As três (não tristes) tigres aquecem os ânimos musicais e ajudam a festejar a chegada de mais uma sexta-feira :) "TKO", recuerdo de "This Island", roda ali no lado direito.
sexta-feira, março 31, 2006
quinta-feira, março 30, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "BREAKFAST ON PLUTO"
No seu novo filme, Neil Jordan ("Jogo de Lágrimas", "Entrevista com o Vampiro") segue o percurso de Patrick "Kitten" Braden, um jovem que cresceu na Irlanda dos anos 60 e que desde cedo aprendeu a estar sozinho, vendo a sua vida marcada pelo IRA, pela prostituição, pelo mundo do espectáculo ou pela transexualidade.
Protagonizado por Cillian Murphy (que depois de "28 Dias Depois" ou "Red Eye" parece continuar a testar a sua versatilidade), "Breakfast on Pluto" é um drama pouco convencional e uma das propostas cinematográficas a descobrir que chega hoje às salas nacionais.
Outras estreias:
"A Idade do Gelo 2: Descongelados", de Carlos Saldanha
"Ninguém Sabe", de Hirokazu Koreeda
"O Tigre e a Neve", de Roberto Benigni
"Vanitas + A Piscina", de Paulo Rocha
Outras estreias:
"A Idade do Gelo 2: Descongelados", de Carlos Saldanha
"Ninguém Sabe", de Hirokazu Koreeda
"O Tigre e a Neve", de Roberto Benigni
"Vanitas + A Piscina", de Paulo Rocha
domingo, março 26, 2006
A CASA DE CAMPO
Filmes de terror portugueses não são propriamente algo que se encontre regularmente nas salas, antes pelo contrário, por isso “Coisa Ruim”, de Tiago Guedes e Frederico Serra – dupla com experiência na realização de anúncios publicitários, telefilmes e curtas-metragens – é um objecto que suscitava alguma curiosidade, uma vez que é uma das raras experiências nacionais com ligações a esse género.
A acção alicerça-se numa família lisboeta que se muda para uma pequena aldeia do interior, passando a habitar um velho casarão herdado pelo pai.
Se a maioria do agregado familiar não fica muito entusiasmada com o mais recente lar, excepto a figura paterna, que impulsionou a mudança, a simpatia com o novo local de residência reduz-se ainda mais quando este começa a ser marcado por estranhos e inquietantes acontecimentos. Aos poucos, os três filhos do casal vão tomando contacto com intrigantes visões ou com a audição de perturbantes ruídos, situação que afectará, também, os seus progenitores.
A acção alicerça-se numa família lisboeta que se muda para uma pequena aldeia do interior, passando a habitar um velho casarão herdado pelo pai.
Se a maioria do agregado familiar não fica muito entusiasmada com o mais recente lar, excepto a figura paterna, que impulsionou a mudança, a simpatia com o novo local de residência reduz-se ainda mais quando este começa a ser marcado por estranhos e inquietantes acontecimentos. Aos poucos, os três filhos do casal vão tomando contacto com intrigantes visões ou com a audição de perturbantes ruídos, situação que afectará, também, os seus progenitores.
Embora a premissa da casa assombrada esteja longe de ser uma novidade enquanto elemento central de um filme de terror, “Coisa Ruim” consegue ultrapassar essa limitação ao assentar num argumento (escrito por Rodrigo Guedes de Carvalho) que não se preocupa somente em catalizar sustos e reviravoltas, mas principalmente em apresentar uma interessante perspectiva acerca dos mistérios, boatos, medos, lendas e costumes presentes nos interstícios de algum Portugal rural.
Questionando sobretudo os conflitos entre a razão e a crença ou a superstição, o filme não descura a esfera emocional das suas personagens, não as usando apenas como meros joguetes mas modelando-as enquanto figuras palpáveis e credíveis, perturbadas por dúvidas e receios bem humanos.
Neste aspecto, a direcção de actores é uma óbvia mais-valia, já que o elenco é bastante coeso e empenhado, algo que infelizmente coloca em causa muitas películas nacionais. Manuela Couto, no papel da mãe, oferece uma subtil e envolvente interpretação, e Adriano Luz, que encarna o pai, ou Afonso Pimentel, o filho mais velho, são também exemplo de um profissionalismo merecedor de elogios.
Rigoroso na construção do argumento ou na gestão do elenco, “Coisa Ruim” não o é menos na concepção visual, apostando numa realização fluida e segura, onde os hábeis enquadramentos são fulcrais para que as atmosferas sejam desenhadas de forma tão absorvente. O minucioso trabalho de iluminação ou as texturas da fotografia são outros complementos essenciais, evidenciando um sólido cuidado estético que nunca cai no exibicionismo.
“Coisa Ruim” acaba por não ser tanto uma história de terror mas antes um drama familiar, pontuado por algum suspense e bizarria, em que as personagens se debatem com fantasmas internos e externos. É certo que há por aqui paralelismos com obras de, entre outros, M. Night Shyamalan (nos silêncios carregados de tensão, no ritmo pausado) ou Alejandro Amenábar (notam-se ecos de “Os Outros”), mas o filme encontra um espaço seu ao focar um imaginário tipicamente português, abordado com competência e sentido atmosférico.
Pena o óbvio e apressado desenlace, cujo esoterismo exagerado o aproxima mais dos histéricos e pouco imaginativos exemplos de um certo estilo de terror norte-americano do que do desenvolvimento inteligente e sensato – e com espaço para a ambiguidade - que “Coisa Ruim” adopta durante a maior parte da sua duração.
Questionando sobretudo os conflitos entre a razão e a crença ou a superstição, o filme não descura a esfera emocional das suas personagens, não as usando apenas como meros joguetes mas modelando-as enquanto figuras palpáveis e credíveis, perturbadas por dúvidas e receios bem humanos.
Neste aspecto, a direcção de actores é uma óbvia mais-valia, já que o elenco é bastante coeso e empenhado, algo que infelizmente coloca em causa muitas películas nacionais. Manuela Couto, no papel da mãe, oferece uma subtil e envolvente interpretação, e Adriano Luz, que encarna o pai, ou Afonso Pimentel, o filho mais velho, são também exemplo de um profissionalismo merecedor de elogios.
Rigoroso na construção do argumento ou na gestão do elenco, “Coisa Ruim” não o é menos na concepção visual, apostando numa realização fluida e segura, onde os hábeis enquadramentos são fulcrais para que as atmosferas sejam desenhadas de forma tão absorvente. O minucioso trabalho de iluminação ou as texturas da fotografia são outros complementos essenciais, evidenciando um sólido cuidado estético que nunca cai no exibicionismo.
