segunda-feira, outubro 31, 2005

MUNDOS DE AVENTURAS

A julgar pelo trailer e restantes elementos promocionais, “Serenity” poderia parecer, à primeira vista, mais um blockbuster formulaico e indistinto executado por um qualquer tarefeiro de Hollywood e destinado a saciar os interesses de quem se deslocasse às salas de cinema para devorar mais um filme-pipoca.

Contudo, esta proposta cinematográfica é mais peculiar do que um olhar superficial sugere, uma vez que é uma transposição de uma série televisiva, “Firefly”, exibida nos EUA e cancelada ao 11º episódio.
Embora os resultados das audiências não terem sido especialmente marcantes, a série foi alvo de um considerável interesse quando foi editada em DVD, encorajando a continuidade da saga no grande ecrã.

Outro elemento curioso do filme é o facto de ser a estreia na realização de longas-metragens de Joss Whedon, criador não só de “Firefly” mas de outras séries televisivas de culto como “Buffy, a Caçadora de Vampiros” e “Angel”, contando ainda com uma sólida carreira de argumentista para cinema (“Toy Story” ou “Titan A.E.”) e banda-desenhada (em “Astonishing X-Men”, assinalando uma das mais elogiadas fases dos heróis mutantes dos últimos anos).

Para além destes elementos que a tornam algo distinta de películas do género, “Serenity” salienta-se de muita dessa produção ao oferecer uma conseguida mistura de ficção científica, acção e humor, apresentando uma estimulante aventura intergaláctica ambientada em cenários futuristas.
Centrando-se na tripulação da nave Serenity, o filme segue as suas mais recentes atribulações, que envolvem o auxílio a dois fugitivos da Aliança – a entidade que detém o poder -, iniciando assim uma conturbada batalha recheada de múltiplos momentos de tensão.

Apesar de não pisar território novo – as influências de “Star Wars” e “Star Trek”, por exemplo, são evidentes -, “Serenity” possui uma energia contagiante, pois Whedon relega os efeitos pirotécnicos para segundo plano e prefere basear-se sobretudo nas personagens, que trata com um sentido respeito e devoção.
Contudo, o desenvolvimento das personagens, embora seja mais denso do que o que ocorre em muitas obras semelhantes, não chega a ser plenamente conseguido, já que o elenco é demasiado extenso e nem todos têm “tempo de antena” suficiente.
Este factor não será problemático para quem viu a série, mas poderá causar alguns entraves – principalmente nos primeiros minutos - a quem vê o filme sem ter conhecimento prévio do status quo da acção.

Mesmo assim, “Serenity” é ainda um título bastante recomendável, marcando o início de uma nova space opera – estão prometidas novas aventuras – que incorpora a economia narrativa, ousadia e carácter lúdico da série-B e o sentido de grandiosidade e sopro épico que faltou aos mais recentes episódios de “Star Wars”.

O filme exibe, a espaços, sinais do seu orçamento limitado e conta com um elenco irregular – Chiwetel Ejiofor compõe eficazmente um vilão mais ambíguo do que o esperado, porém o resto do elenco raramente ultrapassa a mediania -, mas Whedon compensa essa limitações com uma realização fluida e vibrante, afirmando-se como um óptimo gestor de cenas de acção e cliffhangers (a última meia hora possui um ritmo vertiginoso, enclausurando os protagonistas e testando os seus limites).

“Serenity” pode não ser um grande filme, mas é um soberbo entretenimento e uma óptima entrada de Joss Whedon em domínios da sétima arte. É um blockbuster, sim, mas não ofende a inteligência e é um dos mais inventivos surgidos em 2005, exibindo uma solidez que falta a muitas das obras – das assumidamente comerciais às mais alternativas - que vão estreando nas salas. Uma boa surpresa que merece ser vista no grande ecrã.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

domingo, outubro 30, 2005

SATURDAY NIGHT FEVER

E pronto, como já não havia por aqui posts a la fotolog há algum tempo, cá fica um... Desta vez, centrado na festa de aniversário dos 23 anos do meu irmão, de ontem à noite, que assinalou também o início daquela altura do ano em que temos a mesma idade apesar de não sermos gémeos.

Correu bem, com um bom jantar acompanhado por má música, e embora o cantor se tivesse esforçado o repertório escolhido não ajudava.
Depois saímos da margem sul - eu, o Challenger, a magp e o Mad, entre outros - e, após algumas sugestões e discordâncias, optámos por terminar a noite no Lux, o que acabou por não acontecer quando o porteiro decidiu barrar-nos (ok, estou a ser injusto, afinal ele até nos deixava entrar mediante o pagamento de 180 euros por pessoa... oh well...).
Assim, fomos para o Dock's, e embora eu preferisse os CDs de remisturas dos Depeche Mode que íamos a ouvir no carro ao hip hop e música de dança chatinhos que animaram a pista de dança o ambiente acabou por compensar isso (pena termos sido gentilmente "convidados a sair" logo às 4 da manhã, hora do fecho).
Agora espero que a atmosfera se recrie daqui a uns dias numa nova saturay night fever quando eu entrar nos 24. Já faltou mais...

BLINKS & LINKS

Obrigado ao nuno q. por me blinkar :)

sexta-feira, outubro 28, 2005

MORTE LENTA

Impondo-se como um dos cineastas norte-americanos mais peculiares das últimas décadas, Gus Van Sant tem vindo a consolidar uma obra tão ecléctica quanto desigual.
Reunindo muitas vezes a aclamação da crítica mas raramente gerando fenómenos junto do grande público, o realizador contém na sua filmografia alguns títulos próximos do mainstream (os interessantes “O Bom Rebelde” ou “Disposta a Tudo”, por exemplo) e, sobretudo, outros que se destacam por possuírem uma considerável de ousadia e experimentalismo (casos do marcante “O Cowboy da Droga”, do insípido “Gerry” ou do inventivo “Elephant”), tornando-se difícil antecipar como será o seu próximo projecto.


“Last Days – Últimos Dias”, a sua película mais recente, era uma das mais aguardadas de 2005, tendo sido um dos destaques da última edição do Festival de Cannes, onde obteve uma recepção crítica pouco consensual, oscilando entre a indiferença e a devoção.

O filme debruça-se sobre os últimos dias de Blake, um jovem músico norte-americano que vive numa casa isolada e cujo quotidiano é marcado por passeios inconsequentes e monólogos repetitivos que evidenciam o seu frágil estado psicológico.
“Last Days – Últimos Dias” gerou alguma expectativa por estabelecer paralelismos com as experiências de Kurt Cobain, uma das incontornáveis referências musicais dos anos 90 que, com os Nirvana, ajudou a fazer do grunge um género mediático e determinante.

Embora Van Sant defenda que a película não pretende ser um retrato fiel dos últimos dias do músico de Seattle – considerá-la um biopic está, portanto, fora de questão -, as semelhanças entre o seu protagonista e Cobain são óbvias, factor que a torna numa obra singular.

Finalizando aqui uma trilogia iniciada com “Gerry” e “Elephant”, centrada na morte e na adolescência, “Last Days – Últimos Dias” exibe, para o bem e (principalmente) para o mal, muitos dos traços que o cineasta desenvolveu nesses dois filmes, como uma arriscada vertente minimalista vincada por múltiplos silêncios a par de uma aura enigmática e algo onírica complementada por uma estrutura narrativa que recusa formatos lineares.

Se esta abordagem resultou em “Elephant”, em “Gerry” foi apenas um exercício demasiado vago e insonso, falhanço que se repete agora. A espaços, “Last Days – Últimos Dias” promete ser um vibrante e melancólico olhar sobre a solidão, a dilaceração emocional, a falta de comunicação, a amargura e a alienação, mas a forma como tenta gerar essa perspectiva dificilmente poderia ter sido menos entusiasmante.

