Os últimos dias não têm tido muito movimento por aqui, mas basta clicar na foto acima para perceber porquê. O blog mudou de casa, tem cara nova e estão todos convidados a passar por lá. Obrigado aos que estiveram por aqui ao longo destes cinco anos e até já.
terça-feira, janeiro 22, 2008
segunda-feira, janeiro 14, 2008
OS MELHORES DE 2007: FILMES
Com algum atraso, aqui fica a lista dos filmes estreados por cá em 2007 de que mais gostei. Vi menos do que nos últimos três anos, e por isso perdi obras que talvez merecessem estar aqui, como as mais recentes de Neil Jordan ("A Estranha em Mim"), Billy Ray ("Quebra de Confiança"), Robert Rodriguez ("Planeta Terror") ou Julian Schnabel ("O Escafandro e a Borboleta").
Fica também a ressalva de que a lista não inclui o melhor que vi no cinema, já que só foi exibido no Festival Queer Lisboa e nem sei se chegará às salas - refirou-me a "The Bubble", de Eytan Fox, que foi mesmo o meu preferido (pelo menos até rever "Pecados Íntimos" e "Mysterious Skin - Pele Misteriosa"). Se me esqueci de algum, estão à vontade para me alertar.
Fica também a ressalva de que a lista não inclui o melhor que vi no cinema, já que só foi exibido no Festival Queer Lisboa e nem sei se chegará às salas - refirou-me a "The Bubble", de Eytan Fox, que foi mesmo o meu preferido (pelo menos até rever "Pecados Íntimos" e "Mysterious Skin - Pele Misteriosa"). Se me esqueci de algum, estão à vontade para me alertar.
1 - "Pecados Íntimos" - pais & filhos
Não têm faltado filmes sobre o quotidiano dos subúrbios, mas isso é mais um motivo para tornar "Pecados Íntimos" numa obra tão peculiar, já que se destaca da maioria. Todd Field, na sua segunda - e melhor - longa-metragem, desenha aqui um brutal e realista retrato das relações humanas, comprovando que os adultos adoptam, por vezes, atitudes tão irreflectidas como as crianças. Abordando questões complexas como a infidelidade ou a pedofilia sem um grama de moralismo, o filme confirma - e de que maneira! - um dos novos realizadores norte-americanos a não perder de vista.
2 - "Mysterious Skin - Pele Misteriosa" - perseguidos pelo passado
Estreou com atraso, mas ainda veio a tempo de se tornar numa das experiências cinematográficas mais absorventes de 2007. Pungente prova de talento de Gregg Araki, um cineasta pouco divulgado por cá, é um dos mais sombrios e inquietantes retratos da juventude dos últimos tempos, debruçando-se sobre a solidão ou a homossexualidade com uma maturidade rara. Não menos relevante é o facto de possibilitar mais uma excelente interpretação ao jovem Joseph Gordon-Levitt, que voltou a convencer depois do também recomendável "Brick".
3 - "As Canções de Amor" - 3 amantes em Paris
"Minha Mãe" e "Em Paris" já tinham sugerido que Christophe Honoré é um dos mais entusiasmantes novos realizadores franceses, impressão que "As Canções de Amor" veio confirmar, ou não fosse o seu melhor filme a estrear em salas nacionais. Soberbo musical, nos antípodas dos que ainda vão chegando de Hollywood, contém também a melhor banda-sonora do ano, com canções interpretadas pelos próprios actores - que estão tão bem a cantar como a representar.
4 - "Half Nelson — Encurralados" - a escola da vida
Uma das mais consistentes surpresas indie do ano, "Half Nelson - Encurralados" é uma montra para um portentoso one man show de Ryan Gosling, actor que tem tudo para se tornar num dos maiores da sua geração. Mas não vale só por isso, já que esta primeira obra de Ryan Fleck tem as doses certas de melancolia e sobriedade, apresentando uma história pouco convencional sobre a amizade entre um professor à beira da depressão e uma aluna que se torna na sua âncora emocional.
5 - "As Vidas dos Outros" - pecados íntimos
O novo cinema alemão tem gerado algumas pérolas nos últimos anos, e "As Vidas dos Outros" é uma das mais fortes a adicionar à lista. Abordando território pantanoso, uma vez que a acção decorre pouco tempo antes da queda do muro de Berlim, Florian Henckel von Donnersmarck evita, contudo, qualquer postura panfletária, já que as suas personagens são figuras tridimensionais e não meras cabeças falantes, conjugando-se com a realização e as óptimas interpretações - em particular a de Ulrich Mühe, que viria a falecer poucos meses depois da estreia. Um justo vencedor do Óscar para Melhor Filme em Língua Não-Inglesa.
6 - "Homem-Aranha 3" - o desafio final (por enquanto...)
E à terceira, Sam Raimi desiludiu muitos... mas não se percebe muito bem porquê, pois se "Homem-Aranha 3" está um pouco abaixo dos antecessores, não tem a culpa que estes tenham exibido um nível qualitativo raríssimo em blockbusters. Mesmo sem o efeito novidade - tirando a exploração do lado negro de Pater Parker, que poderia ter sido mais aprofundada -, este é ainda o mais cativante filme-pipoca de 2007, que nunca deixa de respeitar as suas personagens e encerra bem a melhor trilogia de sempre um super-herói no grande ecrã.
7 - "The Fountain — O Último Capítulo" - até que a morte os separe
A mais recente obra de Darren Aronofsky teve a árdua tarefa de suceder a um dos filmes essenciais dos anos 00, "A Vida não é um Sonho", e se não está no mesmo patamar pelo menos demonstra que o seu autor é um dos mais estimulantes em actividade. História de amor larger than life, vincada por um romantismo atípico, esta experiência sensorial oferece algumas das mais belas sequências do ano com interpretações à altura por parte do par protagonista - os dedicadíssimos Hugh Jackman e Rachel Weisz - e uma bela banda-sonora - mais uma - de Clint Mansell.
8 - "No Mundo das Mulheres" - o vizinho acidental
Tinha tudo para ser mais uma comediazinha romântica de sábado à tarde - romance adolescente, Meg Ryan, um actor da série "The O.C. - Na Terra dos Ricos" -, mas esta estreia de Jake Kasdan na realização vai surpreendendo aos poucos, à medida que desconstrói lugares-comuns e apresenta uma das mais refrescantes e despretensiosas misturas de drama e comédia do ano. Se as aparências por vezes iludem, este é seguramente um desses casos - e no bom sentido.
9 - "À Prova de Morte" - mulheres danadas
Devaneio inspirado e imprevisível, o mais recente filme de Quentin Tarantino aumenta a carga pastiche mas nunca deixa de denunciar o universo peculiar do seu realizador, e para não fugir à regra é mais um concentrado de diálogos e sequências de antologia. Houve quem não gostasse da brincadeira, e não será dos títulos máximos do cineasta, mas é difícil resistir-lhe quando, no meio do aparente caos e arbitrariedade, tudo está tão bem estruturado. Um objecto lúdico a revisitar e reavaliar.
10 - "Shortbus" - o sexo e a cidade
Depois do desequilibrado "Hedwig - A Origem do Amor", John Cameron Mitchell regressa com uma obra mais consistente e novamente alicerçada numa bizarra (ou nem tanto) galeria de outcasts. Tragicómica visão das relações humanas, onde o sexo surge como elemento-chave, "Shortbus" poderá cair em algumas armadilhas de "filmes-choque" mas é suficientemente genuíno e corajoso para as ultrapassar, e deixa curiosidade em relação aos próximos passos de um realizador promissor.