“Coisa Ruim” acaba por não ser tanto uma história de terror mas antes um drama familiar, pontuado por algum suspense e bizarria, em que as personagens se debatem com fantasmas internos e externos. É certo que há por aqui paralelismos com obras de, entre outros, M. Night Shyamalan (nos silêncios carregados de tensão, no ritmo pausado) ou Alejandro Amenábar (notam-se ecos de “Os Outros”), mas o filme encontra um espaço seu ao focar um imaginário tipicamente português, abordado com competência e sentido atmosférico.
Pena o óbvio e apressado desenlace, cujo esoterismo exagerado o aproxima mais dos histéricos e pouco imaginativos exemplos de um certo estilo de terror norte-americano do que do desenvolvimento inteligente e sensato – e com espaço para a ambiguidade - que “Coisa Ruim” adopta durante a maior parte da sua duração.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
sábado, março 25, 2006
RECORDAR E DANÇAR
Uma das boas surpresas provenientes de domínios da música de dança dos últimos anos, “Destroy Rock & Roll”, de 2004, o álbum de estreia do escocês Myles MacInnes – mais conhecido como Mylo -, é um exemplo de que a política do do-it-yourself pode gerar resultados interessantes.
Recorrendo a pouco mais do que alguns programas de computador para trabalhar as suas composições, o músico criou o seu disco praticamente em casa, mas apesar da limitação de recursos “Destroy Rock & Roll” está longe de ser um trabalho amador, evidenciando uma produção milimétrica e criatividade q.b. na selecção de samples.
Os catorze temas que o jovem DJ apresenta não desbravam novos territórios, contudo exibem doses suficientes de consistência e energia, apostando em melodias bem estruturadas, quase sempre imediatas sem se tornarem cansativas.
Dominado por uma forte componente lúdica, com um peculiar sentido de humor presente em grande parte das canções, “Destroy Rock & Roll” é um contagiante party album que mistura electro, house, techno, disco, lounge e funk, proporcionando um virtuoso concentrado de ritmos viciantes onde o apelo dançável se torna irresistível.
Daft Punk ou Gus Gus são alguns dos nomes facilmente comparáveis, sobretudo nos momentos mais efusivos e dinâmicos (“Rikki”, “Paris Four Hundred”), enquanto que os episódios mais apaziguados e contemplativos (“Need You Tonite”, “Emotion 98.6”) remetem para traços semelhantes à faceta downtempo dos Röyksopp, Lemon Jelly ou Moby.
Daft Punk ou Gus Gus são alguns dos nomes facilmente comparáveis, sobretudo nos momentos mais efusivos e dinâmicos (“Rikki”, “Paris Four Hundred”), enquanto que os episódios mais apaziguados e contemplativos (“Need You Tonite”, “Emotion 98.6”) remetem para traços semelhantes à faceta downtempo dos Röyksopp, Lemon Jelly ou Moby.
Apesar de notórias similaridades com estas e outras referências, Mylo não oferece um trabalho derivativo, expondo alguma carga inventiva enquanto criador de exercícios cut n’ paste tão eficazes como o mediático “Drop the Pressure” ou o seu sucedâneo “Doctor Pressure”, que cruza esse single com um êxito quase esquecido da década de 80, “Drop the Beat”, dos Miami Sound Machine.
A incorporação de sonoridades dos anos 80 manifesta-se, de resto, em muitas outras canções do disco, casos de “In My Arms” - assente um sample de “Bette Davis Eyes”, de Kim Carnes – ou “Destroy Rock & Roll”, onde Mylo refere muitos dos músicos que contribuíram para a destruição do rock durante essa malograda década (num exaustivo inventário que inclui gente tão diversa como Michael Jackson, Madonna, Duran Duran, Bruce Springsteen, Fletwood Mac, Prince, ZZ Top, Cindy Lauper, Neil Young ou Bananarama).
Fresco e coeso, ainda que demasiado longo, “Destroy Rock & Roll” não é genial mas coloca mais um nome interessante no vasto universo da música de dança, e espera-se por isso que esta estreia apelativa tenha continuidade à altura.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
sexta-feira, março 24, 2006
MAIS DIAS INDIE
O terceiro IndieLisboa - ou Festival de Cinema Independente de Lisboa -, a decorrer entre 20 e 30 de Abril, já revelou a sua programação. Esperam-se cerca de 24 sessões diárias distribuídas por seis salas do Fórum Lisboa e dos cinemas King e Londres.
Entre as promissoras novidades, destacam-se o Laboratório (que privilegia projectos mais arriscados) o IndieMusic (com bons exemplos de cruzamentos entre a sétima arte e a música), assim como os mais recentes filmes de Abel Ferrara, Larry Clark ou Michael Cuesta são algumas das diversas obras inéditas previstas.
Se a edição de 2005 foi profícua, a deste ano parece estar à altura, portanto prevê-se que muitos dos filmes presentes sejam alvo de atenção por estes lados.
Se a edição de 2005 foi profícua, a deste ano parece estar à altura, portanto prevê-se que muitos dos filmes presentes sejam alvo de atenção por estes lados.
quinta-feira, março 23, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "V DE VINGANÇA"
Não falta potencial a "V de Vingança" (V for Vendetta), a primeira longa-metragem de James McTeigue. Baseada numa graphic novel criada por Alan Moore (um dos mais aclamados argumentistas de sempre da BD) e David Lloyd, reescrita para cinema pelos irmãos Wachowski (sim, os de "Matrix") e protagonizada por Natalie Portman, esta aventura futurista segue as invetidas de um anti-herói mascarado obstinado em destruir o regime totalitário que atemoriza a Grã-Bretanha. Nem todos os blockbusters podem gabar-se de possuir atributos tão promissores e o resultado pode ser comprovado a partir de hoje...
Outras estreias:
-"3... Extremos", experiência a três de Takashi Miike ("Uma Chamada Perdida"), Park Chan-wook ("Old Boy - Velho Amigo") e Fruit Chan
-"Casanova", o regresso do sueco Lasse Hallström depois de "Uma Vida Inacabada"
-"O Segredo", terror pelo espanhol Luis De La Madrid
Outras estreias:
-"3... Extremos", experiência a três de Takashi Miike ("Uma Chamada Perdida"), Park Chan-wook ("Old Boy - Velho Amigo") e Fruit Chan
-"Casanova", o regresso do sueco Lasse Hallström depois de "Uma Vida Inacabada"
-"O Segredo", terror pelo espanhol Luis De La Madrid
A SANGUE FRIO
Impondo-se, ao longo da década de 90, como um dos melhores actores norte-americanos dos últimos anos, Philip Seymour Hoffman nunca havia conhecido um mediatismo à altura do seu talento, sendo quase sempre relegado para papéis secundários.