Frio, distante e vagaroso, condensando tiques e clichés de um hermetismo arty, o filme é um bocejante ensaio sem objecto, assentando numa personagem principal que recicla cansativos lugares comuns do músico incompreendido, drogado, apático, soturno e algo autista, não despoletando qualquer empatia nem interesse (e se o faz é mais pela analogia que se pode fazer com Cobain do que pela densidade de Blake).

Se o protagonista apenas origina cansaço e fastio (desempenhado por um esforçado Michael Pitt, que nada pode fazer contra a inconsistência da sua personagem), os secundários não são muito melhores, sendo ainda mais descartáveis, exceptuando o pequeno papel de Kim Gordon (dos Sonic Youth), que tenta retirar – sem sucesso - Blake do marasmo e letargia que o envolvem.
Tirando esta, não há nenhuma presença que se destaque, uma vez que todas as outras figuras não passam de esboços decorativos aos quais Van Sant tenta injectar, por vezes, uma ambiguidade forçada, como no caso das cenas homossexuais entre dois amigos.

Tentando chegar à introspecção através de uma penosa e pretensiosa abstracção, “Last Days – Últimos Dias” é um devaneio auto-indulgente e circular que desaproveita as suas potencialidades, fornecendo um retrato sem qualquer contexto e deixando o espectador sem referências (o que até é desafiante mas leva a um resultado infrutífero).

Apesar do argumento esquelético (ou mesmo inexistente), Van Sant proporciona, no entanto, um sóbrio trabalho de realização, voltando aos tons contemplativos e etéreos que já tinham impressionado em “Elephant”, originando uma interessante atmosfera ultra-realista próxima de tons documentais (reforçada pela igualmente conseguida fotografia), que infelizmente não tem substrato dramático e narrativo à altura.

Outro dos escassos elementos interessantes da película é a banda-sonora, da qual sobressai uma (boa) canção composta e interpretada por Michael Pitt que denuncia uma clara descendência dos Nirvana. É pena que, para além dessa conseguida cena, onde a música resgata Blake do entorpecimento que o domina, “Last Days – Últimos Dias” pouco mais consiga proporcionar, desperdiçando uma hora e meia que ficará como uma das maiores desilusões cinematográficas de 2005.

E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL

quarta-feira, outubro 26, 2005

SANGUE NOVO (E NEGRO)

Apresentando um dos promissores álbuns de estreia de 2005, os Editors são um quarteto britânico de Birmingham que, à semelhança de outras bandas recentes, utiliza como matriz da sua sonoridade traços herdados de referências new wave/pós-punk, devendo muito a nomes como os Joy Division ou os Echo & the Bunnymen.

“The Back Room” expõe inequívocas aproximações a esses influentes grupos, embora as canções do disco não sejam por isso datadas ou derivativas, uma vez que os Editors evitam o decalque e geram um conjunto de onze composições suficientemente genuínas e pessoais.

Contendo nebulosas atmosferas marcadas por alguma negritude e amargura, o disco é uma sólida proposta de indie rock intenso e envolvente, que apesar de pontuais tonalidades nostálgicas se aproxima também de domínios semelhantes aos dos Bloc Party e, sobretudo, dos Interpol, com os quais a banda é muitas vezes comparada (analogia que faz sentido, dada a proximidade das vozes e dos ambientes, ainda que os Editors sejam mais do que um sucedâneo dos nova-iorquinos que fizeram “Antics”).

Eficaz em momentos de descarga como o irresistível single “Bullets”, o igualmente frenético e dançável “Blood” ou o muito catchy “Munich” (mais um óbvio e belo single), o quarteto revela-se igualmente coeso em episódios mais apaziguados e lentos, casos de “Fall” ou “Camera” (este um dos melhores temas do álbum, cujos ambientes não andam longe da vertente mais gótica de uns Smashing Pumpkins), originando uma das boas surpresas do ano, capaz de disseminar uma inebriante carga soturna e outonal que, por detrás das brumas, consegue oferecer pontuais estilhaços de esperança e optimismo.

“The Back Room” ainda não é o grande disco que os Editors sugerem ser capazes de criar, mas as suas canções simultaneamente densas e apelativas, que assentam numa escrita e voz com personalidade e entrega, tornam-no num cartão de visita mais do que satisfatório. Um bom começo e um projecto a seguir e ouvir.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

BLINKS & LINKS

Obrigado ao serebelo por me blinkar Em Porto Pim (e boa sorte para esta nova fase) e ao Knoxville por me ter destacado na secção "Blogue da Semana" ;)

terça-feira, outubro 25, 2005

UMA FÁBULA SEM MAGIA

Terry Gilliam é daqueles realizadores a quem não falta uma obra singular e que é, para muitos, objecto de culto e devoção, como os seus trabalhos com os míticos “Monty Python” ou filmes emblemáticos como “Brasil” ou “12 Macacos” podem confirmar. Contudo, apesar de ser uma referência em domínios de cinema surreal, fantasioso e irreverente, Gilliam possui também um igual número de detractores, que colocam mais reservas ao seu estilo único.

“Os Irmãos Grimm” (The Brothers Grimm), a sua nova proposta, evidencia que o seu universo – visual, sobretudo - continua peculiar e envolvente, mas exibe também uma desorganização de ideias semelhante à que debilita muitos dos seus filmes.

Centrando-se nas peripécias dos conhecidos criadores de contos de fadas, a película segue o percurso de Will e Jake Grimm, dois jovens irresponsáveis e aventureiros que simulam a existência de criaturas assombradas, assustando a população de pequenas localidades e recebendo dinheiro para as afugentar.

Este engodo mantém-se até ao dia em que, devido às provas de competência que já deu, a dupla é convocada para descobrir o motivo do desaparecimento de várias jovens de uma aldeia que, ironia das ironias, foram raptadas por misteriosos seres de uma floresta amaldiçoada.

Embora possua um ponto de partida minimamente intrigante, “Os Irmãos Grimm” desilude ao raramente conseguir gerar uma combinação convincente entre a comédia (pouco entusiasmante) e o fantástico, elementos mal geridos que não despoletam a energia que se esperaria.

Com um argumento hesitante e fragmentado, repleto de cenas inconsequentes e monótonas, o filme demora a conquistar, e apenas oferece pontos de inspiração na conseguida recriação de época, no sólido guarda-roupa e na apelativa fotografia. Mas isto é apenas o mínimo que se exige a Terry Gilliam, que já provou ser muito seguro na vertente visual e aqui volta a confirmar essa aptidão, proporcionando absorventes atmosferas góticas com alguma bizarria (ainda que algo encostadas a Tim Burton ou Jean-Pierre Jeunet).

Os actores, infelizmente, não têm grandes personagens para defender, e talvez por isso os seus desempenhos sejam tão estranhamente cabotinos (o que até é capaz de ser intencional), em particular o de Matt Damon, bem menos magnético do que aquilo a que nos habituou.
Heath Ledger está um pouco melhor, compondo a metade mais interessante da dupla e irradiando um curioso deslumbramento que irá determinar os contornos de fábula que esta aventura acabará por adoptar.

Esticando-se desnecessariamente por duas horas, “Os Irmãos Grimm” só se torna encantatório já nas cenas finais, quando os (anti)heróis invadem o castelo da malévola rainha (Mónica Bellucci num papel que não pede mais do que beleza e altivez), momentos em que conseguem suscitar alguma empatia e protagonizar sequências empolgantes, com a carga de magia e ritmo eficaz que faltam a grande parte do filme.