Os 10 seguintes:
"A Rapariga Morta", de Karen Moncrieff
"Eles", de David Moreau e Xavier Palud
"Geração Fast Food", de Richard Linklater
"Alpha Dog", de Nick Cassavetes
"Promessas Perigosas", de David Cronenberg
"Eu Sou a Lenda", de Francis Lawrence
"Os Simpsons - O Filme", de David Silverman
"Zodiac", de David Fincher
"Assalto e Intromissão", de Antony Minghella
"Sunshine — Missão Solar", de Danny Boyle
Melhor filme português: "A Outra Margem", de Luís Filipe Rocha
Melhor actor: Ryan Gosling ("Half Nelson — Encurralados")
Melhor actriz: Kate Winslet ("Pecados Íntimos")
Melhor(es) realizador(es): Darren Aronofsky e Gregg Araki
Não têm faltado filmes sobre o quotidiano dos subúrbios, mas isso é mais um motivo para tornar "Pecados Íntimos" numa obra tão peculiar, já que se destaca da maioria. Todd Field, na sua segunda - e melhor - longa-metragem, desenha aqui um brutal e realista retrato das relações humanas, comprovando que os adultos adoptam, por vezes, atitudes tão irreflectidas como as crianças. Abordando questões complexas como a infidelidade ou a pedofilia sem um grama de moralismo, o filme confirma - e de que maneira! - um dos novos realizadores norte-americanos a não perder de vista.
2 - "Mysterious Skin - Pele Misteriosa" - perseguidos pelo passado
Estreou com atraso, mas ainda veio a tempo de se tornar numa das experiências cinematográficas mais absorventes de 2007. Pungente prova de talento de Gregg Araki, um cineasta pouco divulgado por cá, é um dos mais sombrios e inquietantes retratos da juventude dos últimos tempos, debruçando-se sobre a solidão ou a homossexualidade com uma maturidade rara. Não menos relevante é o facto de possibilitar mais uma excelente interpretação ao jovem Joseph Gordon-Levitt, que voltou a convencer depois do também recomendável "Brick".
3 - "As Canções de Amor" - 3 amantes em Paris
"Minha Mãe" e "Em Paris" já tinham sugerido que Christophe Honoré é um dos mais entusiasmantes novos realizadores franceses, impressão que "As Canções de Amor" veio confirmar, ou não fosse o seu melhor filme a estrear em salas nacionais. Soberbo musical, nos antípodas dos que ainda vão chegando de Hollywood, contém também a melhor banda-sonora do ano, com canções interpretadas pelos próprios actores - que estão tão bem a cantar como a representar.
4 - "Half Nelson — Encurralados" - a escola da vida
Uma das mais consistentes surpresas indie do ano, "Half Nelson - Encurralados" é uma montra para um portentoso one man show de Ryan Gosling, actor que tem tudo para se tornar num dos maiores da sua geração. Mas não vale só por isso, já que esta primeira obra de Ryan Fleck tem as doses certas de melancolia e sobriedade, apresentando uma história pouco convencional sobre a amizade entre um professor à beira da depressão e uma aluna que se torna na sua âncora emocional.
5 - "As Vidas dos Outros" - pecados íntimos
O novo cinema alemão tem gerado algumas pérolas nos últimos anos, e "As Vidas dos Outros" é uma das mais fortes a adicionar à lista. Abordando território pantanoso, uma vez que a acção decorre pouco tempo antes da queda do muro de Berlim, Florian Henckel von Donnersmarck evita, contudo, qualquer postura panfletária, já que as suas personagens são figuras tridimensionais e não meras cabeças falantes, conjugando-se com a realização e as óptimas interpretações - em particular a de Ulrich Mühe, que viria a falecer poucos meses depois da estreia. Um justo vencedor do Óscar para Melhor Filme em Língua Não-Inglesa.
6 - "Homem-Aranha 3" - o desafio final (por enquanto...)
E à terceira, Sam Raimi desiludiu muitos... mas não se percebe muito bem porquê, pois se "Homem-Aranha 3" está um pouco abaixo dos antecessores, não tem a culpa que estes tenham exibido um nível qualitativo raríssimo em blockbusters. Mesmo sem o efeito novidade - tirando a exploração do lado negro de Pater Parker, que poderia ter sido mais aprofundada -, este é ainda o mais cativante filme-pipoca de 2007, que nunca deixa de respeitar as suas personagens e encerra bem a melhor trilogia de sempre um super-herói no grande ecrã.
7 - "The Fountain — O Último Capítulo" - até que a morte os separe
A mais recente obra de Darren Aronofsky teve a árdua tarefa de suceder a um dos filmes essenciais dos anos 00, "A Vida não é um Sonho", e se não está no mesmo patamar pelo menos demonstra que o seu autor é um dos mais estimulantes em actividade. História de amor larger than life, vincada por um romantismo atípico, esta experiência sensorial oferece algumas das mais belas sequências do ano com interpretações à altura por parte do par protagonista - os dedicadíssimos Hugh Jackman e Rachel Weisz - e uma bela banda-sonora - mais uma - de Clint Mansell.
8 - "No Mundo das Mulheres" - o vizinho acidental
Tinha tudo para ser mais uma comediazinha romântica de sábado à tarde - romance adolescente, Meg Ryan, um actor da série "The O.C. - Na Terra dos Ricos" -, mas esta estreia de Jake Kasdan na realização vai surpreendendo aos poucos, à medida que desconstrói lugares-comuns e apresenta uma das mais refrescantes e despretensiosas misturas de drama e comédia do ano. Se as aparências por vezes iludem, este é seguramente um desses casos - e no bom sentido.
9 - "À Prova de Morte" - mulheres danadas
Devaneio inspirado e imprevisível, o mais recente filme de Quentin Tarantino aumenta a carga pastiche mas nunca deixa de denunciar o universo peculiar do seu realizador, e para não fugir à regra é mais um concentrado de diálogos e sequências de antologia. Houve quem não gostasse da brincadeira, e não será dos títulos máximos do cineasta, mas é difícil resistir-lhe quando, no meio do aparente caos e arbitrariedade, tudo está tão bem estruturado. Um objecto lúdico a revisitar e reavaliar.
10 - "Shortbus" - o sexo e a cidade
Depois do desequilibrado "Hedwig - A Origem do Amor", John Cameron Mitchell regressa com uma obra mais consistente e novamente alicerçada numa bizarra (ou nem tanto) galeria de outcasts. Tragicómica visão das relações humanas, onde o sexo surge como elemento-chave, "Shortbus" poderá cair em algumas armadilhas de "filmes-choque" mas é suficientemente genuíno e corajoso para as ultrapassar, e deixa curiosidade em relação aos próximos passos de um realizador promissor.
Os 10 seguintes:
"A Rapariga Morta", de Karen Moncrieff
"Eles", de David Moreau e Xavier Palud
"Geração Fast Food", de Richard Linklater
"Alpha Dog", de Nick Cassavetes
"Promessas Perigosas", de David Cronenberg
"Eu Sou a Lenda", de Francis Lawrence
"Os Simpsons - O Filme", de David Silverman
"Zodiac", de David Fincher
"Assalto e Intromissão", de Antony Minghella
"Sunshine — Missão Solar", de Danny Boyle
Melhor filme português: "A Outra Margem", de Luís Filipe Rocha
Melhor actor: Ryan Gosling ("Half Nelson — Encurralados")
Melhor actriz: Kate Winslet ("Pecados Íntimos")
Melhor(es) realizador(es): Darren Aronofsky e Gregg Araki
BLINKS E LINKS
Obrigado aos responsáveis pelos blogs A Trompa, Sound + Vision e The Good Life por me blinkarem :)
sábado, janeiro 05, 2008
EMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO GRANDE ECRÃ
O ciclo "Emigração Portuguesa" arranca hoje e mantém-se até dia 8 no cinema S. Jorge, em Lisboa. A iniciativa, de entrada gratuita, é composta por filmes maioritariamente portugueses e documentais, sendo alguns apresentados pelos realizadores e comentados por especialistas.
