quinta-feira, agosto 30, 2007
10 BLOGUES, 5 FILMES, 1 REALIZADOR
quarta-feira, agosto 29, 2007
PERSEGUIDOS PELO PASSADO
Inspirado no livro homónimo de Scott Heim, debruça-se sobre as vidas de dois rapazes de 18 anos, cuja personalidade e estilos de vida dificilmente poderiam ser mais distintos, ainda que os factores que os determinam derivem muito de uma situação que os reuniu quando eram ainda crianças.
Contudo, à medida que vai acumulando informações, Brian conclui que as respostas que procura poderão estar em Neil, que entretanto partiu da pequena cidade-natal de ambos, no interior, para uma aventura em Nova Iorque onde se dedica à prostituição (actividade que já explorava ocasionalmente e que aí se revela monetariamente mais compensadora).
Drama alicerçado nas fronteiras entre a infância e a adolescência e entre esta e a idade adulta, "Mysterious Skin" não teme incidir em vários temas "difíceis" e "controversos", da pedofilia à homossexualidade passando pela prostituição masculina, e o que mais surpreende é o facto de conseguir abordar todos eles com um invejável equilíbrio entre sensibilidade e complexidade. Ao contrário do que ocorreu no seu trabalho anterior, o curioso mas irregular "Esplendor", aqui Araki atinge uma coesão que torna o filme num objecto cinematográfico superior, onde o estilo não anula a substância, antes a sublinha.
Mantendo a postura circunspecta que já tinha convencido em "Brick", o aplaudido thriller indie de Rian Johnson, o actor não só aceitou os riscos de uma personagem tão obscura como se revelou uma aposta mais do que segura para a encarnar. Brady Corbet, ainda que não tão impressionante, evidencia-se também como um credível co-protagonista, e as presenças da igualmente promissora Michelle Trachtenberg ou da bem-regressada (e muito pouco vista) Elisabeth Shue comprovam que Araki é um atento director de actores.
Não menos apurada é a escolha da banda-sonora, com composições instrumentais a cargo de Harold Budd e Robin Guthrie (dos Cocteau Twins) e canções dos shoegazers Ride, Slowdive ou Curve (afinal ainda há quem se vá lembrando deles), que não só se adequam ao período temporal onde decorre a maior parte da acção (inícios dos anos 90) como ao ambiente algo etéreo que domina algumas sequências.
Tirando estes escassos minutos, Araki demonstra aqui uma discrição a milhas do habitualmente comparado Larry Clark ("Kids - Miúdos", "Bully - Estranhas Amizades"), que com estes temas provavelmente não conseguiria ser menos do que escabroso, e aposta antes em domínios mais próximos dos de um Michael Cuesta, que no também estimável "L.I.E. - Sem Saída" contornou muitas armadilhas no retrato da pedofilia.
E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM
terça-feira, agosto 28, 2007
SOZINHO EM CASA
E no entanto, apesar dessas condicionantes, o filme não só resulta como é uma das melhores surpresas de um Verão pobre em blockbusters memoráveis, apresentando um ritmo e uma energia que, ficando longe de revolucionários, são pelo menos mais aliciantes do que grande parte das alternativas do género em cartaz.
“Paranóia” centra-se na rotina diária de Kale, um adolescente de dezassete anos que é condenado a três meses de prisão domiciliária por agredir um professor (fruto de um acesso de raiva provocado pela morte recente do pai). Obrigado a usar uma pulseira electrónica que praticamente o impede de ir mais longe do que o seu jardim, o protagonista fica entregue ao tédio que se acentua quando a mãe o impossibilita de aceder a serviços tão essenciais como o i-tunes ou a Xbox, o que o leva a procurar outras formas de entretenimento, com especial destaque para a observação dos vizinhos.
