capta Nova-Iorque, expondo-a como território de fusão de atmosferas e personagens e destacando-a como uma componente primordial para a construção do herói (é impossível imaginar o Homem-Aranha noutro ambiente, assim como Batman não faria sentido fora de Gotham City). Em certas ocasiões, verificam-se ainda ressonâncias da catástrofe de 11 de Setembro (a união dos civis para proteger o herói durante o acidente no metro, por exemplo), factor que também marcava a primeira aventura.
"Homem-Aranha 2" comprova que a saga cinematográfica do herói aracnídeo é uma das mais dignas e coesas de entre as muitas que têm surgido recentemente e que tomam o universo dos comics como referência inspiradora. Aumentando o grau de densidade dramática face ao primeiro episódio sem prescindir, no entanto, de um fundamental aspecto lúdico, esta nova aventura proporciona um entretenimento de topo concebido com alguns dos melhores ingredientes disponíveis.
Apropriado para um público dos 7 aos 77, "Homem-Aranha 2" demonstra que mesmo um filme comercial, ultra-promovido e divulgado, pode conter ainda elementos da magia do cinema e tornar-se num objecto muito convincente. Não será propriamente o filme do ano mas é, até agora, o mais forte candidato a melhor blockbuster de 2004.
E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

WHAT`S UP, DOC?

A segunda edição do doclisboa, o Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa, começou dia 24 e decorrerá até dia 31 na Culturgest. Em foco, novos olhares de cinema através de um género que tem verificado um crescimento assinalável.

Com a contínua diversidade de festivais de cinema que têm surgido em Portugal (e sobretudo em Lisboa), impunha-se que houvesse um que destacasse um género tão peculiar como o documentário. O doclisboa dá continuidade aos Encontros Internacionais de Cinema Documental na Malaposta (realizados entre 1989 e 2001), apostando num tipo de cinema que ainda não é muito divulgado entre nós.

Nos últimos tempos, documentários de Michael Moore (os polémicos "Bowling For Columbine" e "Fahrenheit 9/11"), Agnès Varda ("Os Respigadores e a Respigadora") e Morgan Spurlock (o recente "Super Size Me - 30 Dias de Fast-Food") conseguiram algum destaque nos media e considerável adesão do público, mas ainda assim há múltiplas (e não menos relevantes) obras do género documental que não fizeram parte do circuito de cinema comercial português. O doclisboa pretende contrariar esta tendência, e para isso apresenta uma programação diversificada com obras inéditas (a maioria premiadas internacionalmente), múltiplos debates e a presença de alguns realizadores.

Esta edição do festival divide-se em cinco secções: "Competição Internacional", "Para onde vai o documentário português?", "Como entender o Médio Oriente?", "Foco sobre Espanha" e "Sessões Especiais" (de onde se destaca a "master class" de Nicolas Philibert, o realizador de um dos documentários mais premiados dos últimos anos, "Ser e Ter", que apresentará também a sua nova obra, o inédito "La Voix de son Maître").

A sessão de abertura decorreu no passado domingo pelas 18h com a exibição do muito concorrido (lotação ultra-esgotada, vi-me envolto numa autêntica saga para conseguir bilhete, mesmo tendo acreditação...) "The Revolution Will Not Be Televised", dos irlandeses Kim Bartley e Donnacha O`Briaian, um olhar sobre o recente contexto político venezuelano, particularmente a relação de Hugo Chavez com as massas populares. Pelas 21h foi apresentado "Checkpoint", de Yoav Shamir, um retrato acerca das relações entre os soldados israelitas e os civis palestinianos. A noite terminou com a nova obra da francesa Agnès Varda, "Ydessa, les Ours et etc...", projectada a partir das 23h, que segue uma coleccionadora, comissária e negociante de uma exposição de fotografia.

Propondo seis sessões por dia (11h, 14h30m, 16h30m, 18h30m, 21h e 23h, apesar de não haver sessão das 11h no dia 31) que decorrem no Pequeno e no Grande Auditório da Culturgest, o doclisboa oferece um cartaz versátil com um considerável espectro de temas, abordagens, linguagens e perspectivas, expondo as diferentes vertentes do documentário contemporâneo. A 2 de Novembro serão exibidos os filmes premiados do festival, às 18h30m e às 21h no Grande Auditório.

segunda-feira, outubro 25, 2004

ESPERO IR...

A banda de Oren Bloedow e Jennifer Charles apresentará um concerto no próximo sábado no café-teatro Santiago Alquimista, em Lisboa, depois da passagem pel`O Meu Mercedes É Maior que o Teu, no Porto, dia 29.

Gerados no início da década de 90, os Elysian Fields têm mantido um discreto, mas elogiado, percurso musical, construindo uma sonoridade hipnótica e encantatória.

Reconhecido como um projecto entusiasmante logo na altura do E.P. homónimo e do disco de estreia "Bleed Your Cedar", o grupo tornou-se distinto de muitos outros da cena indie norte-americana devido à intrigante voz de Jennifer Charles e às densas e soturnas atmosferas sonoras que as suas canções contêm.

Chris Vrenna (ex- Nine Inch Nails) e Dan the Automator (elemento dos Gorillaz e dos Handsome Boy Modelling School) foram alguns dos nomes que solicitaram a colaboração da voz única de Jennifer para os seus projectos paralelos, "2 AM Wake-Up Call" e "Nathaniel Merriwether Presents... LOVAGE: Music To Make Love To Your Old Lady", respectivamente.

Com um novo disco, "Dreams That Breathe Your Name", os Elysian Fields estarão presentes no Santiago Alquimista, em Lisboa, no próximo dia 30 para um concerto integrado na sua tournée de Outono. Na noite anterior, a banda actuará no Porto, n`O Meu Mercedes é Maior que o Teu.

