O vibrante - e excelente - single "Slow Hands" intensificou o apetite pelo novo registo de originais dos Interpol, cujo primeiro álbum, "Turn on the Bright Lights", encantou e seduziu muita gente que viu na banda nova-iorquina ecos dos saudosos Joy Division, entre outras referências da melhor new-wave e pós-punk.
Dois anos depois da estreia, "Antics" oferece mais um sólido conjunto de canções contaminadas por um rock melancólico, de tons acinzentados e por vezes ásperos, mas que conseguem preservar uma emotividade peculiar que tornou a banda num projecto a seguir com atenção.
A sonoridade nostálgica persiste, embora os temas não soem a composições datadas mas a exemplos de como condensar no presente as mais recomendáveis marcas do passado. Talvez menos denso do que o registo de estreia, "Antics" chega a proporcionar alguns momentos quase dançáveis, ainda que a vertente soturna e nebulosa domine a maioria das atmosferas.
Se "Turn on the Bright Lights" era um disco que envolvia e hipnotizava, gerando uma aura negra e quase claustrofóbica a espaços, "Antics" nem sempre consegue produzir o mesmo efeito agradavelmente desconcertante. Há aqui canções à altura da intensidade de "Stella Was a Diver and She Was Always Down", "Obstacle 1" ou "Roland", temas que marcaram o primeiro álbum, mas não surgem tão frequentemente como se esperaria.
"Next Exit", a faixa de abertura, não é a mais convidativa e intrigante, por isso o verdadeiro início só ocorre com a soberba "Evil" (um convincente single), prolongando a óptima forma nos momentos seguintes: "Narc", "Take You on a Cruise" e "Slow Hands" (um dos pilares do álbum). O resto do disco é inconstante e globalmente inferior a este conjunto de composições inicial, alternando entre o mediano e o bom.
"Antics" representa um regresso interessante, por vezes muito inspirado, mas como um todo é algo desequilibrado. Algumas faixas parecem mais lados-B de "Turn on the Bright Lights" do que propriamente material inédito, exibindo um certo sabor a mais do mesmo, embora sejam compensadas por outras de recorte superior.
Apesar de desigual, o segundo álbum dos Interpol tem méritos suficientes para figurar entre as boas surpresas musicais de 2004, comprovando a vitalidade de uma banda que, espera-se, ainda tem muito para oferecer.
E é, também, mais um disco a juntar aos registos de grupos da escola indie que têm entusiasmado recentemente ao resgatar as melhores influências de um passado não muito longínquo (início dos anos 80, sobretudo), como os Franz Ferdinand, Yeah Yeah Yeahs, Radio 4, The Killers, !!!, TV on the Radio ou The Faint.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
5 comentários:
É sempre o mesmo: após um excelente primeiro álbum, as expectativas são grandes para o difícil segundo álbum.
É um bom álbum, mas ficou aquém daquilo que esperava, apesar de possuir alguns temas fortes, como referiste.
E continuo à espera de um top. Vou ver se alargo o prazo.
Sim, não é excelente mas ouve-se bem.
Pois, espero fazer uma lista de melhores do ano em breve, embora não tenha ouvido tantos discos como tu em 2004...
Não sejas modesto...
Eu gostei muito do «Antics». Não é tão bom como o «Turn On the Bright Lights» mas é um disco também muito bom que dá um passo em frente. Este disco também tem uma canção que é muito especial parar mim («C'mere«). Não é dos melhores temas dos Interpol, mas tem um grande significado para mim.
Não o acho brilhante, mas ainda assim é um "keeper"...
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