Esta estratégia estava, segundo Reznor, em sintonia com o conceito do quinto álbum de originais do projecto, uma vez que a descodificação das várias pistas lançadas partilhava da mesma aura intrigante que envolve "Year Zero", cujo âmago é uma visão futurista do mundo, em particular dos EUA de daqui a quinze anos. Primeiro tomo de um díptico - a segunda parte tem edição prevista para 2008 -, o disco foca um regime totalitário, vincado por alusões ao "1984" de Orwell, e deixa perpectivas pouco optimistas sobre alguns dos pilares estruturais das sociedades, tecendo críticas a entidades políticas, religiosas ou militares.
Sendo um dos registos dos Nine Inch Nails onde a vertente conceptual surge mais pronunciada, "Year Zero" possuía potencial para se tornar num objecto sugestivo, mas se tematicamente não faltam aqui ideias a nível musical o cenário é menos profícuo. A maioria das composições, além de não ultrapassarem a mediania, pouco trazem de novo à sonoridade da banda, recuperando e mesclando traços de registos anteriores sem no entanto lhes depositarem grande carga inventiva. Tendencialmente mais abrasivas do que as da fase mais recente do projecto, as canções trazem de volta o nível de distorção e crueza de "The Downward Spiral", encontrando-se imersas em texturas experimentais, com a diferença de que agora a electrónica retira primazia às guitarras.
Reznor exibe a habitual minúcia no cut n' paste de samples e loops, tendo reclamado a influência dos primeiros álbuns dos Public Enemy na construção dos tecidos sonoros, e ainda que haja por aqui resultados interessantes ficam muito aquém das superlativas atmosferas conseguidas em "The Fragile".
A produção continua consistente, e outra coisa não seria de esperar dadas as colaborações de Alan Moulder e Atticus Ross (dos 12 Rounds); e as letras revelam, ao contrário do que é habitual na escrita de Reznor, uma perspectiva mais centrada no colectivo do que no individual, deixando para trás alguma auto-indulgência.
Do espectro sonoro emergem sobretudo temas rudes de caução industrial como "Hyperpower!" ou "Survivalism", pontualmente interrompidos por outros mais ambientais onde figuram "Zero-Sum" ou "The Greater Good". Embora a competência nunca chegue a ser posta em causa, são raros os momentos que de facto seduzem, contando-se entre estes "Capital G" (um ataque a George Bush) ou "God Given", sólidas simbioses electrofunk que, mesmo imponentes, estão longe dos clássicos instantâneos que todos os álbuns dos Nine Inch Nails foram capazes de proporcionar.
"Year Zero" arrisca-se a ficar, por isso, como um episódio menor na sua discografia, acusando uma estagnação que já se encontrava no antecessor "With Teeth" mas que aí era compensada por algumas canções de recorte superior. Desta vez, nada é particularmente desafiante, o que se lamenta vindo de um projecto que, até agora, nunca tinha dado nenhum passo em falso.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
Nine Inch Nails - "Survivalism"
2 comentários:
O disco de facto naum é grande coisa :Z
Hugzz!
Muita aposta no conceito, pouca nas canções. Não se espalham mas também não entusiasmam muito :(
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