À medida que vai juntando pistas, Kale reforça a suspeita de que este é um serial killer procurado pela polícia, e embora consiga fazer com que o seu melhor amigo e até mesmo a idolatrada Ashley o ajudem na procura de respostas acerca dessa desconfiança, as suas investigações apenas lhe trazem mais problemas e alastram a sua fama de “jovem problemático”, levando a que seja encarado pela polícia e vizinhos como alguém à beira da paranóia.
Caruso divide o filme em duas partes distintas cuja união não resulta forçada, dando à primeira um tom ligeiro e espirituoso e trabalhando na segunda atmosferas mais densas e sinuosas. Ambas convencem, já que a aliança entre comédia e suspense surge de forma natural e não causa solavancos na narrativa, ainda que o realizador seja um pouco comedido nos sustos que tenta gerar, pois “Paranóia” não perderia nada se a atmosfera que o domina na segunda parte fosse mais negra e sufocante.
Mesmo assim, o que proporciona é satisfatório, sobretudo nos momentos em que emprega as novas tecnologias no atribulado processo de investigação dos três jovens voyeurs, sendo curioso atentar à forma como este cruza computadores, handycams, telemóveis e os tradicionais binóculos.
Vincado por uma assinalável eficácia industrial, “Paranóia” pode não ser um grande filme mas pelo menos também não envergonha ninguém, destacando-se como um entretenimento escorreito e inteligente q.b., combinação que vai sendo cada vez mais difícil de encontrar e que D.J. Caruso, desta vez, conseguiu atingir.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
segunda-feira, agosto 27, 2007
O QUE É NACIONAL É BOM?
Destes só vi "Mal", do qual não gostei, mas surge aqui uma boa oportunidade para (re)ver alguns filmes difíceis de encontrar. De hoje a sexta, com início entre as 23h30 e a meia-noite, mesmo antes da série "A Letra 'L'".
IRMÃS INSEPARÁVEIS
Dominado por canções curtas – nenhuma vai além dos quatro minutos -, directas e quase sempre imediatas, o álbum dá continuidade ao misto de indie e power pop que já havia sido trabalhado pelas cantoras/compositoras nos registos anteriores, introduzindo-lhe pontuais contaminações folk e new wave.
O cruzamento de géneros nem sempre é bem conseguido, ainda que também não haja falhanços graves a assinalar, até porque a brevidade da duração das canções impede que os momentos menos entusiasmantes se prolonguem. Estes devem-se sobretudo aos temas compostos por Tegan, geralmente os mais upbeat e orelhudos mas por vezes aproximando-se excessivamente de territórios emo e ancorando-se em estruturas mais formatadas e radiofriendly (como no escorregão de “Hop a Plane”).
“The Con” convence também pela produção precisa de Cristopher Walla, dos Death Cab For Cutie - não por acaso, o disco partilha algumas atmosferas com “Plans” -, capaz de dosear eficazmente elementos eléctricos e acústicos, já que a paleta sonora vai dos sintetizadores a la The Killers da faixa-título ao despojamento de “Floorplan”. E mesmo que assim não fosse, teria sempre a seu favor as acolhedoras vozes das suas autoras, algures entre uma Karen O mais serena (fase “Show Your Bones”, portanto) e uma Emily Haines (dos Metric) mais frágil, duas boas portas de entrada para um projecto que vale por si.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
Tegan and Sara - "Back in Your Head"
sexta-feira, agosto 24, 2007
MILAGRES PRECISAM-SE
"Evan, O Todo-Poderoso" (Evan Almighty), contudo, é um dos títulos em que o seu talento surge mais desaproveitado, mal empregue numa comédia com raros (ou mesmo nulos) momentos de humor conseguido e assente num argumento tosco e preguiçoso. Pegando nos pressupostos de "Bruce, O Todo-Poderoso", protagonizado por Jim Carrey, Tom Shadyac conta aqui uma nova versão da parábola bíblica da Arca de Noé, sendo que agora o papel de construtor da mesma cabe a Evan, um congressista recém-eleito que, após mudar com a família para uma casa luxuosa, percebe que os seus novos desafios profissionais serão os menos problemáticos com que se irá deparar.
