domingo, julho 23, 2006

THE STROKES DEIXAM O PALCO EM FOGO

No passado sábado, o festival Lisboa Soundz, na sua segunda edição, voltou ao Terrapleno de Santos e trouxe a palco, a partir do início da tarde, uma oferta musical ecléctica cujo auge consistiu no concerto dos Strokes, a portentosa estreia da banda nova-iorquina em Portugal.

You Should Go Ahead

Por volta das 17 horas, coube aos portugueses You Should Go Ahead iniciar o ciclo de actuações do dia, apresentando ao ainda escasso público presente alguns dos temas do seu primeiro disco, de título homónimo. Tal como muitas das novas bandas de hoje, recolhem influências do pós-punk e, embora se assemelhem por vezes em demasia a uns The Futureheads ou We Are Scientists (um dos nomes inicialmente anunciados para o festival e cujo single "Nobody Move, Nobody Get Hurt" rodou incessantemente nos intervalos dos concertos), contam já com algumas boas canções, de que foram exemplo "Like When I Was Seventeen" ou "Wake Up Song".
Pena o deslize do vocalista no final, que terminou de forma infeliz um concerto competente ao reagir, com alguma teimosia, ao facto de parte do público se manter distante do palco, apesar dos seus apelos.

Howe Gelb

Distanciando-se das guitarras dos YSGA, Howe Gelb & The Gospel Choir trouxeram ao recinto sonoridades entre o blues, o alternative country e o gospel, em histórias da América profunda sob a forma de canção partilhadas pelo vocalista, a maioria temas seu recente álbum, "'Sno Angel Like You".
Com uma atitude afável e descontraída, Gelb obteve uma prestação carismática, e apesar do calor que se fazia sentir concentrou a atenção de uma considerável faixa de espectadores. Um nome a considerar para futuros espectáculos, de preferência num espaço mais intimista.

Isobel Campbell

Não tão conseguida foi a presença de Isobel Campbell (pontualmente acompanhada por Eugene Kelly), cujas canções de "Ballad of the Broken Seas" tiveram pouco impacto perante um público que reagiu quase sempre com indiferença.
Contrariamente aos Belle and Sebastian, cujo concerto da semana passada no Coliseu de Lisboa foi marcado pela constante interacção com os os espectadores, a postura da sua ex-vocalista foi tão discreta e apaziguada que a sua indie pop(zinha) de travo folk passou quase despercebida, assinalando um compasso de espera que não custou a passar mas que também não trouxe nada de muito estimulante.

Los Hermanos

Ainda menos interessante foi o concerto seguinte, uma vez que os brasileiros Los Hermanos, ainda que tenham evitado o inenarrável "Anna Júlia", não foram capazes de dar vida a um conjunto de canções banais e indistintas. O seu rock vitaminado mas desinspirado conquistou a adesão de alguns, contudo ficou como um dos momentos mais fracos do festival.

She Wants Revenge

Com a chegada da noite, chegaram também os She Wants Revenge, na apresentação do seu disco de estreia homónimo. O projecto divide opiniões, sendo encarado por uns como mero copista da linguagem de uns Joy Division e demais bandas new-wave, mas é também defendido por outros, que aqui encontram uma envolvente receita aglutinadora de referências, devidamente recontextualizadas num conjunto de canções que exprimem o presente.
Tendo em conta a receptividade do público, a maioria dos espectadores enquadrava-se no segundo grupo, e o concerto foi o que registou, até então, uma maior concentração em torno do palco. Mesmo com alguns exageros no volume do som e da redundância das composições da banda, elevou-se acima do balanço morno dos espectáculos anteriores, oferecendo um dançável rock soturno e urbano que, longe de revolucionário, registou suficientes bons momentos.

Dirty Pretty Things

Já os Dirty Pretty Things trouxeram a insipidez de volta ao palco, numa prestação acelerada e directa que não disfarçou a ausência de canções dignas de nota, tirando a eventual excepção do single 'Bang Bang You're Dead'.
O grupo, nascido das cinzas dos Libertines, é mais um dos protegidos de grande parte da imprensa britânica mas que, tal como outros habitualmente incensados, não contém méritos que justifiquem tal distinção, revelando-se cansativo e previsível.