Embora tenha trabalhado em muitos projectos interessantes que lhe proporcionaram algum prestígio – colaborou em obras de Todd Solondz, Paul Thomas Anderson ou Spike Lee -, faltava-lhe umaque lhe possibilitasse uma aclamação mais generalizada.
“Capote”, a segunda experiência de Bennett Miller na realização (a primeira foi o elogiado, mas discreto documentário “The Cruise”, de 1998), afirma-se como o filme capaz de o elevar a um novo patamar de reconhecimento, garantindo-lhe o Óscar de Melhor Actor e compensando-o por mais de uma década onde recebeu menos atenção do que merecia.
Embora tenha trabalhado em muitos projectos interessantes que lhe proporcionaram algum prestígio – colaborou em obras de Todd Solondz, Paul Thomas Anderson ou Spike Lee -, faltava-lhe umaque lhe possibilitasse uma aclamação mais generalizada.
“Capote”, a segunda experiência de Bennett Miller na realização (a primeira foi o elogiado, mas discreto documentário “The Cruise”, de 1998), afirma-se como o filme capaz de o elevar a um novo patamar de reconhecimento, garantindo-lhe o Óscar de Melhor Actor e compensando-o por mais de uma década onde recebeu menos atenção do que merecia.
Hoffman encarna aqui o controverso e influente escritor Truman Capote, numa película que foge ao formato de biopic mais tradicional ao optar por se debruçar apenas sobre uma fase específica da sua vida, centrando-se em 1959, período em que o autor se inspirou no homicídio de uma família de uma pequena povoação do Kansas para criar uma das suas obras incontornáveis, “A Sangue Frio”, considerado o primeiro romance de não-ficção.
O filme apresenta a relação singular que nasce entre o escritor e Perry Smith, um dos dois assassinos responsáveis pelo massacre, focando a empatia natural e desconcertante gerada entre dois underdogs que, embora muito diferentes à superfície, parecem partilhar uma esfera de angústia, isolamento e marginalização.
Em paralelo, “Capote” narra também a forma como o protagonista utilizou essa proximidade para a criação do seu livro (ainda que inicialmente o plano fosse criar apenas um artigo de revista), vertente que obriga o espectador a questionar-se acerca da moral da personagem, originando cenas de uma considerável ambivalência emocional, pouco habituais num biopic oriundo de Hollywood (que raramente colocam em causa a figura em questão).
Philip Seymour Hoffman consegue compor com solidez um retrato do escritor, mesclando vulnerabilidade, arrogância, humor ácido, egocentrismo e subtileza, expondo ainda os trejeitos da fala e dos movimentos corporais associados a Truman Capote sem cair na caricatura.
Infelizmente, o filme não é tão bem sucedido como o desempenho do actor principal, apoiando-se neste em demasia e não sendo tão convincente na maioria das suas restantes componentes. É certo que há aqui material de base para fazer desta uma obra superior, em particular a relação do criador com a arte e a dilaceração emocional que daí poderá advir, contudo “Capote” é prejudicado por uma narrativa irregular que nem sempre distingue o essencial do acessório, oferecendo múltiplas sequências repetitivas e dispensáveis.
O argumento é interessante, mas peca por não explorar a fundo a carga dramática que pontuais momentos são capazes de evidenciar, desaproveitando, de resto, algumas das personagens secundárias, como os dois criminosos ou a escritora Harper Lee, amiga de infância do protagonista.
“Capote” vê-se, assim, reduzido ao estigma de “filme de actor”, alicerçando-se na prestação de Hoffman que, mesmo não retirando o mérito ao eficaz trabalho de realização de Bennett Miller ou aos desempenhos de todo o elenco - Clifton Collins Jr. interpreta um credível Perry Smith, já Catherine Keener está apenas competente, longe do seu melhor – sobrepõe-se a estes e será aquilo pelo qual esta película curiosa, embora não raras vezes gélida e monótona, será lembrada.
O filme apresenta a relação singular que nasce entre o escritor e Perry Smith, um dos dois assassinos responsáveis pelo massacre, focando a empatia natural e desconcertante gerada entre dois underdogs que, embora muito diferentes à superfície, parecem partilhar uma esfera de angústia, isolamento e marginalização.
Em paralelo, “Capote” narra também a forma como o protagonista utilizou essa proximidade para a criação do seu livro (ainda que inicialmente o plano fosse criar apenas um artigo de revista), vertente que obriga o espectador a questionar-se acerca da moral da personagem, originando cenas de uma considerável ambivalência emocional, pouco habituais num biopic oriundo de Hollywood (que raramente colocam em causa a figura em questão).
Philip Seymour Hoffman consegue compor com solidez um retrato do escritor, mesclando vulnerabilidade, arrogância, humor ácido, egocentrismo e subtileza, expondo ainda os trejeitos da fala e dos movimentos corporais associados a Truman Capote sem cair na caricatura.
Infelizmente, o filme não é tão bem sucedido como o desempenho do actor principal, apoiando-se neste em demasia e não sendo tão convincente na maioria das suas restantes componentes. É certo que há aqui material de base para fazer desta uma obra superior, em particular a relação do criador com a arte e a dilaceração emocional que daí poderá advir, contudo “Capote” é prejudicado por uma narrativa irregular que nem sempre distingue o essencial do acessório, oferecendo múltiplas sequências repetitivas e dispensáveis.
O argumento é interessante, mas peca por não explorar a fundo a carga dramática que pontuais momentos são capazes de evidenciar, desaproveitando, de resto, algumas das personagens secundárias, como os dois criminosos ou a escritora Harper Lee, amiga de infância do protagonista.
“Capote” vê-se, assim, reduzido ao estigma de “filme de actor”, alicerçando-se na prestação de Hoffman que, mesmo não retirando o mérito ao eficaz trabalho de realização de Bennett Miller ou aos desempenhos de todo o elenco - Clifton Collins Jr. interpreta um credível Perry Smith, já Catherine Keener está apenas competente, longe do seu melhor – sobrepõe-se a estes e será aquilo pelo qual esta película curiosa, embora não raras vezes gélida e monótona, será lembrada.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
terça-feira, março 21, 2006
MULHERES APAIXONADAS
Em 2002, a primeira longa-metragem (ou segunda, se se contar com o telefilme “Annie”) de Rob Marshall, “Chicago”, foi a grande vencedora da edição dos Óscares, arrecadando seis estatuetas douradas, entre as quais a de Melhor Filme.
Alguns viram na película uma irreverência e energia capazes de dinamizar o renascimento do musical, género que, salvo raras excepções (de que “Moulin Rouge”, de Baz Luhrmann”, até foi um exemplo mais conseguido), já não possui o fulgor de outros tempos, mas “Chicago” não era mais do que um produto razoavelmente confeccionado, com alguns atributos técnicos embora desprovido de intensidade emocional.