Uma boa oportunidade para (re)ver títulos como "Ganhar a Vida", de João Canijo (dia 6 às 22h), "Esta é a Minha Casa" e "Viagem à Expo", de João Pedro Rodrigues (dias 8 às 17h30), ou "Mudar de Vida", de Paulo Rocha (dia 8 às 22h), entre outros. Programação completa aqui.
Uma boa oportunidade para (re)ver títulos como "Ganhar a Vida", de João Canijo (dia 6 às 22h), "Esta é a Minha Casa" e "Viagem à Expo", de João Pedro Rodrigues (dias 8 às 17h30), ou "Mudar de Vida", de Paulo Rocha (dia 8 às 22h), entre outros. Programação completa aqui.
quinta-feira, janeiro 03, 2008
10 BLOGUES, 5 FILMES, 1 REALIZADOR
Aqui fica a última tabela relativa a estreias de 2007, neste caso a algumas de Dezembro. Desta vez não houve realizador do mês, já que o Knoxville sugeriu que cada blogger escolhesse o seu filme do ano. Escolhi "Pecados Íntimos" (Little Children), de Todd Field, mas também podia ter sido "Mysterious Skin - Pele Misteriosa", de Gregg Araki.
segunda-feira, dezembro 31, 2007
FELIZ ANO NOVO :)
Mais um ano a terminar, e ainda não foi neste que consegui colocar a lista de melhores filmes a tempo... mas prometo que não tarda. Entretanto, outros episódios marcantes de 2007 podem ser revisitados aqui.
E enquanto se aguarda a chegada de 2008, proponho que a festa vá começando ao som de canções como esta:
E enquanto se aguarda a chegada de 2008, proponho que a festa vá começando ao som de canções como esta:
The Dandy Warhols - "Everyday Should be a Holiday"
sábado, dezembro 29, 2007
OS MELHORES DE 2007: DISCOS
Entre a new rave, o techno minimal, o regresso do french touch, algum dubstep, novos nomes do shoegaze, rock q.b. e três ou quatro singers-songwriters, deixo 2007 com memórias de muitos bons discos mas poucos que de facto me arrebataram.
Como é habitual, houve várias boas surpresas (NYPC, Maps), algumas desilusões (NIN, Smashing Pumpkins), outras tantas confirmações (The Go! Team, Bloc Party) e uma série de canções de excepção, e mesmo que os álbuns tenham sido menos brilhantes acho que pelo menos os 30 que enumero abaixo valem a pena (e a maior parte dos que ouvi está aqui):
Como é habitual, houve várias boas surpresas (NYPC, Maps), algumas desilusões (NIN, Smashing Pumpkins), outras tantas confirmações (The Go! Team, Bloc Party) e uma série de canções de excepção, e mesmo que os álbuns tenham sido menos brilhantes acho que pelo menos os 30 que enumero abaixo valem a pena (e a maior parte dos que ouvi está aqui):
1 - "Les Chansons d'Amour", Alex Beaupain
Nem sempre um dos melhores filmes do ano tem banda-sonora à altura, mas em "Les Chansons d'Amour" isso acontece. Partindo de composições de Alex Beaupain, os actores do filme dão voz a relatos de melancolia em canções simples mas exemplares como "Les Yeux au Ciel", "Ma Mémorie Sale" ou "La Bastille". Louis Garrel sai-se particularmente bem, embora todos mereçam elogios por um belo disco que se destaca - e de que maneira - como objecto que vale por si.
2 - "Fantastic Playroom", New Young Pony Club
Quando a maioria das bandas que recolhe influências do pós-punk apenas insiste em fórmulas gastas, a estreia dos NYPC prova que ainda há quem consiga gerar um álbum refrescante e enérgico do princípio ao fim. Basta ouvir "The Bomb", "Hiding on the Staircase" ou "Ice Cream" para tirar as dúvidas.
3 - "We Are the Night", The Chemical Brothers
Com o seu álbum mais consistente desde "Surrender", Tom Rowlands e Ed Simons provam que ainda são os reis das pistas de dança. Novamente concentrando várias colaborações, dos Midlake a Willy Mason, passando pelos Klaxons (que em "All Rights Reserved" têm a sua melhor canção), "We Are the Night" é um belo espelho da electrónica - facção dançável - que se fez em 2007.
4 - "Fur and Gold", Bat For Lashes
Lembra Feist, Tori Amos, Björk ou Cat Power, mas consegue diferenciar-se destas. Num dos mais sedutores e intrigantes discos do ano, a britânica Natasha Khan inaugura uma carreira promissora que deixa já admiráveis provas de talento e sensibilidade em canções como "Bat's Mout", "Prescilla" ou "What's a Girl to Do?".
5 - "Chromophobia", Gui Boratto
Uma das revelações recentes da editora alemã Kompakt, o brasileiro Gui Boratto oferece no seu primeiro álbum novas cores e camadas ao techno minimal, conjugando apelo dançável e momentos contemplativos. Seja em episódios luminosos como "Scene 1", mais sombrios como "The Blessing" ou no hino "Beautiful Life", "Chromophobia" é quase sempre um disco viciante, para ir (re)descobrindo aos poucos.
6 - "We Can Create", Maps
Num ano em que vários projectos revisitaram o shoegaze - Asobi Seksu, Film School, Relay -, o de James Chapman foi talvez o mais convincente. Inspirado testemunho de pop atmosférica, "We Can Create" é sempre cativante e por vezes irresistível, e não foram muitos os discos com pérolas do calibre de "Elouise", "Back and Forth" ou "You Don't Know Her Name".
7 - "The Bird of Music", Au Revoir Simone
A banda preferida de David Lynch apresenta no seu segundo álbum um conjunto de canções que não destoaria num filme de Sofia Coppola: etéreas, serenas e de considerável carga onírica, as suas experiências pop são algumas das mais bonitas e reluzentes que se ouviram em 2007.
8 - "Saltbreakers", Laura Veirs
Baseando-se em reflexões em torno do sal e da água, Laura Veirs narra no seu sexto álbum uma série de histórias condimentadas por um equilibrado cruzamento de folk, alternative country e indie rock. Da trepidante "Phantom Mountain" à melancólica "Don't Lose Yourself", "Saltbreakers" é mais uma obra recomendável de uma singer-songwriter que merece mais atenção.
9 - "This Bliss", Pantha du Prince
No seu segundo álbum, o alemão Hendrik Weber desenha algumas das mais fascinantes paisagens alicerçadas no techno minimal, em composições milimetricamente trabalhadas que por vezes originam autênticos oásis sonoros como o belíssimo "Saturn Strobe" ou o hipnótico "Florac". Mais um caso que ajuda a explicar porque é que a electrónica viveu um bom ano.
10 - "Happy Birthday!", Modeselektor
Conjugação improvável de hip-hop, electro, techno, dub e grime, o mais recente registo da dupla alemã Gernot Bronsert e Sebastian Szary alia excentricidade, sentido de humor e experimentalismo numa das propostas mais inventivas do ano. Canções como "Let Your Love Grow", "The White Flash" (com Thom Yorke) ou "Godspeed" fazem deste um disco a ter por perto para várias audições.