Aí, nesses últimos trinta minutos, percebe-se aquilo que Gilliam é capaz de fazer, mas não é um desenlace esforçado e razoavelmente empolgante que salva uma película mortiça com uma narrativa demasiado episódica e irregular. O resultado é, então, uma irremediável mediania…
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL

segunda-feira, outubro 24, 2005

MÚSICA VIRTUAL

A convite do Samuel Jerónimo, aceitei colaborar na PHONO, webzine que pretende funcionar enquanto "veículo cultural feito por pessoas que gostam de música para pessoas que gostam de música."

Dedicado essencialmente análise de discos e concertos, é um webzine ecléctico q.b., cujo espectro é capaz de englobar nomes tão díspares como Goldfrapp, Queen, Mão Morta, Orquestra Gulbenkian, Miles Davis, Iron Maiden, Sonic Youth ou José Cid (sim, esse!). Estão convidados a aparecer por lá ;)

AMAR-TE-EI DEPOIS DE MATARES

Referência clássica do cinema francês, com um papel determinante para a consolidação da Nova Vaga, Claude Chabrol é um cineasta que, apesar de se encontrar há já várias décadas no activo, é ainda alguém a quem se atribui a capacidade de proporcionar obras conseguidas e estimulantes (embora com alguns passos em falso, como o insípido e enfadonho “No Coração da Mentira”).

“A Dama de Honor” (La Demoiselle D’Honneur) é um desses casos, um filme que assenta em territórios já habituais no percurso do realizador, ou seja, numa envolvente mistura de policial e drama onde um elemento se revela tão central como o outro e são ambos trabalhados a partir das personagens, não as utilizando como meros joguetes mas antes enquanto presenças contraditórias e ambíguas.

Ambiguidade é, de resto, a palavra-chave de “A Dama de Honor”, sobretudo na aura que engloba a relação de Philippe, um jovem responsável, metódico e dedicado à família, e Senta, uma das damas de honor do casamento da irmã que lhe desperta um desejo abrupto e correspondido (e que incorpora múltiplos mistérios, tão intrigantes quanto sedutores).

A ligação entre os dois amantes gera-se de forma intensa e assim continuará, iniciando uma espiral de obsessão, paixão, medo, dúvida e hesitação, pois à medida que Philippe vai conhecendo Senda sente um misto de encanto e repúdio, sensação que se torna cada vez mais inquietante quando a morte – ou, em particular, o homicídio – coloca em causa a possibilidade de consumação do amor.

Para além da sufocante relação entre os dois jovens, Chabrol oferece ainda um olhar sobre o quotidiano das localidades rurais, evidenciando as redes de intriga, boato, mesquinhez e pequenos antagonismos que aí se desenvolvem – elemento recorrente na sua obra -, a par de uma interessante perspectiva acerca dos laços familiares (temática subexplorada, mas determinante para a conduta dos protagonistas).

Mesmo não sendo uma película especialmente inovadora, “A Dama de Honor” é uma sólida proposta cinematográfica, com um seguro trabalho de realização, uma fotografia absorvente (a cargo do português Eduardo Serra) e uma consistente direcção de actores (Laura Smet é uma boa revelação, mas é Benoît Magimel quem mais impressiona, com um excelente desempenho que supera, e muito, a sua promissora interpretação em “A Pianista”, de Michael Haneke).

O filme possui alguns problemas de ritmo, pois a monotonia ameaça instalar-se a espaços, mas Chabrol proporciona quase sempre uma eficaz gestão do suspense, que acompanha de forma convincente a tensa dilaceração emocional do protagonista. Por isso, embora não se junte à lista de títulos indispensáveis, “A Dama de Honor” contém consideráveis qualidades que o tornam num filme a ver.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

BLINKS & LINKS

Obrigado aos responsáveis pelo blog Motel Prusidente por me terem blinkado :)

domingo, outubro 23, 2005

CINEMA BEM DOCUMENTADO

Nos últimos dois dias - 22 e 23 de Outubro -, a terceira edição do doclisboa apresentou as derradeiras obras do cartaz deste ano, finalizando mais uma série de filmes com considerável adesão do público onde apresentou títulos multi-premiados internacionalmente.

Dedicado ao tema “Nacionalismos, Identidades e Fronteiras”, o III Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa decorreu mais uma vez na Culturgest e veio confirmar que o documentário é, decididamente, um género em ascensão.

Ganhando o Grande Prémio da Competição Internacional do doclisboa – ex aequo com “Before the Flood”, dos chineses Yan Yu e Li Yifan -, “Alimentation Générale”, de Chantal Briet, testemunha as situações diárias de uma pequena mercearia localizada em La Source, um bairro social francês habitado por pessoas de múltiplas origens geográficas.

Oscilando entre cenas lacónicas e outras mais espirituosas, “Alimentation Générale” é um interessante olhar sobre o quotidiano dos subúrbios, em particular sobre os elos de ligação que se desenvolvem numa pequena loja, um dos poucos espaços onde quase todos os moradores do bairro acabam por se reunir, conhecer e até conviver, trocando impressões e desabafos sobre as suas vidas.

Chantal Briet gera um documentário escorreito e envolvente, onde a realização simples e despojada – que evidencia meios escassos - se revela apropriada para captar situações espontâneas e prosaicas.

Vencedor do título de Melhor Curta Documental e galardoado também com uma Menção Especial do Prémio da Competição Nacional e das Primeiras Obras, “Samagon”, de Eugen Schlegel e Sebastian Heinzel, situa-se numa pequena aldeia da Bielorússia e segue o quotidiano de Babushka Vera, uma idosa que divide o seu tempo entre os cuidados com os seus animais, as conversas com outras mulheres da localidade – muitas delas também solitárias – e a produção de vodka.

Contudo, antes desde pacato dia-a-dia Vera viveu alguns conturbados momentos quando a sua aldeia foi atacada, desempenhando, aparentemente, um papel importante na resolução da invasão.

“Samagon” é um projecto modesto que cumpre razoavelmente as suas aspirações, funcionando enquanto um exercício sobre a nostalgia, a velhice, a insegurança e o isolamento, pitoresco e simpático q.b. e com uma realização segura mas longe de singular.

“The Three Rooms of Melancholia”, da finlandesa Pirjo Honkasalo – que esteve presente na sessão -, exibido dia 22, apresenta três olhares sobre cenários da guerra da Tchechénia, debruçando-se sobre jovens da Academia Militar de Kronstadt, uma mulher que auxilia crianças vítimas da guerra e as crianças de um grupo de refugiados da Ingúchia.

Eficaz na captação de atmosferas intimistas e melancólicas – fazendo jus ao título –, expondo um sólido trabalho de realização, uma fotografia envolvente e uma banda-sonora que, apesar de recorrente, não se torna intrusiva e consegue complementar os ambientes de amargura e desolação, o documentário peca, no entanto, por ser excessivamente contemplativo e redundante, desaproveitando o seu potencial ao não aprofundar mais o contacto com as crianças.

É certo que há momentos marcantes, sobretudo aqueles onde a câmara colide com o olhar expressivo e revelador dos jovens, mas Honkasalo deixa o filme cair na monotonia e o resultado acaba por ser apenas mediano.

sábado, outubro 22, 2005

MY DOCS

Depois de uma muito bem sucedida segunda edição, marcada por uma forte adesão do público, o doclisboa voltou este ano à Culturgest para apresentar mais documentários inéditos que se têm destacado nacional e internacionalmente, tendo começado no passado dia 15 e prolongando-se até amanhã.