Início dos Concertos: 23h00m

Bilhetes:

Lisboa:
Pré-venda: 12€
No Próprio dia: 15€, podendo ser reservados até à véspera dia 29 no Santiago Alquimista, pelo telefone 21 8820259

Porto:
O Meu Mercedes É Maior que o Teu - 22 2082151
Pré-Venda: 10€
No Próprio Dia: 12 €

Depois dos Magnetic Fields na semana pessada, mais um concerto a que espero ir...E depois aos de Tim Booth, Rammstein e Rufus Wainwright... =P

DANÇAS BEM MAS...

Dando forma a um projecto idealizado pela actriz Neve Campbell (bailarina experiente, que interpreta a personagem central do filme), Robert Altman aborda em "A Companhia" (The Company) as tensões, rotinas e ambientes inerentes a uma companhia de bailado. O realizador evita aqui uma narrativa desprovida de excessos melodramáticos e enredos complexos, desviando-se das atmosferas marcadas por "plumas e lantejoulas" que costumam caracterizar muitos filmes acerca deste tema. Altman pretende assim oferecer uma perspectiva realista, credível e fidedigna, proporcionando uma obra de consideráveis tons sóbrios e intimistas.

A mistura de elementos ficcionais com um carácter quase documental remete para trabalhos anteriores do cineasta, como "Prêt-à-Porter", de 1994, centrado nos bastidores da moda. Afastando-se de uma narrativa rocambolesca e de uma constante valorização do glamour, "A Companhia" apresenta um olhar que tenta focar múltiplos aspectos do quotidiano dos bailarinos, retratando tanto os momentos de glória como as fases mais árduas e cansativas de enorme pressão física e emocional.
A ténue presença de elementos ficcionais faz, no entanto, com que o filme não desenvolva detalhadamente as personagens, focando antes as atmosferas e o carácter colectivo da companhia do Joffrey Ballet de Chicago. É difícil definir aqui uma linha orientadora do argumento ou traços mais complexos dos indivíduos presentes na acção. A relação entre Ry (Neve Campbell) e Josh (James Franco) é sintomática desse quase inexistente desenvolvimento de personagens, apresentando algumas cenas entre os dois actores mas mantendo sempre um tom frio e distante que não facilita o surgimento de empatia por parte do espectador.
A componente documental do filme, se por um lado permite que a câmara se insinue subtilmente pelos meandros da companhia e dos seus bailarinos, também gera demasiada distância emocional face às supostas personagens presentes no filme. Por isso, esta proposta de Altman acaba por se tornar numa semi-desilusão, criando sequências intrigantes quando se centra nas coreografias das danças mas despoletando apatia e desinteresse quando aborda as experiências pessoais dos bailarinos, maioritariamente desprovidas de considerável tensão dramática (o cinema não pode ser só imagem e música).
Apesar de possuir mérito por se desviar dos convencionais filmes sobre dança, "A Companhia" não produz um resultado final particularmente convincente, gerando um todo com momentos cativantes mas que, no seu conjunto, se torna um esforço morno e pouco entusiasmante.
Mesmo sendo um trabalho competente e profissional, o mais recente filme de Robert Altman terá provavelmente maior interesse para os fãs mais dedicados do realizador ou para os amantes da dança e bailado. Quem não se inserir em nenhuma destas categorias poderá deparar-se com um projecto de ocasionais prodígios visuais mas que, no seu conjunto, não ultrapassa a barreira de uma mediana indiferença. Não é uma perda de tempo, mas há melhores companhias no panorama cinematográfico de 2004.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

domingo, outubro 24, 2004

PEDAÇOS DE UMA DISCOGRAFIA

Os Magnetic Fields regressaram a palcos nacionais na passada quarta-feira e apresentaram não só temas inéditos do recente álbum "i", mas também canções mais antigas. A Aula Magna foi o centro dos acontecimentos.

Merecedores do respeito e aplauso da crítica especializada devido, sobretudo, ao incensado "69 Love Songs", de 1999, os Magnetic Fields já editaram entretanto um novo disco, "i", no início de 2004. A banda de Stephin Merrit (o carismático vocalista/compositor que, também criou, recentemente, a banda-sonora do filme "Pedaços de Uma Vida - Pieces of April") proporcionou um concerto que, ao contrário do que talvez muitos esperassem, não se baseou tanto no álbum mais recente mas antes aproveitou para recuperar algumas canções quase esquecidas.

Apesar de ser um grupo com um fiel público em território luso, parte da obra dos Magnetic Fields era, no entanto, praticamente desconhecida, uma vez que os primeiros discos da banda (do início dos anos 90) só muito recentemente tiveram edição nacional. Assim, a noite de dia 20 foi marcada pela apresentação de algumas canções quase esquecidas, como "Born on a Train", "All The Umbrellas In London" ou "Smoke and Mirrors".

Contrariamente às influências electro/synth-pop que dominam alguns dos discos da banda, o concerto não contou com a influência digital, decorrendo de forma simples, sóbria e com sonoridades acústicas. Já no recente disco "i" se manifestava uma considerável presença do piano e do violoncelo, e o concerto confirmou essa tendência. Ainda assim, a fusão folk/pop/country e a combinação das vozes de Stephin Merrit e Claudia Gonson conseguiram gerar momentos contagiantes como a subtil "I Don`t Believe You", a carismática "All My Little Words" (um dos temas mais emblemáticos de "69 Love Songs"), a cativante "If You Don`t Cry" e, sobretudo, a irresistível pérola "I Thought You Were My Boyfriend" (uma das melhores composições de "i").

