quarta-feira, fevereiro 08, 2006

BOA MÚSICA PARA AS MASSAS

Se na década de 90 os Depeche Mode atravessaram uma fase marcada por várias convulsões internas, que quase levaram à sua dissolução (como a saída de Alan Wilder ou os problemas pessoais de Dave Gahan), o grupo também se debateu com alguns problemas durante a entrada para o novo milénio, pois “Exciter”, o seu álbum de 2001, teve uma recepção algo distante tanto por parte do público como da crítica, sendo um dos seus trabalhos menos inspirados.

Esse factor não fez parar os elementos da banda, já que tanto Dave Gahan como Martin Gore editaram discos a solo (ainda que não muito convincentes) e o tríptico “Remixes 81-84” ofereceu remisturas de canções dos Depeche Mode por parte de nomes como os Goldfrapp, Air ou Kruder & Dorfmeister.
Nada disto impediu, no entanto, que um novo registo de originais do trio fosse esperado com expectativa, e mesmo que “Playing the Angel”, de 2005, não esteja à altura das mais optimistas, não deixa de ser um regresso em forma.

Evidenciando um grupo igual a si próprio, o álbum reúne as atmosferas densas e enigmáticas em que os Depeche Mode se especializaram ao longo dos anos, e apesar de “Precious”, o primeiro single, apostar numa electropop discreta e apaziguada, a maioria dos restantes temas estão contaminados por consideráveis doses de negrume e aspereza.

“A Pain That I’m Used To”, a faixa de abertura, contém um jogo de guitarras e electrónicas industriais simultaneamente rude e melódico (próximo dos domínios mais pop de “With Teeth”, dos Nine Inch Nails), e a canção seguinte, a superlativa “John the Revelator”, é ainda mais portentosa e viciante, recuperando as influências gospel de “Songs of Faith and Devotion”, mesclando-as com um travo digital e esculpindo um dos melhores momentos do disco.

Infelizmente, grande parte dos temas de “Playing the Angel” não são do calibre destes dois, pois embora sejam geralmente agradáveis, enveredam por territórios mais acomodados e sem grande ousadia.
Episódios etéreos, contemplativos e excessivamente longos como “I Want it All” ou “The Darkest Star” são disso exemplo, assim como “Macro” e “Damaged People”, onde Martin Gore ganha protagonismo vocal mas fica abaixo do carisma e carga dramática de Dave Gahan (que, mais uma vez, comprova ser um dos grandes vocalistas das últimas três décadas).

“Nothing’s Impossible” e “Lilian”, menos midtempo, optam por uma conseguida claustrofobia gótica, salientando-se como os dois grandes momentos da segunda metade do álbum, e é pena que a banda nem sempre mergulhe neste tipo de ambientes, pois revelam-se os mais satisfatórios (tendo gerado magníficos resultados em “Ultra”, que é ainda o último grande disco do grupo).

Adulto, sofisticado e introspectivo, “Playing the Angel” não acrescenta muito ao que os Depeche Mode já fizeram, mas atesta que o trio ainda é capaz de proporcionar um bom conjunto de canções, o que não deixa de ser notável tendo em conta a sua longevidade, algo de que nem todos os projectos de hoje que surgiram nos anos 80 (ou mesmo 90) se podem orgulhar.
A devoção pode, então, continuar, e espera-se que não termine tão cedo.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

15 comentários:

Anónimo disse...

Yup, concordo com a nota atribuída. Parece-me que estamos em sintonia em relação a este albúm.

Abraço

gonn1000 disse...

De ve em quando acontece :)

Anónimo disse...

Vinnos onte en Madrid, espero repetir en Lisboa...

kimikkal disse...

Concordo com a crítica, não chega ao nível doss 3 magníficos (Violator, Songs of... e Ultra), mas não destoa na discografia dos Depeche, o que já não se pode dizer de Exciter...

gonn1000 disse...

Sonia: Infelizmente não vou, mas deve ser um grande concerto.

Kimikkal: Sim, não é muito surpreendnete mas é um pouco melhor do que "Exciter".

Unknown disse...

Concordo contigo Gonn :) Em todo caso, e como mesmo classificaste, não deixa de ser um bom álbum. Acho mal que não apareças por lá hoje :S Sempre haverá uma excelente 1ª parte :D

Hugzz Braveryanos

gonn1000 disse...

Infelizmente não vou, pode ser que vá ao outro, depois no jantar de sexta vocês contam-me como foi. Mas parece que só eu e tu é que tínhamos interesse em ver as duas bandas lol

Unknown disse...

Olha Gonn, achei o concerto dos Depeche uma foleirada pegada. Posso até classificar de 'piroso'. 6ª feira conto-te os pormenores. Os momentos maus ultrapassaram mesmo alguns bons momentos :S; já a 1ª parte valeu a pena :)

Hugzz

gonn1000 disse...

A sério??? Só tenho ouvido dizer bem :S
Parece que o jantar de amanhã vai ser animado, porque olha que entre os participantes há quem tenha gostado muito do concerto. Prevejo uma guerra de comida... :P

Unknown disse...

Não terão hipóteses! Serei implacável! LOLL.

gonn1000 disse...

Eu não me meto nisso, não fui ao concerto, mas posso divertir-me enquanto vocês se entendem na arena :)

Juanito Banana disse...

Piroso? =S

Mas alguma coisa dos Depeche pode ser pirosa? =P Houve momentos fraquitos, especialmente no ínicio; o Dave nem sempre teve uma voz magnífica, mas agora piroso... Eu fiquei histérico, não parei de me abanar e saí de lá sem voz quase. Foi muito refrescante.

Uma nota também para os cenários, geniais, IMHO. As projecções complementavam muito bem as músicas

Momentos altos: Behind the Wheel, I Feel You e World in my Eyes.

Momentos épicos: Martin Gore em Damaged People/Home. Amén! =D

gonn1000 disse...

Não fui ao concerto, mas se tivesse ido acho que estaria mais de acordo contigo, Juanito, pelo menos tendo em conta os espectáculos dos Depeche que vi na tv.

Anónimo disse...

Mesmo muito satisfatório album! Estou inteiramente com a banda quando dizem que é 1 dos seus melhores. Ultra é o melhor absoluto, mas acho, repito, ACHO que este vem a seguir, sendo que Violator e Black Celebration assumem os 2 a posição seguinte. Confesso que a princípio sentia-me algo "estranhado"(o que é muitas vezes normal) com o album em si, ouvindo lindamente as canções que "entraram" melhor a princípio(a de muito fácil agradabilidade Precious; a que eu acho ser a melhor Damaged People, Introspectre, 1 das melhores instrumentais de sempre da banda...). Mas depois o album lá foi entranhando, com outras belíssimas canções que aumentaram em muito a satisfação, destacando Nothing's Impossible, A Pain... ao ponto de já o ter comprado(juntamente com o dos Arcade Fire e o do B. Corgan). Fiquei mesmo satisfeito, principalmente porque tinha ficado desiludido com o Songs e o Masses, apesar de estes possuirem Grandes momentos, mesmo assim não os suficientes.

A devoção abides!:)

gonn1000 disse...

Bem, concordo quanto ao "Ultra", mas não acho que "Playing the Angel" seja assim tão bom, pois tem "grandes momentos, mesmo assim não os suficientes" :) De qualquer forma, é bom para ouvir aos 20 anos :P