“Competição Internacional”, “Para Onde Vai o Documentário Português?”, “Investigações”, “Histórias da Europa: Nacionalismos, Identidades e Fronteiras”, “Documentário Russo Pós-Soviético”, “Retrospectiva Ross McElwee” e “Sessões Especiais” constituem o núcleo deste ano, propondo obras temática e geograficamente abrangentes e alargando o espectro da oferta, comprovando a versatilidade do género documental.

No passado dia 20 foram exibidos dois dos títulos que concorrem a nível nacional, “Falta-me”, curta-metragem de Cláudia Varejão; e “Bubbles – 40 Anos à Procura de Sabe-se Lá o Quê”, média-metragem de Helena Lopes e Paulo Nuno Lopes. A 21 seguiram-se a curta “A Conversa dos Outros”, de Constantino Martins e Nuno Lisboa; e “Gosto de Ti Como És”, de Sílvia Firmino.

"Falta-me" dedica os seus 20 minutos de duração a cerca de uma centena de habitantes da grande Lisboa que escrevam numa ardósia o principal elemento que falta nas suas vidas, algo que os impeça de se sentirem plenamente realizados ou apenas um pouco mais satisfeitos consigo próprios.

Entre figuras públicas (para todos os gostos) e participantes anónimos, “Falta-me” foca pessoas de diversas faixas etárias, profissionais, culturais e sociais, que de alguma forma espelham a multiplicidade urbana dos dias de hoje.

A ideia é interessante e tanto origina momentos algo cómicos como outros mais melancólicos, mas ao fim de poucos minutos acaba por se esgotar e girar em torno de si mesma, trazendo alguma previsibilidade à película através da repetição de uma mesma situação.

Contudo, Cláudia Varejão compensa essa limitação com um muito seguro trabalho enquanto realizadora, escolhendo enquadramentos imaginativos e sabendo como adaptar a câmara aos vários contextos em que se centra. A boa fotografia ajuda a reforçar a considerável qualidade visual e a banda-sonora é também bem utilizada, aguçando o apetite para próximos projectos de Varejão por detrás das câmaras. "Falta-me" foi alardoado com uma Menção Especial do Prémio Competição Nacional e Primeiras Obras na terceira edição do doclisboa.

“Bubbles – 40 Anos à Procura de Sabe-se Lá o Quê” segue as viagens do casal de realizadores pelo mundo e as suas reflexões acerca da felicidade e criatividade. Percorrendo geografias díspares, entre Portugal, os Estados Unidos, o Nepal, a Índia ou paisagens africanas, a dupla revisita experiências marcantes nas suas vidas marcadas por uma dificuldade em definir que elementos conduzem à realização pessoal.

Simultaneamente séria e divertida, a película proporciona um interessante cut n’ paste de memórias e situações onde a perspectiva consideravelmente pessoal dos realizadores evita cair na auto-indulgência e consegue originar um olhar fresco sobre temas relevantes.

Seguindo uma evidente lógica do-it-yourself, o filme exibe óbvias limitações de meios, recorrendo a uma realização pouco inventiva e a um excessivo uso da voz off (onde a imagem é muitas vezes apenas ilustrativa da palavra), mas esse amadorismo formal não impede que haja por aqui momentos conseguidos, sobretudo aqueles com os jovens estudantes offbeat da Universidade de Yale, que emanam um genuíno e a espaços comovente idealismo.

“A Conversa dos Outros”, de Constantino Martins e Nuno Lisboa regista conversas telefónicas feitas por imigrantes brasileiros numa cabine na Ericeira.

Comunicando com os seus amigos e familiares do outro lado do Atlântico, as pessoas focadas pela câmara encetam conversas com tanto de verosímil como de banal, tornando esta curta-metragem num filme repetitivo e inconsequente, sem nada de especialmente inspirado ou cativante. O resultado são vinte e dois minutos francamente entediantes que revelam um projecto falhado.

Encerrando a competição nacional do festival, “Gosto de Ti Como És”, de Sílvia Firmino, dedica uma hora a alguns habitantes do bairro da Bica e à sua preparação da emblemática marcha popular.

Behind the scenes com cenas do quotidiano de uma comunidade que tanto envolvem ensaios, episódios de família, festividades ou discussões, o filme conquista ao demonstrar que tem gente lá dentro, proporcionando momentos divertidos em paralelo com cenas de alguma tensão e inquietação.

Grande parte do carisma de “Gosto de Ti Como És” provém dos habitantes castiços que irradiam uma visível espontaneidade, adequadamente captados pela discreta, quase invisível, câmara de Firmino, factor que se sobrepõe ao escasso fulgor técnico da película, uma vez que esta é cinematograficamente pobre. Felizmente, no cinema não conta só a técnica...

quinta-feira, outubro 20, 2005

UM PERCURSO COM CURVAS NEGRAS

Uma das bandas mais injustamente esquecidas dos anos 90, os britânicos Curve anunciaram a sua dissolução em 2005, ditando assim o fim o ponto final de uma discografia influente e sempre interessante.

Criadores de sonoridades eclécticas que conciliavam indie rock, shoegazer, gótico, dream pop, industrial e trip-hop, o duo constituído por Dean Garcia (instrumentista) e Toni Halliday (vocalista) foi um dos percursores na fusão da abrasividade das guitarras e de hipnóticas texturas electrónicas, experiências efectuadas em quatro álbuns e outros quatro EPs entre 1990 e 2001.

Recolhendo os melhores condimentos de domínios dos Eurythmics (com quem Dean Garcia colaborou), Cocteau Twins, Siouxsie and the Banshees ou The Cure, os Curve surpreenderam pela inebriante carga atmosférica das suas composições, conseguindo equilibrar visceralidade e elegância que se aliavam naturalmente à sedutora, ambivalente, viciante e peculiar voz de Toni Halliday, decididamente uma das maiores divas indie de sempre.

Situando-se numa esfera próxima dos Lush, Cranes ou My Bloody Valentine (com os quais partilhavam a wall of sound, ou seja, efervescentes camadas sonoras geradas por guitarras que quase sugeriam blocos de som), a dupla gerou registos marcantes como o já histórico álbum de estreia, “Doppelganger”, de 1992, ou os quatro EPs que o antecederam, implementando uma sonoridade própria que teve um seguimento seguro nos trabalhos seguintes.

Abrindo caminho para territórios que seriam trilhados por nomes das electrónicas negras como os Garbage (a comparação é inevitável), Sneaker Pimps, Lamb, Whale, 12 Rounds ou mesmo os Ladytron (confira-se em “The Witching Hour”), os ambientes complexos e encantatórios das composições dos Curve proporcionam estranhas melodias nem sempre imediatamente acessíveis mas com uma intrigante aura de claustrofobia e tensão, que “The Way of Curve” documenta eficazmente.

“The Way of Curve”, CD duplo editado em 2004, recupera alguns dos momentos mais marcantes da banda, apresentando singles e outros temas dos álbuns no primeiro disco e oferecendo lados-B e raridades no segundo.

O primeiro disco da compilação inclui episódios determinantes como “Ten Little Girls” (soberba combinação de rock electrónico com spoken word), “Die Like a Dog” (um portento de intensidade, com uma muito conseguida gestão de atmosferas), “Horror Head” (com alguns dos mais envolventes suspiros de Halliday, uma das melhores canções da banda) ou “Fait Accompli” (um dos temas mais emblemáticos de “Doppelganger”), da fase inicial da dupla.