11 - "The Magic Position", Patrick Wolf
12 - "White Chalk", PJ Harvey
13 - "The One", Shinichi Osawa
14 - "Citrus", Asobi Seksu
15 - "A Weekend in the City", Bloc Party
16 - "Proof of Youth", The Go! Team
17 - "23", Blonde Redhead
18 - "Lucky Boy", DJ Mehdi
19 - "No Shouts No Calls", Electrelane
20 - "Stateless", Stateless
21 - "Idealism", Digitalism
22 - "Hideout", Film School
23 - "The Con", Tegan and Sara
24 - "Our Love to Admire", Interpol
25 - "An End Has a Start", Editors
26 - "Untrue", Burial
27 - "Walls", Apparat
28 - "Learn to Sing Like a Star", Kristin Hersh
29 - "V Live", Vitalic
30 - "LP 1", Plasticines
5 Discos Portugueses:
1 - "0dd Size Baggage", Micro Audio Waves
2 - "Console Pupils", U-Clic
3 - "Cintura", Clã
4 - "Adriano Aqui e Agora - O Tributo", Vários
5 - "Dreams in Colour", David Fonseca
Outras distinções:
- Barrete do ano: Battles
- Tanto barulho por (quase) nada: Radiohead - grande campanha de marketing para um disco mediano
- Ainda estão aí para as curvas: Chemical Brothers
- Que venham para ficar: New Young Pony Club
- Mais do mesmo, mas desta passa: Interpol
- Mais do mesmo, e já chateia: Manic Street Preachers
- "Apedrejamento" mais injusto: Bloc Party
Nem sempre um dos melhores filmes do ano tem banda-sonora à altura, mas em "Les Chansons d'Amour" isso acontece. Partindo de composições de Alex Beaupain, os actores do filme dão voz a relatos de melancolia em canções simples mas exemplares como "Les Yeux au Ciel", "Ma Mémorie Sale" ou "La Bastille". Louis Garrel sai-se particularmente bem, embora todos mereçam elogios por um belo disco que se destaca - e de que maneira - como objecto que vale por si.
2 - "Fantastic Playroom", New Young Pony Club
Quando a maioria das bandas que recolhe influências do pós-punk apenas insiste em fórmulas gastas, a estreia dos NYPC prova que ainda há quem consiga gerar um álbum refrescante e enérgico do princípio ao fim. Basta ouvir "The Bomb", "Hiding on the Staircase" ou "Ice Cream" para tirar as dúvidas.
3 - "We Are the Night", The Chemical Brothers
Com o seu álbum mais consistente desde "Surrender", Tom Rowlands e Ed Simons provam que ainda são os reis das pistas de dança. Novamente concentrando várias colaborações, dos Midlake a Willy Mason, passando pelos Klaxons (que em "All Rights Reserved" têm a sua melhor canção), "We Are the Night" é um belo espelho da electrónica - facção dançável - que se fez em 2007.
4 - "Fur and Gold", Bat For Lashes
Lembra Feist, Tori Amos, Björk ou Cat Power, mas consegue diferenciar-se destas. Num dos mais sedutores e intrigantes discos do ano, a britânica Natasha Khan inaugura uma carreira promissora que deixa já admiráveis provas de talento e sensibilidade em canções como "Bat's Mout", "Prescilla" ou "What's a Girl to Do?".
5 - "Chromophobia", Gui Boratto
Uma das revelações recentes da editora alemã Kompakt, o brasileiro Gui Boratto oferece no seu primeiro álbum novas cores e camadas ao techno minimal, conjugando apelo dançável e momentos contemplativos. Seja em episódios luminosos como "Scene 1", mais sombrios como "The Blessing" ou no hino "Beautiful Life", "Chromophobia" é quase sempre um disco viciante, para ir (re)descobrindo aos poucos.
6 - "We Can Create", Maps
Num ano em que vários projectos revisitaram o shoegaze - Asobi Seksu, Film School, Relay -, o de James Chapman foi talvez o mais convincente. Inspirado testemunho de pop atmosférica, "We Can Create" é sempre cativante e por vezes irresistível, e não foram muitos os discos com pérolas do calibre de "Elouise", "Back and Forth" ou "You Don't Know Her Name".
7 - "The Bird of Music", Au Revoir Simone
A banda preferida de David Lynch apresenta no seu segundo álbum um conjunto de canções que não destoaria num filme de Sofia Coppola: etéreas, serenas e de considerável carga onírica, as suas experiências pop são algumas das mais bonitas e reluzentes que se ouviram em 2007.
8 - "Saltbreakers", Laura Veirs
Baseando-se em reflexões em torno do sal e da água, Laura Veirs narra no seu sexto álbum uma série de histórias condimentadas por um equilibrado cruzamento de folk, alternative country e indie rock. Da trepidante "Phantom Mountain" à melancólica "Don't Lose Yourself", "Saltbreakers" é mais uma obra recomendável de uma singer-songwriter que merece mais atenção.
9 - "This Bliss", Pantha du Prince
No seu segundo álbum, o alemão Hendrik Weber desenha algumas das mais fascinantes paisagens alicerçadas no techno minimal, em composições milimetricamente trabalhadas que por vezes originam autênticos oásis sonoros como o belíssimo "Saturn Strobe" ou o hipnótico "Florac". Mais um caso que ajuda a explicar porque é que a electrónica viveu um bom ano.
10 - "Happy Birthday!", Modeselektor
Conjugação improvável de hip-hop, electro, techno, dub e grime, o mais recente registo da dupla alemã Gernot Bronsert e Sebastian Szary alia excentricidade, sentido de humor e experimentalismo numa das propostas mais inventivas do ano. Canções como "Let Your Love Grow", "The White Flash" (com Thom Yorke) ou "Godspeed" fazem deste um disco a ter por perto para várias audições.