“Memórias de uma Gueixa” (Memoirs of a Geisha), o novo filme do realizador, apesar de globalmente superior à sobrevalorizada obra antecessora, evidencia semelhantes qualidades e defeitos, tentando seduzir por um excesso de pompa e circunstância mas voltando a apresentar uma carga dramática gerida de forma desequilibrada.
Adaptação do livro homónimo de Arthur Golden, a película narra o percurso de uma jovem que é preparada desde criança para se tornar numa gueixa, sendo enraizada nas múltiplas práticas que a farão agradar aos homens, contudo ao longo desse processo de aprendizagem a protagonista terá de lidar não só com a reduzida autonomia a que a sua condição feminina a sujeita (a acção decorre no Japão de vésperas da II Guerra Mundial) mas também com as investidas de uma colega rival, que a atormenta na infância, adolescência e idade adulta.
Drama orientado por uma perspectiva feminina, “Memórias de uma Gueixa” é uma história vincada por sacrifícios, traições, desafios e amores aparentemente impossíveis, e se o filme pedia para ser um conto larger than life Rob Marshall nem sempre consegue fazer passar essa vertente, seguindo um registo demasiado formulaico e a espaços mesmo folhetinesco.
Apesar dos consideráveis valores de produção, que lhe concedem alguns dos seus pontos fortes – como o guarda roupa e cenários, que ajudam a uma coesa recriação da época -, da envolvente fotografia de Dion Beebe ou da sólida banda-sonora de John Williams, a película peca por um academismo preguiçoso que imprime poucas surpresas à narrativa e por uma construção de personagens que fica aquém do potencial, onde a complexidade dos conflitos humanos é subexplorada, resultado de figuras maioritariamente bidimensionais.
O trio de actrizes em ascensão constituído por Zhang Ziyi, Gong Li e Michelle Yeoh ajuda a que as três personagens femininas mais relevantes consigam ser mais do que belas e impenetráveis bonecas de porcelana, contudo a espontaneidade das suas prestações nem sempre é suficiente para fazer esquecer o aspecto demasiado fabricado de “Memórias de uma Gueixa”.
Rob Marshall gera um filme interessante de seguir e que nunca se torna cansativo (as quase duas horas e meia de duração não saturam), mas existia aqui substrato para uma obra de maior fôlego, mais misteriosa e absorvente, que mergulhasse a fundo nas singularidades destas intrigantes mulheres.
“Memórias de uma Gueixa”, ainda que marcado por sequências visualmente estimulantes e por um argumento competente, fica-se pela superfície, e mesmo que o balanço acabe por ser positivo isso está longe de se tornar memorável.
Drama orientado por uma perspectiva feminina, “Memórias de uma Gueixa” é uma história vincada por sacrifícios, traições, desafios e amores aparentemente impossíveis, e se o filme pedia para ser um conto larger than life Rob Marshall nem sempre consegue fazer passar essa vertente, seguindo um registo demasiado formulaico e a espaços mesmo folhetinesco.
Apesar dos consideráveis valores de produção, que lhe concedem alguns dos seus pontos fortes – como o guarda roupa e cenários, que ajudam a uma coesa recriação da época -, da envolvente fotografia de Dion Beebe ou da sólida banda-sonora de John Williams, a película peca por um academismo preguiçoso que imprime poucas surpresas à narrativa e por uma construção de personagens que fica aquém do potencial, onde a complexidade dos conflitos humanos é subexplorada, resultado de figuras maioritariamente bidimensionais.
O trio de actrizes em ascensão constituído por Zhang Ziyi, Gong Li e Michelle Yeoh ajuda a que as três personagens femininas mais relevantes consigam ser mais do que belas e impenetráveis bonecas de porcelana, contudo a espontaneidade das suas prestações nem sempre é suficiente para fazer esquecer o aspecto demasiado fabricado de “Memórias de uma Gueixa”.
Rob Marshall gera um filme interessante de seguir e que nunca se torna cansativo (as quase duas horas e meia de duração não saturam), mas existia aqui substrato para uma obra de maior fôlego, mais misteriosa e absorvente, que mergulhasse a fundo nas singularidades destas intrigantes mulheres.
“Memórias de uma Gueixa”, ainda que marcado por sequências visualmente estimulantes e por um argumento competente, fica-se pela superfície, e mesmo que o balanço acabe por ser positivo isso está longe de se tornar memorável.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
segunda-feira, março 20, 2006
UM ANO DE FILMES
Pois é, já passou um ano desde que o Cine7 reuniu uma equipa de amantes do cinema que, semana após semana, destacam muitas das suas obras, percorrendo várias épocas, géneros, realizadores e origens geográficas, num projecto idealizado pelO Emissor, que me convidou a aderir há uns largos meses.
Mesmo sendo suspeito, uma vez que sou da casa, recomendo a passagem, e até ofereço um bilhete de cinema a quem conseguir identificar todos os filmes da imagem acima :P
LET'S TALK
O abecedário da noite, sugerido pelos Soulwax, já passa ali no canto superior direito. A consumir com precaução ;)
domingo, março 19, 2006
THE SHOW MUST GO ON
Embora raramente proporcione obras excepcionais, o britânico Stephen Frears também quase nunca gera filmes desprovidos interesse, possuindo uma filmografia marcada pela versatilidade de géneros e pela considerável competência com que trabalha cada um deles.
“Mrs. Henderson” (Mrs. Henderson Presents), a sua proposta mais recente, é mais uma prova da sua eficácia, baseando-se em factos verídicos para contar uma história ambientada na Londres de finais dos anos 30, em particular na compra de um teatro por parte de uma abastada viúva de meia idade, que o torna num dos centros culturais mais emblemáticos da cidade.
“Mrs. Henderson” (Mrs. Henderson Presents), a sua proposta mais recente, é mais uma prova da sua eficácia, baseando-se em factos verídicos para contar uma história ambientada na Londres de finais dos anos 30, em particular na compra de um teatro por parte de uma abastada viúva de meia idade, que o torna num dos centros culturais mais emblemáticos da cidade.
Misto de musical, drama e comédia, o filme ancora-se na relação que se estabelece entre Laura Henderson, a viúva aristocrata, e o especialista por si contratado para dirigir o recém-adquirido teatro, Vivian Van Damm.
Conjugando empatia e conflito, a parceria profissional da dupla protagonista acaba por resultar e leva a que a partilha de ideias e o empenho mútuo torne o Teatro Windmill num local fervilhante e muito concorrido, fruto dos seus espectáculos musicais inovadores e ousados (e vincados por um polémico recurso a cenas de nudismo).
