terça-feira, março 01, 2005

CRUELDADE INTOLERÁVEL

Prova da continuidade da aposta no recente cinema francês em salas nacionais, "Eros Terapia" (Eros Thérapie) assinala o regresso da realizadora Danièle Dubroux, cuja obra mais emblemático entre nós será, talvez, "O Diário de um Sedutor", que ainda assim passou discretamente pelas salas em 1995.

O filme, em tons de comédia e tragédia, propõe um olhar irónico e cáustico sobre as relações conjugais através de uma série de peripécias algo imprevistas e por vezes inquietantes. Inicialmente, "Eros Terapia" centra-se num casal de meia idade em que a esposa (Catherine Frot) trocou o marido (François Bérleand) por uma companheira mais jovem (Isabelle Carré), e este recorre a um intrincado estratagema para tentar reconquistá-la. Adam (o marido) encontra um aliado no jovem Bruno (Melvil Poupaud), e juntos irão estabelecer um plano de forma a separar o casal feminino. Bruno, em particular, torna-se totalmente dedicado à sua nova causa, recorrendo a quase tudo para atingir o seu fim.

Embora os primeiros minutos sugiram que "Eros Terapia" é uma leve comédia (romântica?) com alguns requintes de malvadez, a segunda metade do filme - intitulada "Thanatos", contrastando com a fase inicial, "Eros" - percorre territórios mais relacionados com o policial e o suspense, fundindo géneros e trocando as coordenadas ao espectador (característica que se vericava também em "O Diário de um Sedutor"). Paralelamente, o argumento debruça-se mais sobre Bruno e a amante da mulher de Adam, que aos poucos se tornam no casal protagonista e desenvolvem uma inusitada relação de amor-ódio, responsável por algumas das cenas mais estranhas da película.

Entre algumas piadas centradas em David Cronenberg, um consultório kinky, atmosferas misteriosas, amores desencantados e mesmo consideráveis doses de swinging - se alguns acusaram "Perto Demais" (Closer), de Mike Nichols, de abusar da promiscuidade, esperem até ver este -, "Eros Terapia" funciona como uma screwball comedy on acid, mas a combinação destes elementos nem sempre resulta. Se, por um lado, a imprevisibilidade da acção joga a favor do filme - nunca se sabe qual será o próximo passo e, quando o desenlace aparenta estar próximo, há mais uma reviravolta -, tudo é demasiado aleatório e, também, um pouco inconsequente.

Embora o elenco seja eficaz, as personagens não são especialmente interessantes, reduzindo-se à caricatura (por vezes bem conseguida) e sem grande complexidade. A espaços divertida e inspirada, noutras ocasiões mais aborrecida e pretensiosa, "Eros Terapia" é uma comédia competente, mas irregular e pouco entusiasmante. Não desmerece uma espreitadela, mas também não é uma das obras cinematográficas imperdíveis em cartaz...

E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL

2 comentários:

gonn1000 disse...

Obrigado. Sim, tem pontos de interesse mas no geral é muito irregular, vê-se mas não convence.

Anónimo disse...

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