11 - "The Magic Position", Patrick Wolf
12 - "White Chalk", PJ Harvey
13 - "The One", Shinichi Osawa
14 - "Citrus", Asobi Seksu
15 - "A Weekend in the City", Bloc Party
16 - "Proof of Youth", The Go! Team
17 - "23", Blonde Redhead
18 - "Lucky Boy", DJ Mehdi
19 - "No Shouts No Calls", Electrelane
20 - "Stateless", Stateless
21 - "Idealism", Digitalism
22 - "Hideout", Film School
23 - "The Con", Tegan and Sara
24 - "Our Love to Admire", Interpol
25 - "An End Has a Start", Editors
26 - "Untrue", Burial
27 - "Walls", Apparat
28 - "Learn to Sing Like a Star", Kristin Hersh
29 - "V Live", Vitalic
30 - "LP 1", Plasticines
5 Discos Portugueses:
1 - "0dd Size Baggage", Micro Audio Waves
2 - "Console Pupils", U-Clic
3 - "Cintura", Clã
4 - "Adriano Aqui e Agora - O Tributo", Vários
5 - "Dreams in Colour", David Fonseca
Outras distinções:
- Barrete do ano: Battles
- Tanto barulho por (quase) nada: Radiohead - grande campanha de marketing para um disco mediano
- Ainda estão aí para as curvas: Chemical Brothers
- Que venham para ficar: New Young Pony Club
- Mais do mesmo, mas desta passa: Interpol
- Mais do mesmo, e já chateia: Manic Street Preachers
- "Apedrejamento" mais injusto: Bloc Party
- Melhor compilação: "Kitsuné - Boombox"
sexta-feira, dezembro 28, 2007
OS MELHORES DE 2007: CANÇÕES
Foi difícil, mas lá consegui escolher as minhas 30 canções preferidas de 2007, e como seria ainda mais árduo apresentá-las por ordem de preferência optei por não o fazer. De qualquer forma, ponho as mãos (ou os ouvidos) no fogo por qualquer uma destas:
LCD Soundsystem - "Someone Great"
The Chemical Brothers - "Burst Generator"
New Young Pony Club - "Hiding on the Staircase"
Simian Mobile Disco - "Sleep Deprivation"
Digitalism - "Pogo"
Au Revoir Simone - "The Way to There"
Laura Veirs - "Don't Lose Yourself"
Bat For Lashes - "Priscilla"
The Go! Team - "Grip Like a Vice"
Film School - "Compare"
Stateless - "The Language"
Pantha Du Prince - "Florac"
Pantha Du Prince - "Saturn Strobe"
Alex Beaupain /Vários - "La Bastille"
David Fonseca - "This Raging Light"
Micro Audio Waves - "Odd Size Baggage"
Supermayer - "Please Sunshine"
Metric - "Soft Rock Star"
Riot in Belgium - "La Musique"
Maps - "You Don't Know Her Name"
Editors - "An End Has a Start"
Interpol - "Rest My Chemistry"
Feist - "My Moon My Man" (assim como a remistura de Boys Noize)
Blonde Redhead - "Spring and by Summer Fall"
The Honeydrips - "Fall From a Height"
Underworld - "Glam Bucket"
Modeselektor - "Godspeed"
Modeselektor feat. Thom Yorke - "The White Flash"
Freescha - "Moving"
Shinichi Osawa - "Last Days"
LCD Soundsystem - "Someone Great"
The Chemical Brothers - "Burst Generator"
New Young Pony Club - "Hiding on the Staircase"
Simian Mobile Disco - "Sleep Deprivation"
Digitalism - "Pogo"
Au Revoir Simone - "The Way to There"
Laura Veirs - "Don't Lose Yourself"
Bat For Lashes - "Priscilla"
The Go! Team - "Grip Like a Vice"
Film School - "Compare"
Stateless - "The Language"
Pantha Du Prince - "Florac"
Pantha Du Prince - "Saturn Strobe"
Alex Beaupain /Vários - "La Bastille"
David Fonseca - "This Raging Light"
Micro Audio Waves - "Odd Size Baggage"
Supermayer - "Please Sunshine"
Metric - "Soft Rock Star"
Riot in Belgium - "La Musique"
Maps - "You Don't Know Her Name"
Editors - "An End Has a Start"
Interpol - "Rest My Chemistry"
Feist - "My Moon My Man" (assim como a remistura de Boys Noize)
Blonde Redhead - "Spring and by Summer Fall"
The Honeydrips - "Fall From a Height"
Underworld - "Glam Bucket"
Modeselektor - "Godspeed"
Modeselektor feat. Thom Yorke - "The White Flash"
Freescha - "Moving"
Shinichi Osawa - "Last Days"
Aceitam-se sugestões ou reclamações :)
quinta-feira, dezembro 27, 2007
OS MELHORES DE 2007: CONCERTOS
Num ano que pareceu querer bater os recordes de concertos por dia, os palcos portugueses acolheram muitos repetentes e estreantes - Nine Inch Nails, Interpol ou Beastie Boys, entre muitos outros -, sintoma da oferta massiva tanto em festivais como em espectáculos isolados.
Apesar de ainda ter ido a alguns festivais, com destaque para o meu primeiro Paredes de Coura, lamento ter perdido o Super Bock Super Rock, que contou com um dos melhores cartazes do ano. Mesmo assim, não me posso queixar já que vi alguns concertos de que gostei muito, o que já não ocorreu tanto em relação aos discos - mas a esses já lá vamos daqui a uns dias.
Apesar de ainda ter ido a alguns festivais, com destaque para o meu primeiro Paredes de Coura, lamento ter perdido o Super Bock Super Rock, que contou com um dos melhores cartazes do ano. Mesmo assim, não me posso queixar já que vi alguns concertos de que gostei muito, o que já não ocorreu tanto em relação aos discos - mas a esses já lá vamos daqui a uns dias.
Abaixo deixo a lista dos 10 melhores, sem ordem de preferência porque os 6 primeiros estão empatados:
- The Chemical Brothers no Dance Station
- Bloc Party no Coliseu de Lisboa
- Nine Inch Nails no Coliseu de Lisboa
- Soulwax no Creamfields
- The Go! Team no Alive!
- Interpol no Coliseu de Lisboa
- Micro Audio Waves no MusicBox
- Cansei de Ser Sexy no Lux
- Patrick Wolf no Lux
- Clã na Aula Magna
Destaque, também, para os Beastie Boys e Rakes no Alive!, New Young Pony Club em Paredes de Coura ou Massive Attack no Coliseu de Lisboa. Para as semi-desilusões entram os Placebo no Creamfields e os Smashing Pumpkins no Alive!, e dos mais fraquinhos que vi lembro-me dos Babyshambles, Dinosaur Jr ou New York Dolls, todos em Paredes de Coura.
- Bloc Party no Coliseu de Lisboa
- Nine Inch Nails no Coliseu de Lisboa
- Soulwax no Creamfields
- The Go! Team no Alive!
- Interpol no Coliseu de Lisboa
- Micro Audio Waves no MusicBox
- Cansei de Ser Sexy no Lux
- Patrick Wolf no Lux
- Clã na Aula Magna
Destaque, também, para os Beastie Boys e Rakes no Alive!, New Young Pony Club em Paredes de Coura ou Massive Attack no Coliseu de Lisboa. Para as semi-desilusões entram os Placebo no Creamfields e os Smashing Pumpkins no Alive!, e dos mais fraquinhos que vi lembro-me dos Babyshambles, Dinosaur Jr ou New York Dolls, todos em Paredes de Coura.
E por aí, que concertos de 2007 merecem ser destacados?
quarta-feira, dezembro 26, 2007
segunda-feira, dezembro 24, 2007
domingo, dezembro 23, 2007
VIAGEM SONORA À NOITE LONDRINA
No ano passado, tornou-se numa das figuras de proa da música de dança ao gerar um dos discos de estreia mais aplaudidos do underground londrino, e agora desencadeia reacções igualmente entusiasmadas com o registo sucessor, "Untrue". Burial, cuja identidade permanece uma incógnita, volta a dar motivos para que haja esperança para o dubstep, subgénero que congrega reminiscências do 2step, dub e beats hip-hop, entre outros condimentos, e que tem despertado atenções em torno de nomes como Boxcutter, Skream ou Kode9.
Se no álbum anterior Burial se distinguiu destes ao apresentar traços de personalidade bem vincados, o seu sucessor reforça-os ao conceder protagonismo a vozes que complementam as complexas texturas instrumentais pelas quais o músico já se havia notabilizado. Estas vocalizações, de travo soul on acid, por vezes quase alienígenas, aumentam a estranheza das composições e tornam-nas numa apropriada banda-sonora para viagens nocturnas em ambientes urbanos, traduzindo uma aura por vezes sinuosa, ocasionalmente claustrofóbica e sempre sombria.
Se no álbum anterior Burial se distinguiu destes ao apresentar traços de personalidade bem vincados, o seu sucessor reforça-os ao conceder protagonismo a vozes que complementam as complexas texturas instrumentais pelas quais o músico já se havia notabilizado. Estas vocalizações, de travo soul on acid, por vezes quase alienígenas, aumentam a estranheza das composições e tornam-nas numa apropriada banda-sonora para viagens nocturnas em ambientes urbanos, traduzindo uma aura por vezes sinuosa, ocasionalmente claustrofóbica e sempre sombria.
"Untrue" talvez não seja a pedrada no charco que muitos aqui identificam, uma vez que o que contém já foi percorrido por outros - notam-se aqui atmosferas negras próximas do trip-hop de Tricky, uma ousadia rítmica que remete para Goldie ou os primeiros passos de DJ Shadow e um espectro onírico herdeiro dos experimentalismos dos Future Sound of London.