Confirmando o talento para a criação de canções que oscilam entre ambientes de dor amorosa, algum desespero, doses q.b. de ironia e paisagens melancólicas (mas não depressivas), os Magnetic Fields proporcionaram uma noite de atmosfera agridoce, alternando entre episódios apelativos (com destaque para o afável e bem-disposto contacto com o público) e aspectos não tão bem conseguidos (competente e profissional, a actuação raramente ofereceu, no entanto, momentos arrebatadores).

Mesmo sem a presença de algumas temas "obrigatórios" (como "I Think I Need A New Heart"), contando com uma atmosfera demasiado apaziguada (apesar de agradável) e terminando com um "encore" que soube a pouco, os Magnetic Fiels apresentaram hora e meia de boas canções numa Aula Magna consideravelmente preenchida.

Para registar, ficam memórias de um sóbrio concerto que poderia ter ido mais longe e que não possuiu a carga de ousadia de um título como "69 Love Songs".
Nota: a foto não é desse concerto, mas como não pude levar máquina fotográfica tirei uma do site da banda...
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

CINEMA ASIÁTICO

Após uma programação recente marcada pelo Indie LX e pela 5ª Festa do Cinema Francês, o Cinema S. Jorge é agora o centro do 1º Festival de Cinema Asiático, que decorre entre 22 e 24 de Outubro.

O evento apresenta alguns dos títulos mais marcantes do cinema oriental recente, exibindo obras de origem chinesa, coreana, indiana, indonésia e tailandesa.

Apesar desta primeira edição ser relativamente curta, os organizadores do evento revelaram, durante a cerimónia de inauguração, a vontade em realizar futuras edições que decorressem durante mais tempo e que possibilitassem a divulgação de um maior número de filmes. As duas obras que iniciaram a programação do Festival foram "Gandhi", o emblemático drama épico de Richard Attenborought (uma co-produção entre a Índia e o Reino-Unido), e "Ditto", de Kim Jeon-kwon (de origem coreana).

Inédito em salas nacionais (tal como a maioria dos filmes do evento), "Ditto" é uma curiosa mistura de drama juvenil, comédia e ficção científica. O filme retrata a ligação entre uma jovem de 1979 e um adolescente de 2000, interligados através das conversas partilhadas por ambos por via de um rádio amador HAM. Apesar de pertencerem a diferentes períodos temporais, os jovens constroem, aos poucos, uma peculiar relação e tornam-se cada vez mais próximos (mesmo não podendo encontrar-se um com o outro). Expondo alguns paralelismos com ambientes herdados da série "Twilight Zone" e de "Frequência" (Frequency), de Gregory Hoblit, "Ditto" constituiu uma interessante porta de entrada para o Festival.
Organizado pela Fundação Oriente e pela EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural), o 1º Festival de Cinema Asiático terminará hoje com a exibição de 6 filmes:
Sala 2:
15h00m - "Mekong Full Moon Party" - Tailândia
17h30m - "Mekong Full Moon Party" - Tailândia
20h00m - "Ditto" - Coreia
Sala 3:
15h00m - "Langitku Rumahku" - Indonésia
17h30m - "My Sassy Girl" - Coreia
20h00m - "Gandhi" - Índia
Cinema S. Jorge: Av. Liberdade, 1751050-200 Lisboa T: 213103400 Bilhetes: 2 Euros

sexta-feira, outubro 22, 2004

COMEÇA HOJE...

Dedicado ao tema "As 100 BDs do Século XX", a edição deste ano do FIBDA (Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora) decorrerá na nave comercial da Estação do Metro da Falagueira (Amadora-Este) entre 22 de Outubro e 7 de Novembro.

Para além de ocupar esse local, o FIBDA apresentará também exposições no CNBDI, na Galeria Municipal Artur Bual e na Casa Roque Gameiro. Entre os atractivos do evento, destacam-se a Feira do Livro de BD, debates com autores nacionais e estrangeiros, sessões de autógrafos ou o lançamento de novos livros.

Um dos elementos mais fortes das muitas edições do Festival tem sido os concursos de BD e Cartoon, que procuram anualmente novos valores dentro da área, incentivando o surgimento de novos desenhadores, a criação de trabalhos a concurso e a sua apresentação pública. Este ano, o tema dos concursos é a "Mobilidade Urbana", o ponto de partida para descobrir talentos desconhecidos e potenciais prodígios da nona arte.

Pronto, mais um sítio que terei de visitar em breve, apesar de não ter participado no concurso este ano...

quinta-feira, outubro 21, 2004

ESTREIAS DA SEMANA - 21 A 27 DE OUTUBRO

Entre as propostas cinematográficas que chegam a salas nacionais esta semana encontram-se exemplos da comédia romântica, drama realista, musical, terror e até mesmo documentário.

"Noite Escura", o novo filme de João Canijo ("Sapatos Pretos", "Ganhar a Vida"), retrata as aventuras de uma família que gere uma casa de alterne numa pequena aldeia portuguesa. Esta mistura de drama realista e crime, centrada nas tensas relações entre um pai, uma mãe e duas filhas, baseia-se na peça "Ifigénia em Aulis" de Eurípides e foi apresentada (e muito elogiada) na Selecção Oficial do Festival de Cannes de 2004. Entre os nomes do elenco destacam-se Beatriz Batarda, Rita Blanco, Cleia Almeida e Fernando Luís.