Infelizmente, o alinhamento privilegia mais os dois últimos discos da banda, interessantes, mas não tão refrescantes quanto os antecessores. Lamenta-se especialmente a ausência de mais canções de “Cuckoo” (como “Crystal” ou “Unreadable Communication”). Ainda assim, temas como “Chinese Burn” (Prodigy meets Nine Inch Nails meets Chemical Brothers) ou “Perish” (uma balada fantasmagórica) atestam a qualidade da selecção.

O segundo disco de “The Way of Curve” é um concentrado de temas perdidos, sendo um pouco mais desequilibrado do que o primeiro, uma vez que contém algumas faixas dispensáveis como as remisturas dos Lunatic Calm a “Chinese Burn” (com um big beat datado e cansativo), de Kevin Chields a “Coming Up Roses” (que não compromete o original, mas também não lhe alarga o espectro) ou a versão dos próprios Curve de “I Feel Love”, de Donna Summer (apenas curiosa).

Apesar desses temas menos inspirados, há bons momentos como “Triumph” (lento, soturno e vibrante), “Sinner” (com belíssimos traços etéreos), “Low and Behold” (dominado por cenários inóspitos e cortantes), a remistura de Aphex Twin para “Falling Free” (que não sendo brilhante é um conseguido exercício ambient) ou “What a Waste”, de e com Ian Dury (agreste e sinistro q.b.), que acabam por compensar ocasionais deslizes.

“The Way of Curve” não é uma retrospectiva perfeita do percurso de Dean Garcia e Toni Halliday, mas as mais de 30 canções que reúne são suficientes para confirmar que os Curve são uma presença essencial em qualquer colecção de discos que pretenda englobar o melhor dos anos 90. Um nome a (re)descobrir, pois o seu fascínio permanece intacto e a discografia merece audição (e, já agora, reedição) atenta.
E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

quarta-feira, outubro 19, 2005

A LEI DO DESEJO

Cineasta polémico devido ao seu olhar frequentemente incisivo, directo e por vezes áspero das sociedades urbanas contemporâneas (particularmente as norte-americanas), Spike Lee tem sedimentado, ao longo dos últimos anos, uma filmografia que, mesmo não sendo consensual, exibe personalidade, carisma e relevância, com obras que tem sempre algo a dizer.

“Ela Odeia-me” (She Hate Me), o novo joint, é mais um concentrado de múltiplas bases para discussão acerca de temáticas já habituais no percurso do realizador, abordando, entre outras, a cultura empresarial, a sexualidade, os novos tipos de família, a xenofobia ou as desigualdades sociais, elementos que nem sempre são suficientemente desenvolvidos e que se interconectam de forma desregrada num filme com tanto de desafiante como de irregular.

O mote da película evidencia logo que este é um projecto arriscado e de difícil catalogação, centrando-se em John Henry, um jovem executivo de uma empresa forte que, ao tomar conhecimento de alguns actos ilegais que envolvem a mesma, decide denunciá-la, acabando não só por ser despedido mas por ser acusado de encetar essas práticas pouco lícitas.
Partindo desta situação, “Ela Odeia-me” colocará depois o seu protagonista a participar em negócios duvidosos, recebendo avultadas quantias para engravidar a sua ex-namorada, a companheira desta, e muitas outras lésbicas que lhe pagam para serem mães sem recorrerem à inseminação artificial.
Estas experiências trarão novos problemas a John, que entretanto se relacionará também com elementos da Máfia e terá de enfrentar os habituais dilemas da sua família, com quem mantém uma relação algo distante.

Lee conta aqui com um argumento singular e até mesmo inventivo, mas também desequilibrado, uma vez que a mescla de denúncia dos podres das grandes corporações, comédia burlesca, drama familiar, thriller político e filme de tribunal gera um resultado que tanto oferece momentos de antologia (quando foca as dificuldades dos relacionamentos e a aceitação – ou rejeição – das orientações sexuais) como cenas embaraçosas devido à gritante falta de subtileza (o desenlace banal e demagógico no julgamento, com uma forçada ligação ao caso Watergate).

A alternância entre a irreverência e a suposta seriedade não é muito conseguida, mas tal não implica que “Ela Odeia-me” seja um filme falhado, longe disso. Lee volta a apresentar um absorvente trabalho de realização, sendo capaz de criar as múltiplas atmosferas que o argumento exige, recorrendo a um brilhante trabalho de fotografia e a uma montagem fluida e dinâmica.

O elenco é, como se esperaria, igualmente sólido, confirmando que Anthony Mackie, depois de participações em títulos como “8 Mile” ou “Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos”, é capaz de carregar um filme às costas (e se ele não estivesse à altura “Ela Odeia-me” não se aguentaria), compondo um protagonista apropriadamente ambíguo e carismático. Woody Harrelson, John Turturro, Monica Bellucci ou Kerry Washington, entre outros, asseguram também um consistente núcleo de secundários.

Mesmo não estando ao nível de algumas das últimas obras do realizador - como o habitualmente referido “A Última Hora” ou o mais esquecido, mas não menos interessante “Verão Escaldante” -, “Ela Odeia-me” ainda é um filme que se situa bem acima da média, e apesar de nem sempre acertar no alvo tem o mérito de tentar inovar, evitando lógicas formatadas e previsíveis.
Só é pena que não seja a obra-prima que alguns dos seus momentos sugerem, mas não deixa de constar entre as recomendáveis experiências cinematográficas de 2005.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

segunda-feira, outubro 17, 2005

VIRGEM (QUASE) SANTÍSSIMO

Primeira longa-metragem de Judd Apatow – criador da série de culto “Freaks and Geeks” -, “Virgem aos 40 Anos” (The 40-Year-Old Virgin) é mais um filme norte-americano que, à semelhança do recente “Os Fura-Casamentos”, combina traços de comédia romântica com um tipo de humor algo escatológico e de gosto duvidoso.

Andy é um pacato homem de 40 anos que vive e trabalha nos subúrbios, mantendo um dia-a-dia marcado por uma rotina entre a casa e o trabalho, raramente alterando a rotina e possuindo uma escassa vida social. Contudo, o seu quotidiano altera-se significativamente quando os seus colegas descobrem que ainda é virgem e logo passam a criar múltiplos planos para que Andy coloque um fim a esse estado.

Com este ponto de partida, “Virgem aos 40 Anos” não se distingue muito de inúmeras comédias descartáveis que surgiram nos últimos anos, tendo “American Pie – A Primeira Vez”, de Paul Weitz, como fonte inspiradora e apostando em situações pouco criativas, repetindo clichés com cenas de um humor grosseiro, forçado e óbvio.

No entanto, Apatow comprovou já em trabalhos anteriores para a televisão que conseguia gerar boas cenas cómicas com frescura e espontaneidade q.b., evitando caminhos mais fáceis e já esgotados. Em “Virgem aos 40 Anos” o realizador continua a manter essa eficácia, mas por vezes cede também à banalidade, tornando-se cansativo e redundante (como na desbragada, e demasiado longa, sequência da depilação).

O filme não inventa nada, mas é um aceitável divertimento que assenta num elenco competente – Steve Carell é um protagonista com quem é fácil sentir empatia e Catherine Keener cumpre no papel de interesse romântico – e numa construção de personagens um pouco mais aprofundada do que na maioria dos filmes do género (embora haja ainda secundários subaproveitados).

A película contorna ainda certos lugares comuns ao incluir, por detrás dos muitos gags e episódios esgrouviados, um curioso olhar sobre o crescimento e a maturidade, debruçando-se sobre os dilemas e contradições de um grupo de cativantes losers descoordenados.