Admita-se, no entanto, que apesar desses paralelismos Burial consegue ainda um som único, capaz de gerar episódios absorventes e inquietantes como o R&B bizarro e espacial de "Archangel", o apropriadamente intitulado "Homeless", que transpõe para a música o isolamento e solidão das grandes metrópoles, o contemplativo mas dançável "Raver", que incorpora elementos do techno minimal, ou os fantasmagóricos "Etched Headplate" e "Near Dark", este último com uma voz que repete "I can't take my eyes of you" e deixa dúvidas sobre se esta é uma canção de amor ou de obsessão.
"In McDonalds", de tom nostálgico, quase podia ser do primeiro álbum dos Bent, já "Endorphin" percorre territórios algo duvidosos quando as vozes parecem saídas de um projecto new age na linha de uns Deep Forest.
Tal como o seu autor, "Untrue" é um disco misterioso, para ir descobrindo aos poucos, conseguindo prender a atenção durante várias audições à medida que se vão descortinando novos pormenores, seja no barulho da chuva no início de uma canção, nos pequenos estalos de vinyl ou em qualquer outro efeito que parecia submerso nas intrincadas texturas mas que acaba por se evidenciar. Se é um grande álbum só o tempo o dirá, mas por enquanto vai-se revelando viciante q.b..
Admita-se, no entanto, que apesar desses paralelismos Burial consegue ainda um som único, capaz de gerar episódios absorventes e inquietantes como o R&B bizarro e espacial de "Archangel", o apropriadamente intitulado "Homeless", que transpõe para a música o isolamento e solidão das grandes metrópoles, o contemplativo mas dançável "Raver", que incorpora elementos do techno minimal, ou os fantasmagóricos "Etched Headplate" e "Near Dark", este último com uma voz que repete "I can't take my eyes of you" e deixa dúvidas sobre se esta é uma canção de amor ou de obsessão.
"In McDonalds", de tom nostálgico, quase podia ser do primeiro álbum dos Bent, já "Endorphin" percorre territórios algo duvidosos quando as vozes parecem saídas de um projecto new age na linha de uns Deep Forest.
Tal como o seu autor, "Untrue" é um disco misterioso, para ir descobrindo aos poucos, conseguindo prender a atenção durante várias audições à medida que se vão descortinando novos pormenores, seja no barulho da chuva no início de uma canção, nos pequenos estalos de vinyl ou em qualquer outro efeito que parecia submerso nas intrincadas texturas mas que acaba por se evidenciar. Se é um grande álbum só o tempo o dirá, mas por enquanto vai-se revelando viciante q.b..
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
Burial - "Ghost Hardware"
quinta-feira, dezembro 20, 2007
quarta-feira, dezembro 19, 2007
IT'S THE BEAT!
Autores de "Attack Decay Sustain Release", álbum que contém algumas das mais infecciosas canções dos últimos tempos - como "Sleep Deprivation" ou "Hustler" -, os Simian Mobile Disco foram uma das curiosas surpresas musicais do ano. Eu e o Pedro Neves falámos há uns tempos com James "Jas" Shaw, metade do duo britânico, e parte da conversa pode ser vista no vídeo aqui em baixo:
segunda-feira, dezembro 17, 2007
sábado, dezembro 15, 2007
OS MENINOS DANÇAM
Recentemente, a música de dança tem ganho alguns nomes que recuperam uma pujança e energia comparáveis às de outros que a catapultaram para o mainstream em meados da década de 90.
Projectos como os Justice, Digitalism, MSTRKRFT ou Simian Mobile Disco, entre outros, injectam hoje nas pistas uma visceralidade não muito distante da praticada por uns Prodigy, Chemical Brothers ou Daft Punk na década passada. Estes últimos são especialmente reconhecidos como uma das maiores influências de novos artistas em ascensão, e as fusões electro, rock, house e por vezes disco que os seus sucessores demonstram não deixam muitas dúvidas desse legado.
É o caso do alemão Alex Ridha, mais conhecido como Boys Noize, que no seu álbum de estreia, "Oi Oi Oi" se afirma como mais um nome confirmar a tendência.
Projectos como os Justice, Digitalism, MSTRKRFT ou Simian Mobile Disco, entre outros, injectam hoje nas pistas uma visceralidade não muito distante da praticada por uns Prodigy, Chemical Brothers ou Daft Punk na década passada. Estes últimos são especialmente reconhecidos como uma das maiores influências de novos artistas em ascensão, e as fusões electro, rock, house e por vezes disco que os seus sucessores demonstram não deixam muitas dúvidas desse legado.
É o caso do alemão Alex Ridha, mais conhecido como Boys Noize, que no seu álbum de estreia, "Oi Oi Oi" se afirma como mais um nome confirmar a tendência.
As suas remisturas para gente como os Bloc Party, Kaiser Chiefs ou Depeche Mode já haviam demonstrado a sua precisão na gestão de ritmos infecciosos e abrasivos, e o disco segue essa linha através de batidas cruas, sintetizadores distorcidos, vocoders ruidosos e melodias ácidas.
Directo e intenso, "Oi Oi Oi" é um prodígio de eficácia nas pistas de dança, obrigando ao movimento dos músculos e susceptível de levar à euforia generalizada.
Temas como "& Down", que abre o disco de forma certeira, "Arcade Robot", com hipnóticas ondulações circulares, ou o contagiante e muito catchy "Oh!" justificam atenção, funcionando enquanto portentos de energia cinética e composições imaginativas. "Shine Shine" é um interessante misto de vozes robóticas e atmosferas um pouco mais apaziguadas e "Don't Believe the Hype" propõe uma absorvente viagem por camadas electro, e ainda que nada disto seja especialmente inovador prova que Boys Noize é um nome a reter.
Directo e intenso, "Oi Oi Oi" é um prodígio de eficácia nas pistas de dança, obrigando ao movimento dos músculos e susceptível de levar à euforia generalizada.
Temas como "& Down", que abre o disco de forma certeira, "Arcade Robot", com hipnóticas ondulações circulares, ou o contagiante e muito catchy "Oh!" justificam atenção, funcionando enquanto portentos de energia cinética e composições imaginativas. "Shine Shine" é um interessante misto de vozes robóticas e atmosferas um pouco mais apaziguadas e "Don't Believe the Hype" propõe uma absorvente viagem por camadas electro, e ainda que nada disto seja especialmente inovador prova que Boys Noize é um nome a reter.
Mesmo assim, embora todo o alinhamento seja inegavelmente funcional numa pista de dança, nem tudo resulta bem noutros contextos, e em audições caseiras "Oi Oi Oi" pode cansar pela repetição de ideias em algumas canções, que denunciam o escasso electismo do alinhamento. "The Battery" ou "Wu-Tang (Battery Pt.2)" são disso exemplo, queimando muita energia sem sairem da previsibilidade, lembrando os momentos mais fracos de "Human After All", o último de originais dos Daft Punk, registo que no geral "Oi Oi Oi" consegue superar.
Não sendo um disco de eleição, a estreia de Boys Noize cumpre e impõe-se como um sólido party album, ainda que obscuro q.b., e é especialmente recomendável na edição britânica, que inclui como tema bónus a estupenda remistura para "My Moon My Man", de Feist, que não só esmaga qualquer outro momento como é uma das melhores que se ouviu em 2007.