"Exorcista: O Princípio" ("Exorcist: The Beginning") aborda os acontecimentos que decorreram antes de "O Exorcista" ("The Exorcist"). Renny Harlin assina este regresso a uma das obras cinematográficas que marcou o género do terror e suspense. Em complemento, é exibida a premiada curta-metragem portuguesa "I`ll See You in My Dreams", que se desenrola em atmosferas negras e apresenta o ataque de um grupo de zombies a uma aldeia. Realizada por Miguel Ángel Vivas e protagonizada por Adelino Tavares, São José Correia, Sofia Aparício e Manuel João Vieira, "I`ll See You in My Dreams" é já um título de culto entre nós.

"Super Size Me: 30 Dias de Fast Food" é um documentário acerca da obesidade e uma análise dos malefícios da "fast-food" (em particular da McDonald`s). O realizador Morgan Spurlock alimentou-se exclusivamente de "fast-food" durante 30 dias com o fim de constatar os efeitos deste tipo de alimentação e efectuou ainda uma série de entrevistas na tentativa de descobrir os motivos de um índice de obesidade tão elevado nos EUA. O documentário foi distinguido no Festival de Sundance de 2004 (Prémio de Melhor Realizador) e esteve presente no Indie Lisboa (onde encerrou o festival).

"De-Lovely" aborda a vida do músico Cole Porter, particularmente a fase do envelhecimento e a conturbada relação com a sua mulher. Combinando características do drama e do musical, o novo filme de Irwin Winkler inclui Kevin Kline, Ashley Judd e Jonathan Pryce entre os nomes do elenco e conta ainda com colaborações de Robbie Williams, Alanis Morissette, Sheryl Crow, Elvis Costello, Diana Krall e Natalie Cole, que interpretam alguns dos temas mais emblemáticos de Porter.

"Wimbledon - Encontro Perfeito" é a mais recente comédia romântica que se estreia em salas nacionais e foca a relação de dois tenistas profissionais. Paul Bettany e Kirsten Dunst são a dupla de protagonistas e a realização está a cargo de Richard Loncraine.

Ainda no campo da comédia, "Inveja" ("Envy") regista o regresso do cineasta Barry Levinson ("Sleepers - Sentimento de Revolta", "Rain Man - Encontro de Irmãos"). O filme apresenta o declínio da relação de dois amigos e colegas de trabalho devido ao sucesso repentino de um deles e à crescente inveja do outro. Ben Stiller e Jack Black são os cómicos de serviço.

terça-feira, outubro 19, 2004

SANGUE, SUOR E ADOLESCENTES

Um dos títulos fulcrais do Festival de Toronto de 2002 e do Fantasporto de 2004, "A Cabana do Medo" (Cabin Fever) combina elementos de suspense, terror, gore e comédia negra para proporcionar hora e meia de bem-conseguidos sustos e arrepios.

O ponto de partida não é muito original, uma vez que não passa de mais uma variação sobre um grupo de jovens pré-universitários que passam alguns dias de férias numa cabana algures no interior dos EUA. A agradável atmosfera inicial da aventura altera-se quando um dos elementos do grupo é contagiado por uma misteriosa bactéria que lhe começa a apodrecer o corpo. A partir do momento em que surge esse elemento de tensão, o ambiente altera-se drasticamente e os cinco adolescentes vêem-se imersos numa teia de medo, suspeita, paranóia e desespero, gerando uma sucessão de conflitos, atritos e episódios macabros.

"A Cabana do Medo" apresenta uma boa gestão do tempo e do ritmo da acção, desencadeando surpresas suficientes para despertar o interesse, embora não esteja imune a alguns lugares comuns. As cinco personagens centrais, pouco desenvolvidas, não ultrapassam os clichés do género. Jeff (Joey Kern) é o típico jovem bem-parecido e arrogante, Marcy (Cerina Vincent) a morena sensual, Paul (Rider Strong) o rapaz bem-comportado, Karen (Jordan Ladd) a loura simpática e Bert (James DeBello) o egoísta irresponsável. O argumento do filme também não traz nada de realmente novo, antes aproveita situações de obras anteriores e elabora uma mistura de condimentos com energia e fôlego suficientes para entusiasmar.
Simultaneamente cómico e perverso, "A Cabana do Medo" nunca se leva muito a sério, equilibrando cenas inesperadas e claustrofóbicas com momentos mais satíricos e lúdicos. O realizador Eli Roth consegue dosear os níveis de suspense e adrenalina, oferecendo uma banda-sonora críptica e perturbante, uma fotografia de tons negros e ensaguentados, uma montagem eficaz e múltiplos sobressaltos que compensam a falta de chama de alguns actores e os esboços de personagens que orientam a acção.
Protegido de David Lynch ("Mulholland Drive", "Estrada Perdida") e elogiado por Peter Jackson (realizador da trilogia "O Senhor dos Anéis" e cineasta de culto), Eli Roth apresenta uma competente e curiosa estreia na realização, proporcionando uma interessante série-B que é descendente directa dos clássicos de John Carpenter ou Sam Raimi. Enquanto arrepia e sufoca, "A Cabana do Medo" suscita ainda um subtexto que alude para temas como o preconceito, ostracismo, tolerância ou individualismo VS espírito de grupo. O facto de ser um filme de baixo orçamento acaba por jogar a seu favor, evitando uma exposição de supérfluos efeitos especiais e apostando em processos mais modestos que acentuam as texturas sinistras e a espaços bizarras.
Não sendo uma obra brilhante, "A Cabana do Medo" é uma experiência consistente e dinâmica, constituindo uma boa adição ao género de terror com adolescentes (bem mais estimulante e criativa do que os clones de "Gritos - Scream" que surgiram como cogumelos nos finais da década de 90). Juntamente com "Nunca Brinques Com Estranhos" (Joyride), de John Dahl, e "28 Dias Depois" (28 Days Later), de Danny Boyle, a primeira obra de Eli Roth é um dos mais sólidos filmes dos últimos anos (dentro do género) que ainda vai mantendo vivos os domínios do gore e do terror.
Suficientemente desconfortável e intrigante.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

segunda-feira, outubro 18, 2004

THE FRENCH CONNECTION

No passado fim-de-semana, o Cinema S. Jorge exibiu os últimos filmes da programação da 5a Festa do Cinema Francês, terminando um ciclo que teve início dia 7. Entre as últimas propostas constaram "Blueberry" de Jan Kounen, "Le Chien, le Général et les Oiseaux" de Francis Nielsen, "Les Choristes" de Christophe Barratier e "2046" de Wong Kar Wai (no sábado) e "Le Roi et l'Oiseau" de Paul Grimault, "5X2" de François Ozon e "29 Palms" de Bruno Dumont (domingo).