Contando com uma segura gestão do ritmo, raramente caindo na monotonia, “Virgem aos 40 Anos” oferece uma quantidade apreciável de cenas hilariantes e um argumento que, apesar de formulaico, é suficientemente apelativo.
Infelizmente, Apatow não é tão bem sucedido no trabalho de realização, uma vez que a cinematografia não possui quaisquer elementos de singularidade ou ousadia, optando por uma lógica linear e convencional que não esconde as origens televisivas do realizador.

De qualquer forma, apesar das suas limitações “Virgem aos 40 Anos” resulta enquanto entretenimento simpático - a espaços contagiante, noutros algo tosco -, tornando-se numa proposta recomendável para quem procure um filme leve e despretensioso. Já não é mau…

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

domingo, outubro 16, 2005

AS NOITES DA RÁDIO

Depois dos promissores "604" e "Light & Magic", os britânicos Ladytron convencem como nunca ao terceiro álbum, "The Witching Hour", editado há poucos dias e que se destaca já como um dos mais inspirados de 2005 (crítica para breve).

Mas um destaque mais alargado à banda ficará para outra altura, já que este post pretende destacar um dos poucos programas de rádio que fazem com que valha a pena adiar ou interromper a audição de CDs: "Discos Voadores", criado por Nuno Galopim.
Emitido na Radar (97.8 FM) aos sábados (18h-20h) e repetindo aos domingos (22h-24h), oferece duas horas de atento protagonismo a alguma da música mais recomendável, destacando não só discos recentes mas também álbuns que marcaram o passado, e contando quase sempre com interessantes convidados que partilham os seus gostos. E sim, passa Ladytron :)

COLISÃO

Através de filmes como “Comment je me suis disputé… (ma vie sexuelle)” ou “Esther Kahn”, Arnaud Desplechin tem consolidado um elogiado percurso, impondo-se como um dos interessantes nomes do novo cinema francês.
“Reis e Rainha (Rois et Reine), o seu título mais recente, confirma-o enquanto autor meritório, pois embora sendo uma película desequilibrada contém atributos suficientes que a tornam numa obra a ter em conta.

Apresentando duas histórias em paralelo, o filme segue Nora, cuja rotina de trabalho passada numa galeria de arte será interrompida pelo estado de saúde cada vez mais débil do seu pai, doente em fase terminal; e Ismael, que devido a um estilo de vida desregrado é internado, a pedido de terceiros, num hospital psiquiátrico.
Partindo destas duas situações, aparentemente desconexas, “Reis e Rainha” tece uma complexa teia de eventos, personagens e memórias, cujas esferas se relacionam, de forma mais ou menos demarcada, com a morte, a insanidade, a dissolução familiar, o amor ou a solidão.

Desplechin proporciona aqui uma atípica experiência cinematográfica, um excessivo puzzle onde a comédia e o drama se entrelaçam mas cuja fusão nem sempre é bem conseguida, pois a lógica espartana de “Reis e Rainha” tanto proporciona estimáveis cenas de antologia como sequências de relevância duvidosa.

O que permanece sempre seguro no filme são as competentíssimas interpretações dos actores, em especial as dos dois protagonistas: Emmanuelle Devos e Mathieu Amalric, a primeira seduzindo pelo estranho misto de vulnerabilidade e obstinação e o segundo pela irresistível irreverência que emana constantemente (percebe-se porque foi premiado com o César de Melhor Actor em 2004).

Intercalando realismo com ocasionais episódios oníricos, Desplechin gera um intenso olhar sobre peripécias do quotidiano urbano, salientando a falta de comunicação e a efemeridade das relações e atirando as suas personagens para uma espiral de dúvidas, imprevistos e inquietações.

Muitas vezes cruel, dilacerando os protagonistas através de um considerável humor negro, noutros casos emotivo e cativante, com momentos de um forte impacto emocional (como no comovente epílogo) “Reis e Rainha” é um filme esquizofrénico e imprevisível, o que é simultaneamente uma vantagem e uma limitação.

Tragicomédia com personagens à beira do limite, cortadas por uma crescente dilaceração emocional onde as situações parecem piorar a cada instante, a película descoordena o espectador, obrigando-o a reconsiderar certas características dos protagonistas e dos secundários devido à intersecção temporal (os flashbacks abundam) e narrativa (com duas histórias que, aos poucos, revelam ligações).

Os resultados nem sempre estão à altura da ousadia do filme (sobretudo algumas cenas de humor, condimentadas por um burlesco e nonsense desequilibrados), mas Desplechin consegue fazer com que as duas horas e meia de filme não se tornem cansativas, mesmo com alguma palha narrativa que poderia ter sido cortada.

Ambivalente e desigual, “Reis e Rainha” não é um filme fácil e contém contrastes abruptos que não o tornarão numa obra para todos os gostos, mas é também um vibrante e a espaços muito inventivo estudo de personagens que não tem medo de mergulhar, para o bem e para o mal, no âmago destas. Nem todos os filmes se podem orgulhar disso…
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

sábado, outubro 15, 2005

OLHÓ VÍDEO

Conhecido por títulos formal e tematicamente desafiantes e frequentemente polémicos – como “Brincadeiras Perigosas”, “A Pianista” ou “O Tempo do Lobo” -, o austríaco Michael Haneke é um cineasta cuja filmografia tem alimentado os mais acesos ódios e paixões, reflectindo o extremismo das suas obras.

“Caché”, o seu filme mais recente, apresentado na 6ª Festa do Cinema Francês, é mais uma fonte de reflexão sobre questões que já se tornaram indissociáveis das suas películas, como a violência, a tensão do quotidiano, os desajustes sociais ou o poder da imagem, exibindo novamente uma realização segura, austera e clínica, gerando ambientes frios e inóspitos.

Georges, um jornalista literário, começa subitamente a receber cassetes de vídeo com imagens filmadas na sua rua, muitas delas registando cenas suas ou da sua família. Ao verificar que estes vídeos começam a ser enviados de forma regular – sendo por vezes substituídos por desenhos igualmente inquietantes -, Georges e a sua esposa tentam pedir auxílio à polícia, mas uma vez que não ocorreram quaisquer actos de violência a intervenção desta é nula.

Aos poucos, o protagonista vai conjecturando acerca de eventuais autores dessas provocações, levando-o a recordar, em especial, acontecimentos que marcaram a sua infância e que estavam já quase esquecidos, mas ao tentar enfrentar esses fantasmas do passado vê ameaçada a sua vida conjugal, familiar e social.

Apostando numa mistura de thriller psicológico e drama familiar, “Caché” é mais uma viagem por domínios desconfortáveis, marcados pela vingança e solidão, mas desta vez Haneke é mais comedido em episódios de violência física, distanciando-se das sequências cruas e viscerais que contaminavam títulos como “Brincadeiras Perigosas” ou “A Pianista”.

Durante algum tempo, “Caché” dissemina um interessante olhar sobre a claustrofobia e inquietação de atmosferas urbanas contemporâneas, mas a certa altura o argumento estagna, as personagens recusam-se a passar da superficialidade (apesar de interpretadas por actores do nível de Daniel Auteuil ou Juliette Binoche) e o filme entra num monótono piloto automático, com cenas demasiado longas que nunca chegam a resolver um mistério que se arrasta durante quase duas horas.

Assim, o resultado final é insípido e fastidioso, sobretudo quando Haneke tenta abordar questões político-sociais que envolvem a França actual, como as tensões com a Argélia, momentos que apenas contribuem para que o filme se torne mais indeciso e abstracto (à semelhança do que aconteceu com o inconsequente “Código Desconhecido”).

É pena, sobretudo porque o cineasta oferece alguns impressionantes episódios inspirados, como a sequência inicial, mais um dos seus conseguidos jogos com a ambiguidade da imagem, ou pontuais concentrados de suspense. Mas é pouco, muito pouco, para alguém que já provou ser capaz de gerar filmes memoráveis.