Não sendo um disco de eleição, a estreia de Boys Noize cumpre e impõe-se como um sólido party album, ainda que obscuro q.b., e é especialmente recomendável na edição britânica, que inclui como tema bónus a estupenda remistura para "My Moon My Man", de Feist, que não só esmaga qualquer outro momento como é uma das melhores que se ouviu em 2007.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
Boys Noize - "&Down"
sexta-feira, dezembro 14, 2007
BLINKS & LINKS
Obrigado aos responsáveis pelos blogs A Cinematic Vision, Cantinho das Artes, Cine Highlife, clk stuff, Expressões Digitais, High Fidelity, Kliinn, Laisse Faire, Nerd Cult e Brega, O Homem que Sabia Demasiado, Royal Cafe, Torpedo Verbal, TSi - Tristeza Sob investigação e um toque d'Asa por me blinkarem :)
quinta-feira, dezembro 13, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "A HISTÓRIA DE UMA ABELHA"
Numa semana de poucas e não muito estimulantes estreias, o destaque possível vai todo para "A História de uma Abelha" (Bee Movie), o aguardado filme de animação que tem a particularidade de contar com Jerry Seinfeld na voz do protagonista. A premissa parte de uma abelha que não só se recusa a aceitar as regras que lhe são impostas para o seu modo de vida, como ainda trava amizade com uma florista e acaba por gerar uma guerra contra os humanos quando os processa por roubarem mel.
Em tempo de fracas comédias, talvez valha a pena espreitar esta.
Outras estreias:
"Amor e Outros Desastres", de Alek Keshishian
"O Irmão do Pai Natal", de David Dobkin
"O Sonho Comanda a Vida", de Jake Paltrow
Em tempo de fracas comédias, talvez valha a pena espreitar esta.
Outras estreias:
"Amor e Outros Desastres", de Alek Keshishian
"O Irmão do Pai Natal", de David Dobkin
"O Sonho Comanda a Vida", de Jake Paltrow
Trailer de "A História de Uma Abelha"
quarta-feira, dezembro 12, 2007
CRIME E CASTIGO
Gus Vant Sant é uma das vozes mais respeitadas e singulares do cinema independente norte-americano, com uma filmografia que ultrapassou já as duas décadas e que inclui títulos tão aclamados como "O Cowboy da Droga" ou "My Own Private Idaho", da fase incial do seu percurso, "Descobrir Forrester" ou "O Bom Rebelde", onde se aproximou do mainstream, ou "Elephant", que após estes voltou a colocá-lo na lista dos cineastas mais inovadores do momento.
Esta originalidade e idiossincrasia nem sempre gerou, contudo, resultados interessantes, como os áridos e pretensiosos "Gerry" ou "Last Days - Últimos Dias" infelizmente confirmaram, e o mais recente "Paranoid Park", embora seja mais estimulante do que esses dois exemplos, aproxima-se mais da mediania do que de um memorável rasgo de génio.
Esta originalidade e idiossincrasia nem sempre gerou, contudo, resultados interessantes, como os áridos e pretensiosos "Gerry" ou "Last Days - Últimos Dias" infelizmente confirmaram, e o mais recente "Paranoid Park", embora seja mais estimulante do que esses dois exemplos, aproxima-se mais da mediania do que de um memorável rasgo de génio.
O facto do filme ter sido nomeado para a Palma de Ouro na última edição de Cannes e de ter ganho o prémio do 60º Aniversário do mesmo festival confirma que o realizador continua com boa reputação junto de grande parte da crítica, e se é injusto não reconhecer alguns méritos nesta nova proposta também é verdade que esta pouco acrescenta ao universo temático de Van Sant.
Mais uma vez, há aqui uma abordagem à adolescência, à solidão e ao crescimento, neste caso através do retrato do quotidiano de um skater de 16 anos de Portland, à superfície um jovem igual a tantos outros mas que no seu íntimo se debate com as consequências de um inquietante segredo.
Quando a polícia vai à sua escola para o interrogar acerca de uma morte, o protagonista volta a confrontar-se com as memórias de uma noite em que se encontrou com outros adolescentes no Paranoid Park, local de culto para skaters, e de onde saiu para se envolver numa série de episódios que o filme vai revelando aos poucos.
Mais uma vez, há aqui uma abordagem à adolescência, à solidão e ao crescimento, neste caso através do retrato do quotidiano de um skater de 16 anos de Portland, à superfície um jovem igual a tantos outros mas que no seu íntimo se debate com as consequências de um inquietante segredo.
Quando a polícia vai à sua escola para o interrogar acerca de uma morte, o protagonista volta a confrontar-se com as memórias de uma noite em que se encontrou com outros adolescentes no Paranoid Park, local de culto para skaters, e de onde saiu para se envolver numa série de episódios que o filme vai revelando aos poucos.
Com uma narrativa não linear, que se desdobra pelas recordações da personagem principal e recusa a sucessão cronológica dos acontecimentos, "Paranoid Park" mergulha nas ansiedades e descobertas da adolescência, assim como na forma como um jovem lida com sentimentos de culpa e se debate com indecisões morais.
Van Sant investe aqui num realismo poético próximo do que dominou os seus três trabalhos anteriores - "Gerry", "Elephant" e "Last Days - Os Últimos Dias", a trilogia da morte -, tornando o filme numa experiência sensorial para a qual contribui a realização que entrecruzada cenas de skaters filmadas em 8MM com as restantes, em 35, quase a fazer a ponte com o docudrama.
Não menos determinante é a fotografia de Christopher Doyle, colaborador habitual de Wong Kar Wai - que aqui adapta a sua estética à de Van Sant, prescindindo da energia cinética a favor da sobriedade cenográfica -, ou a presença da diversificada banda-sonora - Elliott Smith, em particular, volta a resultar muito bem num filme do realizador, reforçando o tom melancólico tal como em "O Bom Rebelde".
Van Sant investe aqui num realismo poético próximo do que dominou os seus três trabalhos anteriores - "Gerry", "Elephant" e "Last Days - Os Últimos Dias", a trilogia da morte -, tornando o filme numa experiência sensorial para a qual contribui a realização que entrecruzada cenas de skaters filmadas em 8MM com as restantes, em 35, quase a fazer a ponte com o docudrama.
Não menos determinante é a fotografia de Christopher Doyle, colaborador habitual de Wong Kar Wai - que aqui adapta a sua estética à de Van Sant, prescindindo da energia cinética a favor da sobriedade cenográfica -, ou a presença da diversificada banda-sonora - Elliott Smith, em particular, volta a resultar muito bem num filme do realizador, reforçando o tom melancólico tal como em "O Bom Rebelde".
O elenco, maioritariamente constituído por actores amadores seleccionados a partir do MySpace, exibe a espontaneidade necessária para que as situações sejam credíveis, e o protagonista, Gabe Nevins, tem precisamente o olhar entre o lacónico e o alienado que o papel requer.
E no entanto, apesar destes elementos meritórios, "Paranoid Park" não chega a ser uma obra que conquiste por completo, já que a narrativa não consegue afastar a monotonia que se instala ao fim de poucos minutos, sobretudo porque Van Sant volta a cair num excesso de cenas contemplativas que tentam compensar a intensidade que as personagens não têm.
É certo que se recusam estereótipos adolescentes veiculados por muitos filmes americanos, mas quem já viu títulos anteriores do realizador tem pouco a descobrir aqui. Os corredores de um liceu já foram percorridos e filmados desta forma, assim como a falta de comunicação e o desconforto urbano já foram abordados com este minimalismo estético e narrativo.
E no entanto, apesar destes elementos meritórios, "Paranoid Park" não chega a ser uma obra que conquiste por completo, já que a narrativa não consegue afastar a monotonia que se instala ao fim de poucos minutos, sobretudo porque Van Sant volta a cair num excesso de cenas contemplativas que tentam compensar a intensidade que as personagens não têm.