"2046", apesar de não ser um filme francês, foi um dos filmes mais concorridos do fim-de-semana, aguardado por muitos com alguma expectativa. Exímio em termos formais (excelente fotografia, iluminação, cenários, movimentos de câmara, banda-sonora,...), a mais recente obra de Wong Kar Wai ("Disponível Para Amar", "Chungking Express") debruça-se sobre a (im)possibilidade do amor e proporciona um peculiar olhar sobre as relações amorosas. Hipnótica poesia visual para uns, filme arty pretensioso para outros (eu fiquei algures no meio, talvez um revisionamento desfaça as dúvidas...), "2046" foi, no entanto, o “filme-sensação” de sábado.

Já no domingo a atenção desviou-se maioritariamente para "5x2" (na foto acima), drama que aborda a relação de um casal da classe média francesa. Recorrendo a uma interessante estrutura narrativa (o filme começa com a cena do divórcio e, através de 4 "flashbacks", recua até ao período em que o casal se conheceu), o novo (e recomendável) filme de François Ozon é quase minimalista face à exuberância formal de "2046" e apoia-se sobretudo nos actores (já que a estrutura narrativa não é propriamente original, tendo sido utilizada recentemente em "Irreversível", de Gaspar Noé). Valeria Bruni-Tedeschi e Stéphane Freiss são os dois actores deste sóbrio e adulto estudo de personagens, uma das boas surpresas da Festa.

"29 Palms" fechou o ciclo de cinema francês no S. Jorge e distinguiu-se como um dos objectos mais inclassificáveis que por lá passou. Misto de road movie, drama erótico e filme-choque, "29 Palms" segue a viagem de automóvel de um jovem casal pelo deserto da Califórnia. Semelhante, a espaços, a "Gerry" de Gus Van Sant ou "The Brown Bunny" de Vincent Gallo, esta obra de Bruno Dumont alterna entre a monotonia anestesiante, banais cenas de sexo e violência gratuita, conseguindo ser simultaneamente surpreendente e entediante (de resto, foi um dos poucos filmes que não recebeu aplausos no final da sessão, despoletando a apatia de grande parte do público). Confesso que quase adormeci, mas ao contrário de muitos não saí a meio...

Além destes vi "Blueberry", inspirado na BD franco-belga, que não me convenceu (western shamã com cansativos, e fracos, efeitos especiais, personagens de papelão e argumento pouco estimulante) e "Les Choristes", uma espécie de "Escola de Rock" (mas sem rock...)francesa, com alguma piada e muita previsibilidade.

A 5a Festa do Cinema Francês decorrerá até ao fim de Outubro em Lisboa, no Institut Franco-Portugais (dias 18 e 25) e na Cinemateca Portuguesa (entre os dias 18-29); no Cinema Avenida em Coimbra (dias 18-21); no Teatro Sá da Bandeira em Santarém (dias 29-31) e nos SBC Cinemas em Faro (dias 21-24). Mais informações aqui.

BLINKS E LINKS

Acabei de ver há pouco, após a minha ronda habitual de sites, que O Puto (boa música) e o Miguel Galrinho (bom cinema) me blinkaram nos respectivos blogs...ThanX-Men...
A propósito, tenho de ver se ganho fôlego para criar uma lista de links para blogs...Aceitam-se sugestões...

CAMPOS MAGNÉTICOS EM LISBOA

Os norte-americanos Magnetic Fields apresentarão, na próxima quarta-feira na Aula Magna, o seu mais recente disco de originais, "i". A banda de Stephen Merrit (compositor/produtor/vocalista), Davol (violoncelo), Claudia Gonson (piano/bateria) e John Woo (guitarra/banjo) passará por Portugal na sequência da sua digressão europeia.

Misturando pop electrónica e rock alternativo, os Magnetic Fields trazem na bagagem o seu novo álbum, "i", o sucessor do muito elogiado "69 Love Songs", o disco que os aproximou de um público um pouco mais alargado (tendo sido distinguido por publicações como a revista "Spin" ou o "New York Times"). Eu lá estarei (?) às 21h30m...

CÃES DANADOS

Um dos filmes que passou na nossa TV no último fim-de-semana (embora às três da manhã, mas enfim...é melhor do que nada...) "Amor Cão" (Amores Perros) foi uma das obras cinematográficas mexicanas mais elogiadas dos últimos anos (juntamente com "E a Tua Mãe também", de Alfonso Cuarón) e assinala a estreia do cineasta Alejandro Gonzalez Iñarritu (que entretanto já realizou também "21 Gramas", em 2004).