"Evan, O Todo-Poderoso" é vendido como uma comédia embora não passe de uma inconsequente lição de moral onde a subtileza e a complexidade não marcam presença, investindo num tom ligeiro durante parte da sua duração e tornando-se mais constrangedor quando adopta um tom sério e despropositado. Os gags ora investem num slapstick infantil e forçado ora em one liners de pouca graça, e chega a ser penoso aguentar tantas doses de tropeções, embaraços e escatologia servidos sem qualquer sentido de timing cómico.
As personagens já seriam fracas para uma sitcom indistinta, e limitam-se a passear de cena em cena sem que ganhem qualquer espessura, sendo pouco mais do que cabeças falantes. É certo que há um esforço para que o protagonista ganhe alguma densidade, mas à custa de uma débil gestão da carga dramática, derrapando num sentimentalismo incómodo e enjoativo. Pior estão os seus três filhos, que não chegam a ganhar qualquer personalidade ou função, e o antagonista é um concentrado de lugares comuns na caracterização de políticos fraudulentos.
Com tantos bons filmes que chegam a Portugal só em DVD (quando chegam), "Evan, O Todo-Poderoso" tem honras de estreia mas está a um nível qualitativo tão raso como os mais anódinos subprodutos que invadem a programação televisiva aos fins-de-semana à tarde. Mais vale, assim, apanhá-lo por lá daqui a uns tempos (se tiver mesmo que ser), uma vez que até os fãs mais acérrimos do actor principal correrão o risco de saírem desiludidos depois de o verem descer tanto a fasquia. É que Evan, apesar de ser Todo Poderoso, não consegue fazer milagres, embora o filme precisasse muito de um.
E O VEREDICTO É: 1/5 - DISPENSÁVEL
quinta-feira, agosto 23, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "MYSTERIOUS SKIN"
Outras estreias:
"A Face Oculta de Mr. Brooks", de Bruce A. Evans
"Licença para Casar", de Ken Kwapis
"Turistas", de John Stockwell
Trailer de "Mysterious Skin"
segunda-feira, agosto 20, 2007
ELAS ESTÃO DE VOLTA
Hoje na 2 passa ainda a também recomendável "Erva" (Weeds), pelas 22h40. Ainda vai havendo serviço público, apesar de tudo...
Além do bom elenco e argumento, um dos pontos fortes de "A Letra 'L'" é a banda-sonora, que entre outros inclui temas das saudosas The Organ, que chegaram a actuar num episódio. Aqui fica a canção em causa:
The Organ - "Brother"
A GRANDE MENTIRA
Ou nem por isso, já que veio a comprovar-se que as supostas conversas registadas pelo escritor não passavam de um engodo criado e alimentado pelo próprio, uma grande mentira consecutivamente forjada e muitas vezes alterada ou adaptada, à medida que iam surgindo suspeitas ou mesmo factos que a contrariavam.
Lasse Hallström desenvolve esta história com eficácia, injectando-lhe doses moderadas de suspense, drama e humor e assegurando uma narrativa bem conduzida, mesmo que quase sempre linear. Ainda não é desta que comprova, contudo, ser um realizador especialmente interessante, pois se "Golpe Quase Perfeito" é um objecto correcto também não arrisca muito, limitando-se a cumprir razoavelmente o seu programa sem conter uma perspectiva mais pessoal que se destaque ou uma ideia de cinema que fique na memória.
Menos entusiasmante é o facto de pretender ser um denso estudo de personagens quando raramente consegue superar uma mediania industrial de bons valores de produção e elenco de luxo - onde figuram ainda Stanley Tucci, Marcia Gay Harden ou Julie Delpy, sem muitas oportunidades para demonstrarem o seu talento.
