segunda-feira, julho 09, 2007

AS CINCO

Cinco pequenas histórias que em comum têm peripécias em torno do homicídio de uma jovem rapariga - é esta a proposta de “A Rapariga Morta” (The Dead Girl), segunda longa-metragem de Karen Moncrieff, realizadora que passou pela série televisiva “Sete Palmos de Terra” e que se estreou em cinema com “Blue Car”, em 2002.

A experiência na brilhante série de Alan Ball é visível, uma vez que o filme opta pelo drama de tons densos, emanando um magnetismo que origina uma tensão apenas interrompida por ocasionais e muito discretos momentos de humor negro. O tema da morte é também outro forte ponto de contacto, estando na base das situações que as personagens aqui enfrentam. Contudo, apesar de investir nesses mesmos ambientes – mais do que no filme anterior -, Moncrieff não oferece aqui um mero sucedâneo e consegue tecer uma das teias dramáticas mais absorventes de 2007, apresentando uma obra que equilibra inteligência, subtileza e depuração emocional.

O argumento é bem esculpido, mantendo uma aura misteriosa sem no entanto escorregar para os exageros e reviravoltas de um thriller pouco exigente. A realização e montagem merecem também elogios, contribuindo para que “A Rapariga Morta” capte a atenção logo nos primeiros minutos e continue envolvente durante os cinco segmentos que servem de palco às cinco mulheres que Moncrieff observa: a Estranha, a Irmã, a Mulher, a Mãe e a Morta.

Puzzle menos intrincado do que os que se encontram em filmes-mosaico recentes – e que este não chega a ser de facto -, tem ainda a seu favor um magnífico elenco, tanto de protagonistas como de secundários. Rose Byrne, Mary Beth Hurt e Marcia Gay Harden são todas convincentes nos papéis de mulheres muito diferentes mas interligadas pela solidão e busca de respostas, mas Toni Colette e Brittany Murphy ascendem a um nível superlativo - a primeira naquele que é talvez o melhor episódio da película (contracenando com Giovanni Ribisi em algumas das cenas mais inquietantes) e a segunda interpretando a personagem que dá título ao filme com uma espontaneidade e dedicação impressionantes.

Após o promissor, embora irregular “Blue Car”, Moncrieff apresenta agora uma obra mais madura e segura, e só se lamenta não dar mais tempo de antena a algumas personagens, o que em nada compromete que "A Rapariga Morta" seja uma das melhores surpresas do cinema independente norte-americano estreadas este ano.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

9 comentários:

Carlos Pereira disse...

Uma boa surpresa, sem dúvida ;)

gonn1000 disse...

Pois é, vi que também espalhaste a palavra :)

Anónimo disse...

Ok. Tou convencido. Vou ver!

Anónimo disse...

eu quero ver esse, já tinha lido no jornal e fiquei com vontade, e depois tem o actor com o qual simpatizo e que já vi algures descrito, e muito bem, como um dos ideais para papel de looser pós-adolescente, logo assim a começar pela aparência e expressão derrotada, mas acho que não faz disso nesse filme.

isso do "espalhaste a palavra" é um bocado biblíco.

gonn1000 disse...

Ricardo: Fazes bem :)

dcc: A que actor de referes, ao James Franco ou ao Giovanni Ribisi (presumo que seja a este, que entrou no "Heaven")?
A referência bíblica não é despropositada, o filme é um pequeno milagres no meio das estreias do Verão ;P

Anónimo disse...

Ribisi.

Gosto de referências biblícas, nem é preciso serem apropriadas.

gonn1000 disse...

Bem me pareceu.
Seja como for, neste caso a referência nem foi intencional :)

Anónimo disse...

Maravilhosa Toni Colette! Só por ela vale todo o filme!

gonn1000 disse...

Ela está quase sempre bem, sim, e a história dela neste filme é uma das melhores.