Comparado a "Magnólia", de Paul Thomas Anderson, devido à sua estrutura (3 histórias interligadas por um acontecimento comum) e a "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino, uma vez que também possui cruas e viscerais cenas de violência, "Amor Cão" apresenta retratos de personagens do México actual, focando temas como o amor, a desigualdade social, a fama, os laços familiares, a criminalidade e, claro, as relações entre humanos e cães (elemento comum às 3 histórias apresentadas).
Apesar de algum desequilíbrio qualitativo nas 3 histórias (a segunda, sobre o declínio da fama de uma modelo, não oferece grandes cenas de antologia e é o episódio menos inspirado e criativo do conjunto), Iñarritu consegue injectar doses suficientes de energia e adrenalina na sua película, oferecendo uma sólida direcção de actores (destaque para Gael Garcia Bernal, o actor de "Má Educação", de Pedro Almodóvar, ou "Diários de Che Guevara", de Walter Salles) , montagem dinâmica e muito eficaz, fotografia rude e intensa, soluções narrativas que rejeitam o lugar-comum, ritmo constante e acelerado, forte energia visual e uma palpável atmosfera realista e urbana.
Premiado no festival de Cannes e no Fantasporto em 2001, "Amor Cão" proporciona uma vibrante experiência cinematográfica e comprova a vitalidade do novo cinema mexicano, que tem originado boas surpresas recentemente. Chamar-lhe obra-prima (como muitos apregoaram na altura da estreia) talvez seja um pouco exagerado, mas é uma muito promissora primeira obra.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

sábado, outubro 16, 2004

SIAMESE DREAM

Conhecido por marcantes trabalhos cinematográficos como "O Último Tango em Paris" ou "O Último Imperador", Bernardo Bertolucci volta a gerar impacto e polémica. Proporcionando um retrato da conturbada situação parisiense durante as manifestações do Maio de 68, "Os Sonhadores" (The Dreamers) centra-se na relação de três adolescentes para caracterizar o idealismo e revolta de uma geração.

Matthew (interpretado por Michael Pitt), um jovem norte-americano que vai estudar para França, trava conhecimento com os gémeos Theo (Louis Garrel) e Isabelle (Eva Green), encetando uma repentina e inesperada amizade. A relação dos jovens torna-se mais próxima e densa quando Matthew passa um mês no apartamento dos seus dois novos amigos, situação que gera imprevisíveis e intensos acontecimentos. Bertolucci cria uma ousada e enérgica experiência cinematográfica que não teme explorar os limites e tensões das personagens, ilustrando a complexa teia de relações que se desenvolve entre os três adolescentes.

O filme tem gerado polémica e reacções contraditórias um pouco por todo o lado, e essa ausência de unanimidade deve-se, em parte, às descomplexadas e cruas cenas que focam as relações carnais entre o trio de personagens centrais (um pouco como aconteceu há trinta anos com "O Último Tango em Paris"). De facto, durante a fase inicial do filme, parece estarmos perante um eventual descendente de "Ken Park - Quem És Tu?", o controverso filme de Larry Clark estreado no ano passado entre nós que ofereceu um retrato brutal e vertiginoso do sexo na adolescência. Contudo, "Os Sonhadores" não aposta num conjunto de cenas de voyeurismo algo gratuito, antes utiliza momentos íntimos e de considerável erotismo para reforçar o ambivalente e instável elo que se adensa progressivamente entre os três jovens.
Bertolucci origina uma arriscada narrativa que aborda a ambígua fronteira entre a ingenuidade e a perversidade, despoletando um jogo de afectos, experiências, escolhas, desafios e provocações, e traçando uma absorvente viagem sobre o crescimento e o fim da adolescência. Com a alvorada da idade adulta, os três jovens deparam-se com novas questões, ideias e posicionamentos, refutando ou reforçando os ideais ou utopias que guiam a sua existência. O questionamento adquire contornos tensos à medida que os protagonistas se apercebem, gradulamente, das contradições e ironias entre os valores e ideais (revolucionários) que defendem e o estilo de vida (tendencialmente conformista) que adoptam.
Explorando as formas de relação com o(s) outro(s), a capacidade de escolha e transgressão, os limites da amizade, a ausência dos pais e as ligações entre a realidade e a ficção, "Os Sonhadores" constitui um envolvente retrato sobre as dores do crescimento e o contacto com a solidão. Devido e esta temática, o filme exibe alguns paralelismos com um dos filmes-chave do ano passado, o cáustico "As Regras da Atracção" (The Rules of Attraction), de Roger Avary (inspirado num livro de Bret Easton Ellis), outro portentoso e surpreendente estudo acerca dos dilemas de uma geração que também se baseava num vibrante trio de adolescentes.
Para além de um acutilante retrato geracional (ainda actual, apesar de tudo, dado que o contexto do Maio de 68 funciona essencialmente como pano de fundo), Bertolucci proporciona também uma declaração de amor ao cinema e ao poder inspirador e transfigurador das suas imagens, recheando o filme de diversas referências a clássicos intemporais de Chaplin, Truffaut ou Godard. Esse constante recurso a citações pode tornar "Os Sonhadores" numa experiência algo hermética a espaços, mas o filme não vive apenas desse elemento, e utiliza-o sobretudo para caracterizar de forma credível e entusiasmante a paixão dos protagonistas pela sétima arte.
Ávidos espectadores de cinema, Matthew, Isabelle e Theo respiram a energia fascinante das películas que idolatram, mimetizando cenas e acções de algumas obras que marcaram toda a sua existência. Tal apropriação e assimilação da arte cinematográfica acaba por suscitar um ténue limite entre o real e o ficcional, fomentando um código de comportamentos caracterizados pela alienação e dificuldade em contactar com o exterior (situação que adquire sufocantes contornos quase trágicos na recta final do filme).
O regresso de Bernardo Bertolucci transmite uma notável experiência cinematográfica constituída por sumptuosos condimentos, desde a soberba fotografia, a espontaneidade e vigor dos actores, a energia narrativa ou a diversidade da muito apropriada banda-sonora (The Doors, Jimi Hendrix, Grateful Dead e Edith Piaf, entre outros).
"Os Sonhadores" é muito mais do que um mero filme-choque ou um nostálgico e inconsequente exercício de memória fílmica. Bertolucci constrói aqui uma obra marcada pelo desafio e criatividade, gerando um dos filmes mais estimulantes de 2004.
E O VEREDICTO É: 4,5/5 - MUITO BOM

I AM MILK...