O retrato da vertente inebriante da mentira, da sede de fama e reconhecimento está lá mas nunca envereda por domínios muito arrojados, o que juntamente com uma duração algo excessiva (o filme poderia apenas ter hora e meia em vez das quase duas) torna "Golpe Quase Perfeito" numa obra tão promissora e interessante como pouco aliciante e memorável.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
sábado, agosto 18, 2007
EMISSÃO RETOMADA
Dia 1: Devotchka, Simian Mobile Disco
Dia 2: New Young Pony Club, Sparta, Blasted Mechanism, M.I.A., Babyshambles, Crystal Castles
Dia 3: Spoon, Gogol Bordello, Architecture in Helsinki, Mão Morta, New York Dolls, Dinosaur Jr.
Dia 4: Linda Martini, Electrelane, The Sunshine Underground, Peter, Bjorn and John, Cansei de Ser Sexy, Sonic Youth
Mais impressões no blog dedicado ao festival, criado por mim e pelo Pedro Neves, ou no canal de vídeos.
domingo, agosto 12, 2007
BE RIGHT BACK
Crystal Castles -"Air War"
sexta-feira, agosto 10, 2007
A FEBRE AMARELA, VINTE ANOS DEPOIS
Dezoito temporadas e vinte anos depois, a série mantém o carisma e contribuiu para que surgissem múltiplas concorrentes que não escondem a sua influência, reforçando o seu papel de autêntica pedrada no charco no panorama televisivo das últimas décadas. O motivo? Ser uma proposta de animação capaz de agradar a um público infantil sendo contudo susceptível de segundas leituras que apelam a uma faixa adulta, fruto de um humor versátil, corrosivo e sempre actual.
"Os Simpsons: O Filme" (The Simpsons Movie) não está à altura da genial campanha promocional que o antecedeu, mas encontra-se igualmente longe de ser um trabalho que desiluda, já que contém os atributos que fizeram da série uma referência: personagens fortes e gags que conseguem um equilíbrio perfeito entre ligeireza e contundência, disparando críticas à conjuntura política, social e ambiental recente.
O ponto de partida é a fuga dos Simpsons de Springfield, após a cidade ter sido envolta por uma indestrutível redoma gigante e condenada à destruição devido a um incidente gerado por Homer, que aumentou os seus níveis de poluição. Embora mudem de residência para o Alaska, os cinco elementos da família regressam a casa na tentativa de salvar a população, tarefa que se avizinha árdua quando os adversários são os serviços secretos dos EUA.
O que se conta em "Os Simpsons: O Filme" não é nada que não coubesse nos trinta minutos semanais, mas a película tem fôlego suficiente para entreter e suscitar alguma reflexão enquanto dura, ganhando ainda pela densidade emocional na abordagem à importância da família.
Talvez fosse desnecessário um enfoque tão forte em Homer, já que a personagem acaba por eclipsar as restantes, assumindo-se como o centro dos acontecimentos e deixando-as entregues a enredos secundários e pouco desenvolvidos (como o do namoro de Lisa com o ambientalista Colin). Mesmo assim, todos os elementos da família Simpson têm espaço para brilhar, o que já não ocorre tanto com os restantes habitantes de Springfield, a que não é alheio o facto de grande parte da acção decorrer fora da cidade - de qualquer forma, seria difícil dar algum tempo de antena a todos eles, dada a vasta galeria criada na série.
Uma boa forma de celebrar os vinte anos da família amarela mais famosa do mundo, que a julgar pelo que aqui se apresenta tem vitalidade para durar muitos outros.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
quinta-feira, agosto 09, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "THE HOST - A CRIATURA"
Outras estreias:
"Evan, O Todo Poderoso", de Tom Shadyac (CUIDADO: é um dos piores filmes do ano)
"Muito Bem, Obrigado", de Emmanuelle Cuau
Trailer de "The Host - A Criatura"
quarta-feira, agosto 08, 2007
FESTA A MEIO GÁS
O imaginário fantasioso, delirante e criativo sugerido pela apelativa capa raramente ganha forma, ainda que se encontrem aqui dois ou três momentos promissores. “Love Today”, solarengo hino ao amor, é uma contagiante canção feelgood, e “Relax (Take It Easy)” é outro tema que se destaca pela fórmula pop apurada, soando a uma hipotética versão dos Scissor Sisters de um single clássico dos Frankie Goes to Hollywood.