É certo que se recusam estereótipos adolescentes veiculados por muitos filmes americanos, mas quem já viu títulos anteriores do realizador tem pouco a descobrir aqui. Os corredores de um liceu já foram percorridos e filmados desta forma, assim como a falta de comunicação e o desconforto urbano já foram abordados com este minimalismo estético e narrativo.
Esta história talvez resultasse melhor numa média metragem, que não precisaria tanto de insuflar a acção com sequências inconsequentes e circulares, uma vez que hora e meia é muito para o pouco que há para contar.
Sem grande pulsão dramática, acaba por resultar num filme demasiado clínico e distante, de duvidoso impacto emocional, onde alguns bons condimentos não são estruturados de forma a que o todo funcione.
Não chegando a ser constrangedor como o seu antecessor, "Last Days - Os Últimos Dias", "Paranoid Park" também não deixa de ser uma semi-desilusão, raramente saindo da competência que poderia ter sido atingida por um esforçado imitador ou colega de Van Sant. Uma proposta a considerar, ainda assim, mas quem quiser encontrar o realizador num trabalho à altura do seu estatuto fará melhor em (re)ver "Elephant".
Sem grande pulsão dramática, acaba por resultar num filme demasiado clínico e distante, de duvidoso impacto emocional, onde alguns bons condimentos não são estruturados de forma a que o todo funcione.
Não chegando a ser constrangedor como o seu antecessor, "Last Days - Os Últimos Dias", "Paranoid Park" também não deixa de ser uma semi-desilusão, raramente saindo da competência que poderia ter sido atingida por um esforçado imitador ou colega de Van Sant. Uma proposta a considerar, ainda assim, mas quem quiser encontrar o realizador num trabalho à altura do seu estatuto fará melhor em (re)ver "Elephant".
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
domingo, dezembro 09, 2007
sexta-feira, dezembro 07, 2007
ENTRE A POP E O ROCK COM MUITO JOGO DE CINTURA
Nos últimos meses, os Clã têm andado pelo país na digressão de promoção de "Cintura", o seu quinto disco de originais, mas foi no concerto de ontem na Aula Magna, em Lisboa, que a banda terá tido a maior prova de fogo até agora.
Com um maior número de espectadores do que nos espaços por onde tem passado e com um cuidado cénico adaptado às especificidades da sala, o espectáculo colocou a banda frente a um auditório quase repleto, ao qual apresentou o novo disco na íntegra pela primeira vez.
Com um maior número de espectadores do que nos espaços por onde tem passado e com um cuidado cénico adaptado às especificidades da sala, o espectáculo colocou a banda frente a um auditório quase repleto, ao qual apresentou o novo disco na íntegra pela primeira vez.
O ambiente foi quase sempre féerico e dinâmico logo desde os primeiros minutos, com três temas inaugurais retirados de "Cintura". "Vamos Esta Noite", que também é o tema inicial do álbum, lançou o mote, e juntamente com "Mandarim" e o single "Tira a Teima" promoveu um arranque suficientemente convidativo.
Foi, contudo, com o mais velhinho, mas ainda muitíssimo contagiante "GTI" que a noite registou o primeiro grande momento de êxtase generalizado, apresentando a canção com roupagens mais eléctricas.
"O Meu Estilo", outro tema de "Kazoo", foi ainda mais pujante, uma explosão de energia visceral devidamente canalizada pela atitude de Manuela Azevedo, a quem o epíteto "animal de palco" assentou aqui especialmente bem. O facto da canção ser menos mediática do que a anterior terá explicado o facto do público não ter reflectido muito a vibração da vocalista, embora não tenha impedido que este se inclua entre os grandes episódios do concerto.
"O Meu Estilo", outro tema de "Kazoo", foi ainda mais pujante, uma explosão de energia visceral devidamente canalizada pela atitude de Manuela Azevedo, a quem o epíteto "animal de palco" assentou aqui especialmente bem. O facto da canção ser menos mediática do que a anterior terá explicado o facto do público não ter reflectido muito a vibração da vocalista, embora não tenha impedido que este se inclua entre os grandes episódios do concerto.
Versátil mas coerente, o alinhamento mostrou as várias facetas da música dos Clã, desde estes acessos de dinamismo rocker até atmosferas nos seus antípodas, como numa versão minimalista de "Sopro do Coração", reduzida a voz e guitarra acústica (para muitos o momento de eleição do espectáculo) ou na igualmente discreta "Sexto Andar", um dos melhores temas do algo desequilibrado "Cintura", que "por pouco ficava de fora do álbum", como explicou Manuela, o que seria uma pena já que é uma bela reflexão de três minutos sobre a magia das canções.
Além de concentrados de aspereza e sensibilidade, houve ainda espaço para temas irreverentes e espevitados como "Carrossel dos Esquisitos" ou "Topo de Gama", este último com direito um (óptimo) final mais musculado e caótico do que a versão apresentada em "Rosa Carne".
Além de concentrados de aspereza e sensibilidade, houve ainda espaço para temas irreverentes e espevitados como "Carrossel dos Esquisitos" ou "Topo de Gama", este último com direito um (óptimo) final mais musculado e caótico do que a versão apresentada em "Rosa Carne".
Canções obrigatórias como "Problema de Expressão", "Dançar na Corda Bamba" ou "H2omem" (devidamente acompanhada pela conhecida coreografia, partilhada pela vocalista e público) conviveram sem problemas com as mais recentes, ainda que nem todos os momentos de "Cintura" convençam tanto como muitos dos mais antigos.
Ao vivo, contudo, essa relativa disparidade foi um pormenor quase irrelevante, uma vez que quer a singularidade cénica - com luzes de várias cores projectadas num painel de metais no fundo do palco, complementadas pela simplicidade de um barco e aviões de papel junto dos músicos - quer o empenho da banda mantiveram um ritmo quase sempre entusiasmante, ou pelo menos seguro.
Ao vivo, contudo, essa relativa disparidade foi um pormenor quase irrelevante, uma vez que quer a singularidade cénica - com luzes de várias cores projectadas num painel de metais no fundo do palco, complementadas pela simplicidade de um barco e aviões de papel junto dos músicos - quer o empenho da banda mantiveram um ritmo quase sempre entusiasmante, ou pelo menos seguro.
Manuela Azevedo, além de cantar com a voz que já nada tem a provar, fez questão de se manter irriquieta, saltitando, dançando e pulando sem nunca se desequilibrar, não caindo nas armadilhas dos seus finos saltos altos.
Para o final de duas horas com mais de duas dezenas de canções e dois encores, a banda guardou "Amigos de Quem", a estupenda canção que conta com os créditos de Manuel Cruz (não por acaso, soa a um rebento rebelde dos Clã com os Ornatos Violeta) e um tema inédito, nunca gravado mas que funciona impecavelmente ao vivo, num cruzamento acelerado de guitarras em ebulição e voz gutural.
Quem quiser comprovar os méritos de uma banda em forma ainda vai a tempo de apanhar os concertos agendados para o Casino da Figueira da Foz, no próximo dia 8, ou para a Casa da Música, no Porto, dia 12.
Para o final de duas horas com mais de duas dezenas de canções e dois encores, a banda guardou "Amigos de Quem", a estupenda canção que conta com os créditos de Manuel Cruz (não por acaso, soa a um rebento rebelde dos Clã com os Ornatos Violeta) e um tema inédito, nunca gravado mas que funciona impecavelmente ao vivo, num cruzamento acelerado de guitarras em ebulição e voz gutural.
Quem quiser comprovar os méritos de uma banda em forma ainda vai a tempo de apanhar os concertos agendados para o Casino da Figueira da Foz, no próximo dia 8, ou para a Casa da Música, no Porto, dia 12.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
Entrevista a Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves
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