You are Milk. Daydream much? Completely dreamy and
creative, you make a great artist.


Which Garbage Song Are You?
brought to you by Quizilla

NAS COSTAS DO DIABO

Ao contrário de super-heróis como o Homem-Aranha, o Incrível Hulk ou os X-Men, Hellboy não é uma das personagens mais reconhecíveis e populares da actual BD norte-americana. Dirigido essencialmente a um restrito grupo de fiéis e dedicados seguidores, este anti-herói criado por Mike Mignola tem ocupado um espaço de culto, um nicho específico dentro da vasta e diversificada área dos comics de fantasia e ficção científica.

Gerado no início da década de 90, o universo de Hellboy surpreendeu pela curiosa combinação de intrigas sobrenaturais, humor negro, teorias da conspiração e um bizarro conjunto de personagens (acrescente-se ainda o incomum e intrigante traço de Mike Mignola).

Com o contínuo sucesso e mediatização de adaptações cinematográficas de super-heróis, sobretudo os da Marvel Comics, chegou a hora da editora Dark Horse (que, ao contrário das poderosas Marvel e DC, se encontra essencialmente ligada a esferas independentes) testar as águas da sétima arte com um dos seus títulos mais peculiares.

A singularidade de Hellboy tem correspondência no cineasta responsável pela sua adaptação cinematográfica, Guillermo del Toro. Amante confesso de territórios temáticos ligados à ficção científica/terror/BD, o realizador tem vindo a construir uma obra intimamente associada a essas áreas, gerando projectos como "Mimic", "Nas Costas do Diabo" ou o seu primeiro filme directamente relacionado com os comics, "Blade 2" (adaptação de um herói da Marvel). Admirador de Hellboy, o realizador conseguiu finalmente consolidar a sua visão pessoal da personagem, gerando a sua primeira aventura no grande ecrã.
Consideravelmente fiel à matriz original da BD, o filme centra-se nas origens do protagonista e introduz o seu universo ao espectador, apresentando uma atmosfera que congrega elementos do film-noir, fenómenos paranormais, suspense, terror, histórias de aventura, reminiscências dos super-heróis e uma forte carga gótica e soturna. Iniciando a viagem com um apelativo prólogo situado na Segunda Guerra Mundial (fulcral para definir a génese da personagem principal, assim como os seus aliados e antagonistas), "Hellboy" introduz-nos num mundo onde muito pouco é o que parece, mundo esse habitado por seres atípicos e ameaçadoras criaturas interdimensionais.
O protagonista está longe de se assemelhar ao modelo de herói convencional, uma vez que se trata de um demónio que, por ironia do destino, desempenha um papel decisivo enquanto agente secreto e defensor da humanidade. Condenado a ser "diferente" e a desviar-se dos padrões vigentes (afinal, não é todos os dias que se encontra uma criatura com mais de dois metros, pele encarnada, dois chifres devidamente aparados e uma mão de pedra), este outcast tem de lidar regularmente com um amargo distanciamento em relação àqueles que protege. Dividido pela dualidade homem-besta, o protagonista enceta um confronto constante entre o altruísmo que o guia e a sua faceta enquanto arauto da destruição do Homem.
Esta penetração no âmago de Hellboy é um dos pontos fortes desta adaptação de Guillermo del Toro, proporcionando um interessante e alternativo olhar sobre um conjunto de freaks marginalizados e excluídos. Ron Perlman contribui também para o carisma e tridimensionalidade da personagem, compondo um anti-herói atormentado e isolado, mas que possui igualmente um irresistível sentido de humor e espírito sarcástico. Entre os seus aliados encontram-se Liz Sherman (interpretada por Selma Blair),uma jovem com poderes pirotécnicos, e Abe Sapien (Doug Jones), um híbrido homem/peixe com capacidades psíquicas, duas das personagens mais imaginativas e insólitas do filme.
Guillermo del Toro proporciona uma apropriada e cativante energia visual, apresentando ambientes de fortes contornos sombrios e claustrofóbicos. A riqueza dos elementos gráficos, com cores e texturas hipnóticas, é marca registada do cinema do realizador, que sempre se destacou pelo impressionante rigor estético e exímia gestão de sinistras atmosferas. As cenas de acção, competentes e eficazes, contribuem para um constante ritmo dinâmico e considerável impacto cinético, embora se tornem demasiado rotineiras e repetitivas a espaços.
Apesar de, globalmente, "Hellboy" abrir uma boa porta de entrada para o universo da personagem, acaba por ser pouco estimulante na definição dos vilões, reduzindo-os a simplistas e pouco desenvolvidas personagens de papelão que incorporam estafados clichés nazis. Guillermo del Toro conseguiu gerar um protagonista convincente e apelativo, mas não concedeu grandes doses de personalidade e ambiguidade aos seus antagonistas. Embora este aspecto acabe por trazer algum desequilíbrio ao filme, "Hellboy" é uma adaptação bem conseguida e fiel ao espírito da BD, gerando uma entusiasmante experiência cinematográfica que vai do suspense à comédia negra, passando pela ficção científica, acção, terror, fantástico e até mesmo algum romance.
Para aqueles não gostam de heróis formatados e tradicionais, "Hellboy" é um curioso melting pot de referências, estilos e géneros a considerar.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

quinta-feira, outubro 14, 2004

THE SHOW MUST GO ON...