O rigor dos cenários e do guarda-roupa, de um profissionalismo inatacável, não esconde o apoio da BBC, uma referência na produção de filmes de época, que a par das atmosferas marcadas por traços do realismo britânico (já habitualmente desenvolvidas por Frears) contribui para que “Mrs. Henderson” apresente uma reconstituição credível do período em que decorre.
A consistência da película deve também muito ao elenco, pois tanto os actores principais como os secundários brilham e conquistam. Judi Dench faz da protagonista uma personagem irresistível, com uma deliciosa excentricidade e energia, e Bob Hoskins, embora menos irreverente, encarna um sólido e carismático Mr. Van Damm.
Do leque de secundários, Kelly Reilly volta a insinuar-se como uma das mais talentosas jovens actrizes britânicas (depois de ter dado nas vistas em “A Residência Espanhola”, “As Bonecas Russas” ou “Orgulho e Preconceito”), interpretando a bailarina Maureen de forma hábil e comovente.
Tal como na maioria das suas obras, Frears desenvolve aqui um satisfatório equilíbrio de humor e carga dramática, iniciando “Mrs. Henderson” de forma leve mas inserindo-lhe depois uma progressiva tensão, ou não fosse boa parte da segunda metade do filme assombrada pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial.
Esta combinação nunca soa a falso e o duo protagonista abandona, aos poucos, os traços caricaturais mais imediatos para revelar a sua espessura emocional, nunca deixando, no entanto, de encetar divertidíssimos diálogos que expõem a fricção constante dos seus temperamentos.
Com condimentos destes, a que pode adicionar-se o cativante genérico inicial, bastante apropriado à época em questão, ou o cuidado trabalho de fotografia, não surpreende que “Mrs. Henderson” resulte num entretenimento conseguido e aprazível, que mesmo sem acrescentar muito ao Cinema é um título recomendável e merecedor de atenções.
Conjugando empatia e conflito, a parceria profissional da dupla protagonista acaba por resultar e leva a que a partilha de ideias e o empenho mútuo torne o Teatro Windmill num local fervilhante e muito concorrido, fruto dos seus espectáculos musicais inovadores e ousados (e vincados por um polémico recurso a cenas de nudismo).
O rigor dos cenários e do guarda-roupa, de um profissionalismo inatacável, não esconde o apoio da BBC, uma referência na produção de filmes de época, que a par das atmosferas marcadas por traços do realismo britânico (já habitualmente desenvolvidas por Frears) contribui para que “Mrs. Henderson” apresente uma reconstituição credível do período em que decorre.
A consistência da película deve também muito ao elenco, pois tanto os actores principais como os secundários brilham e conquistam. Judi Dench faz da protagonista uma personagem irresistível, com uma deliciosa excentricidade e energia, e Bob Hoskins, embora menos irreverente, encarna um sólido e carismático Mr. Van Damm.
Do leque de secundários, Kelly Reilly volta a insinuar-se como uma das mais talentosas jovens actrizes britânicas (depois de ter dado nas vistas em “A Residência Espanhola”, “As Bonecas Russas” ou “Orgulho e Preconceito”), interpretando a bailarina Maureen de forma hábil e comovente.
Tal como na maioria das suas obras, Frears desenvolve aqui um satisfatório equilíbrio de humor e carga dramática, iniciando “Mrs. Henderson” de forma leve mas inserindo-lhe depois uma progressiva tensão, ou não fosse boa parte da segunda metade do filme assombrada pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial.
Esta combinação nunca soa a falso e o duo protagonista abandona, aos poucos, os traços caricaturais mais imediatos para revelar a sua espessura emocional, nunca deixando, no entanto, de encetar divertidíssimos diálogos que expõem a fricção constante dos seus temperamentos.
Com condimentos destes, a que pode adicionar-se o cativante genérico inicial, bastante apropriado à época em questão, ou o cuidado trabalho de fotografia, não surpreende que “Mrs. Henderson” resulte num entretenimento conseguido e aprazível, que mesmo sem acrescentar muito ao Cinema é um título recomendável e merecedor de atenções.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
sábado, março 18, 2006
TEREMOS SEMPRE PARIS
Irish pub, pombos, pão com queijo e suminho de laranja, frio e chuva, "follow me, please!", kebabs memoráveis, Tonyyyy!!, Jim Morrison, "ainda temos mais dias...", croissants, mais frio e chuva, Parreirinhas, meia dose de escargots, "Sacrée Coeur!!!", o ataque das aves, sono no Louvre, Queen, almofada-fantasma, guias de cemitério, "everybody needs somebody", filme do escravo, chapéuzinhos brancos, shots, beijos ao Oscar Wilde, perseguição ao Pinóquio, desaparecidos no museu, free water, ainda mais frio e chuva, sopa de queijo, "o nosso amor é verde" ao acordar, Placebo, fertelitée, Sandrine, crepes, 4000 fotografias, ... et voilá...
sexta-feira, março 17, 2006
O JOGO
Embora seja um dos mais respeitados realizadores norte-americanos das últimas décadas, Woody Allen tem gerado, nos tempos mais recentes, uma série de filmes que, apesar de possuírem algumas inegáveis virtudes, não contêm a inspiração de outrora e limitam-se a enveredar por uma segura, mas pouco estimulante, lógica de piloto automático.
Este aspecto levou a que muitos encarassem já o cineasta como alguém que dificilmente voltaria a surpreender, mas eis que surgiu “Match Point” e, de um momento para o outro, Allen voltou a gozar de uma aclamação quase unânime de que já não era alvo há muito.
Felizmente, os múltiplos elogios dirigidos à película revelam-se justíssimos, pois “Match Point” impõe-se de facto, e sem dificuldades, como a melhor obra do realizador em largos anos, sobrepondo-se a títulos medianos como “A Maldição do Escorpião de Jade” ou “Melinda e Melinda”.
Este aspecto levou a que muitos encarassem já o cineasta como alguém que dificilmente voltaria a surpreender, mas eis que surgiu “Match Point” e, de um momento para o outro, Allen voltou a gozar de uma aclamação quase unânime de que já não era alvo há muito.
Felizmente, os múltiplos elogios dirigidos à película revelam-se justíssimos, pois “Match Point” impõe-se de facto, e sem dificuldades, como a melhor obra do realizador em largos anos, sobrepondo-se a títulos medianos como “A Maldição do Escorpião de Jade” ou “Melinda e Melinda”.
A metáfora do ténis conduz este jogo de manipulações, traições e enganos ambientado em domínios da alta sociedade londrina, onde um jovem instrutor de ténis, Chris, estabelece laços de amizade com um dos seus alunos, Tom, oriundo de uma família abastada, e ao fim de algum tempo casa com a irmã deste, Chloe.