“Big Girl (You Are Beautiful)”, mais um episódio minimamente infeccioso; “Lollipop”, que recorre a coros infantis; ou “Billy Brown”, irónica crónica da vida de um homem com medo de “sair do armário”; são outros temas curiosos, mesmo que longe de memoráveis.
Felizmente, estes momentos surgem com menor frequência, e por isso “Life in Cartoon Motion” ainda consegue ser um aceitável disco de pop comercial e sazonal, com capacidade para oferecer alguns hits antes de cair num quase inevitável esquecimento geral. Excepção feita, claro, aos que acreditam em parte da imprensa britânica, que diz ter encontrado aqui uma das próximas next big things…
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL
Mika - "Love Today"
terça-feira, agosto 07, 2007
O PIANISTA
"Vitus" consegue, ao longo da primeira hora, trabalhar de forma contundente e tridimensional as inquietações que vão dominando o seu protagonista, pois à medida que este evolui no desenvolvimento intelectual (as suas capacidades acima da média vão muito para além da habilidade para o piano) vai sendo cada vez mais ostracizado pelos colegas, sendo incapaz de estabeler elos de ligação com alguém da sua idade.
Para os seus progenitores, contudo, o pequeno Vitus é um concentrado de potencialidades, incorporando o triplo da genialidade que o seu pai, inventor, sempre sentiu possuir mas que não conseguiu aproveitar como ambicionava. O problema é que, embora o protagonista possua capacidades cognitivas apuradas, emocionalmente não difere muito das outras crianças, e esse desfasamento que os pais parecem ignorar acaba por colocá-lo à beira de um abismo sem soluções em vista.
Os tons realistas do arranque do filme são francamente mais convincentes do que a forçada atmosfera de fábula que domina os momentos finais, e é pena que Murer não se decida em relação ao que pretende fazer em "Vitus", pois tanto o aproxima de uma séria e inteligente experiência cinematográfica como de uma fantasia pronta-a-agradar cuja subtileza não é maior do que a de uma vulgar fita hollywoodesca.
O elenco, que inclui o veterano Bruno Ganz, defende bem as suas personagens e a realização não compromete, mas este impasse narrativo leva a que o filme passe de intrigante a desapontante. Interessante, ainda assim, embora menos do que se esperaria.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
domingo, agosto 05, 2007
PRANCHAS E VINHETAS NO PEQUENO ECRÃ
Na sequência de múltiplos filmes inspirados nas aventuras de super-heróis dos comics, a série transportou esse universo para a televisão, e mesmo não sendo das primeiras a fazê-lo – ícones como Batman ou Super-Homem, por exemplo, já asseguraram lá presença desde há muito – conseguiu injectar ao género doses de criatividade e entusiasmo como raramente se têm encontrado nas adaptações cinematográficas.
A mais-valia está na forma como a série mistura essas influências na criação de uma nova mitologia que consegue ser refrescante, apresentado uma galeria de personagens carismáticas que se cruzam num argumento eficaz e surpreendente q.b.. De resto, Kring nem pretende enganar ninguém e é o primeiro a assumir as suas influências, ou não fosse uma série de banda-desenhada criada por um dos protagonistas, o desenhador Isaac Mendez, uma das peças essenciais para fazer arrancar a história.
Embora contenha pormenores deliciosos para os adeptos da nona arte, “Heroes” está muito longe de ser um objecto dirigido somente a esse público, não contendo quaisquer restrições para que outros o possam apreciar.
