quarta-feira, janeiro 26, 2005

QUANDO A POP ABRAÇA A FOLK...

Após três discos ("Emmerdale", "Life" e "First Band on the Moon") marcados por atmosferas pop primaveris de travo agridoce, os The Cardigans enveredaram, em 1998, por ambientes mais gélidos e frios com a electrónica de "Gran Turismo".
O quarto álbum do projecto sueco desviou-se das tonalidades poppy/retro/easy-listening que caracterizavam a discografia da banda e abraçou a contemporaneidade proporcionada pela electrónica, embora ainda oferecesse alguns temas mais imediatos e acessíveis, como os mediáticos singles "My Favorite Game" ou "Erase and Rewind". Apesar de alguma colagem a domínios dos Garbage, "Gran Turismo" ficou como o mais consistente e ousado álbum dos Cardigans, comprovando que o grupo não propunha apenas uma ou duas canções engraçadas que se ouvem bem e que se esquecem rapidamente.

Com "Long Gone Before Daylight", a banda volta a efectuar uma ruptura - mesmo que parcial - em relação aos registos anteriores, colocando novos ingredientes na sua música.

A interessante aventura a solo da vocalista Nina Persson, “A Camp”, decorrida entre "Gran Turismo" e o registo mais recente dos Cardigans, parece ter influenciado o novo trabalho do grupo, carregado de sonoridades folk/indie pop. Os singles "For What It`s Worth" e "You're the Storm" ainda contêm traços suficientemente poppy para conseguirem rotação nas playlists radiofónicas, mas a maioria das restantes composições do disco adoptam vertentes mais melancólicas, desencantadas e nem sempre tão acessíveis.
Por isso, "Long Gone Before Daylight" acaba por gerar alguma estranheza às primeiras audições a quem espere encontrar aqui um concentrado de potenciais hits, pois as canções aproximam-se antes da tradição de singers/songwriters e apostam num formato acústico e despojado (ainda que a produção seja atenta e eficiente). De resto, os temas do álbum possuem mais elementos de ligação a alguns episódios do disco "A Camp" ou às colaborações de Nina Persson em "It's a Wonderful Life", dos Sparklehorse, do que às atmosferas solarengas da fase inicial dos Cardigans ou ao flirt com a electrónica de "Gran Turismo".

Mesmo que os resultados nem sempre sejam convincentes, o disco demonstra que a banda tentou não ser igual a si própria e recusou repetir a receita, e esse risco gerou algumas boas canções como a aconchegante "Communication", a belíssima "No Sleep" ou a majestosa "Please Sister", um dos momentos mais altos do disco.
Por vezes, há certos territórios que se confundem perigosamente com a previsibilidade de artistas adult contemporany como Sheryl Crow, mas a maior parte das composições de "Long Gone Before Daylight" segue caminhos mais parecidos com a sensibilidade de singers/songwriters como Aimee Mann ou Mirah. A voz de Nina Persson é tão doce e cativante como as dessas duas artistas, e raramente se expôs num registo tão próximo e intimista como aqui, eficazmente complementada por bem-conseguidas sonoridades outonais e bucólicas.

Como os restantes discos dos Cardigans, "Long Gone Before Daylight" não é arrebatador, embora seja quase sempre agradável e competente, comprovando a vitalidade de um projecto que tem exibido interessantes desvios dentro de formatos mais convencionais e, à partida, pouco surpreendentes.
Assim, o que poderia ter sido apenas um razoável álbum simpático conseguiu elevar-se acima da mediania e tornar-se numa pequena pérola pop que, mesmo não sendo essencial, é convincente e refrescante.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

1 comentário:

Michael Carvalho Silva disse...

Nina Persson e The Cardigans junto com a igualmente maravilhosa cantora sueca Robyn foram os maiores artistas musicais suecos do final da década de noventa do século vinte. E a beleza nórdica de Nina é tão espetacular que ela pode ser facilmente comparada à grande e lendária atriz norueguesa Liv Ullmann no auge de sua própria beleza.