No entanto, a rápida ascensão social do protagonista é ameaçada quando este se envolve com a noiva do seu amigo, Nola, forçando-o a escolher entre a prosperidade financeira ou a consumação de um amor obsessivo e descontrolado.
Longe de territórios ligados à comédia, que vincaram grande parte dos últimos filmes de Allen, “Match Point”, apesar de conter ainda fugazes momentos de humor, é um assombroso e denso drama como o cineasta já não fazia há muito, alicerçado em questões como a ambição, os contrastes sociais e culturais, a hipocrisia, a lealdade e, sobretudo, a sorte, que influencia, e muito, o percurso do ambíguo e inquietante protagonista.
Desta vez, a acção decorre não na habitual Manhattan mas em Londres, contudo ninguém diria que Allen nunca tinha filmado a capital inglesa, tendo em conta a familiaridade com que foca os espaços e transmite as atmosferas da cidade, caracterizando-os de forma envolvente e credível.
Elegante e apurada, a realização consegue seguir com espontaneidade as personagens, brilhando tanto nas sequências de grandes planos como quando evidencia a austeridade e imponência da maioria dos espaços, perfeitos para acompanhar uma história que se vai tornando cada vez mais fria, angustiante e desolada, esgravatando recantos obscuros e escondidos da alma humana.
Mordaz e pessimista como raras vezes o foi, Allen proporciona aqui escassos episódios leves que permitam tornar o ar mais respirável perante uma claustrofobia emocional tão carregada.
Se “Match Point” exibe alguns paralelismos com outro filme do realizador, “Crimes e Escapadelas”, está desprovido do tempero burlesco que essa película ainda continha, mergulhando por completo na complexidade psicológica da personagem principal, não evitando uma perspectiva negra, trágica e cruel e esculpindo um prodigioso exercício de suspense.
A inteligência e subtileza da escrita e da realização não produziriam só por si este efeito se o filme não contasse, também, com uma sólida direcção de actores, já esperada nas obras do cineasta e que aqui volta a confirmar-se.
Jonathan-Rhys Meyers consegue gerar as doses de magnetismo e imprevisibilidade que a sua personagem requer, compondo um protagonista carismático; Scarlett Johansson apresenta um dos seus melhores desempenhos na pele da ambivalente e sensual Nola, destilando glamour e vulnerabilidade; e os secundários britânicos emanam um rigor e profissionalismo irrepreensíveis, com destaque para Matthew Goode e Emily Mortimer, no papel dos dois irmãos.
Profundo, absorvente, tenso e milimetricamente delineado, “Match Point” afirma-se não só como o melhor filme de Woody Allen em largos anos, mas também como uma das grandes experiências cinematográficas de 2006, indispensável para qualquer amante da sétima arte. A experienciar sem reservas.
No entanto, a rápida ascensão social do protagonista é ameaçada quando este se envolve com a noiva do seu amigo, Nola, forçando-o a escolher entre a prosperidade financeira ou a consumação de um amor obsessivo e descontrolado.
Longe de territórios ligados à comédia, que vincaram grande parte dos últimos filmes de Allen, “Match Point”, apesar de conter ainda fugazes momentos de humor, é um assombroso e denso drama como o cineasta já não fazia há muito, alicerçado em questões como a ambição, os contrastes sociais e culturais, a hipocrisia, a lealdade e, sobretudo, a sorte, que influencia, e muito, o percurso do ambíguo e inquietante protagonista.
Desta vez, a acção decorre não na habitual Manhattan mas em Londres, contudo ninguém diria que Allen nunca tinha filmado a capital inglesa, tendo em conta a familiaridade com que foca os espaços e transmite as atmosferas da cidade, caracterizando-os de forma envolvente e credível.
Elegante e apurada, a realização consegue seguir com espontaneidade as personagens, brilhando tanto nas sequências de grandes planos como quando evidencia a austeridade e imponência da maioria dos espaços, perfeitos para acompanhar uma história que se vai tornando cada vez mais fria, angustiante e desolada, esgravatando recantos obscuros e escondidos da alma humana.
Mordaz e pessimista como raras vezes o foi, Allen proporciona aqui escassos episódios leves que permitam tornar o ar mais respirável perante uma claustrofobia emocional tão carregada.
Se “Match Point” exibe alguns paralelismos com outro filme do realizador, “Crimes e Escapadelas”, está desprovido do tempero burlesco que essa película ainda continha, mergulhando por completo na complexidade psicológica da personagem principal, não evitando uma perspectiva negra, trágica e cruel e esculpindo um prodigioso exercício de suspense.
A inteligência e subtileza da escrita e da realização não produziriam só por si este efeito se o filme não contasse, também, com uma sólida direcção de actores, já esperada nas obras do cineasta e que aqui volta a confirmar-se.
Jonathan-Rhys Meyers consegue gerar as doses de magnetismo e imprevisibilidade que a sua personagem requer, compondo um protagonista carismático; Scarlett Johansson apresenta um dos seus melhores desempenhos na pele da ambivalente e sensual Nola, destilando glamour e vulnerabilidade; e os secundários britânicos emanam um rigor e profissionalismo irrepreensíveis, com destaque para Matthew Goode e Emily Mortimer, no papel dos dois irmãos.
Profundo, absorvente, tenso e milimetricamente delineado, “Match Point” afirma-se não só como o melhor filme de Woody Allen em largos anos, mas também como uma das grandes experiências cinematográficas de 2006, indispensável para qualquer amante da sétima arte. A experienciar sem reservas.
E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM
quinta-feira, março 16, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "UMA HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA"
Hoje as salas de cinema nacionais recebem um dos filmes alvo de de maior aclamação internacional (e provavelmente nacional) dos últimos tempos, "Uma História de Violência" (A History of Violence), a nova obra de David Cronenberg.
Com um elenco onde constam nomes respeitáveis como Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris ou William Hurt, este drama parte de um duplo homicídio originado por um homem (Mortensen) que mata dois assaltantes em legítima defesa, numa pequena localidade dos EUA, tornando-se num herói local.
Este é o mote daquele que muitos consideram o melhor filme dos últimos anos do emblemático cineasta canadiano, e é uma proposta a conferir a partir desta semana.
Outras estreias:
"A Condessa Russa", de James Ivory
"A Pantera Cor de Rosa", de Shawn Levy
"Cavaleiros dos Céus", de Gérard Pirès
"Identidade Kubrick", de Brian W. Cook
"Tsotsi", de Gavin Hood
Com um elenco onde constam nomes respeitáveis como Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris ou William Hurt, este drama parte de um duplo homicídio originado por um homem (Mortensen) que mata dois assaltantes em legítima defesa, numa pequena localidade dos EUA, tornando-se num herói local.