As personagens, todas cidadãos aparentemente normais, não demoram a gerar familiaridade, e por isso é difícil não aderir aos vários arcos narrativos que vão sendo criados em torno delas à medida que vão descobrindo e reagindo às suas capacidades especiais. Do inimitável e adorável Hiro Nakamura, protagonista algumas sequências que, mais do que comics, respiram influências manga, aliando dinamismo e humor; à chefe de claque Claire Bennet, que do estereótipo só mantém o facto de ser loura; aos irmãos Peter e Nathan Petrelli, que não poderiam ser mais diferentes; ou ao misterioso e calculista Noah Bennet, que parece saber mais sobre os heróis do que eles próprios; não faltam aqui personagens interessantes, e vai sendo viciante acompanhar o seu processo de descoberta.
Mais uma vez, esta tridimensionalidade não é novidade neste universo, tendo em conta que foi o que distinguiu as aventuras de Peter Parker/Homem-Aranha das de tantos outros super-heróis, e mesmo a inexistência de uniformes e identidades secretas já foi uma tendência na BD, sobretudo na década de 90, tanto nos comics mais alternativos – a linha Vertigo da DC – como mainstream – quando personagens como Jubileu ou Gambit aderiram aos X-Men (e até ocorreu no cinema, como o comprova “O Protegido”, de M. Night Shyamalan). Esta ausência de exclusividade em nada compromete, contudo, a consistência de “Heroes”, que possui um lado humano suficientemente vincado e onde as demonstrações dos poderes dos protagonistas nunca se sobrepõem à carga emocional que se vai desenvolvendo.
A resolução da temporada é, de resto, um dos aspectos menos conseguidos, pois se nos últimos episódios há uma atmosfera de suspense bem construída o capítulo derradeiro termina de forma demasiado abrupta e anti-climática, o que gera alguma decepção considerando que grande parte da acção foi desenvolvida em função desse momento. Claro que isso não coloca em causa os muitos bons momentos ocorridos ao longo da série, alguns de antologia, mas acaba por reduzir algum do impacto desta enquanto um todo.
Tirando este aspecto, “Heroes” é uma série bastante recomendável, lúdica e desafiante como poucas, entretenimento inteligente capaz de agradar a um público alargado. E o melhor é que, a julgar pelo sugestivo epílogo, a segunda temporada promete ir ainda mais além, oferecendo oportunidades ilimitadas para o percurso de pelo menos um dos protagonistas. Enquanto esta não chega, vale a pena ir vendo e revendo a primeira.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
10 BLOGUES, 5 FILMES, 1 REALIZADOR
sábado, agosto 04, 2007
JACKSON THREE (OU FOUR)
Em "Natural Ingredients" (1994) deram continuidade às sonoridades do EP, em "Fever In Fever Out" (1996) não as esqueceram mas optaram por tons mais jazzy e atmosféricos (fruto da produção de Daniel Lanois) e em "Electric Honey" (em 1999, após a desistência de Vivian Trimble) alargaram o espectro, reforçando a carga electrónica. Infelizmente, este seria o seu último disco de originais, tendo as duas vocalistas (Cunniff e Glaser) seguido carreiras a solo.
Neste "Greatest Hits" recuperam-se alguns dos momentos mais relevantes do percurso da banda como o inevitável "Naked Eye", sintomático da atitude e frescura das Luscious Jackson; "Citysong", exercício funk onde a carga urbana da música do grupo é mais evidente; a acelerada "Here", com saudáveis contaminações disco; "Nervous Breakthrough", um delicioso convite à festa; ou "Ladyfingers", irrepreensível canção pop onde o sentido melódico da banda surge mais apurado do que nunca.
Lamenta-se que o alinhamento incida pouco nos primeiros registos, sobretudo no EP, do qual apenas consta "Let Yourself Get Down", e não se percebe a presença de "Friends" e "Beloved", precisamente as duas composições mais fracas de "Electric Honey". Pouco estimulantes são também a maioria das remisturas aqui incluidas, todas aquém da que os Bentley Rhythm Ace fizeram para "Under Your Skin" (superior ao original) mas que, contudo, ficou de fora.
