Um dos nomes de referência da pop dos últimos 20 anos, os norte-americanos R.E.M. têm efectuado um percurso que começou em domínios do rock alternativo e, aos poucos, aproximou-se progressivamente de territórios mainstream.
Mediática e criativa, convencendo o público e a crítica, a banda conjugou, desde o início, sonoridades algo experimentais e um reconhecível apelo pop.
Gerando álbuns que constam entre entre as discografias essenciais dos anos 80 e 90, o grupo tem mantido aspectos que aliam a familiaridade à reinvenção, de que são exemplo os registos mais recentes como "Up" (1998), um mergulho no rock de tons soturnos e electrónicos, ou "Reveal" (2001), repleto de canções pop solarengas e mais acessíveis.
No final de 2004, o trio de Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills edita o seu 18º disco, "Around the Sun". Como o primeiro single "Leaving New York" já sugeria, o álbum regressa à sonoridade mais tradicional e clássica do grupo, havendo mais esforço em rever o passado do que em projectar o futuro.
Ainda mais linear do que o antecessor "Reveal", o disco não aposta nos contrastes e na diversidade sonora, oferecendo antes um conjunto de canções com estruturas semelhantes que contêm apaziguados ambientes melancólicos.
A banda afirmou que "Around the Sun" é um registo com conotações políticas, manifestando o desagrado pela vitória de George Bush nas eleições dos EUA e reflectindo as atmosferas de inquietação que vincam a realidade norte-americana actual. Esse aspecto talvez ajude a compreender a vertente outonal e desencantada das composições do álbum, caracterizadas por ambientes etéreos e por vezes distantes.
Proporcionando uma pop pouco arriscada e inovadora, as canções de "Around the Sun" aproximam-se das sonoridades calculadas, tradicionais e algo previsíveis dos mais recentes discos dos U2 ou de projectos como os Coldplay.
Embora não contenha nada realmente lamentável e sofrível, o novo álbum dos R.E.M. também não despoleta grandes doses de entusiasmo e surpresa, distanciando-se dos momentos de considerável inspiração que contribuíram para a singularidade da banda. Demasiado homogéneo e conformista, "Around the Sun" é um dos registos mais monocórdicos do grupo, embora pontuado com alguns episódios de vitalidade ("Electron Blue", "Final Straw" ou o tema-título conseguem, apesar de tudo, exibir traços de ousadia).
Se o resultado global é uma semi-desilusão nas primeiras audições, acaba por se tornar mais envolvente após algumas visitas, desde que se aceite um disco apenas sóbrio e competente e não se espere um álbum de recorte superior.
Mesmo não sendo um marco na discografia dos R.E.M., "Around the Sun" consegue, subtilmente, tornar-se mais acolhedor e agradável do que o primeiro contacto indicia, possuindo atributos suficientes para acompanhar, por exemplo, um eventual dia de Inverno na inércia do lar. O que, para um grupo com mais de 20 anos de carreira - e tendo em conta a (falta de) criatividade da concorrência mainstream actual - até nem é pouco.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
2 comentários:
concordo com esta critica e com a nota atribuida...curiosamente a electron blue e a around the sun são os piores temas do album para mim. prefiro the outsiders e high speed train.
Pois, cada um tem as suas preferidas, mas ao menos concordamos quanto ao disco...
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