Este é o mote daquele que muitos consideram o melhor filme dos últimos anos do emblemático cineasta canadiano, e é uma proposta a conferir a partir desta semana.
Outras estreias:
"A Condessa Russa", de James Ivory
"A Pantera Cor de Rosa", de Shawn Levy
"Cavaleiros dos Céus", de Gérard Pirès
"Identidade Kubrick", de Brian W. Cook
"Tsotsi", de Gavin Hood
terça-feira, março 14, 2006
NUNCA BRINQUES COM ESTRANHOS
Um dos filmes mais elogiados do Festival de Sundance de 2005, “Wolf Creek”, a estreia na realização do australiano Greg McLean, é uma interessante proposta que consegue injectar alguma energia ao ultimamente pouco profícuo cinema de terror, não tanto através de novas fórmulas mas reutilizando com eficácia modelos que já se revelaram eficazes noutras obras.
O ponto de partida é algo indistinto, pois o filme segue a viagem de três jovens amigos – um australiano e duas inglesas – que visitam um mítico Parque Nacional na Austrália, Wolf Creek, local onde se situa uma gigantesca cratera gerada pela queda de um meteoro.
O ponto de partida é algo indistinto, pois o filme segue a viagem de três jovens amigos – um australiano e duas inglesas – que visitam um mítico Parque Nacional na Austrália, Wolf Creek, local onde se situa uma gigantesca cratera gerada pela queda de um meteoro.
Aquela que seria aparentemente uma pacata jornada adquire, aos poucos, outros contornos, à medida que os problemas do trio se intensificam. Uma avaria no automóvel ao anoitecer inquieta o grupo, mas quando um excêntrico habitante da zona, Mick, se dispõe a ajudar, essa questão parece estar quase resolvida. Contudo, é a partir desse momento que os três jovens experienciam uma noite aterradora que os marcará inexoravelmente.
Recorrendo a poucos meios, “Wolf Creek” possui, felizmente, imaginação suficiente para compensar as limitações do seu low-budget, distanciando-se de muitos dos subprodutos que apresentam experiências do terror protagonizadas por adolescentes.
Ao contrário da maioria destes, a película de McClean contém personagens verosímeis e palpáveis, que aparentam ser pessoas reais e não estereótipos e cujas relações entre si não se alicerçam em piadas estupidificantes nem numa sobrecarga de libido.
A espontaneidade e convicção dos três jovens actores – Ben Mitchell, Liz Hunter e Kristie Earl -, praticamente desconhecidos, é determinante, embora a estranha presença de John Jarratt na pele do macabro e sinistro vilão seja o desempenho mais memorável, compondo uma figura assustadora e imprevisível, com um sentido de humor cruel e sanguinário.
Apesar de “Wolf Creek” demorar algum tempo a entrar em domínios de gore e terror, desde cedo vai construindo uma intrigante atmosfera onde o perigo se vai insinuando, escondendo-se entre cenários com tanto de inóspito como de impressionante, que a câmara (digital e ao ombro) de McLean regista e modela de forma bastante segura, recorrendo a uma fotografia seca e repleta de contastes cromáticos e a uma montagem capaz de reflectir o medo e a sensação de isolamento sofridos pelos três amigos na sua descida aos infernos.
O tom contemplativo de cerca da primeira metade do filme dá lugar a ambientes caracterizados por um desespero visceral, onde o espectador se arrisca a perder o fôlego, à semelhança dos protagonistas, dada a crueza de algumas sequências, que McLean filma de forma dura e despojada, com uma vertente escorreita que se coaduna com o seu espírito de série-B.
Sufocante e aterrador, “Wolf Creek” é uma muito estimável experiência cinematográfica que, mesmo não explorando novos territórios – “O Projecto Blair Witch” ou “Massacre do Texas”, por exemplo, já fizeram isto antes -, é uma sólida mistura de road e slasher movie e uma proposta apropriada para quem gostar de ter suores frios e sentir os nervos à flor da pele numa sala de cinema. Bela primeira-obra, e um filme de culto instantâneo.
Recorrendo a poucos meios, “Wolf Creek” possui, felizmente, imaginação suficiente para compensar as limitações do seu low-budget, distanciando-se de muitos dos subprodutos que apresentam experiências do terror protagonizadas por adolescentes.
Ao contrário da maioria destes, a película de McClean contém personagens verosímeis e palpáveis, que aparentam ser pessoas reais e não estereótipos e cujas relações entre si não se alicerçam em piadas estupidificantes nem numa sobrecarga de libido.
A espontaneidade e convicção dos três jovens actores – Ben Mitchell, Liz Hunter e Kristie Earl -, praticamente desconhecidos, é determinante, embora a estranha presença de John Jarratt na pele do macabro e sinistro vilão seja o desempenho mais memorável, compondo uma figura assustadora e imprevisível, com um sentido de humor cruel e sanguinário.
Apesar de “Wolf Creek” demorar algum tempo a entrar em domínios de gore e terror, desde cedo vai construindo uma intrigante atmosfera onde o perigo se vai insinuando, escondendo-se entre cenários com tanto de inóspito como de impressionante, que a câmara (digital e ao ombro) de McLean regista e modela de forma bastante segura, recorrendo a uma fotografia seca e repleta de contastes cromáticos e a uma montagem capaz de reflectir o medo e a sensação de isolamento sofridos pelos três amigos na sua descida aos infernos.
O tom contemplativo de cerca da primeira metade do filme dá lugar a ambientes caracterizados por um desespero visceral, onde o espectador se arrisca a perder o fôlego, à semelhança dos protagonistas, dada a crueza de algumas sequências, que McLean filma de forma dura e despojada, com uma vertente escorreita que se coaduna com o seu espírito de série-B.
Sufocante e aterrador, “Wolf Creek” é uma muito estimável experiência cinematográfica que, mesmo não explorando novos territórios – “O Projecto Blair Witch” ou “Massacre do Texas”, por exemplo, já fizeram isto antes -, é uma sólida mistura de road e slasher movie e uma proposta apropriada para quem gostar de ter suores frios e sentir os nervos à flor da pele numa sala de cinema. Bela primeira-obra, e um filme de culto instantâneo.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
BLINKS & LINKS
Obrigado aos responsáveis pelos blogs Blog Blog Blog, Horto e O Sítio da Saudade por me blinkarem :)
segunda-feira, março 13, 2006
EFEITO PLACEBO?
Após uma semana de pousio (que pareceu ter durado um mês, mas isso é assunto para outro post), este blog retoma agora a actividade, e o primeiro destaque vai para o novo álbum dos Placebo, "Meds", que é editado hoje.