Estas escolhas são compensadas por alguns bónus, casos da da elegante versão de "69 Anée Érotique", de Serge Gainsbourg, ou da interessante "Love Is Here", retirada da banda-sonora de "Vidas Diferentes", de Danny Boyle. Pena a ausência de "Roses Fade", um dos temas do filme "O Santo", de Phillip Noyce, atípica canção da banda seguidora da tradição singer/songwriter.
"Greatest Hits" não é, assim, a compilação mais consistente que poderia surgir a partir da obra das Luscious Jackson, embora o que oferece seja ainda suficientemente representativo de um grupo que, mesmo não sendo essencial, deixou uma discografia equilibrada que se mantém apelativa e até influente - nomes como os New Young Pony Club, Le Tigre ou Lily Allen que o digam, por exemplo. E este pode ser só o final da sua primeira fase, já que a banda considera reunir-se para um novo álbum a editar para o ano. Se mantiver a solidez registada até aqui, valerá a pena aguardá-lo.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
Luscious Jackson - "City Song"
sexta-feira, agosto 03, 2007
ENCALHADA AOS 40 ANOS
Esta não se destaca como o único nome forte do elenco, uma vez que o co-protagonista, Paul Rudd, mesmo sem um peso mediático comparável, é uma óptima escolha. Infelizmente, os dois actores e a química que surge entre eles acabam por ser o que de mais memorável o filme deixa, pois a realizadora Amy Heckerling não o conduz da forma mais interessante.
Os temas são interessantes, o modo como são trabalhados nem tanto, sobretudo porque Heckerling prefere apostar quase sempre na caricatura em vez de conferir alguma densidade às situações. Não faz muito sentido disparar críticas aos clichés e humor elementar de séries televisivas juvenis quando os gags que o filme apresenta também são, geralmente, mais óbvios do que sofisticados. Óbvios e, por vezes, de mau gosto, como numa cena em que a dupla protagonista ridiculariza as operações plásticas feitas por actrizes e cantoras de forma a que Pfeiffer surja mais beneficiada na fotografia.
Têm sido poucas as comédias românticas capazes de fugir aos lugares-comuns nos últimos anos, e não é "Nem Contigo...Nem Sem Ti!" que vem assim mudar o cenário, uma vez que segue a regra e esquadro a estrutura boy-meets-girl (neste caso, na variante boy-meets-woman) mais tipificada. Por vezes há aqui tentações de irreverência, logo desfeitas por cenas de artificial moralismo, e no final não se percebe se este é um produto que se dirige mais a um público adolescente ou adulto, dada a mistura de registos (o que se calhar nem é de estranhar, vindo de alguém que no currículo inclui a realização de "Olha Quem Fala", "Clueless" ou episódios da versão americana de "The Office").
No geral, "Nem Contigo...Nem Sem Ti!" não é melhor nem pior do que tantos outros chick flicks feitos em linha de montagem. Tem algumas boas sequências de humor, muita previsibilidade, um par romântico que funciona e uma banda-sonora curiosa, que é quase um best of dos Cure interrompido pela canção que lhe inspirou o título (na versão original): "Your Woman", que fez dos White Town one hit-wonders há dez anos. Ou seja, à falta de melhores alternativas dentro do género esta servirá, mas deixa um sabor tão fugaz como o de um amor de Verão.
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL
quinta-feira, agosto 02, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "JINDABYNE"
Baseado num conto de Raymond Carver, "Jindabyne" é o novo filme de Ray Lawrence, nome familiar para quem viu "Lantana", de 2001. Laura Linney e Gabriel Byrne lideram o elenco e reforçam a suspeita desta ser uma obra a ter em conta.
Outras estreias:
"Cash", de Anubhav Sinha
"Dia de Surf", de Ash Brannon e Chris Buck
"Golpe Quase Perfeito", de Lasse Hallström
"Paranóia", de D. J. Caruso
"Torre Bela", de Thomas Harlan
"Van Wilder 2: O Rei da Festa", de Mort Nathan
"Vitus", de Fredi M. Murer
Trailer de "Jindabyne"