E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL

sexta-feira, outubro 14, 2005

MELODIAS DEMASIADO FM

Quando, em 2001, a dupla norueguesa Röyksopp editou o seu primeiro álbum, “Melody A.M.”, não faltou quem os aclamasse como uma das grandes descobertas do ano, elevando esse registo de estreia a um estatuto de quase obra-prima, exageros que já não são estranhos à história da pop.

Apesar de algumas boas canções, como o apelativo single “Eple” ou o envolvente So Easy”, o disco não trazia grandes cargas de novidade, embora apresentasse um promissor mergulho em ambientes electrónicos suficientemente versáteis e sofisticados, algures entre os Air, os Groove Armada, os Gus Gus e os Daft Punk.

Quatro anos depois, “The Understanding” altera consideravelmente os azimutes sonoros da dupla mas, mesmo assim, volta a não convencer por completo, sendo ainda mais irregular do que o seu antecessor.

Aproximando-se de um misto de eurodance/R&B e não tanto das texturas downtempo que criaram no disco anterior, os Röyksopp oferecem aqui um conjunto de canções nem sempre entusiasmantes, pois o experimentalismo moderado e os episódios de pop plastificada não se conjugam, tornando “The Understanding” num álbum indeciso e desigual, mas ainda assim interessante.

Demasiado heterogéneo, o disco assemelha-se mais a uma compilação de vários artistas do que propriamente a um trabalho de um só projecto, o que não seria necessariamente negativo se o nível qualitativo fosse sempre satisfatório.
Contudo, “The Understanding” tanto contém aliciantes momentos soturnos como “Sombre Detune” como canções formatadas, impessoais e pouco criativas, das quais o segundo single “49 Percent” é bem representativo.

Torbjørn Brundtland e Svein Berge não geram aqui um mau disco – assim como também não criaram um excelente com “Melody A.M.” -, mas ora repetem o que já fizeram (“Follow My Ruin” e “Beautiful Day Without You” são derivados pouco cativantes de “Poor Leno”), ora se baseiam em traços de outros nomes (“Triumphant” e “Tristesse Globale” quase poderiam ser composições de Yann Tiersen, “Someone Like Me” encosta-se aos Air), e só pontualmente surpreendem (“What Else is There” e até mesmo o single “Only This Moment” sobrepõem-se à mediania da maior parte dos restantes temas).

Não sendo desagradável, o regresso dos Röyksopp também não tem elementos que justifiquem elevar o duo acima do patamar da mera competência (pontuada por alguma inventividade a espaços), que lhes permite proporcionar um álbum aceitável mas longe de constar entre o que de melhor se fez em 2005.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

NÃO É SÓ GARGANTA...

Emblemático e influente, marcante não só dentro do seu género mas na história do cinema, “Garganta Funda” (Deep Throat), de Gerard Damiano, destacou-se no início dos anos 70 ao apresentar uma ideia de “argumento” atípica – centra-se numa mulher cujo clitóris se localiza na garganta -, tornando-se num inesperado fenómeno de culto, gerando acérrimos defensores e detractores e invadindo depois domínios mainstream, feito único para um filme pornográfico, especialmente tendo em conta a época em que foi gerado.

Disseminando-se pelos EUA, sendo exibido em salas de cinema convencionais (com um fortíssimo sucesso de bilheteira) e, posteriormente (quando a sua exibição foi proibida), propagando-se através de métodos mais marginais, “Garganta Funda” é assim o filme mais lucrativo de sempre, pois facturou mais de 600 mil dólares e a sua produção custou apenas 25 mil.

Mais de 30 anos depois, as repercussões desta obra peculiar ainda se fazem sentir, factor que motivou Fenton Bailey e Randy Barbato a analisarem os detalhes da sua criação e o impacto que originou.

No documentário “Dentro de Garganta Funda” (Inside Deep Throat), a dupla de realizadores evidencia que a aura que envolve o filme de proporciona múltiplos focos de interesse, interligando-se com diversas entidades e funcionando como um ponto de partida para uma reflexão acerca de algumas alterações sociais dos últimos anos, em particular a revolução sexual, o papel da mulher, o crescente culto das celebridades ou a hegemonia dos media.

Assim, por detrás das polémicas cenas de sexo oral praticadas por Linda Lovelace, “Garganta Funda” contém uma história conturbada, marcada por uma produção ligada à máfia (embora não se saiba exactamente até que ponto), motivações ideológicas revolucionárias (o realizador Gerard Damiano considerava-se um cineasta, agindo nas margens do sistema e trazendo sangue novo à sétima arte) e processos judiciais (os elementos da equipa, sobretudo o actor Harry Reems, quase foram condenados a penas de prisão devido à colaboração na película), devidamente exploradas no documentário de Bailey e Barbato.

“Dentro de Garganta Funda” sabe conjugar uma lógica de entretenimento com um cuidado carácter informativo, doseando eficazmente momentos lúdicos e sérios, cruzando opiniões e testemunhos não só de elementos da equipa que criou o filme mas também de nomes tão diferentes como o escritor Gore Vidal, os realizadores Wes Craven e John Waters ou a investigadora Linda Williams, entre outros (destaque também para o actor Dennis Hopper, responsável pela narração em off).

O documentário segue vários caminhos e nem sempre consegue explorá-los todos, mas o resultado final é suficientemente sólido, com assuntos bem trabalhados, montagem dinâmica e apelativa, banda-sonora adequada, ritmo escorreito e uma conseguida interligação de um saudável sentido de humor e de uma intrigante melancolia (desencadeada por fases nefastas que viriam a assombrar o rumo de um filmezinho imberbe e ingénuo).

“Dentro de Garganta Funda” pode não ser tão “revolucionário” como a película que o originou, mas é uma recomendável adição ao universo (cada vez mais alargado e mediático) do cinema documental.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

quinta-feira, outubro 13, 2005

DIAS DE FESTA

A 6ª edição da Festa do Cinema Francês já começou e decorrerá em Lisboa, Porto, Coimbra e Faro até 13 de Novembro, destacando o que de melhor e mais recente se destacou na produção cinematográfica francesa.

De 6 de Outubro a 13 de Novembro, a 6ª Festa do Cinema Francês traz a quatro cidades portuguesas – Lisboa, Porto, Coimbra e Faro – muitos dos mais recentes filmes franceses, numa iniciativa que já se revelou profícua em anos anteriores.

Em Lisboa, as obras em destaque poderão ser visionadas no Fórum Lisboa, no Instituto Franco-Português, na Cinemateca Portuguesa e na FNACs do Chiado e de Almada, e entre os principais destaques encontram-se as novas películas de cineastas como Patrice Chéreau (“Gabrielle”), Michael Haneke (“Caché”), Cédric Klapisch (“Les Poupées Russes”, a sequela do popular “A ResidênciaEspanhola”) ou Costa Gavras (“Le Couperet”).

Entre outros atractivos, incluem-se a presença da actriz Fanny Ardant numa sessão especial a decorrer na Cinemateca, uma homenagem à Escola Superior de Teatro e Cinema ou a emissão, na 2:, de alguns títulos franceses recentes (“A Inglesa e o Duque”, “Vidocq” e “Swimming Pool”).

Estive lá na edição do ano passado, a esta ainda não fui, mas até domingo quero ver se ainda espreito alguma coisa...

UM FILME PERDIDO

Um dos nomes fortes do novo cinema japonês, Takashi Miike tem uma filmografia que proporcionou já vários títulos de culto, sendo o perturbante “Audition – Anjo ou Demónio” talvez o mais emblemático.

