segunda-feira, dezembro 12, 2005

(SUB)CULTURAS DE RUA

Num período em que o hip-hop se tornou num género musical em franca expansão, não se limitando às esferas marginais onde surgiu e ocupando cada vez mais espaço em meios mainstream, o cinema exibe algumas ressonâncias desse fenómeno, tanto através de interessantes exercícios dramáticos "8 Mile", de Curtis Hanson, onde Eminem se estreou como actor), produtos indistintos para consumo adolescente (“Honey”, de Bille Woodruf, ou “Ao Ritmo do Hip-Hop”, de Thomas Carter) e, também, de olhares documentais, de que é exemplo “Rize”, a estreia na realização de David LaChapelle, fotógrafo que já trabalhou com estrelas como Madonna, Pamela Anderson ou Christina Aguilera.

Contrariamente ao seu percurso percurso até agora, LaChapelle debruça-se aqui não em ícones do star system mas nos habitantes de bairros pobres dos subúrbios de Los Angeles, abordando a sua cultura a partir de novos tipos de dança nascidos nesses ambientes: o clowning e o krumping, vincados por movimentos ágeis, ultradinâmicos e rebuscados, unindo a destreza e a sensualidade.

Uma das poucas, e em alguns casos mesmo a única, alternativas viáveis aos constantes e quase inescapáveis apelos dos gangs, estas formas de dança proporcionam aos elementos mais novos um escape para o seu quotidiano precário e inquietante, servindo como meio que lhes permite expurgar a sua raiva e frustrações de um modo mais construtivo do que os habituais actos criminosos praticados por vários jovens revoltados.

Apresentando a evolução desta nova e espontânea expressão artística, “Rize” acompanha relatos dos primeiros dias, centrando-se em Tommy the Clown, o criador do clowning, assim como os diversos grupos de dançarinos rivais praticantes do krumping que se encontram propagados por vários bairros hoje em dia.
Para além da dança e da música, o documentário assenta em depoimentos de figuras locais e traça um credível retrato dos modos de vida deste microuniverso, geograficamente próximo de Hollywood mas com códigos bem distantes (e igualmente avessos à identidade postiça de muito do hip-hop com maior visibilidade).

Visualmente estimulante, embora não tanto quanto alguns trabalhos fotográficos de LaChapelle poderiam sugerir (cujo potencial só é atingido no vibrante genérico final), “Rize” vale não só por essa vertente mas também pela energia humana que contém, factores que compensam a redundância de algumas cenas (como as da competição, demasiado longas e cansativas) e pontuais impasses da narrativa e fazem desta uma boa primeira obra e mais uma prova do crescimento do género documental, que tem sido evidente nos últimos anos.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

8 comentários:

Anónimo disse...

é um registo interessante, que nos mostra um pouco como a América não é aquilo que toda a gente pensa, lugar de ricos e famosos. Tb existem subculturas bairristas que se agarram a movimentos da dança entre outras coisas, de forma a escapar como tu disseste muito bem, ao quotidiano precário que vivem. a ver...

gonn1000 disse...

Sim, não é o habitual filme-pipoca proveniente de Hollywood, e apresenta um curioso olhar sobre a cultura urbana.

Anónimo disse...

Parece bastante interessante. Obrigado!

gonn1000 disse...

Sim, sobretudo para quem, como tu, gosta de música :)

susana disse...

Gostei muito dos outros dois filmes, também espero ver este!Hip-hop apesar de não ser um estilo de música que me arrebata,sabe sempre bem ouvir!!

gonn1000 disse...

Dos outros dois? Quais?

susana disse...

Dos que comentaste no post, quais haviam de ser. 8 milles e ao Ritmo do hip hop e até vi mais um do estilo..só que não me lembro do título!!

gonn1000 disse...

Sim, mas eu falei de 3 no texto (3 é diferente de 2 :P).