A primeira aventura na realização do actor francês Guillaume Canet, conhecido de títulos como "A Praia" (The Beach) e "Vidocq", é uma insólita comédia dramática e uma lúcida sátira aos sistemas de poder dos dias de hoje. Num momento em que se manifesta, talvez como nunca antes, a procura da fama, o reconhecimento mediático e a busca de sucesso fácil, Guillaume Canet propõe em "O Meu Ídolo" (Mon Idole) uma pertinente e acutilante reflexão sobre o panorama do showbiz (especialmente o televisivo) actual.

Canet interpreta Bastien, um jovem animador de público de um populista programa de televisão que não se sente realizado com as funções que desempenha diariamente. Bastien pensa encontrar o caminho para a glória ao conseguir passar um fim-de-semana com o seu patrão Jean-Louis Broustal, um influente produtor (interpretado por um muito convincente François Berléand), durante o qual prepararão em conjunto um novo conceito de programa que aparenta possuir todos os elementos para o sucesso. No entanto, o ingénuo e inseguro Bastien apercebe-se, aos poucos, que o ansiado fim-de-semana apenas lança as bases para um vertiginoso jogo de ilusões e falsas promessas, despoletando uma série de situações inesperadas e surreais.
Guillaume Canet apresenta uma primeira obra interessante, mas irregular, pois dispara em várias direcções e nem sempre acerta no alvo. Inicialmente, o filme exibe traços de uma comédia ligeira, e algo convencional, que ataca o contexto televisivo contemporâneo, evoluindo depois para uma série de acontecimentos onde a veia cómica de Canet é desenvolvida através da sua azarada personagem. Pouco a pouco, essa vertente relativamente leve e simpática do filme dá lugar a um ambiente mais tenso e com algum suspense, gerando um clima claustrofóbico, caótico e soturno na recta final da acção.
"O Meu Ídolo" torna-se assim numa obra desiquilibrada, uma vez que Canet parece alterar os registos do filme de 20 em 20 minutos, alternado momentos originais e imprevisíveis com sequências desprovidas de chama e vitalidade. Apesar de desigual, a fita cria bases de reflexão acerca da efemeridade da fama e das relações humanas, analisando com ironia e perspicácia as tensões da vida urbana e as novas formas de solidão disfarçada.
Mesmo com algumas inconsistências, "O Meu Ídolo" consegue ser mais do que um entretenimento curioso, demonstrando que Guillaume Canet é um cineasta a acompanhar e um dos que tem algo para dizer.
E O VEREDICTO É: 2.5/5 - RAZOÁVEL

POR FALAR EM "GERAÇÃO X"...

Aproveitando a referência à Geração X a propósito de "Antes do Amanhecer" no post anterior, fui revisitar o livro de Douglas Coupland...


"Subdose Histórica: Viver numa era em que parece não acontecer nada. Entre os principais sintomas conta-se o vício dos jornais, revistas e notíciários de televisão.

Overdose Histórica: Viver numa era em que parecem acontecer demasiadas coisas. Entre os principais sintomas conta-se o vício dos jornais, revistas e noticiários de televisão."

Douglas Copland

Geração X

ESTREIAS DA SEMANA - 14 A 20 DE OUTUBRO

Esta semana chega finalmente a salas nacionais um dos filmes-de-culto mais esperados do ano: "Antes do Anoitecer" (Before Sunset), de Richard Linklater. Para além deste, estreiam também exemplos do cinema brasileiro e de acção.

Quase dez anos depois de "Antes do Amanhecer" ("Before Sunrise"), um dos filmes mais emblemáticos da chamada Geração X, o realizador Richard Linklater ("SubUrbia", "Escola de Rock") apresenta a continuação desse peculiar filme onde dois jovens (interpretados por Ethan Hawke e Julie Delpy) se conheceram através de uma viagem de Inter Rail e criaram uma incomum relação. Agora, em "Antes do Anoitecer" (na foto acima), Jesse e Celine reecontram-se por acaso e contrastam as experiências que os marcaram durante os anos em que estiveram separados. Aguardado com grande expectativa por um fiel grupo de seguidores, a nova obra de Richard Linklater é uma das estreias mais fortes do final de 2004.

Outra das estreias da semana é "O Homem que Copiava", de Jorge Furtado. Depois das obras de cineastas como Fernando Meirelles ("Cidade de Deus") ou Walter Salles ("Central do Brasil", "Abril Despedaçado", "Diários de Che Guevara"), o público português tem agora a oportunidade de conhecer mais um nome do novo cinema brasileiro. "O Homem que Copiava" apresenta as experiências de André, um jovem operador de fotocópias que tenta conquistar a atenção de Sílvia e, para tal, decide encontrar uma forma de enriquecer rapidamente através da falsificação de dinheiro. Esta mistura de drama e comédia conta com Lázaro Ramos, Leandra Leal, Luana Piovani e Pedro Cardoso nos principais papéis.

"Resident Evil 2: Apocalypse" (Resident Evil: Apocalypse) dá continuidade às aventuras cinematográficas inspiradas no jogo de computador "Resident Evil", propondo uma mistura de ficção científica, suspense e acção. Alexander Witt ocupa-se da realização e Milla Jovovich, Oded Fehr e Sienna Guillory incorporam as personagens.

"Justiceiro Incorruptível" (Walking Tall) retrata as peripécias de Chris Vaughn (interpretado por The Rock), um ex-soldado que se torna xerife da sua cidade-natal e decide combater o crime e corrupção com as suas próprias mãos. Kevin Bray realiza.