Infelizmente, o quinto disco de originais do grupo de Brian Molko não está à altura de nenhum dos anteriores, reforçando a repetição de fórmulas que "Sleeping With Ghosts" já evidenciava. "Because I Want You", o primeiro single, é prova disso, apresentando uns Placebo iguais a si próprios, embora canções como "One of a Kind" ou "In the Cold Light of Morning" exibam alguma frescura e vitalidade.
Infelizmente, o quinto disco de originais do grupo de Brian Molko não está à altura de nenhum dos anteriores, reforçando a repetição de fórmulas que "Sleeping With Ghosts" já evidenciava. "Because I Want You", o primeiro single, é prova disso, apresentando uns Placebo iguais a si próprios, embora canções como "One of a Kind" ou "In the Cold Light of Morning" exibam alguma frescura e vitalidade.
Outro dos bons momentos do álbum é "Song to Say Goodbye", cujo vídeo roda ali no canto superior direito e é dirigido por Michel Gondry, o realizador do brilhante "O Despertar da Mente". A escolha do cineasta prova que a banda sabe requisitar boas companhias - VV, dos The Kills e Michael Stipe, dos R.E.M., participam no disco -, mas isso não é suficiente para disfarçar o sabor a mais do mesmo, que não chega a ser desagradável mas também não é especialmente cativante.
A propósito do lançamento de "Meds", a revista francesa Les Inrockuptibles apresentou a primeira de uma série de edições especiais sobre nomes marcantes do rock e afins, dedicada aos Placebo, que inclui 100 páginas de entrevistas, biografias e críticas. Um excelente documento, altamente recomendado para fãs e curiosos, elaborado por uma publicação que sabe do que fala e que apoiou a banda desde o início.
A propósito do lançamento de "Meds", a revista francesa Les Inrockuptibles apresentou a primeira de uma série de edições especiais sobre nomes marcantes do rock e afins, dedicada aos Placebo, que inclui 100 páginas de entrevistas, biografias e críticas. Um excelente documento, altamente recomendado para fãs e curiosos, elaborado por uma publicação que sabe do que fala e que apoiou a banda desde o início.
sábado, março 04, 2006
AU REVOIR!
Daqui a cerca de hora e meia parto para o aeroporto, e de lá para Paris, onde estarei durante os próximos dias, por isso para além de mim este blog também estará de férias, que acho que ambos merecemos. Até breve, espero :)
sexta-feira, março 03, 2006
QUARTETOS FANTÁSTICOS
Quatro empregos que já tive na vida:
- gestor de conteúdos;
- como estudante, estagiário ou trabalhos não remunerados não contam, é só mesmo o de cima...
Quatro filmes que posso ver vezes sem conta:
- "Trainspotting", de Danny Boyle;
- "Estranhos Prazeres", de Katryn Bigelow;
- "Clube de Combate", de David Fincher;
- "X-Men 2", de Bryan Singer.
Quatro discos que posso ouvir vezes sem conta:
- "Garbage", dos Garbage;
- "Black Market Music", dos Placebo;
- "Give Up", dos Postal Service;
- "Stories From the City, Stories From the Sea", da PJ Harvey.
- gestor de conteúdos;
- como estudante, estagiário ou trabalhos não remunerados não contam, é só mesmo o de cima...
Quatro filmes que posso ver vezes sem conta:
- "Trainspotting", de Danny Boyle;
- "Estranhos Prazeres", de Katryn Bigelow;
- "Clube de Combate", de David Fincher;
- "X-Men 2", de Bryan Singer.
Quatro discos que posso ouvir vezes sem conta:
- "Garbage", dos Garbage;
- "Black Market Music", dos Placebo;
- "Give Up", dos Postal Service;
- "Stories From the City, Stories From the Sea", da PJ Harvey.
Quatro sítios onde vivi:
- Amadora;
- Seixal;
- Sesimbra (mais ou menos...);
- é só...
Quatro séries televisivas que não perco:
- "Sete Palmos de Terra" (que já voltava...);
- "Donas de Casa Desesperadas";
- "Os Simpsons";
- "Family Guy".
Quatro sítios onde estive de férias:
- Londres;
- Roma;
- Barcelona;
- Porto Seguro;
Quatro sítios onde gostaria de estar agora:
- estou bem aqui.
Quatro dos meus pratos preferidos:
- bacalhau com natas;
- feijoada à transmontana;
- bacalhau à braz;
- bifinhos de porco com cogumelos.
Quatro Websites que visito diariamente:
- SAPO;
- Cine7;
- A Minha Vida por uma Patanisca;
- Fórum Sons.
- Amadora;
- Seixal;
- Sesimbra (mais ou menos...);
- é só...
Quatro séries televisivas que não perco:
- "Sete Palmos de Terra" (que já voltava...);
- "Donas de Casa Desesperadas";
- "Os Simpsons";
- "Family Guy".
Quatro sítios onde estive de férias:
- Londres;
- Roma;
- Barcelona;
- Porto Seguro;
Quatro sítios onde gostaria de estar agora:
- estou bem aqui.
Quatro dos meus pratos preferidos:
- bacalhau com natas;
- feijoada à transmontana;
- bacalhau à braz;
- bifinhos de porco com cogumelos.
Quatro Websites que visito diariamente:
- SAPO;
- Cine7;
- A Minha Vida por uma Patanisca;
- Fórum Sons.
quinta-feira, março 02, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "BOA NOITE, E BOA SORTE"
A segunda longa-metragem realizada por George Clooney chega esta semana a salas nacionais e baseia-se num caso real para oferecer uma perspectiva sobre os meandros do jornalismo televisivo dos anos 50, baseando-se nos atritos entre um pivot da CBS, Edward R. Murrow, e o Sendador Joseph McCarthy, colocando em jogo a liberdade de expressão e a manipulação dos media.
Nomeado para seis Óscares, "Boa Noite, e Boa Sorte" (Good Night, and Good Luck) conta com um respeitável elenco - David Strathairn, George Clooney, Robert Downey Jr. ou Patricia Clarkson são alguns dos actores - e revela-se uma das mais sugestivas estreias recentes, a confirmar a partir de hoje.
Outras estreias:
"Coisa Ruim", de Tiago Guedes e Frederico Serra
"Doce Tortura", de Kim Ji-woon
"North Country - Terra Fria", de Niki Caro
Nomeado para seis Óscares, "Boa Noite, e Boa Sorte" (Good Night, and Good Luck) conta com um respeitável elenco - David Strathairn, George Clooney, Robert Downey Jr. ou Patricia Clarkson são alguns dos actores - e revela-se uma das mais sugestivas estreias recentes, a confirmar a partir de hoje.
Outras estreias:
"Coisa Ruim", de Tiago Guedes e Frederico Serra
"Doce Tortura", de Kim Ji-woon
"North Country - Terra Fria", de Niki Caro
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