No seu novo filme, “Uma Chamada Perdida” (Chakushin ari / One Missed Call), o realizador volta a pisar territórios que já lhe são familiares, percorrendo domínios do terror, suspense e fantástico, através dos quais se distinguiu internacionalmente.

A premissa da película assenta em misteriosas mensagens que alguns estudantes universitários recebem nos seus telemóveis, enviadas pelos seus próprios números e que contêm frases proferidas pelas suas próprias vozes.
Estas mensagens são normalmente de teor intrigante q.b. e têm as datas de dias depois, datas estas que correspondem ao momento exacto das abruptas mortes dos receptores das mensagens.

Outro filme de terror com adolescentes? Sim, mas “Uma Chamada Perdida”, nos primeiros momentos, aparenta não ser apenas mais um, uma vez que conta com uma interessante ideia de argumento e Miike sabe como proporcionar uma atmosfera suficientemente claustrofóbica e desconcertante… até certo ponto.

Se o filme até arranca de forma intrigante e promissora, com uma curiosa interligação entre as novas tecnologias e os códigos do suspense, quando chega a meio perde o conseguido ritmo e aura enigmática que mantinha até então para se tornar numa colecção de sustos fáceis e histerismos involuntariamente cómicos, que nem sequer dispensam uma sofrível abordagem do sobrenatural.

Desperdiçando a relativa frescura que apresentou na fase inicial, “Uma Chamada Perdida” entra num campo minado de clichés que já se julgavam esgotados e sobre-explorados em “The Grudge – A Maldição” ou “Águas Passadas”, outros filmes de (suposto) terror recentes que caíram também num esoterismo ridículo e nada convincente.
Nem sequer faltam os francamente irritantes finais falsos, através dos quais Miike tenta surpreender mas falha ao apostar numa pouco recomendável lógica de “vale-tudo”, tornando a película ainda mais incoerente e, sobretudo, inconsequente.

“Audition – Anjo ou Demónio” já era um filme algo desapontante e sobrevalorizado, mas pelo menos continha ainda sequências de antologia vincadas por uma considerável tensão e desconforto.
“Uma Chamada Perdida” conta com dois ou três cenas que sugerem que Miike repita aqui esses escassos momentos inspirados, mas infelizmente a qualidade do filme apenas decresce – e muito – à medida que o desenlace se aproxima. Não deixa de ser um filme perturbante, só é pena que o seja pelos piores motivos.

E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL

sábado, outubro 08, 2005

gonn1000: UM ANO DEPOIS

Quando, há precisamente um ano, comecei a escrever o primeiro post do gonn1000, não tinha ainda planos bem definidos para este projecto, como de resto salientei, assim como também não sabia se iria escrever para o umbigo ou se teria alguém que se desse ao trabalho de passar por aqui.
Ora, muitos dias e posts depois, e com outra noite de insónias (mas desta vez já conseguindo sobreviver com horários minimamente coordenados), é com orgulho e prazer que verifico que consegui gerar um blog que, para além de me despertar entusiasmo - e consequente dedicação -, tem tido a adesão de outros, o que é sempre encorajador, e me permitiu conhecer vários colegas bloggers interessantes (devidamente blinkados nas colunas do lado direito).
Assim como no dia em que o criei, continuo sem saber ao certo qual será o rumo do gonn1000, embora agora já tenha, julgo, uma identidade suficientemente demarcada, mas espero que daqui a um ano possa avaliar, novamente, os resultados.
Obrigado a todos os que têm passado por este blog, sem vocês não seria tão aprazível completar 12 meses de posts quase diários (já agora, permitam-me um agradecimento especial aO Puto e ao Randomsailor, dois bloggers que visitam o gonn1000 praticamente desde a sua génese).
Os posts abaixo fazem uma retrospectiva de alguns dos momentos mais marcantes destes primeiros 12 meses do gonn1000...

12

Em Setembro de 2005, as campanhas das autárquicas disseminaram-se pelo país e, com maior discrição, o Festival de Cinema Gay e Lésbico celebrou o seu nono ano de actividades. Goldfrapp e Bloc Party confirmaram-se como boas surpresas discográficas, Bran Van 3000 e Marilyn Manson destacaram-se como nomes a redescobrir com atenção e o refrescante "Os Edukadores" foi mais uma estreia a adicionar à lista de melhores filmes do ano.

11

Kaiser Chiefs, Da Weasel e Gwen Stefani foram três nomes emblemáticos dos sons de Agosto de 2005, e "A Ilha", "Quarteto Fantástico" e "Charlie e a Fábrica de Chocolate" deram continuidade ao reinado dos blockbusters. De esferas mais alternativas - mas nem por isso mais interessante -, "9 Songs", o mais recente filme de Michael Winterbottom, dividiu as opiniões e a popular série "Donas de Casa Desesperadas" tornou-se cada vez mais viciante e singular.

"Celebrity Skin", dos Hole, confirmou-se como um grande disco para dias de Verão, e "Glamorama", de Bret Easton Ellis, foi uma boa leitura de praia. E já no fim do mês, a blogosfera vibrou com o BlogDay.

10

No Verão de 2005 chegaram às salas dois dos filmes mais esperados dos últimos anos: "Batman: O Início" e "Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith". Contudo, outros títulos de esferas mais marginais, como o soberbo "Cruel" ou o muito divertido "Rainhas", apresentaram também motivos de considerável interesse, ainda que sem o mesmo mediatismo.
Kaiser Chiefs, Morcheeba, Madonna e Thievery Corporation foram alguns dos discos que acompanharam os dias de calor, assim como os regressados - e mais outonais - Nine Inch Nails, mas Julho de 2005 pertenceu aos Humanos, que levaram o seu disco a palco e conquistaram ainda mais o público (mas, curiosamente, não fazem parte da Soundtrack of My Life).

9

Com a chegada da silly season, as salas de cinema ficaram sob o domínio dos blockbusters, mas o aguardadíssimo "Sin City - A Cidade do Pecado" provou que um filme-pipoca também pode ser criativo e entusiasmante. Não menos recomendáveis foram os concertos de Billy Corgan, The Gift e Shivaree, a quarta série de "Sete Palmos de Terra", alguns ciclos de cinema e a primeira longa-metragem de Paul Haggis, "Colisão". E pelo meio ainda houve tempo para jantaradas, praia e leituras. Junho de 2005 foi também o mês em que o gonn1000 ultrapassou a marca das 10.000 visitas :)

8

O IndieLisboa marcou ainda Maio de 2005, mês que trouxe Nitin Sawhney e Perry Blake a palcos nacionais. Os novos discos de Moby e dos Chemical Brothers confirmaram-se como duas das decepções do ano, à semelhança de "Uma Casa no Fim do Mundo", filme que adapta o livro homónimo de Michael Cunningham. E os domínios televisivos tornaram-se mais estimulantes devido a duas recomendáveis séries. Aproveitei ainda para pensar acerca de Me, Myself and I.

7

Depois de um breve interlúdio devido a umas pequenas férias no Brasil, o gonn1000 destacou em Abril de 2005 aquele que é, para muitos, o filme do ano: "Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos", de Clint Eastwood, tão amado quanto incompreensivelmente sobrevalorizado. Rádio Macau e Rufus Wainwright proporcionaram bons concertos e The Killers, Sneaker Pimps e Da Weasel também contribuíram para reforçar a banda-sonora do mês.
O maior acontecimento de Abril no blog foi, no entanto, a cobertura da segunda edição do IndieLisboa, através de uma colaboração com o Cinema 2000, gerando uma intensa jornada cinematográfica.