The Strokes

Depois de uma série de concertos entre o medíocre e o mediano ao longo do dia, os Strokes provaram que mereceram o estatuto de cabeças-de-cartaz do festival, naquela que foi de longe a actuação mais convincente da noite.
Com refrões contagiantes, uma energia recorrente e um alinhamento bem estruturado, que incidiu no terceiro álbum "First Impressions Of Earth" sem ignorar os anteriores, a banda nova-iorquina evidenciou porque é que é um dos mais interessantes nomes do cenário musical actual.
O segredo talvez esteja na sensibilidade pop com que o grupo contamina até as suas canções mais abrasivas, originando melodias irresistíveis e vibrantes que, não sendo a salvação do rock, também não deixam que este morra tão depressa. E houve muitas assim na noite de sábado, desde o início, com efusivo "Juicebox", ou noutros momentos de descarga como "Heart in a Cage", "The Ize Of The World" ou "Vision of Division".
Felizmente não faltou a excelente e demolidora "Reptilia", provavelmente a melhor canção do grupo, aqui superada por uma brilhante "Hard to Explain", cujos altos níveis de adrenalina se disseminaram pelo agitado público. Os já clássicos "Last Nite" e "You Only Live Once" foram cantados por vários espectadores em claro entusiasmo, que se manteve até ao muito aplaudido encore com o frágil "12:51", o intempestivo "New York City Cops" e o estridente "Take It Or Leave It".
Julian Casablancas, para além do registo vocal carismático à altura do coeso turbilhão de guitarras, bateria e baixo, provou ser um bom mestre de cerimónias, agradacendo frequentemente ao público e apresentando uma postura descomprometida e animada, com algumas piadas pelo meio, afirmando, no final, ter ficado orgulhoso por ter encerrado a sua digressão perante um público tão satisfatório. A julgar pelas reacções de muitos espectadores, o sentimento terá sido recíproco.


The Strokes - "Reptilia"

4 comentários:

Unknown disse...

Como sabes, só cheguei a partir de SWR, e dos 3 últimos que vi, para mim foram todos muito bons, mesmo. SWR foi uma surpresa em palco, DPT uma loucuraaa e Strokes fantásticos :) Acho que para mim o momento da noite foi a actuação dos Dirty Pretty Things :) (sabes que sou/era fã dos Libertines) :P

Hugzz with soundzz

João D. disse...

bem, este tipo de alinhamento para mim é um autêntico pesadelo para os meus ricos ouvidos... meu Deus. Adiante: acho que foi tudo menos eclético, o que houve foi post punk, e depois o gelb e a isobel. Os hermanos são uma cena ovni que por ali passou. Os strokes são para mim a banda mais chata do planeta. Sempre o mesmo tipo de guitarras, a voz do casablancas é das coisas mais irritantes que conheço, ainda por cima com a pretensão que são o futuro de qualquer coisa, quando se baseiam apenas naquilo que já foi feito. Músicas de jeito têm a you only live once. A razorblade é uma música razoavelzinha. quanto ao resto é de bradar aos céus, aquele disco de estreia é odiado por mim com enorme prazer diga-se.

Enfim não percebo como raio pode haver alguém que goste deles, mas acredito que tenha sido um bom momento para quem curtiu. E reportagem bem feita diga-se :)

par disse...

Só li agora. Bela partilha. Só me emocionei com o Howe Gelb e com os Strokes. E, claro, com as norueguesas.

gonn1000 disse...

H.: Tiveste sorte, gostaste mais do que eu. Enfim, os Strokes fizeram com que a espera valesse a pena.

Kraak: Realmente, de alguém que gosta de Keane (ainda assim, melhores que os DPT) já nada me surpreende :P

João D.: Pois, já tinha reparado num certo fórum de música que não gostavas lá muito dos Strokes. Eu acho-os um pouco sobrevalorizados (o disco de estreia não me parece tão bom como alguns proclamam), mas até agora tenho gostado do que têm feito, embora o terceiro álbum já seja algo cansativo a espaços.
Obrigado :)

par: Obrigado. Sim, não gostaste de muita coisa, mas pelo que vi só pelos Strokes já compensou. Quanto às norueguesas, na altura devíamos ter pensado que "we only live once", mas paciência :(