Antoine (Gérard Depardieu) e Cécile (Catherine Deneuve) partilharam a decisiva fase do primeiro amor em conjunto, mas acabaram por distanciar-se e nunca mais voltaram a contactar-se nos trinta anos que se seguiram. No entanto, Antoine nunca conseguiu esquecer aquela que, para todos os efeitos, ficou sempre como a única mulher que jamais amou, e por isso pretende reencontrá-la em Tânger, onde Cécile vive há anos com o marido. Apesar de ir supervisionar a construção de uma obra em Marrocos, a verdadeira motivação de Antoine ao aceitar essa responsabilidade não foi profissional, uma vez que o protagonista pretende sobretudo reconquistar a sua ex-amante.
Com base nesta premissa, André Techiné proporciona um drama assente nas vicissitudes das relações humanas, gerando uma perspectiva sobre a forma como a passagem do tempo molda os laços afectivos e afecta as ligações amorosas. A dupla central do filme, Depardieu e Deneuve, é um dos mais emblemáticos pares românticos do cinema francês, e contracena aqui pela sétima vez, 25 anos depois da primeira colaboração em "O Último Metro", de François Truffaut. No entanto, "Os Tempos que Mudam" (Les Temps qui Changent) não foca apenas estas duas personagens, antes oferece um retrato de várias figuras que influenciam o quotidiano dos protagonistas.
A Techiné é reconhecido o mérito de saber contar estórias credíveis, complexas e tridimensionais, talento que se evidenciou em títulos determinantes como "O Local do Crime" ou "A Minha Estação Preferida". Contudo, as mais recentes obras do cineasta - "Alice e Martin", "Longe" e "Os Fugitivos" - apresentaram um considerável declínio qualitativo, onde se manifestava ainda alguma competência e savoir faire mas as abordagens eram cada vez mais insípidas, rotineiras e insípidas.
"Os Tempos que Mudam" ainda não é o filme que promove a revitalização do cineasta, mas em alguns momentos há um certo fôlego criativo que recupera a energia e envolvência de películas como "Os Juncos Silvestres" (o último filme verdadeiramente recomendável do realizador, gerado há mais de dez anos). Este olhar sobre amores desencontrados contém já alguma tensão dramática e afasta-se da letargia emocional que contaminou as películas mais recentes de Techiné, aproximando-nos das personagens e dos seus dilemas.
Há actores consistentes e um apropriado tom realista/naturalista (o recurso à câmara à mão é recorrente), assim como uma eficaz criação de atmosferas, mas Techiné dispersa-se por demasiadas personagens e nem sempre consegue encontrar tempo suficiente para permitir que estas se revelem. O ritmo da narrativa é um pouco irregular e o argumento contém algumas pontas soltas, o que torna "Os Tempos que Mudam" numa obra desequilibrada que aponta em várias direcções mas nem sempre convence.
Sami, o filho de Cécile (excelentemente interpretado por Malik Zidi), é uma das personagens com maior potencial, um jovem sexualmente ambivalente dividido entre a lealdade à namorada Nadia e o desejo pelo marroquino Bilal, mas a sua tensa esfera emocional carece de maior desenvolvimento, e aqui o filme desaproveita uma boa ideia, descartando personagens que poderiam ir mais longe.
Tal como as últimas obras de Techiné, "Os Tempos que Mudam" falha por ser demasiado fragmentado, embora seja globalmente mais coeso do que os títulos que o cineasta tem criado recentemente. Mesmo assim, não deixa de ser um filme interessante de seguir, e a espaços apresenta cenas inspiradas, ainda que não ultrapasse a fasquia de uma mediania competente mas pouco memorável.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
2 comentários:
Gérard Depardieu já foi grande aqui no Ocidente. Pergunto-me se continua um grande astro na Europa. Estava muito bem em GREEN CARD e CYRANO.
Enfim, não será propriamente um grande astro mas ainda participa em diversos filmes regularmente. Não vi os títulos que referiste, mas em "Os Tempos que Mudam" não esteve mal.
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